Júlio Pomar à Lisbonne : "Un parcours hors des sentiers battus"
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Le jeudi 30 mai 2013, ActuaLitté, Les Univers du Livre, Paris: https://actualitte.com/
Júlio Pomar est probablement le plus grand peintre portugais vivant. La ville de Lisbonne lui consacre aujourd'hui un « atelier-musée » aménagé par le grand architecte Álvaro Siza. Son fils, Alexandre Pomar, historien d'art et critique, nous fait partager l'événement que constitue l'ouverture au public de ce lieu exceptionnel.
Les Éditions de la Différence ont publié de nombreux ouvrages sur l'oeuvre de Júlio Pomar , plusieurs livres dont il est l'auteur, un grand nombre d'estampes à tirage limité et une série de 4 « Tigres » en bronze dont un exemplaire figure à l'entrée du musée.
« Un parcours hors des sentiers battus »
"Il existe un nouveau lieu de contemplation et de plaisir à Lisbonne : l'Atelier-Musée Júlio Pomar, situé, rua do Vale, dans le vieux quartier du Bairro Alto.
Le lieu, dont on avait prévu dès l'origine la future transformation en musée, avait été conçu comme un grand atelier destiné au peintre Júlio Pomar. Pour l'artiste, âgé de 87 ans, dont la dernière exposition d'œuvres inédites s'est déroulée en novembre 2012 à Porto et à Lisbonne, le défi que représentait l'appropriation de ce vaste espace aménagé par son ami, le célèbre architecte Álvaro Siza, était de taille.
La beauté du lieu est spectaculaire. L'architecte a conservé la morphologie de l'ancien bâtiment qui était un entrepôt. Il a rétabli le rythme régulier des fenêtres de la façade. Il a opté pour un accès latéral tout en ouvrant une cour là où on rangeait, voilà un siècle, le vieil omnibus tiré par des chevaux. Il a agrandi une petite mezzanine sur trois côtés du bâtiment, ouvrant l'espace jusqu'au toit aux larges poutres en bois. Il n'a pas touché aux fenêtres qui inondent de lumière l'intérieur et a fait peindre l'ensemble d'un blanc pur et frais.
Fotos Luisa Ferreira
Après la nomination d'une jeune directrice, Sara António Matos – sculptrice et conservatrice de musée – l'Atelier-Musée a été inauguré par une exposition de la donation de l'artiste, complétée par des œuvres majeures provenant de collections privées ou publiques. L'accrochage non chronologique du travail du peintre, montrant différentes séries et différentes périodes représentatives de sept décennies d'une production ininterrompue, jamais confortablement installée dans une « image de marque », est source de surprises et de rapprochements inattendus.
Le grand cycle brésilien, aux couleurs puissantes (de la fin des années 80), régulièrement revisité, cohabite à l'entrée avec la construction gestuelle des formes en mouvement des années 60 (les corridas à cheval) ; à l'étage, la période néo-réaliste de l'après-guerre fait face aux pratiques d'assemblage et de collage et à l'érotisme explicite du travail des années 70-80, suivie du cycle des Tigres.
Bénéficiant d'une totale autonomie et s'inscrivant dans un dialogue fructueux avec l'artiste, Sara A. Matos nous fait découvrir de vieilles gravures inédites, des études, des sculptures, des peintures, créant un mélange harmonieux des supports et des thèmes.
À travers un parcours hors des sentiers battus, elle partage avec un public nombreux, venu vivre une expérience artistique communicative et gratifiante, sa découverte de l'œuvre de Júlio Pomar. "
Par Alexandre Pomar (traduzido e adaptado por Colette Lambrichs)
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Retrouver Julio Pomar, aux éditions de la Différence
http://www.ladifference.fr
(versão original)
ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR
Deveria ter sido um grande atelier particular do pintor Júlio Pomar, prevendo-se desde início a utilização posterior (póstuma) como museu. O projecto começou no ano 2000 por iniciativa de João Soares, então presidente da Câmara de Lisboa. A Assembleia Municipal aprovou logo a compra do edifício, um antigo armazém nas imediações do Bairro Alto que servia de depósito de livros a uma velha editora (a Sá da Costa), e recomendou ao artista a criação de uma Fundação com o seu nome que viesse a receber uma ou mais doações do seu acervo.
