...o "extraordinário fresco que cobre a parede da boite do Hotel Chuabo e que foi realizado por cinco artistas locais". "Estes artífices decoravam as paredes dos edifícios das aldeias em que viviam, nos arredores de Quelimane. 'Descobertos' pelo arqto Eduardo de Lima Figueirinhas Correia, aceitaram o convite e realizaram, com tinta corrente da construção civil, o fantástico painel que se pode admirar no último piso do Hotel Chuabo". Ana Tostões e Maria Manuel Oliveira
A pintura mural realizada por artistas africanos no piso superior do Hotel Chuabo é um caso de surpreendente sobrevivência, vinda do início dos anos 60 até ao presente, para além do facto da sua origem se ter tornado num enigma que só recentemente se esclareceu. Vimos na nota anterior que foram Jorge Dias e Margot Dias os responsáveis pela respectiva memória escrita, sem referirem os arquitectos envolvidos no projecto e na construção, que não conheciam directamente.
Ao que parece, a informação disponível em Moçambique não permitiu acrescentar outras informações, para lá de se constatar que as pinturas ainda existiam em 1996, segundo a tese de doutoramento da Alda Costa apresentada em 2005 na Faculdade de Letras de Lisboa, que é a mais completa investigação histórica sobre as artes plásticas no país: ARTE E MUSEUS EM MOÇAMBIQUE. Entre a construção da nação e o mundo sem fronteiras (c. 1932-2004), a aguardar publicação.
"Escada de acesso ao restaurante do Hotel Chuabo"
Além das duas imagens que reproduzi antes, a única outra fotografia de que disponho foi encontrada num blog memorialista assinado por RjL (?): (Quelimane) com data de 27 Dez. 2005, consultado hoje, 6Jul.2011.
Daí retiro outra fotografia do restaurante, julgo que do espaço fronteiro ao grande painel pintado
Um outro blog, intitulado Ferraz no Índico , de Nuno Ferraz, incluia em 16 Out. 2007 informação e extensa documentação fotográfica sobre o Hotel, acrescentando num post scriptum que "os arquitectos responsáveis são Arménio Losa e Cassiano Barbosa e o projecto data de 1956-1959" ( inf. com origem no Porto , que acrescentava um segundo enigma...). Significativamente, a pintura mural não é referida num comentário que valorizava em especial a modernidade e a excelente conservação do edifício.
"As escadas, um dos elementos estruturantes do edifício." Nuno Ferraz
No átrio de entrada,
"Aurora de Quelimane (autor desconhecido) ca. 1962" - Jaipas (?) Um relevo escultórico vindo do Porto, que é atribuído a JOSÉ RODRIGUES no trabalho de investigação de Ana Tostões e Maria Manuel Oliveira.
Várias outras fotografias das escadas do Hotel aparecem no Google:
"Escadas em forma de caracol, no Hotel Chuabo, em Quelimane, província da Zambézia. O Hotel é de quatro estrelas, com seis andares."
E o edifício do Hotel, by talos2005 (Panoramio)
O artigo de Ana Tostões e Maria Manuel Oliveira publicado no "DOCODOMO Journal", nº 43, 2010/2 (num nº dedicado aos 50 anos de Brasília) intitula-se "Transcontinental Modernism. M&G as an Unité d'habitation and a factory complex in Mozambique" (ou "Moderno Transcontinental: o Complexo Monteiro & Giro em Quelimane, Moçambique", no título da comunicação apresentada no 9º Seminário Docodomo Brasil) é dedicado à modernidade dos programas e da pesquisa formal posta em prática por Arménio Losa (1908-1988) e Cassiano Barbosa (1911-1999). O atelier é reconhecido pela importância de outros edifícios construídos no Porto, nas ruas da Carvalhosa (1945), de Sá da Bandeira (1946), onde por muito tempo funcionou o Instituto Francês, e de Ceuta (1950).
O projecto do complexo Monteiro & Giro, um "empório comercial com administração no Porto", começou por ser uma encomenda de 1954 e a sua execução prolongou-se até ao final da década de 60. Arménio Losa não se terá deslocado nunca a Quelimane, sendo o acompanhamento do projecto realizado no local pelo arquitecto Eduardo de Lima Figueirinhas Correia (n. 1922, conhecido então como arq. Figueirinhas), a quem cabe a iniciativa da decoração mural realizada por artistas locais (de etnia lómue segundo informava Jorge Dias).
O artigo refere o "extraordinário fresco que cobre a parede da boite do Hotel Chuabo e que foi realizado por cinco artistas locais" e acrescenta em nota: "Estes artífices decoravam as paredes dos edifícios das aldeias em que viviam, nos arredores de Quelimane. 'Descobertos' pelo arqto Eduardo de Lima Figueirinhas Correia, aceitaram o convite e realizaram, com tinta corrente da construção civil, o fantástico painel que se pode admirar no último piso do Hotel Chuabo". (É o 9º piso, segundo se refere noutro passo). A versão inglesa do artigo é abreviada para "The contribution of European and native artists can still be admired in the entrance hall and in the huge mural of the Chuabo Hotel dance hall."
Um pormenor do painel do Chuabo apropriado por António Quadros: "Zambezalho à minhota (e à minhoca)", óleo s/ linho, 28x39cm, não dat. (pag. 225, António Quadros, O Sinaleiro das Pombas, Porto 2001)
Comments