Arquivo Fotográfico de Lisboa, exposições de 2000 a 2003
Luís Pavão
Paulo Catrica
Pedro Letria
Margarida Dias
WOLFGANG SIEVERS (Jorge Calado)
Henrique Manuel (Museu da Imagem, Braga)
Rui Fonseca
Terra Bendita e Tríptico (Jorge Calado, Fundação Eugénio de Almeida, Évora)
A COLECÇÃO DO IMPERADOR (Brasil - CPF)
Pedras & Rochas (Jorge Calado, Fundação Eugénio de Almeida, Évora)
2000
LISBOA ANOS 90 - IMAGENS DE ARQUIVO
(22-01-2000)
"Lisboa vista por"
Luís Pavão, Paulo Catrica e Pedro Letria
DESDE que renovou as instalações e os seus meios, o Arquivo foi procedendo a um importante trabalho de divulgação do seu património e foi adquirindo antigos espólios, como os de Eduardo Portugal e Marques da Costa, ainda mal conhecidos. Agora deu um passo decisivo e passou também a produzir património. Com estas novíssimas «Imagens de Arquivo» reactualiza-se uma prática que veio do séc. XIX e se interrompeu nos anos 70, precisamente quando à fotografia e ao património se passava a prestar uma atenção informada por renovados princípios críticos. E retomar as encomendas de imagens a fotógrafos de hoje é também desfazer o hiato ilegítimo que tantas vezes se estabelece entre a história e o presente, entre o património e a criação contemporânea.
Trata-se de fazer ver e interpretar Lisboa com olhos de hoje, de interpelar com a acuidade instrumental da fotografia as transformações incessantes da cidade, produzindo «imagens de arquivo» que além de terem por destino a presente exposição ficam disponíveis para os diferentes usos da imagem fotográfica – que se verá como documento e/ou obra de arte conforme os interesses de cada observador e as diferentes convenções classificativas. (Mas Atget e Duchamp não terão definitivamente desvalorizado o que há de essencialista nessa alternativa?) Trata-se, afinal, de entender um arquivo ou museu como organismo vivo, ao mesmo tempo que se faz do «apoio à criação» algo diferente de uma fórmula política a rodar no vazio.
Duas ou três componentes do projecto levado a cabo pela equipa do Arquivo coordenada por Luísa Costa Dias devem ser destacados. Primeiro, a aposta (cumprida) na «qualidade, originalidade e diversidade do olhar de cada um» dos fotógrafos convidados, assegurando com a liberdade de decisão sobre a escolha dos lugares e do tipo de abordagem a condição de se tratar de «imagens de arquivo, cujo destinatário é o público de hoje e o das gerações futuras» (prefácio do excelente álbum editado) - desde logo assim se reconhecendo que todo o documentário é/deve ser também um trabalho autoral. Depois, o facto de se ter concedido o tempo necessário (um ano) para que os fotógrafos desenvolvessem o seu trabalho, em vez das urgências de um calendário eleitoral ou de um fim de semana «artístico», usuais em projectos idênticos. Por último, a promessa de que este é um plano para continuar.
Uma primeira exposição incluiu fotografias de António Pedro Ferreira, Michel Waldmann e Paula Figueiredo («Cartaz», 24-Dez. 1999), e exibem-se agora as de Luís Pavão, Paulo Catrica e Pedro Letria. Entretanto, continua visitável a contribuição de Eurico Lino do Vale para o mesmo projecto, constituída por retratos dos habitantes de Alfama, que se mostram no coração do bairro (Convento do Salvador - Centro Magalhães Lima), em instalações remodeladas para o efeito. O lugar não é um mero cenário aliciante: constitui o culminar de um projecto que reequaciona a prática do retrato como cruzamento entre cumplicidades condicionais e intenções diferenciadas. O direito à imagem própria e o desejo de construir a imagem pessoal, a privacidade e a exposição pública, a questão da autoria do retrato e a da sua publicidade atravessam este trabalho como um processo experiencialmente vivido e partilhado.
Paulo Catrica percorre um anel urbano que não é centro nem periferia. Em Belém, Ajuda, Restelo e Caselas, Carnide, Benfica, Lumiar (a coroa do termo ocidental, dizem os olissipógrafos), sinaliza lugares às vezes reconhecíveis como emblemáticos - vestígios da Exposição de 40, bairros sociais, quintas de Carnide, estúdios do Lumiar, torreões do Jardim Zoológico - e também a invasão de uma ordenada modéstia citadina pela urgência dos novos ritmos construtivos, observando como resistem ou não à mudança antigas zonas planeadas e os seus sinais ideológicos. A sequência adoptada no álbum torna ainda mais legível o seu itinerário de imagens como meditação sobre o organismo vivo que é a cidade, com as suas marcas temporais, com a sedimentação ou o entrechoque de intervenções, as áreas esquecidas, os rasgões e acidentes que pontuam o tecido urbano.