Escolhido pelo artista uma amigo arquitecto, o famoso Álvaro Siza, as complicações técnicas e burocráticas da iniciativa municipal foram retardando o projecto, de tal modo que as obras de renovação-adaptação do lugar só se iniciaram em 2007. Nunca houve, porém, entraves políticos, e os três seguintes presidentes da Câmara, de diferente formação política, passando-se do PS ao PSD e de novo ao PS, apadrinharam sempre o projecto com novos passos tendentes à concretização da obra. Em colaboração com a Fundação Júlio Pomar, que foi instituída em 2005 e patrocinada desde então pela CGD, o banco público, o que lhe garantiu as condições suficientes de funcionamento para a organização de exposições noutros lugares do país e no exterior.
A abertura ao público aconteceu 13 anos depois, a 5 de Abril de 2013, já não como atelier mas imediatamente como museu, conservando a designação de Atelier-Museu, como memória do projecto inicial e em acerto com as características do espaço. Se o lugar não pode dispor de todas as valências (funcionalidades) que se atribuem agora aos museus, é uma magnífica galeria de exposições - é o espaço museificado, mas não congelado no tempo, de um atelier ideal. Para o pintor, com 87 anos, que fez uma última exposição de obras inéditas em Novembro de 2012, no Porto e em Lisboa, o desafio de habitar o vasto espaço do atelier era já menos atraente do que ver nascer o seu museu, diante da sua residência em Lisboa (Pomar conserva uma outra residência atelier em Paris).
Álvaro Siza manteve a morfologia do antigo armazém, recuperando na fachada a regularidade do ritmo das janelas que perdera com o tempo. Optou por um acesso lateral, abrindo um páteo onde se acolhera há um século o velho "chora" (transporte colectivo anterior ao eléctrico, de tracção animal). Ampliou um pequeno mezanine para envolver agora três lados do pavilhão, que permanece um espaço aberto até ao antigo telhado de largas vigas de madeira. Manteve as janelas que inundam de luz o interior (há ainda situções de iluminação a trabalhar) e pintou tudo de um branco puro e fresco. A obra arquitectónica é, a par da obra de Júlio Pomar, a outra atracção do lugar.
Escolhida uma jovem directora, Sara António Matos, com formação em escultura e curadoria, o Atelier-Museu abriu com uma antologia generalista que parte do acervo e se completa com algumas pinturas maiores, de diferentes colecções privadas e públicas. A ordenação não cronológica das séries e dos períodos do trabalho do pintor, que leva sete décadas de produção ininterrupta e nunca estabilizada numa qualquer confortável “imagem de marca”, é propícia às surpresas e confrontações. O grande ciclo brasileiro, de cores poderosas (do fim dos anos 80, com revisitações sucessivas), convive à entrada com a construção gestual das formas em movimento nos anos 60 (as corridas de cavalos); em cima, o período neo-realista do Pós-Guerra confronta-se com as práticas da assemblage e da colagem e o erotismo explícito dos trabalhos dos anos 70/80, com passagem ao ciclo dos Tigres. Com total autonomia e em diálogo feliz com o pintor, Sara A. Matos dá a ver velhas gravuras inéditas, estudos do natural, esculturas e pinturas, associando a diversidade dos suportes e dos temas com hábil fluência. A sua descoberta da obra do pintor, através de um itinerário indisciplinado e original, é partilhada com sucesso pelo público que aflui em bom número para uma experiência da arte que é comunicativa e gratificante. Há um novo lugar de contemplação e prazer em Lisboa."
Alexandre Pomar


