Ouvindo o funcionário e membro do comité central do PCP que dá pelo nome de Carlos, eleito chefe da CGTP-Intersindical, regressar à ideia de que o mundo se divide em explorados e exploradores, penso que há que tomar posições públicas imediatas antes que seja tarde demais. Trata-se de um discurso e de uma concepção do mundo e da história tão errada como arcaica, cuja aplicação por partidos e governos teve ao longo do século XX os mais dramáticos resultados (das purgas e campos de extermínio soviéticos, até às degenerescências postas em vigor por Pol Pot e o coreano de turno), mas que também foi tendo sempre gravíssimas consequências nas lutas sindicais e políticas dos países ocidentais e democráticos (desde, pelo menos, a divisão do mundo progressista e operário europeu nos anos 1920 e 30). No actual contexto político e económico essa tese e o que ela representa captura a central sindical e hipoteca as suas lutas, impõe uma lógica sectária e inviabiliza alianças.
Os trabalhadores por conta de outrem ou independentes, sindicalizados ou não, e também os sindicalistas, os empresários e patrões, os agentes políticos e, em geral, todos que não se reconhecem na doutrina dos tempos mais sectários da III Internacional, deverão tomar já - ou terão de vir a tomar mais tarde - uma posição firme contra um tal discurso que, desde a eleição do novo líder, veio marcar os novos tempos da CGTP despudoramente controlada pelo PCP, e pela sua "linha dura", desafiadoramente estalinista. Não há margem para enganos ou dúvidas sobre a ideologia, o partido, o futuro político que se envolvem nessa concepção maniqueísta do mundo e da política. Sabemos os Goulags que essa posição abre. Sabemos como os burocratas sindicais e partidários ou políticos se transformam facilmente em exploradores, actuando em nome dos explorados - não esquecemos o regime soviético nem o capitalismo de Estado chinês.
Os sindicatos terão de ser confrontados com o debate sobre a condenação ou ratificação de um tal discurso - incluindo o meu sindicato, o dos jornalistas - onde o dislate maniquísta é especialmente óvio. E confrontados igualmente sobre a permanência numa tal central sindical. No quadro político e económico, a provocação calculada do chefe da CGTP introduz um elemento de diversão, um equívoco ideológico e estratégico, que vem desviar as prioridades da acção.
Combater Arménio Carlos (ou será Sibério Carlos?) é uma das prioridades de um presente mais difícil do que pretendem os actuais dirigentes de todas as cores.
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