A sistemática ausência de habitantes vem sublinhar essa dimensão viva da cidade, enquanto o quase constante desaparecimento do céu (que já estava em Atget) subtrai à paisagem o elemento securizante que é a expressividade romântica das nuvens. Por outro lado, Catrica domina a composição de modo a tornar toda a superfície fotográfica igualmente significante, destituindo-a de um centro e de um sentido privilegiado de leitura, como sucede numa pintura «all-over», construindo um «puzzle» recheado de pormenores em que o observador mergulhará sem poder descobrir a facilidade de uma chave ou a satisfação de uma anedota. Não é a negação dos possíveis sentidos da imagem que daí resulta, mas um infindável desafio a uma sempre maior atenção visual e interpretativa.
Depois dos anteriores trabalhos de Paulo Catrica - Periferias, ed. do Centro Português de Fotografia, de 98, e outras imagens suburbanas que fez em Inglaterra, aliás excelentes -, estas imagens corrigem a ideia possível de um continuado exercício de estilo mais ou menos escolarmente moldado sobre recentes modelos de nova «nova objectividade» topográfica, para revelar um uso da fotografia como instrumento analítico, tal como já se podia reconhecer na mostra recente «Liceus de Portugal», mostrada na Biblioteca Nacional (para quando a sua prometida edição em livro?).
Pedro Letria publicara E.N. 118, em 94, seguindo194 km de estrada, e Terraformada, em 99, ed. Assírio & Alvim, pontuando por imagens uma viagem ao longo de toda a fronteira portuguesa, mas essas fotografias não pareciam exceder em interesse próprio o seu plano prévio. Agora, o percurso pelas freguesias de Marvila e Alto do Pina (da Alameda ao Tejo passando pelos bairros e parques de Chelas), é ao mesmo tempo mais disponível e mais construído como discurso visual. E também mais consistente nas suas experiências de composição com a cor e nas marcações dos espaços amplos com a presença mais ou menos sistemática de figuras vistas de costas, com que se cumpre, como que com a promessa de um fio narrativo, o registo de uma vasta área em transformação, sem o propósito de questionar o seu complexo tecido social.
Luís Pavão distanciou-se dos antigos trabalhos sobre o quotidiano da cidade (Tabernas de Lisboa e Fotografias de Lisboa à Noite, 1981 e 83, Assírio & Alvim) para confrontar o observador com inéditas imagens da zona da Expo - e aqui se poderá usar com razão o tão desbaratado título de levantamento fotográfico. Talvez haja uma fina ironia nas oito imagens expostas que usam justificadamente o grande formato (dois metros de lado magnificamente impressos) para exponenciar a legibilidade da topografia e do urbanismo da área, caricaturando as ampliações que não fazem mais do que tentar promover-se à condição inútil dos «quadros fotográficos».
Mas ao suspender a intencionalidade da fotografia artística, para fazer «apenas» um registo maximamente objectivo do espaço urbanizado, Luís Pavão oferece-nos, recorrendo à mais convenientes condições de luz, uma visão surpreendente da cidade como construção escultural, com a sua malha e os seus ritmos volumetricamente desenhados frente ao rio. Com a sensualidade táctil do seu branco e preto, as suas imagens exactas ver-se-ão também como soberbas composições de luz e sombra, a confirmar o que Jorge Calado escrevia há uma semana nestas páginas: «Uma fotografia é uma escultura cinzelada a golpes de luz».
Terra Bendita e Tríptico
(27-05-00)
Depois de inaugurada no Museu de Évora esta dupla exp. organizada por Jorge Calado para a Fundação Eugénio de Almeida, ressurge numa nova montagem, diferente e igualmente empolgante. Agora, o cruzamento das fotografias recentes de José M. Rodrigues, Paulo Catrica e Marc Power com as imagens do documentalismo clássico norte-americano (da Farm Security Administration e fotógrafos aparentados) pontua a montagem da primeira galeria, explorando identidades formais, proximidades de assuntos ou situações e variações de formato ou de técnica, sublinhando núcleos de temas homogéneos e diferenciando olhares - valorizando as obras e ensinando a ver. (Até 27 Jun.)
