Tinha adiado a visita ao CCB, mas a surpresa foi maior. O Museu está muito bem e com gente, o que também é bom. As acções de Joe Berardo estão em baixa, mas o Museu Colecção Berado é uma boa acção e está em alta.
em cima um pequeno Tinguely entre Vasarely e Bridget Riley (1961, 1957 e 1970); em baixo Francis Gruber, Germaine Richier, Balthus e Emilio Greco em 1º plano (1944, 1946-51, 1935 e 1951)
A crise tem por consequência positiva reduzir a rotação dos eventos e devolver ao Museu a ideia essencial de colecção permanente, mesmo que esta possa rodar, reordenar-se, refrescar-se e em especial enriquecer-se. Demasiadas vezes ouvi aos balcões do Museu um funcionário constrangido a tentar explicar a um visitante questionador que não havia espaço para a colecção ou que esta cedia o lugar às mostras temporárias. Agora está lá a colecção e está bem, tal como ela é, com obras de primeira escolha e outras nem tanto, o que dá espaço para entender seguidores e sucedâneos, vulgarizações e estilos colectivos - o que é instrutivo quando se compara com uma colecção nacional, por exemplo o século XX do Chiado, onde quase tudo são atrazadíssimas e menores traduções para português do que circulava por fora décadas antes: não lhes chamem pioneiros. Comparem-se os breves surrealismos que por cá se arrumam por junto depois do "neo-realismo" mas que no CCB estão desde os anos 20 e com variações e cópias locais, o que é simpático constatar, enquanto o que à data, 1948, ocorre é já a "revolução" Cobra, muito bem representada pelo grande Asger Jorn e o Karel Appel (1952,1951), onde as figurações se reencontram outra vez primitivas (e agora ladeado por uma pintura de José Escada, 1960, que é outra história mas está ali bem - é um dos poucos portugueses incluidos).
Karel Appel e Asger Jorn. Em baixo José Escada
O começo do século é bastante carente - chegava-se às escolas ditas vanguardistas mas não a obras maiores, em especial das tradições expressionistas e afins -, o que a seguir se corrige, até porque a colecção começou por se dedicar ao pós II Guerra. A ideia de documentar estilos ou tendências ganha mais substância específica na parede dos norte-americanos pós surrealistas e dos parisienses - mais ou menos abstractos, conforme. Os textos de parede parecem melhores do que é costume, menos académicos, mas aí ainda escorregam quando põem a Vieira a "libertar-se" da figuração, como se alguém ficasse em liberdade e a malvada não voltasse a seguir ou ao lado... Falta libertarmo-nos do evolucionismo finalista.
O arménio Gorky (aquisição recente?), Pollock, Baziotes e Gottlieb (depois Tobey). Ao meio Guston, De Kooning e Lee Krasner. Em baixo Vieira da Silva, Manessier, Poliakoff e De Stael.
Estão perto os casos individualizados do italiano Vedova, do holandês Bram Van Velde, bem representados, e do alemão Hartung, cuja obra está certamente mal orientada, e deveria rodar 90º para a esquerda (assim vinha nos catálogos anteriores e parece melhor).
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O filme da inauguração, com F. José Viegas ("A reorganização da colecção é espantosa, um bocadinho esmagadora, até. Acho que é uma perspectiva notável e muito bem organizada da história da arte do século XX. É fantástico."), Pedro Lapa, o coleccionador Berardo, ttc: http://youtu.be/vFwPV2PIhx0
Posted by: AP | 11/19/2011 at 17:06