Chama-se Bienal de Culturas Lusófonas mas devia ter um título menos grandiloquente, talvez, por exemplo, Mês das Lusofonias de Odivelas. Seria um nome mais ajustado para uma realização que é estritamente local, potencialmente simpática, mas de excessiva pretensão, quando não presunção, face à importância da oferta. Fui ver, por sentido de obrigação e curiosidade, apesar de uma enorme falta de informação sobre o evento, mesmo depois de meia hora de Google... No terreno pode haver algumas pequenas coisas relevantes, mas a dimensão institucional de que ser revestir A BIENAL, somando embaixadores e outras autoridades, sujeitos a extensos discursos, volta-se contra a possível boa vontade dos promotores autárquicos.
(sessão inaugural - antes dos discursos)
A feira do livro é uma iniciativa de rotina, sem livros editados em África, o que faria a diferença. A exposição central é inconsequente e sem qualquer representatividade, mesmo quuando se considerem positivas as selecções que desobedecem às barreiras restritivas de que as instituições públicas e privadas, museus e galerias "de ponta", se rodeiam e nos expulsam.
Há, no entanto uma sala dedicada a Malangatana que o representa condignamente, em especial com um importante quadro de 1971 e com uma série de desenhos recentes. Com a sua morte, e com as oportunidades de revisão da obra e da carreira que veio proporcionar, tornou-se mais evidente para quem não o sabia que Malangatana foi um dos grandes artistas da segunda metade do século XX e o maior dos artistas africanos.
Malangatana, pintura sem título conhecido, de 1971
Talvez haja entidades e públicos locais que se mobilizem, mas a capa da ambição oficial de que se reveste o projecto camarário é a realidade mais palpável - e neste terreno das relações internacionais e das alternativas culturais conviria não desbaratar interesses nem oportunidades. Não será tanto uma questão de falta de meios como de definição de objectivos e planos de actuação. Fica dito que não vale a pena ir ao engano... Odivelas (não) é a Capital da Lusofonia, nem se justifica que pretenda tal título.
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