Do Arquivo Expresso/Cartaz, Março de 1994...: a inauguração (ao tempo de Lisboa'94 Capital Cultural) do Arquivo Fotográfico de Lisboa, aliás, Arquivo Municipal de Fotografia, Lisboa, aliás, Arquivo Municipal de Lisboa, Núcleo de Fotografia
revista por ocasião da morte de Luísa Costa Dias, sua directora desde o início (ou sua responsável desde 1992),
e a propósito da aplicação da nova orgânica dos serviços da CML, cujos efeitos não conheço, mas sei que preocupam alguns interessados (pelo menos). De qualquer modo, a penúria em que a instituição, ou serviço, ou Núcleo, tem vivido é insofismável, desde 2006, provocando a quase paralização do seu programa de edições e exposições - embora o Arquivo tenha continuado a acolher importantes doações de espólios fotográficos.
Valerá a pena questionar o cerco ao Arquivo (?), ou o esquecimento do Arquivo, o desinteresse pelo Arquivo face ao interesse por novos equipamentos ou programas (mais ou menos efémeros). Porque o Arquivo, desde o seu novo início em 1994, não era só um depósito de fotografias (negativos, chapas, álbuns, documentação e provas originais, de trabalho, reimpressões e outras), mas um equipamento cultural em evidência no quadro cultural da cidade, com produção própria e com um programa de exposições que teve a vários níveis grande importância. Por aqui passa, desde 2006, por razões desconhecidas, um dos notórios fiascos da política cultural da Câmara de Lisboa, em paralelo com alguns êxitos que se reconhecem. E nem sequer é o caso de o Arquivo ter sido uma iniciativa oriunda de partidos passados à oposição, pelo contrário...
LISBOA FOTOGRÁFICA
Serão cerca de 300 mil as imagens armazenadas, somando os negativos e as provas, originais ou não, dos vários fundos, arquivos e colecções. Por enquanto não há contas certas: existe o edifício, inaugurado na segunda-feira, e uma estrutura, o Arquivo Fotográfico da Câmara de Lisboa, que herda uma longa história e um vastíssimo património mas está ainda a dar, de facto, os primeiros passos na utilização de modernas tecnologias de conservação e tratamento da fotografia, bem como a iniciar o seu estudo rigoroso.
É mais um novo equipamento essencial da cidade e uma jóia da estratégia de renovação patrimonial adoptada pela gestão de João Soares como vereador da Cultura. Além de uma data marcante na história da fotografia em Portugal.
Foi logo em 1871 que a Câmara deliberou dar início ao registo fotográfico das antigas edificações sujeitas a demolição. Depois, saltando vicissitudes várias, em finais dos anos 30 instituiu-se o Arquivo enquanto Fototeca do Museu da Cidade. Os depósitos foram crescendo, em precárias condições de funcionamento, e mudando várias vezes de abrigo, primeiro para o Palácio Galveias, depois para o da Rosa. A consulta pública do Arquivo fora suspensa em 1990, por inadequaçâo das instalações, mas continuaram então a adquirir-se, ou a receber-se por doação, espólios e colecções que têm feito aumentar constantemente o seu património histórico.
Foi o caso da colecção de Marques da Costa, com mais de dez mil fotografias que documentam o período do Estado Novo (são conhecidos os seus álbuns das visitas presidenciais às colónias, expostos pela Ether, em 1986, ainda sem atribuição de autoria); da colecção do fotógrafo Eduardo Portugal *, com cercade 60 mil imagens, em grande parte por descobrir, e também com livros e equipamento; das colecções de Amadeu Ferrari, Peixoto, Varvara, etc. Tudo isso se veio juntar ao chamado Fundo Antigo, com 3800 imagens realizadas entre 1898 e 1900 por um fotógrafo não identificado; à colecção de Joshua Benoliel, com cerca de 3500 images que datam de 1906 a 1917; às colecções de Bárcia, Paulo Guedes. Seixas, Soares & Mendonça, etc. É um acervo de importância fundamental para o conhecimento visual da história da cidade e do país, e também para o estabelecimento de urna história da fotografia em Portugal, que continua em grande parte por fazer.
