A cada nova exposição de Ana Mata apetece ver-rever o que foi mostrando antes, porque é uma obra discreta com que não nos cruzamos nos sítios habituais (mostram sempre o mesmo, sempre os mesmos -. e é uma pasmaceira) e porque as pinturas continuam-se uma às outras, ou continuam a mesma discreta relação entre a produção de imagens, a prática (e interrogação prática) da pintura e a vida da pintora, já que a auto-representação está presente, mas não precisamos de o saber para que a pintura e a vida evidentemente se encontrem e se troquem, entre si e com o olhar do espectador.
Há aqui quatro telas de grande formato, 179x138 cm a de cima, acrílico sobre tela, Sem Título, de 2009.
Sem título, 2010.Acrílico s/ tela, 151 x 143 cm.
Se o exercício da reflexão pictural ou da pintura reflexiva a respeito da fotografia e da pintura está presente - sobre a materialidada das respectivas imagens e dos seus tempos - serão também questões de representação que se abordam. Há aqui a passagem à condição de pinturas bem sucedidas do que seriam noutra modalidade/materialidade de imagens fotografias falhadas: a desfocagem do rosto sobre um movimento súbito ou a ocultação do rosto - relacionando-se este com uma (com a) identidade pessoal, que se quer fugidia, semi-privada. Mas há também, por esse mesmo caminho, o levantar do tema do reconhecimento: representar é descrever e facultar um (re-)conhecimento, faculdades de que a pintura julgou dever abdicar para ser auto-referencial ou pura. A figura, que é uma auto-representação suspensa,também "serve" aqui para fixar à sua volta um espaço de natureza - jardim, espaço cultivado, natureza recriada - e acrescenta um segundo tópico de abordagem dos géneros em pintura, retrato e paisagem.
A pintura sobre a pintura tornou-se uma prática ensimesmada, embora uma surpresa seja sempre possível. A pintura sobre o trânsito entre fotografia e pintura é também um campo muito trilhado, nas suas duas eventualidades mais distintas, a que oculta o seu referente próximo tornado processo de trabalho ou a que o afirma imediatamente ou não - desde antes da formalização da invenção da fotografia já esse trânsito acontecia. Não há novidade alguma aqui, em torno de tal questão, enquanto tal, excepto no facto de se transformar em frescura e intensidade visual o que noutros casos anteriores é já só o uso de uma fórmula: Morley contra Richter (mesmo sem B.B.). As qualidades visual da mancha, o jogo entre a visão próxima e visibilidade distanciada, a materialidade das cores sobre a tela, não serão valores a considerar por si mesmo mas na sua eficácia construtiva e representaiva. Aproximamo-nos aqui de uma pintura narrativa, no que se sucede como imagens pessoais, e também representativa, no que descreve e faz reconhecer.
Mas é a luz - a luz solar - que se propõe aqui como objecto a considerar. Pode ser oportuno repensar classificações históricas a respeito destes novíssimos quadros, voltar a pensar na revolução naturalista, no subcapítulo impressionista e depois na experiência do luminismo, que tem em Sorolla a expressão mais próxima, já que são as luzes que variam, pelo menos tanto como as formas naturais. Tenho de voltar a ver as pinturas de pequeníssimo formato, quer não sei se são apenas promessas ou ensaios de grandes formatos, tenho de voltar a ler o que fui escrevendo sobre uma das poucas obras que vão surpreendendo.
Vale a pena também pensar porque é que a Módulo é a única galeria (ou uma das únicas) onde importa não perder nenhuma das exposições que se sucedem.
"(...) os exercicios que reflectem o autor como tema principal da obra pensei q se esgotaram c a Frida Khalo, mas, nos nossos dias parece ser ainda tema recorrente... (penso que fruto do excessivo individualismo ou até de solidão)
aqui a figura é desfocada ou parcialmente tapada, mas não deixa de ser um exercicio centrado na propria autora do trabalho
são belas imagens sem duvida e não questiono o virtuosismo da técnica da captura de luz, mas não deixa de me remeter para um qualquer album privado de familia (logo, de interesse relativo, quiçá como documentos históricos dentro d algumas decadas) ..."
O comentário assinado que chegou por outra via fica aqui registado, porque será significativo lê-lo e talvez interessante responder-lhe, logo que possível.
Posted by: AP | 11/09/2010 at 19:17