O tempo que se perdeu, ou empatou, a discutir o regime da URSS, o partido da classe operária, a direcção revolucionária, etc!
Claude Lefort foi dando contribuições para encurtar esse tempo perdido, mas parece que é "a história" e não a reflexão política a marcar o ritmo.
Neste nº de Novembro-Dezembro de 1958 (nº 26, volume V, 10º ano)
Claude Lefort publicava o texto justificativo da sua saída do grupo que publicava S.B., encerrando uma discussão que mantivera nas suas páginas desde 1952, especialmente com Pierre Chaulieu e Paul Cardan, ou seja, com Castoriadis, com quem fundara a revista no ano anterior. "Organisation est parti", pp 120-134.
"O movimento revolucionário não abrirá uma via revolucionária se não romper com a mitologia do partido, para procurar as suas formas de acção em núcleos múltiplos de militantes que organizem livremente a sua actividade e que assegurem pelos seus contactos, as suas informações e as suas ligações não só a confrontação mas também a unidade das experiências operárias". Acabava assim o artigo (pág. 134). Tratava-se da recusa do partido e da sua direcção tida por revolucionária, não da recusa da organização. CL abandonara o troskismo e o PCI, Partido Comunista Internacionalista, em 1948, na sequência das suas análises do fenómeno burocrático, localizado nas organizações operárias em França, no regime (burocrático) russo, na concentração do capital internacional e na crescente intervenção do Estado na vida económica e social.
Pouco depois de La Brèche, sobre Maio de 68, publicado com Edgar Morin e Jean-Marc Coudray (pseudónimo de C. Castoriadis), que lhe deu mais notoriedade do que os grandes ensaios sobre Maquiavel, Soljenitsyne e Merleau-Ponty, CL publicou em tradução espanhola, mas em França, uma antologia dos seu artigos políticos nas edições Ruedo Ibérico - colecção El Viejo Topo, dirigida por Carlos Semprún (não Jorge), em 1970, com um prefácio original do autor. Trouxe-a em Abril de 1971 da Joie de Lire.
O texto mais antigo é de 1948-49, publ. em Les Temps Modernes, La contradicción de Trotski; El marxismo y Sartre (TM, 1953, em resposta a Os Comunistas e a Paz) é outra intervenção importante. A antologia não inclui o texto referido acima, mas sim o primeiro da discussão com Castoriadis, "Le prolétariat et le problème de la direction revolucionaire", SB 10, 1952.
A burocracia, o totalitarismo e a democracia foram os grandes temas de intervenção de Claude Lefort
(eu não percebia à data como se podia ser m-l e pró-chinês, ou troskista, claro - continuo a não perceber essa teimosa fatalidade ou facilidade associativa, de que se serviam/serviram os candidatos a burocratas. Coisas dessas ainda subsistem, mesmo que a classe operária e a ideia de direcção revolucionária tenham passado à história, sem sucesso)
Claude Lefort nasceu em 1926 e morreu em Paris com 86 anos. Um dos seus últimos livros, La Complication - retour sur le comunisme, Fayard, 1999 (trad. Edit. Notícias 2000), termina assim: "Nous avons fait des progrès dans la conscience de l'imprévisible".
/regime (burocrático) russo/
Autor confunde russo e soviético, que é algo escusado após tantos anos do fim da URSS. Em jeito do comentário geral, gostaria de dizer, que quem não aprende com o passado, fará os mesmos erros no futuro. Por isso sempre útil “perder, ou empatar” o tempo a discutir o regime da URSS, etc.
Posted by: JNW | 10/07/2010 at 10:16
sim tem razão, devia dizer soviético (mas a herança da burocracia russa existiu). Obrigado pela contribuição. Julgo que deveria ter-se chegado a "conclusões" mais cedo (muitos chegaram mas foram colocados "à margem da história") e que enquanto uns defendiam e outros discutiam o regime comunista (o que são as duas faces da mesma longa dependência) haveria outras coisas a fazer.
Posted by: AP | 10/07/2010 at 10:50