O Pavilhão de Segurança (Panóptico, Enfermaria-prisão) e também o Balneário do antigo Hospital de Rilhafoles (Balneário D. Maria II, de 1853) interessam à cidade e a CML fixou a obrigatoriedade da sua conservação.
É o que vem escrito numa carta (diz-se "ofício"?) que recebi do respectivo vice-presidente, arq. Manuel Salgado, em resposta a um abaixo-assinado que a seguir se refere (carregar com o rato para melhor leitura):
Além de se chamar panópio ao panóptico, o qual deverá ser cedido para o domínio municipal, é muito confuso o que se refere ao "espólio de artes plásticas do HMB/Museu da Psiquiatria" e à "localização do futuro arquivo":
Deve notar-se, entretanto, que se trata mesmo de um edifício classificado desde Dezembro de 2010 ( em conjunto com o Balneário, Classificado como CIP - Conjunto de Interesse Público, pela Portaria n.º 1176/2010 , DR, 2.ª Série, n.º 248, de 24-12-2010, assinada pelo SEC Elísio Summavielle, à qual se tem acesso seguindo a exaustifiva informação prestada pelo site do IGESPAR). Mas a classificação diz respeito aos edifícios e abstem-se de referir o património móvel, não tirando também consequências quanto ao que poderia caber na categoria de património imaterial:
http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/323308/
O Pavilhão de Segurança foi construído em 1896, por decisão do Prof. Miguel Bombarda (o dirigente republicano assassinado no seu gabinete de director do Hospital a que foi dado o seu nome, a 3 de Outubro de 1910), esteve em funcionamento até ao ano 2000 e foi recentemente restaurado. Tem estado visitável dois dias por semana (Qua.: 11h30-13h; Sáb.: 14h-17h, com estacionamento gratuito)...
sala de reunião. Em baixo, banco corrido e silhar de azulejos
É um edifício com um acervo (equipamento clínico e mobiliário; arquivo clínico, administrativo e fotográfico; colecção de desenhos e pinturas realizados por doentes, e documentos sobre a respectiva história). É óbvio que não faz sentido dissociar o edifício do seu recheio e conservá-los separadamente.
http://www.livroshorizonte.pt/catalogo_detalhe.php?idLivro=1108
Vítor Albuquerque Freire, administrador hospitalar e estudioso da história dos hospitais, que dirigiu desde a sua criação, em 2003, o Pavilhão de Segurança, Enfermaria-Museu do HMB, acaba de ser afastado do projecto que defendeu e divulgou. É o autor do livro acima. Abaixo seguem as notícias do Público de hoje:
http://jornal.publico.pt/noticia/05-03-2011/saida-do-director-do-museu-do-hospital--miguel-bombarda-provoca-controversia-21485104.htm
http://jornal.publico.pt/noticia/05-03-2011/imc-apoia-ideia-de-um-museu-da-medicina-21485131.htm
Não existia (ainda?) no local um museu, e é exagerado falar de um Museu de Arte de Doentes/Outsider Art e de Neurociências, que seria o único da Península Ibérica. Mas é mais preocupante a ideia do director clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Ricardo França Jardim, de remeter o esclarecimento do caso para "um especialista em Arte Bruta" ("Devemos chamar peritos na matéria para avaliar", defende.)" Por aí o caso clínico torna-se cínico.
(Jaime - Jaime Fernandes - 1901-1968 -, e o filme “Jaime” de António Reis e Margarida Cordeiro, bem como "Recordações da Casa Amarela", 1989, de João César Monteiro, estão associados à história do Pavilhão de Segurança.)
#
ANEXO I (PORTARIA n.º 1176/2010 - Diário da República, 2.ª série — N.º 248 — 24 de Dezembro de 2010)
O século XIX foi uma época de viragem no tratamento dos doentes
mentais na Europa. Até aí, marginalizados pela sociedade ou confinados
a anexos exíguos de alguns hospitais gerais, deixam de ser tidos
como doentes inferiores e criam-se instituições específicas para o seu
tratamento.
Em 1848 Portugal vê fundado o primeiro hospital psiquiátrico, o «Hospital
de Alienados em Rilhafoles», por iniciativa do chefe de governo,
Duque de Saldanha, aproveitando as instalações do antigo Convento
dos Padres de S. Vicente de Paula que foi ampliado para se adaptar às
novas funções e realidade. O edifício de elevada e compacta volumetria
encontra-se erguido sobre a colina a norte do Campo de Santana, a caminho
de Gomes Freire, sendo para ele transferidos os «loucos» que se
encontravam no Hospital de S. José. Recebeu o seu nome actual (Hospital
Miguel Bombarda), em homenagem ao ilustre médico e director
da instituição, activista do Movimento Republicano do 5 de Outubro
de 1910, assassinado na véspera dos eventos.
Toda a área actualmente ocupada pelo Hospital Miguel Bombarda,
correspondia a uma antiga quinta dos arredores da cidade medieval
(a «Quinta de Rilha Folles»), adquirida em 1720 por aquela ordem
religiosa para ai instalar o seu convento.
