E se víssemos o barco e a obra de outra maneira: como um genial exercício artístico de crítica institucional: a ideia de representação nacional que é essencial à Bienal de Veneza (e a todos os certames do tipo, incluindo a Documenta), e tb "sobre" a eterna falta de um pavilhão português nos Giardini (e este ano a falta total de pavilhão), "sobre" o que se entende por "arte portuguesa", arte nacional,, "sobre" a arte em geral e a cultura como representação de um país, "sobre" o trânsito entre "arte elevada" e artesanato, lavores, tradição nacional, a marca nacional, o comércio e o turismo (está-se sempre a defender o impacto da cultura na economia...), "sobre o turismo cultural com as passeatas do cacilheiro pelos canais, "sobre" o trânsito distintivo entre obra e produto (ambos comerciais, mas ah! "La Distinction", - e em geral sobre a circulação entre níveis hight & low que estão obviamente associados mas que alguns inesperados puristas vêm defender por aristocráticas ou modernistas razões ("the great divide").
Quando é a doer (quando é para habitar, circular e viver - e não para observar à distância com facies cultural), os voyeurs púdicos reagem! Sempre sempre contra a arte de massas (Noel Carroll)! Têm-se incomodado com as medíocres representações anteriores que asseguravam o poder do "milieu", do "meio da arte"? (E tem graça, a Joana já tinha sido afastada uma vez por este secretário de Estado, era ele director geral das artes, que então cedeu às pressões - mas saiu-lhe o tiro pela culatra!!)
Quanto a custos, sabem que a retrospectiva do Sarmento em Serralves custou mais de 200 mil € (previstos à partida c. 125 mil !!), ultrapassando a verba da SEC para Veneza? E para quê? Para ampliar aquela enorme chatice, que o Público e a LSO reverencialmente puseram no 1º lugar do top do ano?
Sim Vera, o rabelo de Paris, mas essa, mal ou bem, tem sido o curso da arte desde a pub do Wahrol ou a bd do Liechtenstein, desde o ready-made, que aliás já não era à data uma invenção (mas apenas uma constatação e um enunciado crítico). O rabelo não era arte, o cacicheiro agora é.
Se a capacidade de perturbar é uma medida de avaliação, a Joana é a maior! Não tinha ideia de dizer nada (os tiques eruditos têm um largo consenso), mas o discurso do Ressabiator e a partilha do Zé Neves e amigos eram um saudável desafio.
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