Quando o ex-ministro da Economia Manuel Pinho anunciou em Julho de 2008 o projecto do Novo Museu dos Coches (e ele foi da sua responsabilidade por via dos dinheiros do Turismo...), disse que "as obras deverão começar no dia 1 de Setembro próximo e a inauguração está marcada para o dia 5 de Outubro de 2010"... Falharam os coches republicanos (!?) às comemorações do centenário e há agora (2011...) condições para remediar parte do disparate.
antevisão do museu-garagem de Paulo Mendes da Rocha
Sucessivos ministros da Cultura, desde Isabel Pires de Lima, vieram dizer que o projecto do novo Museu dos Coches lhes era alheio, distanciando-se de tal ideia - então retomada à revelia do seu Ministério e do Instituto dos Museus, apesar de se tratar de um longo folhetim que vem pelo menos de 1998 e de António Guterres e M. M. Carrilho (sempre ele...), depois retomado por Santana Lopes (sempre ele), em 2005. António Costa, enquanto presidente da CML, declarara-o "desnecessário" logo em Dezembro de 2008, mas escusou-se a um conflito com Sócrates porque o espaço e a tutela eram do Governo (embora os dinheiros do Casino fossem de Lisboa...)
A última vez que o Ministério da Cultura se descolou publicamente do Novo Museu dos Coches de Paulo Mendes da Rocha foi certamente em 20 de Janeiro 2010, por ocasião da apresentação do plano estratégico "Museus para o séc. XXI" - afirmou então o professor João Brigola, novo director do IMC, que se tratava de um projecto herdado, que "não foi possível reavaliar".
Mas a "primeira pedra" foi mesmo colocada pela ministra Canavilhas e pelo 1º ministro poucos dias depois, a 1 de Fevereiro 2009, por sinal assinalando-se nessa data os 100 dias do Governo Sócrates II. Se a teimosia era uma das suas grandes qualidades, e chamava-se determinação, aqui foi grave insistir no erro sem ouvir ninguém. Ainda por cima, já então se tinha desistido de esvaziar o actual Museu dos Coches para dar lugar à reactivação do Picadeiro Real, desaconselhada por razões de conservação, ainda que tivesse sido esse o motivo inicial para o Museu trocar de lugar.
ALGUNS DADOS - DESDE 1994 - PARA SITUAR A QUESTÃO:
# De 2008 para 2010
Manuel Pinho decidiu fazer o Museu e escolheu o arquitecto em 2008
"Está previsto para o dia 5 de Outubro [de 2010] a inauguração do novo Museu Nacional dos Coches. A data foi avançada pelo Ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, ontem ao final da tarde no antigo espaço das Oficinas Gerais do Exército, local que vai albergar as novas instalações do museu. (...) O novo Museu dos Coches, "projecto que começou a ser planeado há 15 anos", como referiu o ministro Manuel Pinho, faz parte de um projecto estratégico do Governo com o objectivo de desenvolver a zona de Belém até 2015. As obras deste novo museu começam em Setembro deste ano e envolve um investimento à volta dos 31,5 milhões de euros, sendo que estes valores provém de receitas do Casino de Lisboa." - 10 Julho 2008, Diário de Notícias
A história era antiga e a transferência do Museu dos Coches para as antigas Oficinas Gerais, no âmbito de um muito ambicioso novo complexo, já tinha sido falada em 1995 (ver Expresso, "Museus em pré campanha", de 03-06-95 ):
"Ainda quanto à área de Belém, (...), voltou entretanto a publicitar-se o projecto de transferência do Museu dos Coches para as instalações das antigas Oficinas Gerais de Material de Engenharia, comprado pela SEC ao Exército. O Museu seria devolvido à antiga função de Picadeiro, onde se realizariam actuações da Escola Portuguesa de Arte Equestre (...).
Prevê-se que no mesmo local, para o qual não existe ainda qualquer projecto definido, se venham a acolher as instalações do Arquivo Nacional de Fotografia (...) e, possivelmente, outros espaços arquivísticos, nomeadamente destinados ao Arquivo de Belas Artes que a Fundação Gulbenkian se dispôs a ceder ao Estado, com a condição da sua abertura ao público. Situado simétricamente ao CCB, será um novo complexo de grande vulto cuja reconstrução se prolongará por vários anos." Aí ficaria também a sede do então Instituto Português de Museus."