O Hospital Miguel Bombarda constituía um grande estabelecimento
hospitalar para o tempo. A par de diversas beneficiações no edifício
conventual e na quinta (água canalizada em todos os pisos, 32 pontos de
luz, etc.) foi erguido um novo corpo, o edifício do balneário, inaugurado
pela Rainha D. Maria II em 29 de Outubro de 1853, é uma pequena
construção térrea com planta em forma de «U», e arcada de elegante
risco. Apresenta uma curiosa conjugação de correntes estéticas de finais
do século XIX: revivalismo renascentista e gótico, decorativismo português
com utilização de azulejaria de fachada. O somatório de registos
formais e materiais que apresenta reafirma o seu carácter ecléctico e
consequente vínculo ao gosto da época.
Edifício inovador para a época, foi o primeiro edifício especificamente
construído para assistência hospitalar psiquiátrica em Portugal, com ele
se introduziram os banhos terapêuticos — hidroterapia (de imersão, de
chuva, de duche, descendentes, laterais e ascendentes, de estufa, de vapor
e de fumigação) utilizados em psiquiatria. Exprime a histórica mudança
de atitude, verificada no século XIX, da sociedade e da medicina perante
os doentes mentais.
O pavilhão de segurança, designado também por 8.ª enfermaria, foi construído em 1896, com o objectivo de internar os «alienados criminosos», único imóvel do género em Portugal, e um dos raros ainda existentes na Europa, seguindo parcialmente a arquitectura prisional de sistema panóptico. Funcionou desde 1896 até 2000, quando foi desactivado. Compõe-se de um corpo circular, o espaço de reclusão, que dispõe de 20 células e de 6 dormitórios, que isoladas do exterior se voltam para um amplo pátio ajardinado, e de um corpo rectangular, espaço de enfermagem, de apoio e acesso. É um exemplo muito interessante de perfeita adaptação da forma à função, em inteligente e pragmática resposta a uma necessidade, com grande contenção de meios.
Valioso ainda, porque a sua espacialidade interna potencializa ambiente de grande tranquilidade, importante na sua função simultaneamente terapêutica e humanitária.
No seu todo, o pavilhão de segurança constituí um edifício, experimental e vanguardista de extrema singularidade, sem paralelo no panorama da arquitectura portuguesa, desde a estrutura circular (panóptica) e perfeitamente simétrica até aos pormenores do detalhe. Construção fechada para o exterior mas aberta para o espaço interior, de racionalidade absoluta, é bem um expoente de como a «função» pode gerar a «forma» arquitectónica evidenciada na planta circular ou nas superfícies sem arestas dos bancos.
É um edifício representativo da doutrina médico-científica da época e materializa toda a concepção de estrita racionalidade, não só clínica como social, indissociável de pensamento de uma figura proeminente da história portuguesa, o Professor Miguel Bombarda.
Do ponto de vista da memória colectiva, o Hospital Miguel Bombarda,
fundado em 1848, foi o primeiro hospital psiquiátrico do País. Um
grande estabelecimento hospitalar, desde o início dimensionado para
300 doentes e para onde foram transferidos os «loucos» amontoados
em condições sub-humanas no Hospital Real de S. José. O primeiro
regimento do «Hospital de Alienados em Rilhafoles» foi outorgado em
1851 e vigorou por algumas dezenas de anos, orientando a assistência
médica neste domínio.
O balneário D. Maria II e o pavilhão de segurança (8.ª enfermaria) do
Hospital Miguel Bombarda, edifícios singulares, constituem um conjunto
com grande carisma e marcam um local de indiscutível e incontornável
carga histórico-social, no que toca à psiquiatria e às soluções arquitectónicas/
técnicas neles apresentadas, de carácter único a nível nacional,
paradigmáticos de um determinado período histórico -social.
O seu relevante interesse histórico-social; técnico-científico representativo
da doutrina médico-científica da época; arquitectónico, exposto na
perfeita relação forma/função, justificam a classificação do balneário
D. Maria II e do pavilhão de segurança (8.ª enfermaria) do Hospital
Miguel Bombarda, como conjunto de interesse público. A evolução
do espaço quinta/convento/hospital foi tida em conta na respectiva
delimitação da zona especial de protecção.
A fixação da zona especial de protecção (ZEP) conjunta do balneário
D. Maria II e do pavilhão de segurança (8.ª enfermaria) do Hospital
Miguel Bombarda, sito na Rua do Dr. Almeida Amaral, na Rua da
Cruz da Carreira e na Rua da Gomes Freire, em Lisboa, freguesia da
Pena, visa salvaguardar o enquadramento do conjunto classificado
(balneário e do pavilhão de segurança (8.ª enfermaria), e incorpora
e tem em conta, a evolução do espaço quinta/convento/hospital, incluindo
os restantes edifícios deste, bem como a relação deste conjunto
com a malha urbana envolvente, tendo em conta o enfiamento visual
e os pontos de vista relevantes para a sua preservação e garantir a
salvaguarda dos conjunto classificado, com o objectivo de garantir a
salvaguarda da sua autenticidade.
#
Mais informação aqui:
http://lisboasos.blogspot.com/2010/03/pavilhao-de-seguranca-museu-do-hospital.html
Comments