1990 / 1991 / 1992 / 1993 - O CCB apareceu com a justificação ou o propósito de aí decorrer a 1ª presidência europeia que coube a Portugal, no 1º semestre de 1992, ao tempo de Cavaco 1º ministro. O interior do Módulo 1 tem ainda características de um bunker envidraçado, conforme as medidas de segurança então consideradas necessárias. Projectado como um grande equipamento cultural ainda nos tempos de Teresa Gouveia (na SEC em 1985-90) e de António Lamas (no IPPC, Instituto Português do Património Cultural), o respectivo programa "perdeu-se" com a transição para a seguinte tutela, entrando-se numa grande confusão sobre o destino museológico e a estrutura de financiamento e administração.
Tão grave como o escorregar dos custos foi o facto dos edifícios se terem erguido sem que os arquitectos recebessem indicações precisas sobre os futuros programas de utilização do CCB. «Continuamos a não saber se é um Museu de arte contemporânea, de arte antiga, se é intemporal, como vai ser gerido... isto tem tudo uma importância muito grande para a definição arquitectónica», dizia Vittorio Gregotti ao EXPRESSO, logo em 21-12-91, a propósito do Centro de Exposições.) Depois da presidência portuguesa, a casa reentrou em obras por mais um ano e o seu destino voltou a mergulhar em incertezas. As 1ªas exposições do CCB abriram a 10 de Junho de 1993. (ver 11-10-95 )
Por coincidência, as 1ªas obras da colecção Berardo foram apresentadas como uma colecção particular não identificada na Galeria Valentim de Carvalho, em Julho de 1993. Incluia então trabalhos de Albers, Dubuffet, Enrico Baj, Rotella, Villeglé, Fontana, Yves Klein, Arman, Spoerri, Christo, Niki de Saint Phalle, Joe Tilson, Peter Caufield, Rauschenberg, Adami, Keneth Noland, e também de outros artistas surgidos nos anos 80 como Barceló, Combas, Clemente, Blais e Matt Mullican.
6-5-1995 (EXPRESSO/Cartaz): A 1ª notícia sobre o futuro museu
"A importância da colecção de arte contemporânea que está a ser reunida por Joe Berardo e também o seu propósito de a instalar numa galeria pública em Portugal foram referidos com destaque no número de Fevereiro da revista americana ARTnews, que salienta os elevados valores atingidos por algumas aquisições realizadas em leilões da Sotheby's e da Christie's.
Ao intitular o artigo «Portugal's Mystery Man», a revista não menciona o nome de Francisco Capelo, do Banif, que tem conduzido as aquisições para a colecção do financeiro madeirense Joe Berardo, mas cita-o sob anonimato declarando esperar que a colecção possa ficar disponível ao público português ainda durante o ano de 1995. «Estamos num país onde não existe numa colecção pública de arte internacional do pós-guerra», sublinha a mesma fonte.
A revista ARTnews informa também que o «misterioso coleccionador lisboeta está a negociar o empréstimo da sua colecção à cidade de Lisboa, se esta aceitar fundar e manter uma galeria pública».
(...) está presentemente em estudo a hipótese da colecção ficar sediada em Sintra, por iniciativa da respectiva Câmara, depois de se terem ensaiado contactos que não chegaram a bom termo com instituições governamentais. O antigo Casino de Sintra, onde estão a realizar-se obras de beneficiação, seria o lugar escolhido para o museu, se tiverem êxito as negociações que estão a decorrer com Edite Estrela, a qual não quis ainda pronunciar-se sobre o assunto.
(...) A instalação da colecção de Joe Berardo num local público em Portugal, mediante o estabelecimento de um protocolo que assegure a cedência de um espaço museológico e a partilha dos custos de funcionamento, bem como a continuidade das compras por parte do titular do acervo, foi objecto de contactos com responsáveis do Instituto Português de Museus e também do Centro Cultural de Belém, que manifestaram grande interesse pela vinda da colecção para o país, sem, contudo, avançarem com a possibilidade de assegurar os investimentos necessários.
21-09-1996 (EXPRESSO/Cartaz): "Colecção Berardo entre Sintra e o CCB"
"...dois acordos, envolvendo a autarquia e o Governo, através da Fundação das Descobertas, vêm concluir demorados processos negociais esboçados desde 1994, com vista a garantir a permanência no país e a exposição pública da única colecção de arte contemporânea com dimensão museológica existente em Portugal. O acontecimento reveste-se de um significado comparável ao da instalação da Colecção Gulbenkian em Lisboa, nos anos 50, uma vez que vem colmatar, em grande medida, a falta de um museu de projecção e âmbito internacional dedicado à criação artística das últimas décadas.
