Já percebi porque é que os marinheiros (O Marinheiro) do Constantino Fernandes não estão no Museu do Chiado, entre as obras do século XX que se mostram da colecção (cabia bem no espaço de passagem onde estava habitualmente o Grupo do Leão). É de 1913, adquirido pelo Estado nessa data por um novo museu republicano, é um quadro moderno, mesmo que não seja de vanguarda (mas também não é naturalista, nem tardo-naturalista), e ajudaria a perceber como há neo-realismo nos anos 40 e por que a representação figurativa vai "reaparecer" do nada (!?) nos anos 60 (será a III parte do ciclo de exposições e catálogos), sob o nome de neo-figuração - cedendo à maneira académica de explicar essas cronologias*.
ao lado está a Adelaide, do Malhoa, estudo para O Fado.
E também foi emprestado um bom Eduardo Vianna, naureza morta de 1943 (com) Guitarra Minhota
que acompanha bem o seu K4 Quadrado Azul, de 1916, e outra viola do Amadeo (Pintura, c. 1917), ambas da Gulbenkian.
No Museu do Chiado deviam justificar essas faltas dirigindo os visitantes para a exposição que se apresenta (confidencialmente) no Pátio da Galé ao Terreiro do Paço, agora com entrada pela Rua do Arsenal. Além do mais estabecer-se-iam "sinergias".
* No lugar proposto (e ficaria a acompanhar os estudos trípticos do Almada) poderia explicar-se que não se trata (ainda) do "retorno à ordem" dos anos do 1º pós-guerra, nem do "modernismo temperado" que costuma atribuir-se aos malefícios do Regime (a tal "nova orientação estética imposta pelo Secretariado de Propaganda Nacional"...), esquecendo-se as marcas fortes da década internacional de 30 (ou seja, os neo-classicismos, realismos e regionalismos dos anos 30 anti-fascistas, que o SNI acompanha à sua maneira, bem e no tempo certo: era "Le Temps Menaçant", como se subintitulou a exp. "Années 30 en Europe, 1929-1939", MAM Paris 1997, que por cá se ignorou e lá nos incluiu só nas cronologias). Mas aqui, com O Marinheiro, estamos nos realismos (pós-impressionismos ou anti-impressionismos) do princípio do século XX - e Raquel HS apontava bem no catálogo de 1994 a "situação cinematográfica" e a quase sugestão do "clima estético do neo-realismo italiano de muitos anos depois". No catálogo de 1994, a obra tinha cabido na secção (ou no saco fundo) do "Tardo-naturalismo", com outras coisas que o não são; agora, com a edição mais three-coffee table de 2011 passou ao 1º vol. que é respeitante a um séc. XIX mal esticado (1850-1910). Atropelos classificativos e agora temporais.
Mas tudo isto é fado.
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