Quando se inaugura mais uma exposição do programa Africa.cont,
amanhã, dia 24, às 19h no Museu da Cidade, Pavilhão Preto,
poderá percorrer-se a instalação das 2000 fotografias feitas em 52 capitais africanas pelo arquitecto David Adjaye - autor convidado da (ex?-)futura sede do que em 2008 se anunciou como "um centro de culturas contemporâneas africanas em Lisboa" -,
mas também será possível voltar a questionar a oportunidade, a viabilidade e a ambição de um tal projecto, ou melhor, o que dele sobrevive três anos depois do seu anúncio. Ou seja, fazer o ponto da situação no quadro do momento eleitoral e no contexto da crise económica actual. Seguem alguns prudentes contributos documentais.
Desde Janeiro de 2011, pelo menos, o Executivo da CML tem procurado integrar o projecto Africa.cont no âmbito da Frente Tejo SA, e propõem-se para isso entrar no capital desta "empresa pública com uma estrutura de gestão sólida" (outras fontes falam em graves dificuldades financeiras), contribuindo com o valor do espaço e dos prédios urbanos envolvidos no projecto da respectiva sede e mais com a verba em dinheiro de 2,5 milhões de euros. Obtido para tanto o acordo do Governo (ou seja, do accionista Estado da empresa Frente Tejo SA), falta ainda a aprovação da Assembleia Municipal. Esta é a proposta a conhecer: http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/P_762.pdf
No documento da CML Grandes Opções do Plano 2010-2013, o Africa.cont aparece referido no sector "Políticas de apoio à diversidade e às minorias" - ("No que respeita às comunidades imigrantes, promoveremos o desenvolvimento social integrado e sem exclusão, e a resolução dos problemas específicos que afectam estas comunidades residentes em Lisboa, garantindo os seus direitos de cidadania, nomeadamente através das seguintes acções") - "Prosseguir com os projectos dos Museus da Comunidade Judaica, da Cidade Islâmica e do Africa.Cont, estabelecendo as parcerias necessárias à promoção das suas actividades." e também no capítulo "Objectivo C-3-Cultura" - ("Medidas e projectos a desenvolver") - "Definir os modelos institucionais e organizativos do MUDE – Museu do Design e da Moda e do Africa.Cont, bem como promover as parcerias necessárias para permitir o desenvolvimento e projecção das suas actividades". (Fica assim bem explícito que sem parcerias estabelecidas com outras entidades e sem a definição conjunta do modelo institucional a CML não pode avançar mais com o projecto.) Ver http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/GOP_2010_2013.pdf
A apresentação do Estudo Prévio África.Cont, a 25 de Junho de 2009, pelo Arquitecto David Adjaye, nos terraços das Tercenas do Marquês, à Avenida 24 de Julho, foi outro anterior acontecimento relevante, mas já distante: intervieram na sessão o presidente António Costa e o ex-ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro - ver aqui:
Esse estudo prévio foi incluído na Exposição "Lisboa, Planos e Projectos - Uma Cidade para as Pessoas", em 2009. Foi também referido na proposta de Revisão do PDM, actualmente em debate. Ver por exemplo o folheto "O novo PDM: 7 políticas urbanísticas": http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/004/folheto.pdf
Segundo o "booklet" onde que se apresentou a 9 de Dezembro de 2008, sob a pala do Pavilhão de Portugal, a missão, o modelo institucional, o espaço, o programa base de arquitectura e o calendário do projecto Africa.cont, a sua primeira fase decorrera já em 2007 e 2008, e a 2ª fase iria durar de 2009 a 2012, incluindo a inauguração do Edifício Sede Africa.cont. O "booklet" está ainda acessível (hoje 23 de Maio de 2011, mas deixou depois de estar...) em: http://downloads.officeshare.pt/expressoonline/PDF/BookletFinalAfrica.cont.pdf
http://arquivoexpresso.aeiou.pt/PDF/booklet_27.11_spreads.pdf
http://www.cm-lisboa.pt/?idc=430 (na secção "Pensar a cidade para o futuro. A Lisboa que ambicionamos: 1. Cidade Intercultural: Africa.cont; Museu Comunidade Judaica; Cidade Islâmica - Porta dos 5 Continentes; Encruzilhada dos Mundos" )
O calendário da 2ª fase que aí se enunciava teve uma execução pelo menos problemática, ou uma não-execução. Em especial, não se "captaram" Mecenas/Fundadores e não houve qualquer aproximação à constituição da prevista Fundação Africa.cont que iria viabilizar e administrar o projecto. E a mais nada do que teria a ver com ante-projecto, projecto de execução, concurso de empreitada, adjudicação da obra, etc, etc, se deu efectivo seguimento.
Previa-se para a anunciada estrutura Africa.cont o formato de Fundação com composição tripartida: a participação do Estado (Ministérios dos Negócios Estrangeiros, Cultura, Economia/Comércio/Turismo...), da Câmara de Lisboa e de privados - incluindo nestes, presumivelmente, as Fundações de Serralves, do CCB, Berardo, etc, e entidades envolvidas em relações económicas com África, talvez países terceiros e instituições internacionais (a exemplo do Institut du Monde Arabe em Paris?). Nada se concretizou, nenhuns ministros se envolveram realmente no projecto ou contaram com verbas para ele (vários ministros discordaram do projecto, em privado), nenhuns possíveis parceiros aceitaram associar-se - excepto a Fundação Gulbenkian que acedeu condicionalmente a pagar, não o ante-projecto, como então se disse, mas o estudo de viabilidade da implantação do projecto (65 mil euros?). O Africa.cont (o projecto e o seu responsável, o prof. José António Fernandes Dias - antropólogo e professor na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde coordena o Mestrado em Estudos Curatoriais) é, na fase actual, uma entidade informal que é acolhida pela Vereação da Cultura da CML.