Esse era o tempo de Cavaco 1º ministro e de Manuel Frexes sub-SEC, nas vésperas da vitória de Guterres.
# De 2005 para 2008
Em 2005 Santana Lopes - já 1º ministro (!!) - tinha anunciado a coisa para 2008:
"Novas instalações para a Escola Portuguesa de Arte Equestre e Museu dos Coches" (site do governo, desactivado: Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas)
2005-02-10
Numa cerimónia presidida pelo Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Santana Lopes, foi assinado, esta quinta-feira, um protocolo que permitirá instalar o Museu dos Coches e a Escola Portuguesa de Arte Equestre no espaço das antigas Oficinas Gerais de Material de Engenharia, situadas na Avenida de Índia.
O protocolo entre o Serviço Nacional Coudélico, o Instituto Português do Património Arquitectónico e a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais permitirá igualmente restituir ao actual edifício do Museu dos Coches as suas funções originais de Picadeiro.
O plano de instalação prevê que todos os passos a dar permitam que a construção se inicie em 2007 e que o novo espaço entre em funcionamento em 2008.
Recorde-se que desde 1979 [?!] as instituições em causa aguardam a sua instalação nas antigas Oficinas Gerais de Material de Engenharia."
Houve protestos e inquietações: "Para onde vai a arqueologia portuguesa?" perguntava Carlos Fabião a 13-02-2005
"(...) mas, as antigas Oficinas Gerais de Material de Engenharia não constituem propriamente um imóvel devoluto ou abandonado. Entre outros serviços, eventualmente de menor expressão, do Ministério da Cultura, trata-se do local onde está sediado o Instituto Português de Arqueologia (o instituto público a quem compete o inventário e salvaguarda do património arqueológico nacional), o CIPA (Centro de Investigação de Paleoecologia, um organismo científico da maior importância para o estudo das realidades ambientais antigas, do espaço que hoje é Portugal), o CNANS (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, a entidade pública que vela pela salvaguarda do património histórico nacional, em meio subaquático). Como se não bastasse, é no IPA também que se encontra a mais importante biblioteca de Arqueologia existente em Portugal. (...) ."
# De 1998 para 2000
Já se tinha anunciado antes o Novo Museu para 2000, com o Picadeiro Real e as cavalariças...
"Museu dos Coches alberga o Picadeiro Real" ( desactivado - http://www.imultimedia.pt/rimus/noticias.htm : Rimus, Rede Interactiva de Museus...)
"O Museu Nacional dos Coches vai albergar, em 2000, o mais antigo picadeiro barroco do mundo: o Picadeiro Real
O museu vai ser transferido para as antigas Oficinas Gerais de Material de Engenharia do Exército (OGME), de modo a aproveitar as suas actuais instalações para a instalação daquele Picadeiro. Esta transferência prende-se com a necessidade de dotar a Escola Portuguesa de Arte Equestre de um recinto para espectáculos de gala, digno do seu excepcional nível e, por outro lado, poder articular-se de forma ideal com a construção de um novo Museu dos Coches e com a reabilitação do espaço das antigas Cavalariças Reais.A comissão que vai coordenar este projecto é presidida por Rui Vilar e integra representantes dos ministérios da Cultura e da Agricultura e da Câmara Municipal de Lisboa.
O novo museu necessita de uma área total de 12 mil metros quadrados, distribuídos por vários andares, onde haverá também espaço para depósitos, restauro e conservação. Nas antigas instalações da OGME irão também ficar o picadeiro de trabalho e ensino e as cavalariças da Escola Portuguesa de Arte Equestre."
A resolução oficial de fazer o novo Museu dos Coches vinha de António Guterres e Carrilho, em 1998, associada ao projecto de reactivar o Picadeiro Real
Resolução do Conselho de Ministros nº 79/98, 7-7-1998 - DIÁRIO DA REPÚBLICA:
"Desde há muito que se reconhece que o actual espaço ocupado pelo Museu dos Coches é demasiado pequeno para acolher e exibir toda a valiosa colecção do Museu, de cujo acervo só cerca de um terço pode actualmente ser mostrado ao público. A criação de um novo museu dos coches é, por isso, um projecto desejado há largos anos e ao qual o Governo entende dever dar o maior relevo e a devida prioridade.
