Museu Berardo / CCB, BES Photo 2013, "Showtime", de Filipe Branquinho.
Vejo agora no desdobrável do Museu que o Filipe coloca o seu trabalho na sequência das obras de Ricardo Rangel e de José Cabral - era naturalmente o que me parecia acontecer, mas é raro um artista citar as suas referências e ambições. "A ideia de 'Showtime' partiu do livro 'Pão Nosso de Cada Noite", do Ricardo Rangel, fotografado na Rua Araújo, a chamada 'Rua do Pecado', e de alguns nus do José Cabral. (...) Vontade de fotografar mulheres como o José Cabral as fotografa, mas num cenário do Ricardo Rangel." (da entrevista de Jose Sá no catálogo)
Filipe Branquinho, 1º díptico, "Showtime", 2012-13. Hotel Central (Maputo):
"Showtime", de Filipe Branquinho, Exposição BES Photo
Alguns dos seis dípticos numa montagem de grande inteligência, economia e impacto (que teve no entanto problemas de instalação e de recepção). Em vez de um salão, um corredor de passagem aproximada, numa exposição reduzida ao essencial: as imagens de grande formato e o olhar físico (corporal) do espectador que com elas se confronta, sem espaço para a visão distanciada e a indiferença. As mulheres (prostitutas) fotografadas nos seus quartos habituais, face aos que as vêem. Não se pode ser mais directo e eficaz.
É um trabalho poderoso e corajoso (perturbante, provocante, irreverente, etc) que confirma e amplia o que se conhecia da carreira do Filipe Branquinho depois do prémio em Mora, do anterior 'Próximo Futuro' e das 'Ocupações Temporárias' em Maputo.
( Eu julgava que os finalistas do BES Photo eram 4 mas estava iludido, os finalistas são 1 só, mas o prémio desviou-se para uma opção irrelevante - não poderia premiar-se um 2º moçambicano em edições seguidas e acabou por haver problemas com os suportes da provas impressas...
A seguir à excepcional presença de Mauro Pinto em 2012 (justamente premiada), o Filipe veio / vinha contrariar a ideia de que Moçambique não podia vencer duas vezes seguidas. Ao Albano convinha o cheque de um prémio de carreira (os amigos apadrinharam uma selecção improvável) e o Brasil (algum mercado de arte brasileiro) está à espera de ser recompensado por acolher o BES há três anos, mas o Branquinho veio/vinha trocar as voltas aos arranjos - não há margem para comparações, ele joga outro campeonato, o dos grandes. Há uma ano recomendaram-me que não escrevesse nada para não prejudicar o Mauro, e assim fiz; agora não há que ter precauções, só lá está um (grande) fotógrafo, embora todos sejam artistas, como dizia o Beuys... )
Para conhecer as fotografias de José Cabral (que já expôs em Évora e em Lisboa - Urban Angels/Anjos Urbanos, na P4 em 2009) pode visitar-se uma "colecção ocasional" (11 fotos e entre elas dois nus mostrados em "Iluminando Vidas", 2002) que se apresenta do Centro Intercultura Cidade (ao Poço dos Negros/Largo de Jesus), onde também já se falou de Rangel e onde se falará no dia 19 da "Fotografia em Moçambique: de Santos Rufino a Filipe Branquinho". Nada acontece por acaso, o trabalho do Filipe e o programa do Centro, para quem quiser perceber melhor o que acontece em Maputo.
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