A COLECÇÃO DO IMPERADOR, D. Pedro II
(28 – 8 - 2000):
"Inventário do Mundo"
exp. vinda do CPF, Porto
WOLFGANG SIEVERS
04 Nov. (ver tb entrev. por Simon Kuin)
"Homens e máquinas"
Com esta exposição internacional, comissariada por Jorge Calado, o Arquivo de Lisboa apresenta o que foi seguramente o seu mais ambicioso projecto de sempre.
2001
Margarida Dias
11/08/2001
São duas exposições que simultaneamente se apresentam em ambas as galerias do Arquivo. No piso térreo, «O Segredo» é uma longa exploração do atelier de Lagoa Henriques, vendo-o menos como lugar de trabalho do escultor, com os seus plintos e instrumentos próprios, do que como cenário privadamente existencial, resultante de uma longa e não programada, nem disciplinada, acumulação de objectos pessoais e de colecção, de diversíssimos materiais recolhidos, adereços, antigas obras próprias, plantas, vestígios heteróclitos de muitos interesses, restos. Optando quase sempre pelos planos aproximados, a fotógrafa faz dessa exploração do atelier como espaço íntimo uma viagem minuciosa pelo preto e branco, nas suas gradações de luz, contrastes e texturas, tirando partido das qualidades de impressora que se lhe conhecem, enquanto ao inventário se associa a ideia de aproximação-revelação das raízes e dos secretos mecanismos da criatividade do escultor, tal como o próprio Lagoa Henriques admite num breve prefácio do álbum homónimo que tem paralela edição. Do segredo passa-se ao mistério na galeria do piso superior. A segunda mostra intitula-se «De Pó e de Sombra» e centra-se no tema das máscaras rituais de várias proveniências, afastando-se de uma abordagem documental para as integrar num envolvimento ficcional, encenado e desenhado pela luz, que lhes devolveria a sua condição de enigma, entre plantas secas, velhas madeiras, pó e sombras. Tal como na primeira série, ganhar-se-ia com a redução donúmero das imagens em favor da maior nitidez de um projecto. (Até 13 Out.)
2002
(Augusto Alves da Silva, "CNB", 5 Jan. - cm)
LUÍS PAVÃO
«Lisboa, em Vésperas do Terceiro Milénio»
(Arquivo Fotográfico/Assírio & Alvim, 312 págs., ¤35)
Expresso Actual de 1/6/2002
«Lisboa em movimento»
Apresentação de um grande livro de fotografias sobre a transformação da cidade no fim do século XX É um livro que está em exposição. Exibe-se, é certo, uma dezena de fotografias nas respectivas provas de impressão e pode ver-se na sala de consulta do Arquivo uma sequência de seis ampliações a preto e branco, de grande formato (incluindo o surpreendente rio das copas das árvores da Defensores de Chaves, sob um céu tempestuoso), mas não há exposição. O projecto de Luís Pavão foi fazer um livro, não um catálogo ou um álbum. A exposição, espera-se, acontecerá mais tarde, num espaço que seja compatível com a dimensão do trabalho realizado. Entretanto, outras 475 fotografias, essas a cores, feitas em paralelo com as do livro, deram entrada no acervo do Arquivo Fotográfico de Lisboa e podem ser vistas nos computadores.
O volume é de pequeno formato, cartonado, muito bem impresso (na Guide, Artes Gráficas). Cerca de 270 imagens, sempre quadradas, retratam Lisboa na viragem do milénio, precedidas por um breve ensaio de João Vieira Caldas sobre o seu crescimento ao longo do século que terminou e seguidas pelos índices das fotografias e dos seus locais.
Luís Pavão tinha produzido para o projecto Lisboa Anos 90, Imagens de Arquivo, editado no final de 99, grandes imagens panorâmicas do Parque das Nações. Depois, ampliou a toda a cidade o registo de uma década de transformações aceleradas que fica marcado pelo simbolismo das grandes datas. Entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2001 (a conclusão das obras do Rossio), calcorreou a cidade. Não à procura dos acasos da fotografia de rua, mas com a disciplina de quem desenha o mapa da cidade em mudança, fixando os seus alvos, procurando os melhores lugares (e horas) de observação - muitas vezes elevados, às vezes com recurso a gruas - e assegurando o acesso a lugares reservados. Seguiu-se a transformação do inventário num livro, baralhando toda a topografia da cidade para a ver mais atentamente. Porque este é um livro sobre Lisboa, dedicado a Lisboa (também no sentido de um grande amor à cidade), mas é igualmente, ou é principalmente, um livro de fotografia. Um livro notável, que fixa uma data na história das edições fotográficas, ao mesmo tempo que oferece novos meios para pensar a história e o presente da cidade.