(...) o edifício do Casino não dispõe de espaço para acolher mais do que uma parte reduzida da colecção (cerca de 30 por cento do acervo actual), o que justificava a procura de outros lugares de depósito e exposição temporária das obras reunidas. É esse o sentido do protocolo a assinar com a Fundação das Descobertas, apesar de se aguardar a curto prazo a alteração da sua actual estrutura jurídica, certamente para dar origem a uma empresa pública. O CCB dispõe de condições para funcionar como espaço de reserva e conservação, assegurando, em contrapartida, a possibilidade de acolher exposições temporárias de outros segmentos do acervo (ou outras exposições internacionais promovidas pela Colecção Berardo e o Sintra Museu), bem como de promover a circulação no estrangeiro das mesmas obras. De facto, o acordo assegura ao CCB a possibilidade de dispor de um património que lhe permitirá aceder a um nível internacional de intercâmbio com instituições congéneres, o qual lhe estava vedado por falta de colecção própria.
O projecto de instalação da colecção de José Berardo num local público em Portugal, mediante o estabelecimento de um protocolo que assegurasse a cedência de um espaço museológico e a partilha dos custos do seu funcionamento, ficando por outro lado garantida, em princípio, a continuidade das compras por parte do titular do acervo, foi objecto de contactos, logo em 1994, com responsáveis do Instituto Português de Museus e também do Centro Cultural de Belém. Simoneta Luz Afonso manifestou oportunamente o interesse do IPM pela vinda da colecção para o país, sem, contudo, ter encontrado ao nível do Governo o apoio necessário para assegurar as contrapatidas correspondentes. Na situação anterior de indeterminação do programa do CCB, também os contactos desenvolvidos por José Monterroso Teixeira não tiveram sequência por parte da tutela.
A situação alterou-se com a entrada em funções do actual executivo, já depois de posto em marcha o projecto do museu de Sintra. No início deste ano, esteve previsto o estabelecimento de um protocolo de colaboração entre a Colecção Berardo e o Museu do Chiado, com vista à utilização do espaço da Gare de Alcântara. O adiamento da inauguração da Gare para o próximo ano e as melhores condições oferecidas pelo CCB para acolher a colecção Berardo ditaram a mais recente orientação.
17-5-1997 (EXPRESSO/Revista): Museu Berardo em Sintra «Para entrar no século XX»
AINDA acontecem milagres. Não se pode classificar de outro modo a abertura ao público, amanhã, do Museu de Sintra e a instalação em Portugal de uma colecção de arte da segunda metade do século XX — já a ser prolongada, aliás, com significativos recuos aos anos 30.
Projectos de pequena escala arrastam-se em hesitações de décadas (Serralves [inaugurou-se em Junho de 1999]), paredes colossais inauguram-se sem conteúdo (Belém) e, de repente, um particular propõe-se fazer o que se tinha já por inimaginável. Que tenha sido também necessária, e possível, a determinação de uma Câmara, graças ao empenhamento de Edite Estrela, é algo que reforça ainda o mesmo milagre.
Colecção e museu, privados, têm uma escala pública e uma ambição de Estado. Como diz ao EXPRESSO Francisco Capelo, o conselheiro e colaborador do comendador José Manuel Berardo, tratou-se de preencher um vazio histórico e de trazer o séc. XX até Portugal — ou, se se quiser, de levar Portugal ao séc. XX, extirpando um dos redutos do atraso cultural. A colecção Berardo e o Sintra Museu de Arte Moderna, onde se dá a ver cerca de um terço do actual acervo, o que permitirá sucessivas montagens parcialmente rotativas, comparam-se, de facto, quanto ao período em causa, com os grandes museus internacionais. Têm uma ambição cosmopolita e um horizonte temporal raríssimos nas colecções particulares.
17-5-1997 (EXPRESSO/Revista): "Paixão privada, ambição de Estado", entrevista
Como surgiu a ideia de apresentar ao público a colecção?
Francisco Capelo — Houve desde o início a ideia de criar um museu de arte moderna e contemporânea em Portugal. A colecção Berardo nasceu com o conceito de colecção pública, para desempenhar um papel público, ou seja, para preencher um espaço sentido pelo público como um vazio, uma falta. Há dezenas de anos que se ouve dizer que Portugal precisa de um museu de arte moderna. A Gulbenkian preencheu uma lacuna com a colecção do CAM de arte portuguesa do século XX, mas não permite o dialogo com as correntes que inspiram essa mesma arte portuguesa.
