Revisto, 1 Maio
Depois de uma primeira apresentação da pintura de Malangatana no Mbari Club de Ibadan, em Setembro de 1961, através de fotografias, Ulli Beier expõe os seus quadros em Junho de 1962,
acompanhados por um texto de convite e apresentação que ele próprio assina. Beier refere que é a primeira mostra individual fora de Lourenço Marques e que a revista "Black Orpheus", de que é um dos directores, já publicara no seu nº 10, de 1962, uma "brilhante análise" da obra de Malangatana da autoria de Julian Beinart.
A imagem é um pormenor do quadro "Feitiço" reproduzido em Contemporary Art in Africa, de Ulli Beier, 1968: "Witchcraft (Lourenço Marques). Oil. Scene with self-portrait.", pág. 71.Um auto-retrato, portanto.
O texto (tal como as notas do convite de 1961) não é referenciado na extensa bibliografia de U.B. publicada sob o título THE HUNTER THINKS THE MONKEY IS NOT WISE , A BIBLIOGRAPHY OF WRITINGS BY ULLI BEIER, OBOTUNDE IJIMERE & CO.
A mostra repetiu-se na galeria do clube Mbari Mbayo, que abrira em Oshogbo na 1ª metade de 1962 (é o que U.B. refere na entrevista com Pancho Guedes, já antes transcrita - ver entrada sobre 1961), e certamente o texto publicou-se de novo. Malangatana não se deslocou à Nigéria, ao contrário do que é por vezes referido (por exemplo, cat. Africa Remix, pág. 273). E por outro lado a exposição não é referida na Biografia incluida no catálogo de Malangatana, SEC/SNBA 1989, embora o texto de Beier aí seja parcialmente transcrito (in Excertos de textos sobre M., pág. 142), tal como sucede no livro Malangatana, org. Júlio Navarro, 1998.
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O artigo de Julian Beinart publicado na revista "Black Orpheus" assegura a Malangatana um importante projecção internacional no campo da moderna arte africana, que acompanha a euforia das primeiras independências. Inclui um primeiro relato autobiogáfico de Malangatana e o comentário detalhado de várias pinturas da primeira mostra individual (A planta do amor, aqui The tree of frienship; A história da carta no chapeu, ou The love story of the letter in the hat, acompanhado por uma narração da história; The casting of spells, The temptation of the clerk e Princesa; As duas amigas, Nu com crucifixo, e A viagem secreta - em grande parte obras da colecção de Pancho Guedes)
(reimpressão de 193)
Julian Beinart, "Malangatana" (pp. 22-27 + 10 páginas de ilustrações pb, não numeradas). Two poems, by Valente Malangatana (pp. 28-29). in Black Orpheus, Nº 10, 1962, pub. Mbari Artist and Writers Club, Ibadan, Nigéria, editors: Ezekiel Mphahlele, Wole Soynka e Ulli Beier.
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1962 é também o ano do 1º Congresso Internacional da Cultura Africana (ICAC), em Salisbúria, 1-11 Agosto, onde Pancho Guedes é um dos 37 delegados e um dos oradores da sessão inaugural, na qualidade de arquitecto e grande promotor da arte africana, sendo a sua comunicação apresentada por Tristan Tzara, que em seguida se deslocou de visita a Lourenço Marques. Ulli Beier não participou no Congresso (tal como Julian Beinart) mas terá colaborado na sua organização e é referido na lista dos agradecimentos no volume das actas que não chegou a ser editado (existem alguns raros exemplares de uma edição prévia e inacabada).
Pancho Guedes levou ao congresso (com o apoio do turismo de Lourenço Marques) uma grande orquestra de marimbeiros de Zavala (Chopi Timbila Players) dirigidos pelo Chefe Zandamela, o Régulo Wahosi Felisberto Mallatine de Zandamela (que também falou na sessão de abertura, apresentado pelo musicólogo Hugh Tracey). E apresentou obras de cinco artistas de Moçambique na mostra dedicada à arte não-tradicional ou neo-africana (a par de mostras de arte tradicional e de arte moderna ocidental de influência africana). Além de Malangatana (representado mas não presente), foram expostas pinturas de Abdias Muchlanga ou Muhlanga e Metine Macie, e desenhos de Augusto Naftal e Alberto Mati - obras que voltaram a ver-se reunidas na exp. "As Áfricas de Pancho Guedes", 2010 (excepto no caso de Metine Macie).
" The First International Congress of African Culture, organized by Frank McEwen to discuss the aesthetics of contemporary African art, is held in Salisbury, Rhodesia (now Harare, Zimbabwe). Participating artists include Malangatana Ngwenya*, Vincent Kofi, and Ben Enwonwu. Alfred Barr of the Museum of Modern Art in New York, Nigerian historian S. O. Biobaku, the British painter Roland Penrose, and Tristan Tzara, founder of the Zurich Dada movement, attend. " Southern Africa, 1900 A.D.–present | Heilbrunn Timeline of Art History | The Metropolitan Museum of Art
* É mais uma vez uma informação incorrecta. Os artistas Felix Idubor (Nigéria), V. Kofi e Selby Mvusi (Gana) foram delegados. Outras presenças destacadas foram William Fagg, Jean Laude ("Aesthetics and Ethnology"), Udo Kultermann, John Russell - para além dos especialistas em música e dança, as outras áreas em destaque no programa.
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Entretanto, em 1961-62, Ulli Beier fez publicar em Ibadan duas pequenas edições monográficas dedicadas a dois artistas africanos de grande importância, com quem Malangatana iria participar em breve numa significativa mostra de grupo itinerante, também por sua iniciativa: UCHE OKEKE DRAWINGS e IBRAHIM EL SALAHI DRAWINGS, ambos editados com a referência Mbari Publications Ibadan, 1961 e 1962, respectivamente( 20 páginas).
Um pequeno catálogo com 8 páginas aparece referenciado entre a bibliografia de Ulli Beier citada em www.worlcat.org : "Exhibition of African art : Salahi * Okeke * Malangatana", "Exhibition held at the Jehangir Art Gallery, February 24-29, 1964. Ulli Beier [Bombay 1964]".
A exposição circulou na Índia (também na Academy of Fine Arts, Calcutá?) e no Paquistão, talvez desde 1963, e terá sido também mostrada em Paris - a digressão foi patrocinada pelo Congresso para a Liberdade da Cultura (Congress for Cultural Freedom) de que mais tarde (1967) se viria a saber que contava com financiamentos da CIA. Ulli Beier refere sempre os subsídios do Congresso à publicação de "Black Orpheus" e à actividade do Mbari Club - Martin Luther King fora o porta-voz da actividade do Congresso, numa sessão em Paris, e o escritor sul-africano exilado Ezekiel Mphahlele representava-o na Nigéria nos anos 60. (Essa é uma questão a abordar noutro local.)
A junção de Malangatana com o sudanês Ibrahim El Salahi e o nigeriano Uche Okeke é particularmente significativa, desde logo pelo que as suas origens e carreiras representam (dois pintores com formação académica e um auto-didacta), e pela importância que todos eles assumem na promoção da nova arte africana dos anos 60, ou do "renascimento" da arte africana, por Ulli Beier, na sua condição de crítico, editor e director de uma galeria de arte (prefácio de Contemporary Art in Africa).
As someone researching Malangatana I have found this very useful, there is so much confusion about his early exhibitions!
Posted by: Mario Pissarra | 08/18/2012 at 18:53