O actual Museu dos Coches — inaugurado em 1905 pela rainha D. Amélia — ocupa um edifício que foi construído no final do século XVIII para servir de Picadeiro Real em ligação com as adjacentes Cavalariças Reais, que se situavam no espaço ocupado até recentemente pelas Oficinas Gerais de Material de Engenharia do Exército, entretanto adquirido pelo Ministério da Cultura.
A restituição daquele edifício — o mais antigo picadeiro barroco do mundo — à sua função original conjuga-se com a necessidade de dotar a Escola Portuguesa de Arte Equestre de um recinto para espectáculos de gala digno do seu excepcional nível e, por outro lado, pode articular-se de forma ideal com a construção de um novo museu dos coches e com a reabilitação do espaço das antigas Cavalariças Reais.
Considerando o facto de este projecto significar uma importante intervenção na zona de Belém, no lado nascente da Praça do Império, de exigir um investimento considerável e de a sua concretização envolver vários ministérios, a Câmara Municipal de Lisboa e outras entidades:
Assim: Nos termos da alínea g) do artigo 199 e da alínea c) do n.o 1 do artigo 200 da Constituição, o Conselho de Ministros resolveu:
1 — Constituir a Comissão Novo Museu dos Coches e Picadeiro Real, encarregue de coordenar a criação do novo museu nacional dos coches no espaço adquirido às Oficinas Gerais de Material de Engenharia do Exército (OGME), a reactivação do Picadeiro Real, através da reconversão do actual local do Museu, e a reabilitação do espaço das antigas Cavalariças Reais, designadamente para instalação e treino diário da Escola Portuguesa de Arte Equestre.
2 — Para concretização dos objectivos enunciados, a Comissão apresentará ao Conselho de Ministros, até 31 de Dezembro do corrente ano (1998), o programa e as funcionalidades do projecto global, os termos de referência do projecto de arquitectura e do projecto museológico, bem como as estimativas dos respectivos custos. Subsequentemente, a Comissão será responsável por promover as acções necessárias à elaboração do ou dos cadernos de encargos, concursos e processos de adjudicação, bem como pelo acompanhamento da fase de realização e concretização da iniciativa até à sua conclusão.
...
4 — A Comissão é constituída pelo Dr. Emílio Rui Vilar, que preside, por dois representantes do Ministério da Cultura, por dois representantes do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, por um representante do Ministério das Finanças e por um representante da Câmara Municipal de Lisboa.
...
6 — O apoio logístico e administrativo necessário para o funcionamento da Comissão é assegurado pelo Ministério da Cultura.
Presidência do Conselho de Ministros, 17 de Junho de 1998. — O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.
# 1994
A passagem do lugar militar para a Cultura é de 1994
"Com uma área total de 16.540 m2 e uma área coberta de 12.111 m2, e cerca de 280 trabalhadores, as instalações (da antiga OGME) foram cedidas em 7 de Dezembro de 1994 por protocolo do Ministério da Defesa Nacional (M.D.N.) à Secretaria de Estado da Cultura." ver: exercito,pt
[tinha sido criado há pouco o Instituto Português de Museus, e julgo lembrar-me de uma transferência interministerial por 1 milhão de contos. Era o tempo de Simoneta Luz Afonso, Santana Lopes e Cavaco Silva]
"Desde 1996 que as antigas instalações das OGME, sob a Tutela do recém-criado Ministério da Cultura, foram sendo ocupadas por diversos dos seus organismos (IPPAR, IA, IGAC, TN, etc), sendo que a maior parte da área se encontrou até 2007 ocupada pelo Instituto Português de Arqueologia que efectuou obras mais ou menos profundas em diversos edifícios. Com a criação do IGESPAR, em 2007, este organismo ocupa cerca de 75% das instalações." Paulo Ferrero, http://carmoeatrindade.blogspot.com
AUGUSTO M. SEABRA, A SÍNDROME DOS COCHES, 2009-04-17, Artecapital (ligação activa em 22/05/2015)
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