“GRUPO DE ÉVORA”
a Pequena Galeria
26 de Abril a 11 de Maio
A exposição reúne quatro fotógrafos que residem em Évora - António Carrapato, João Cutileiro, Pedro Lobo e José M. Rodrigues -, mas a designação “Grupo de Évora” não corresponde a cumplicidades de trabalho ou a uma rede de relações comuns, até porque vários dos artistas expostos nem sequer se conheciam pessoalmente antes de serem desafiados a reunirem os seus trabalhos. Numa cidade que tem sido fértil quanto ao surgimento de artistas e às iniciativas colectivas, acontece que também na fotografia se observa agora uma concentração excepcional, ou única no país, de talentos e de carreiras confirmadas.
Conhecido como fotojornalista, colaborador do Alentejo para várias publicações, António Carrapato tem aparecido em várias exposições mais ou menos notadas com um olhar finamente observador marcado pelo humor, pela atenção ao acaso significativo, pelo gosto do “trompe l’oeil” e do acidente visual, pela aproximação irónica e fraterna ao quotidiano, que também é crítica sem ser exterior à realidade escrutinada ("Nós" era o título de uma primeira exposição museológica). Para esta mostra escolheram-se várias das suas imagens já “clássicas”, a cores e a preto e branco, de um roteiro alentejano que também já tem outros itinerários "Europeus".
O escultor João Cutileiro tem uma obra fotográfica paralela que surgiu a público pela primeira vez em 1961 e que se tem prolongado e renovado até hoje. Os retratos dos amigos, que agora volta a expor com alguns inéditos, numa selecção feita entre os amigos desaparecidos, constituem uma muito extensa colecção que teve início nos anos 1950, percorre uma vasta galeria de artistas e intelectuais de referência, e está à espera de ser editada, como documento, auto-biografia e criação fotográfica maior, que raramente é praticada de forma sistemática. Entre a escultura de corpos e rostos e a respectiva fotografia existem trânsitos eloquentes. Os nus e as fotografias das suas esculturas são outros domínios paralelos frequentados pelo fotógrafo-escultor.
Do Brasil veio Pedro Lobo para se instalar em Évora, trazendo uma obra já longa e reconhecida. Uma série recente dedicada ao imaginário religioso, associada ao seu interesse pelas questões do património, “In Nomine Fidei”, é apresentada na Pequena Galeria através de uma escolha de registos colhidos em velhos templos das Lezírias e do Alentejo, onde a imagem do sagrado se torna mais íntima graças à presença forte das marcas do tempo e da ruína. Fotografar a morte das imagens pode ser um modo de pensar o caos do mundo e o fim das ambições de transcendência, ou ainda a sua necessidade. Usando formatos menores que os habituais e mostrando as fotografias em velhas molduras encontradas, Pedro Lobo tornou-as objectos fotográficos quase únicos, mais próximos e intensos.
José M. Rodrigues, o mais conhecido dos fotógrafos de Évora, para onde veio depois da carreira na Holanda, apresenta uma sequência de seis fotografias recentes e inéditas num conjunto que é emblemático do seu trabalho, em que não falta um auto-retrato, a presença da água, um erotismo subtil, a estranheza surpreendida no real e a criação de composições objectuais de intenção simbólica. Apresenta-as com recurso a um dispositivo que parcialmente as oculta, que acentua o carácter enigmático da imagens e que exige a cumplicidade do espectador, transformando as imagens em objectos.
26 Abril 2013, Alexandre Pomar
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