Agora (com dois anos exactos de atraso em relação às previsões, mas houve que ultrapassar falências de emprenteiros e outros problemas), o Arquivo passou a ter casa própria, à Rua da Palma nº 246, situada no espaço recuperado de uma antiga fábrica de conservas de peixe, adaptado de raiz às novas funções pelo arquitecto Matos Alves, e dotado de tecnologia sofisticada.
O piso térreo abre directamente para um vasto espaço de exposições, em duas salas moduláveis, uma delas com uso possível como auditório e sala de projecções. Uma outra dupla galeria, de menores dimensões, é adaptável a zona de «workshops», no piso superior. Na inauguração, ambos os espaços estão ocupados por uma exposição intitulada «Provas originais, 1858-1910», que constitui uma primeira visita às reservas das mais antigas fotografias da colecção do Arquivo e permite o contacto directo, raramente possível, com os seus processos de impressão, formatos, cores (amarelecidas nas albuminas, surpreendentemente azuis nas cianotipias) e marcas da passagem dos anos. São 272 imagens, emolduradas ou apresentadas em expositores móveis, a manusear com luvas, e que na maioria dos casos são atribuídas a fotógrafos não identificados ou, por vezes, a autores como Francesco Rocchini, Benoliel, Cunha Moraes, Alfred Fillon, António Novaes, Júlio Worm e outros. A exposição é acompanhada por um catálogo, com grande qualidade de impressão.
No primeiro piso do Arquivo está também instalada uma biblioteca e sala de consulta, aberta à utilização pública. que conta com 14 terminais de uma rede informática já com acesso à visualização de 20 mil imagens digitalizadas e que mantém a possiblidade de recurso ao antigo catálogo de 80 mil fotografias catalogadas «à antiga». A ligação do sistema de disco óptico a impressoras «laser» permite o fornecimento rápido de cópias de trabalho de alta resolução.Outro elemento essencial do novo edifício é o depósito isolado com paredes duplas de aço e poliuretano, para manter constantes os valores de humidade e de temperatura, onde se conserva em segurança todo o acervo fotográfico original (com espaço disponível para triplicar o actual património). Outro depósito ("sujo") é reservado à passagem de colecções por tratar, e existe ainda uma sala frigorífica para materiais mais frágeis.
O Arquivo conta igualmente com um laboratório de restauro, dois de impressão a preto e branco e outro a cores, para além da zona administrativa e de um bar. Actualmente, na sequência de um processo de reorganização iniciado em 1990, dispõe de 22 funcionários (em 34 previstos), sob a chefia de Luísa Costa Dias (directora), Maria do Rosário Santos (responsável pelos Arquivos) e Luís Pavão (fotógrafo e técnico em conservação e restauro), estando administrativamente integrado na Divisão de Arquivos da CML.
Além de reactivar o anterior funcionamento dirigido às necessidades da Câmara e do público, o Arquivo projecta desenvolver actividades pedagógicas, dedicadas às escolas, manter uma actividade expositiva regular e, em especial, avançar com o inventário, estudo e classificação do seu vastíssimo património, em grande parte desconhecido. Por outro lado, projecta-se reactivar o levantamento fotográfico da cidade, nomeadamente cobrindo a transformação da zona oriental por efeito da Expo 98, mas, neste e noutros domínios, a existência de apoios mecenáticos regulares e pontuais condicionará a actividade a desenvolver no futuro próximo.
No âmbito da capital cultural, serão apresentadas as exposições «Sete olhares. Cem anos na vida de uma cidade», com fotografias de Wenceslau Cifka, Rocchini, Benoliel, Armando Serôdio, Eduardo Portugal, Paulo Guedes e Artur Bércia, e «Lisboa ribeirinha no final do século XIX», com imagens das suas colecções. Entretanto, já a 6 de Maio, mostrar-se-á uma exposição de fotografia mexicana que fez parte do programa da última Europália (1993) e que surge integrada no programa da capital ibero-americana da cultura. Exposições de fotógrafos actuais e acções de intercâmbio com estruturas equivalentes nacionais e estrangeiras estão igualmente previstas.
* O espólio de Eduardo Portugal foi apresentado durante o LisboaPhoto de 2003.
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