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Indicou-se em 2008, na imprensa, um custo estimado de 15 milhões de euros para a implantação da sede do Africa.cont num vasto complexo urbano que partiria do Palácio Pombal na Rua das Janelas Verdes (ex-Instituto Português da Conservação e Restauro, e certamente ainda a acolher a Biblioteca do IGESPAR), que inclui três armazéns oitocentistas conhecidos como Tercenas do Marquês, que descem e se prolongam até à Av. 24 de Julho, e a que se acrescentariam duas novas construções bem como a abertura de uma praça (ou praça-auditório?) no espaço onde existe o imenso prédio da Direcção Geral da Administração e do Emprego Público (já esvaziado graças ao PRACE?). Tratar-se-ia de dar conteúdo (neo-africanista) a um antigo projecto utópico de re-urbanização e revalorização patrimonial do edificado no local - por sinal, um sítio com pesadas marcas históricas da exploração colonial e do esclavagismo (lembrança de José António Pereira, que viveu no palacete da rua das Janelas Verdes, foi um grande armador e proprietário de roças em S. Tomé, importador de café e outros géneros. Morreu em 1817, e o palacete foi comprado anos mais tarde pelos marqueses de Pombal - mas uma rua lembra aí ainda o seu nome - teria sido um verdadeiro empresário colonial, que enriqueceu tão rapidamente como empbreceu).
Os 15 milhões referidos acima não incluiriam o equipamento dos edifícios e dos espaços exteriores, e anunciou-se também em 2008 o valor estimado e provisório de 4 (a 5?) milhões de euros anuais para o funcionamento e programação.
Beco da Galheta e a Trav. José António Pereira (sob o arco), que vem da Rua das Janelas Verdes até ao nível da Av. 24 de Julho (foto de 2008)
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Sobre Urban Africa, uma exposição do Design Museum, Londres
David Adjaye on Urban Africa in Catch a Vibe - "Guide to black culture and going out in London" (the only online magazine that covers all that’s new and essential in black arts and entertainment in London )
Bloue Print Magazine, Adjaye on Urban Africa
"Divided into six topographic categories – Desert, Mountain/Highveld, the Maghreb, the Sahel, Savanna, and Grassland/Forest – the pictures show vernacular houses, government buildings, office blocks, mansions, market stalls, public squares and retail centres. Everything, in short, that makes up the major civic centres of Africa. Densely displayed and smaller than postcards, the photographs are never carefully framed, and show no concern for themes or continuity.
(...) Adjaye describes the process of taking the photographs as ‘almost like an art project’, in which the limits he set upon himself generated the pictures almost as much as his own judgment. ‘I wanted to make something which was not like a classic architecture project,’ he says. ‘I never organised any formal tours, never had it curated by any officials’. He would always navigate the cities by taxi, taking the deliberately artless images while in the car: ‘I would just say to the driver “I need a couple of days with you, and I want to see everything in the city; from the dodgiest, seediest places to the grandest mansions. I have all the time in the world. Just take me on a journey, and I’ll pay you.”’ The point, he says, was to demonstrate that anyone could engage in a similar project: ‘all of it is totally accessible. For me it’s about civil society; if it’s private it’s not relevant,’ he says." - April 22, 2010 by: Peter Kelly
Africa is a country, 2010 (notícia e fotos )
recensão da Newsweek, Raising a Continent
Meu Caro Alexandre Pomar,
Permita-me uma correcção ao lapso seguinte no seu texto: "(ex-Instituto Português da Conservação e Restauro, e certamente ainda a acolher a Biblioteca do IGESPAR)".
De facto, o Palacete Pombal continua a albergar a Biblioteca Central do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), assim como Arquivo Técnico de Conservação e Restauro. Também as áreas de Conservação de Papel e Mobiliário têm as suas oficinas no Palacete e num anexo junto às Tercenas.
Quanto à biblioteca do IGESPAR está, onde tem estado, na Ala Norte do Palácio Nacional da Ajuda.
Cordialmente,
Rui Ferreira da Silva
Chefe da Divisão de Documentação e Divulgação
INSTITUTO DOS MUSEUS E DA CONSERVAÇÃO
Posted by: Rui Ferreira da Silva | 05/26/2011 at 18:22
Agradeço muito a correcção do meu lapso - era à Biblioteca do IMC que me queria de facto referir, e ficamos assim a saber que outros departamentos aí estão instalados e em actividade. É uma boa notícia, certamente. A.P.
Posted by: AP | 05/26/2011 at 18:54
Olá :)
Ao pesquisar uma foto do Beco da Galheta, onde moro, encontrie este Post...
É com alguma tristeza que vejo mais um projecto ser abandonado!!!
Temos de um lado um edificio com potencial, mas a cair aos poucos. Em frente um edificio recente que há quase 1 ano se encontra vazio. Estamos rodeados de Cimento e Vazio!!! É pena!!!
Cumprimentos,
Maluxa
Posted by: Maria L Filipe | 08/07/2011 at 19:30