Das centenas de rolos que realizou, escolheu as imagens que às qualidades documentais e informativas convenientes ao seu projecto somassem outras qualidades menos tangíveis (de composição, de luz, de escala, de presença ou ausência humana, de sentido ou de ambiguidade de sentidos) pelas quais se reconhece uma boa fotografia. Não se trata de um livro de arquitectura e urbanismo, de um guia ou de um roteiro urbano; Luís Pavão fotografou também os habitantes na cidade, incluindo alguns retratos na sequência sempre imprevisível das suas imagens, e aliou à objectividade neutra da disciplina topográfica, nos seus formatos quadrados que exacerbam a atenção à geometria dos espaços, a perspicácia de um olhar inquiridor e a sensibilidade de uma relação empenhada.
Emparelhadas por proximidades ou contrastes formais, por associações de conteúdos ou de sentidos, por sequenciações temáticas, interrompidas por surpresas, as imagens dispersam-se pelo espaço da cidade e organizam-se ritmicamente, numa sucessão que constantemente se suspende pela sua própria diversidade, por vezes com uma ponta de humor, onde a cada «leitura» se descobrem novos motivos de atenção. É toda a paisagem e a vida urbana nos seus diversos elementos que se percorre: os edifícios como arquitectura e os seus usos (escolas, museus, mercados, etc.), as vias de circulação (pontes, túneis, viadutos), os novos centros urbanos (centros comerciais), as zonas verdes, desde a forte presença inicial do rio e dos cais até à sequência de lugares antigos e modernos contrapostos nos sete últimos planos.
Pode dizer-se que o retrato da cidade é lisonjeiro, porque estão quase ausentes o lixo, as barracas (já demolidas no Bairro da Musgueira), a degradação das casas, as intermináveis vedações das obras, o estacionamento selvagem. O projecto era precisamente o de fotografar a mudança, a transformação da cidade, e este retrato fiel e positivo (mesmo se muita arquitectura é de qualidade inferior) faz-nos bem ao ego e autoriza-nos desejar mais e melhor.
HENRIQUE MANUEL
(14 Dez.)
Foi o Museu da Imagem de Braga que resgatou do esquecimento este fotógrafo. activo entre os anos 30 e 50, depois antiquário em Braga (1909-1990), com uma obra eclétlca e contraditória que se dá a conhecer através de seis dezenas de provas de autor, com o interesse suplementar de ter sido primo e discípulo do comandante António José Martins (Ether, 1986). Intérprete do tardopicturialismo salonista, impressor de bromóleos até 1952, praticou o retrato pitoresco à maneira de Ortiz Echagüe e fez retratos «modernos» de Laura Alves (1945) e de Picasso, em 54, interessando-se igualmente pelo "nu artístico», a natureza-morta e a cor. Numa produção solúvel no padrão médio dos seus vários tempos (raramente vistos em provas da época, o que confere maior importância à mostra), destacam-se as paisagens de árvores mais ou menos solitárias que atravessam toda a sua obra. Infelizmente. o catálogo teve execução descuidada (escalas, cores, cortes e inversões de imagens), e a presença pública de Henrique Manuel Botelho nos salões e nas publicações do tempo foi só aflorada. (Até 5 Jan.)
(21 Dez.)
«Excepções à regra»
O espólio de um fotógrafo desconhecido
Henrique Manuel Botelho é mais um nome arrancado ao esquecimento que envolve a história da fotografia portuguesa. Uma exposição acolhida pelo Arquivo de Lisboa e produzida pelo Museu da Imagem de Braga, cidade onde se instalou como antiquário nos anos 50, especializado em gravuras, mapas e livros raros, dá a conhecer o espólio de provas de autor que foi conservado pela família. Integram-no umas seis dezenas de fotografias que vão do início dos anos 30 ao começo dos 50, formando um conjunto eclético que se organizou por núcleos intitulados «Paisagens e Costumes», «Estudos, Retratos» e «Composições», conforme a categorização salonista proposta numa exposição individual de 1937, embora cada secção inclua, de facto, direcções e experiências muito diversificadas.
