A fotografia já tem lugar cativo na Pequena Galeria em Lisboa
A Pequena Galeria é mesmo pequena - ocupa o equivalente a um
corredor.
A carta de intenções com que se apresenta aquele espaço é modesta, mas a
ambição é grande e passa por fazer mexer o coleccionismo de arte, em
particular o da fotografia, voltado para um espectro de compradores
muito alargado, com preços para todas as bolsas.
A primeira exposição, Salão #1 (Inauguração), reúne 30 imagens de nomes
como Ágata Xavier, António Júlio Duarte, Augusto Cabrita, Carlos M.
Fernandes, Carlos Oliveira Cruz, Céu Guarda, Filipe Casaca, Guilherme
Godinho, Jordi Burch, José Cabral, José M. Rodrigues, Mário Cravo Neto,
entre outros. Uma das estrelas da mostra inaugural é um retrato de
Almada Negreiros (sem autor identificado), assinado pelo artista e
datado de 1922.
"A nossa intenção é chegar a todos. A galeria é pequena, mas acredito
que o mosaico de experiências das pessoas que fazem parte do projecto é
muito enriquecedor e abre múltiplas possibilidades", disse ao PÚBLICO
Alexandre Pomar, um dos sete fundadores da Pequena Galeria, cujo nome se
inspira na galeria que os fotógrafos Alfred Stieglitz e Edward Steichen
abriram a 24 de Novembro de 1905, em Nova Iorque, The Little Galleries
of the Photo-Secession. Galeria que tinha como um dos objectivos colocar
a fotografia ao nível de outras práticas artísticas. Com Pomar na
Pequena Galeria estão Carlos M. Fernandes, Guilherme Godinho, Carlos
Oliveira Cruz, Bernardo Trindade, Luís Trindade e Ágata Xavier que
juntam experiências profissionais relacionadas com a arte e fotografia -
que vão desde a criação, da crítica e investigação, à edição, ao
comércio livreiro e à realização de leilões. As imagens da primeira
exposição resultam das escolhas de cada um dos fundadores (há obras das
suas colecções pessoais ou por si captadas...).
Com este projecto, Alexandre Pomar acredita que é possível dinamizar o
coleccionismo, desde que as fórmulas de produção e distribuição estejam
adaptadas à actual situação do mercado. "Vamos ter fotografias de mil
euros, mas também vamos ter imagens a 50 e 80 euros. Queremos alargar o
mais possível o leque de potenciais coleccionadores. Tenta-se vender
fotografia como "quadros-fotografia", só para instituições e grandes
coleccionadores. Isto fez com que o mercado da fotografia ficasse
dependente do da arte contemporânea. E o que se passa é que,
ultimamente, o mercado da arte contemporânea está com as calças na mão".
O antigo crítico de arte do semanário Expresso explica ainda que a
Pequena Galeria não terá um objectivo exclusivamente comercial. A ideia é
organizar exposições com um intuito meramente formativo ou de
divulgação em que as obras não estarão à venda. "Queremos mostrar
fotografias que estão na posse de particulares, que estão fechadas em
casa, em pastas", revela.
Ao longo do ano, o espaço da galeria, instalada no número 4C da Avenida
24 de Julho, ficará a cargo de cada um dos fundadores.
As exposições não ficarão mais do que um mês abertas ao público e haverá
lugar para apreciação de portfólios de fotógrafos que queiram ver o seu
trabalho nas paredes daquele espaço.
Apesar de ter a fotografia como suporte privilegiado, a Pequena Galeria
apresentará obras de outros universos criativos, como a gravura ou os
fotolivros. Numa das próximas exposições, Alexandre Pomar planeia
mostrar aquele que, na sua opinião, é um dos melhores fotolivros
portugueses, o Álbum Comemorativo da Exposição-Feira de Angola, editado
em Luanda, em 1938.
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