(...) Chegou a haver contactos com o anterior Governo, em 94, que não resultaram...
F.C. — Não chegaram exactamente a ser contactos... Quando se tem uma estratégia, uma pessoa não pede, porque ninguém ajuda os necessitados... Nunca pedi nada — eu sugeri que havia uma colecção, que ela tinha este projecto, que muitas das peças já se encontravam em museus, franceses especialmente, e que havia a disponibilidade... Nessa altura, o local óbvio era o CCB, que é um espaço fantástico (só é pena que não tenham acabado de arranjar os espaços à volta, com o habitual desleixo nacional), mas, infelizmente, à área política que estava no poder faltava-lhe sensibilidade cultural.
24 de Maio 97 (EXPRESSO, 1ª pág.) O primeiro Picasso
A colecção Berardo já conta com um quadro de Picasso. Trata-se de uma tela de 1929, «Fêmme dans un Fauteuil» (Mulher numa cadeira de braços), e foi adquirida no leilão da Christie's do dia 14, em Nova Iorque, licitada pelo telefone por Francisco Capelo, desde Lisboa. Levada à praça com uma estimativa entre 2,5 e 3,5 milhões de dólares (425 e 595 mil contos), a pintura foi arrematada por um montante um pouco inferior ao valor máximo. Não é um record para uma obra de Picasso, mas ultrapassa em muito a peça até agora mais cara da colecção de José Berardo (um Dubuffet de 1949 que custara cerca de 137 mil contos).
06-09-1997 (EXPRESSO/Cartaz): The Pop’60’s – Travessia Transatlântica, no CCB
"A temporada das exposições abre cedo e sob signo Pop (abreviatura de popular), com a inauguração da próxima quarta-feira no Centro Cultural de Belém." (...) Foi a primeira grande mostra do CCB organizada a partir da Colecção Berardo, contando com o seu núcleo de obras Pop e aparentadas. A Pop continua a ser um dos núcleos principais da Colecção
29-01-2000 (EXPRESSO/Cartaz): 1ª apresentação da Colecção Berardo no CCB
"MESMO para quem acompanhou a inauguração em 1997 e as sucessivas remontagens da Colecção Berardo no Museu de Sintra – que recuaram o início do percurso histórico de 1945 para o final dos anos 20, ao tempo da concorrência entre o surrealismo e a abstracção geométrica, ou que introduziram posteriores aquisições e substituíram alguns núcleos temáticos – as exposições que abrem no CCB e em Sintra são, de novo, uma surpresa. A extensão e a importância da Colecção, que agora se expõe muito mais alargadamente nesses dois espaços, confirmam-na como a oportunidade única de em Portugal se conviver com a arte do séc. XX – sem que, aliás, o fim do século venha encerrar, promete-se, o crescimento futuro do acervo."
05-02-2000:
O facto de a Colecção Berardo ser agora mostrada em dois locais diferentes não é só uma ocasião para avaliar melhor a sua extensão e importância - existindo ainda, aliás, numerosas obras que por limitações de espaço, por serem já conhecidas ou outras razões não se encontram expostas (perto de 200, a somar às cerca de 400 apresentadas). Não menos significativa é a oportunidade de apreciar e pôr em comparação as duas diferentes estratégias de montagem que foram aplicadas à mesma colecção. O CCB apresenta uma exposição mais vasta, mas a mostra do Museu de Sintra, onde se encontram peças de primeira qualidade e aquisições recentes exibidas em estreia, não é de modo algum um pólo secundário. Para o visitante, fazer a experiência, física e reflexiva, das duas montagens não será apenas adicionar obras a mais obras."
30 Dezembro 2005 (EXPRESSO/Actual): Anunciado um protocolo com o Governo de Sócrates
"Foi necessário que o governo francês apresentasse propostas firmes de instalação da Colecção Berardo em Paris, Toulouse ou Fontevraud (Loire) para que a Câmara de Lisboa, primeiro, e depois o primeiro-ministro cumprissem a sua obrigação: anunciar a decisão de lhe conceder um espaço apropriado e de negociar um protocolo que articule e garanta os interesses das duas partes. Mas, se as autoridades francesas avançaram logo com projectos de arquitectura e propostas jurídicas, está tudo muito nebuloso para os lados de Belém.
