http://dijoon.free.fr/mba/collection.htm En France, le musée de Dijon possède la plus importante collection publique d'œuvres de Vieira da Silva... (une centaine de toiles). (O site do Museu é mau e a obra escolhida para a representar é muito pouco aliciante...)
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A história portuguesa de Vieira da Silva teve episódios meritórios: primeiro, quando Jorge de Brito defendeu a cotação (e por essa via a importância) da obra da pintora face à perda de relevância crítica dos artistas franceses da sua geração, ou seja, da chamada abstracção lírica da 2ª Escola de Paris (anos 40/60), ao trazer para Portugal um vasto conjunto das suas obras, entre meados dos anos 60 e inícios dos 70. Não terá sido só uma vez que Jorge de Brito enviou a um mesmo leilão internacional pelo menos dois agentes seus, que, sem o saberem, licitaram um contra o outro. Depois, quando Sommer Ribeiro, que então dirigia o serviço de exposições e o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, se dedicou, com alguns apoios de monta (Azeredo Perdigão, Mário Soares), a recuperar a ligação da artista ao seu país de nascimento. Não foram suficientes esses factos para apagar a memória traumática da recusa da nacionalidade portuguesa depois de por casamento se ter tornado apátrida, em 1939, no perigoso quadro internacional em que a 2ª Guerra Mundial se iniciava. Salazar foi responsável por essa recusa, e a artista e o marido refugiaram-se no Brasil (1940-46), passando a ter a nacionalidade francesa em 1956.
A história inicial da Fundação Arpad e Vieira conheceu logo numerosas vicissitudes, em que se incluem a importância das doações feitas pela artista ao Estado francês e a diversos museus do país (depois de ter tentado situar o seu museu em Paris - mas foi decidido que Picasso tivera o último museu pessoal na capital), bem como a instituição do Comité Arpad Szenes-Vieira da Silva com sede em Paris, a quem cabe a exclusiva responsabilidade da autorização para a reprodução e autenticação das obras do casal, o que envolve a tutela sobre o legado e a obra. Para além disso, pesaram os custos fiscais da herança e os efeitos das restrições impostas pela França à exportação de obras de arte (foi um processo longo e complexo em que intervieram Mário Soares, Mitterand e Jack Lang, mas as Finanças têm em geral mais poder).
A doação feita à sua Fundação e a Portugal foi escassa em obras relevantes e insuficiente para um verdadeiro museu monográfico (talvez devesse ser desde início mais um centro documental e biográfico). De facto, o processo estava armadilhado ou por falta de confiança nos parceiros institucionais portugueses ou por efeito da já referida zanga (ou trauma), ou porque a aposta no futuro da recepção crítica das obras do casal se jogaria de facto a partir de França. A colecção de Jorge de Brito veio por tudo isso a assumir um papel decisivo no museu, com a cedência, desde o seu início, de cerca de três dezenas de quadros, com base na relação de confiança com Sommer Ribeiro. Até à morte de ambos em 2006.
Tendo por fundadores o Estado e a Câmara de Lisboa, mais o dr. José de Azeredo Perdigão (a título pessoal, não podendo a Fundação Gulbenkian vincular-se como fundadora), a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e a Fundação Cidade de Lisboa, a entidade FASVS viveu de dotações anuais do Ministério ou Secretaria de Estado da Cultura através do Fundo de Fomento Cultural, as quais se foram desvalorizando com o passar do tempo. Segundo os estatutos da Fundação, aprovados em 1990, era Cavaco Silva 1º ministro e Mário Soares presidente da República - são responsabilidades que não se devem ignorar -, "o Estado assegurará, anualmente, um subsídio destinado a despesas ordinárias de manutenção e conservação do museu e do centro" (o que não envolve funcionamento nem actividades: Cavaco aceitava assinar mas ia deixando tudo minado, como o CCB e Serralves à data...). A Câmara de Lisboa cedeu o edifício da antiga Fábrica de Tecidos de Seda, e não tem outras responsabilidades, fazendo às vezes contribuições em serviços. A FASVS teve também patrocínios do Grupo Champallimaud e depois do BCP/Millennium, que foram significativos para efeitos de programação de exposições. Daniel Proença de Carvalho foi por muito tempo um influente presidente do conselho de administração da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, e, depois de se demitir a seguir à morte de Sommer Ribeiro, foi substituido por nomeação ministerial por António Vitorino e Manuel Pinho, este ainda titular.
Pode dizer-se que faltaram desde início as condições de sustentabilidade da instituição, e - depois das miragens a respeito das fórmulas mecenáticas (anos 80/90) - não parece agora haver outra alternativa senão o estabelecimento de uma parceria efectiva entre o Estado e o Município, se nenhum deles quiser assumir por inteiro as convenientes responsabilidades. É a perspectiva da extinção que se tem jogado, por falta de meios de funcionamento, para lá da questão das obras cedidas em depósito por Jorge de Brito. O conselho de administração actual já ponderou antes a sua demissão colectiva, e a paralisia total só foi evitada em anos recentes com apoios pontuais da EDP.
Quanto às pinturas da colecção de Jorge de Brito, os jornais informaram hoje (25 de Maio) que os seus herdeiros (J.B. deixou 6 filhos) levantaram do Museu dez quadros e aí deixavam ainda outros seis, emprestados por mais cinco anos sem contrapartidas, disponíveis para serem entretanto comprados pelo Estado.
http://www.ionline.pt/conteudo/125553-herdeiros-jorge-brito-levam-10-quadros-vieira-da-silva-casa
Depois da morte de Jorge de Brito (a 1 Agosto 2006), o Ministério da Cultura (Isabel Pires de Lima) abrira um processo de classificação de dez pinturas que visava impedir a respectiva exportação, alegando os herdeiros que tal acontecera à margem de um diálogo iniciado por estes com propostas de negociação relativas a 22 obras e abertas a diversas soluções alternativas à compra imediata: a dação (pagamento do imposto sucessório em obras de arte); a aquisição por parte de uma bolsa de mecenas; ou o comodato (cedência por tempo determinado) para venda faseada ou posterior. Em Janeiro deste ano de 2011, a ministra Gabriela Canavilhas terá aceite uma proposta relativa ao depósito de apenas seis quadros, sem abdicar do processo de classificação. Falta um esclarecimento oficial.
O Estado português tem o direito e a obrigação de não autorizar a exportação dos quadros que considere importantes no âmbito do património nacional - independentemente de fazer ou não propostas de compra e seja qual for o futuro do Museu. E terá também a obrigação de comprometer-se a adquirir os quadros julgados relevantes para as colecções públicas*, se restar alguma hipótese de escapar à bancarrota. Por outro lado, terá também a responsabilidade de decidir se assegura a viabilização do Museu do Jardim das Amoreiras (suportando o seu funcionamento e actividades, certamente em parceria com a Câmara) ou se patrocina a sua extinção - não deve é deixar arrastar a paralisia do Museu que inaugurou em 1994.
(*A questão não deverá por-se ao nível da quantidade das obras (há por aí muitos outros quadros) mas sim da qualidade da representação. Jorge de Brito era um grande coleccionador e fez neste caso boas escolhas.)
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