Três fotos estabelecem um itinerário emblemático pela obra de Kok Nam e pela história recente de Moçambique, ao mesmo que sinalizam a importância da relação, tanto descritiva como metafórica, entre a figura humana e a paisagem.
Construção, publicada em "Moçambique a preto e branco", CODAM, Lourenço Marques, 1972
Internacionalismo, rep. em "Moçambique a Terra e os Homens", exp. em 1981, ed. em 1984.
Ponte reconstruída, Gilé, província de Zambézia, 1989. Rep. em "Karingana ue Karingana...", ed. Coop 1990, e em "Revue Noir" nº 15, Dez. 1994 ("Moçambique", nº monográfico)
O que se constrói na 1ª foto, já perto do fim da presença colonial e numa edição que congrega nomes da oposição política ao regime, quando o futuro é ainda muito incerto ou ambíguo? A "Construção" do título parece ser mais um trabalho de reparação ou repintura do que o erguer de um edifício. A grelha moderna, urbana, estabelece um espaço de trabalho que é colectivo mas diversificado, onde as acções variam e se individualizam. O que se constrói é exactamente o que estamos a ver, ou o título transporta outra ambiguidade, outras promessas?
Passa-se ao espaço da paisagem não-urbana, mas urbanizada - a ponte, a estrada. Da construção possível transita-se para a destruição da guerra civil, aliás, da guerra guiada por intervenções estrangeiras, a que alude com evidência e ironia o título. O ciclista, que o gradeamento parece acompanhar, confere sentido e possibilidade formal à foto.
É de novo uma ponte que se vê na 3ª imagem, mas destruída e improvisadamente substituída. O que havia ainda de modernidade na ponte anterior (o cimento, a bicicleta, etc), dá lugar a um novo recúo no tempo e no espaço. Moçambique transformara-se num dos países mais pobres do mundo.
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