Das cerca de 350 obras em 1995, quando Cavaco Silva só queria saber de Berardo a propósito de expedientes financeiros cuja irregularidade não se provou em tribunal, até às 4000 que agora se referem, já correu muita tinta, e mais ainda vai correr até que o enunciado de intenções ganhe forma. Em Setembro de 1996, Edite Estrela fixou em Sintra a primeira sede da colecção, com um acordo por dez anos [que não foi prolongado pela actual vereação], ao mesmo tempo que o ministro Carrilho, enquanto prometia para muito em breve um novo perfil institucional e cultural para o CCB (que nunca surgiu), firmava o protocolo que lhe abria a porta das reservas a troco da inclusão de obras na sua programação.
O acordo de Sintra está à beira do termo, ou renovação, mas o cumprimento das cláusulas financeiras tem sido atribulado. O CCB, afinal, ficou entregue a si mesmo e a crise a que chegou já não pode mais ser ignorada - é provável que o Museu Berardo venha a ser parte da solução, com ou sem qualquer fundação inspirada no modelo de Serralves (mas a história não se repete e os dados são totalmente diferentes).
Fala-se em Museu Nacional (?) de Arte Contemporânea a curto prazo (ou será Museu de Arte Contemporânea - Colecção Berardo?), mas também se refere a distribuição e itinerância da colecção entre Sintra, CCB e instituições internacionais (francesas?), deixando um definitivo museu para 2009/10, a erguer em espaço próximo."
21-10-2006 (Expresso/Actual)
"José Berardo (...) tornou pública a colecção em 1995, já então orçada em 6 milhões de contos (€ 30M). Atribuiu-lhe desde o início a intenção de suprir a falta de um museu de arte moderna. Também desde o princípio, exigiu dos poderes públicos que assumissem a sua parte de responsabilidades e de custos (de funcionamento). Comprou com uma lógica de representação sistemática dos movimentos artísticos, e muita coisa a preços baixos durante o «crach» que se arrastou até 1997. Orientado primeiro por Francisco Capelo, também gestor de empresas, Berardo assumiu depois pessoalmente as escolhas da colecção, aconselhando-se em diversas fontes - essa independência face aos especialistas, contraditando influências, assegura-lhe a desconfiança surda do meio da arte. Manteve durante dez anos, em parceria [com a Câmara local], o Museu de Sintra e forçou o actual Governo a abrir-lhe o CCB, quando lhe acenaram oportunidades francesas. (...) O Museu Berardo irá associar uma colecção do século XX ao Orçamento do Estado. Como este não é uma pessoa de bem, é salutar que as decisões continuem na mão do coleccionador privado, fixadas por um público compromisso entre as partes."
30-12-2006 (EXPRESSO/Actual)
"O ano termina tal como findou 2005: com mais um passo para fixar no país a Colecção Berardo, o que representa a última oportunidade de o século XX vir a estar representado num museu português. O caminho negocial ainda é árduo e está minado por forças influentes do meio da arte, contrárias à noção de museu (todo o dinheiro público é pouco para «apoiar a criação», montar e desmontar instalações, sustentar as carreiras de comissários-directores). Mas trata-se também de fixar um destino para um equipamento (o módulo de exposições do CCB) que tem uma longa história de desorientação administrativa. Além de ser uma questão de milhões, é um grande desígnio."
14 Junho 2007: Inauguração do Museu Colecção Berardo
"O centro de exposições do CCB vai reabrir como Museu de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo, ou mais directamente: Museu Colecção Berardo. A inauguração oficial está marcada para 25 de Junho -- pouco mais de dez anos depois de (a 17 de Maio de 1997) se ter inaugurado o Sintra Museu de Arte Moderna - Colecção Berardo, que entretanto se mantém em actividade [o que deixou de acontecer em 2011]. E um pouco menos de 14 anos depois de se terem apresentado a partir de 8 de Julho de 1993, na Galeria Valentim de Carvalho, de Maria Nobre Franco, as obras de um coleccionador anónimo que mais tarde veio a identificar-se como José Berardo. Aí se puderam ver obras de Albers, Fontana, Rotella, Arman, Spoerri,Christo, Niki de Saint Phale, Rauschenberg, Dubuffet, Peter Philips, Baj, Yves Klein, Barceló, Combas, Clemente, Blais, Joe Tilson, Matt Mullican e outros. Era o princípio da Colecção Berardo, como se veio depois a saber."
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