A história fotográfica nacional não fica mais inteligível, mas o que aqui mais importa é a oportunidade de conviver com a realidade material das provas de autor, na diferença palpável dos bromóleos e brometos, das colorações a óleo e ensaios de cor. Algumas imagens anexas de Silva Nogueira, San Payo, Frederico Bonacho e António José Martins (primo de Henrique Manuel e seguramente o seu primeiro mentor fotográfico, a quem algumas provas são dedicadas) ampliam o prazer e o interesse da mostra.
Nascido em 1909 em Vila Pouca de Aguiar, onde residiu por muitos anos, Henrique Manuel foi um transmontano cosmopolita e viajado, que continuava a imprimir a bromóleo, nos anos 50, imagens do mais acabado gosto tardopictorial do naturalismo nacional (Magia Crepuscular, Candura, 1937-52), ao mesmo tempo que fotografava com agilidade os cabarés de Paris e retratava Picasso e Rosselini (este não exposto). Presente nos dois primeiros Salões Internacionais de Arte Fotográfica, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1937 e 38, afastando-se depois, participou em concursos internacionais e foi colaborador, com imagens e artigos, da «Foto-Revista», publicando um retrato de Laura Alves, de equívoco gosto moderno, na capa do "Mundo Gráfico», em 1944.
Se o «kitsch» e os estereótipos salonistas dominam em parte substancial da produção que é exposta, da visão idílica da ruralidade aos «nus artísticos», existem ao longo da sua obra fotografias que se isolam como contribuições marcantes, em direcções desencontradas e até contraditórias. Por exemplo, algumas paisagens rurais onde o carregado efeito matérico do bromóleo se distancia da rotina dos artifícios lumínicos e, em sentido oposto, duas ou três imagens de interesse documental (em especial, a do jogo da vermelhinha). Nos retratos, as peças mais significativas seguem aplicadamente o exemplo espanhol de Ortíz-Echagüe e Pla Janini, enquanto algumas paisagens desabitadas e árvores solitárias, algumas delas realizadas na Holanda, apontam para uma outra visão mais pura. (até 11 Jan./ «Neve», anos 30-50, bromóIeo)
2003
RUI FONSECA
(08-03-2003)
A falta de espaço e outras urgências foram adiando o destaque merecido pelas fotografias «Da Terra e do Mar», nova aparição de um discreto autor (n. 1960, Coimbra) revelado há dez anos na Ether com «Visão Litoral» e a que a mostra do Arquivo deveria assegurar maior projecção. Os itinerários foram-se alargando das praias do Oeste aos Açores («Litoral, 93/99», 2000) e percorrem agora também o interior, crescendo igualmente a acuidade de um olhar sobre o mundo para o qual a contemplação é um exercício activo de criação da paisagem (Margarida Medeiros intitula o seu prefácio «A criação do mundo», seguindo uma diferente leitura). Mais do que encontro, observação e registo, estas fotografias constroem os lugares, pelo domínio selectivo da luz e das distâncias – poderia falar-se de colagem e encenação a propósito destas imagens, graças, em especial, à dinâmica dos primeiros planos e da profundidade espacial . O livro editado é também excelente. (Até 29)
PEDRAS & ROCHAS
(18-04-2003)
Após a inauguração em Évora (Fórum Eugénio de Almeida, Jan.-Mar.), as fotografias passaram de 85 a 104, publicou-se um novo e admirável catálogo-livro (IST Press; impressão Guide, Artes Gráficas) e a montagem adequou-se ao novo espaço, numa exposição de câmara que constitui uma oportunidade raríssima de atravessar, sempre com excelentes provas, quase sempre «vintage», a história da fotografia dos anos 50 do séc. XIX até uma larga representação das décadas mais recentes (Mark Klett, Richard Misrach, Michael Kenna, etc), numa selecção que tem ainda a qualidade de evitar a repetição preguiçosa das imagens e dos nomes mais banalizados. O tema desdobra-se em multiplas direcções, da geologia à geografia, da religião (pedras e montanhas sagradas) à arte (os templos, a escultura), da exploração do mundo ao turismo fotográfico, prolongando-se num sem fim de pistas e comentários («Metáforas e Metamorfoses») sobre a vida e a morte, através de um percurso que é um imenso «puzzle» e nos confronta com toda a realidade da fotografia como documento, descoberta e criação artística. A ver repetidamente, inventando percursos pessoais através das múltiplos sentidos da montagem proposta por Jorge Calado. (Até 10 Maio)
VER LISBOApHOTO 2003
2004
Susana Dias, 21 Fev. - ar)
CATALÀ-ROCA
Barcelona/Madrid Anos 50
Galeria da Mitra 13-03-2004
2005
VER LISBOApHOTO 2005
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