
Ó para eles tão sócios. O Melo (Alexandre) era conselheiro cultural do Primeiro Sócrates e um dos compradores da Ellipse, ao lado do Pedro Lapa, então director do Museu do Chiado. Estas promiscuidades não lhes foram fatais, porque vale tudo.
ARTFORUM reportagem da inauguração do armazém-museu do Alcoitão. (10-21-06)
Começava assim:
"After promotional events held earlier this year in New York, Basel, São Paulo, and Madrid, Lisbon’s rentrée was marked last weekend by the long-awaited opening of the new art center devoted to the recently developed collection of the Ellipse Foundation. Chaired by collector and banker João Oliveira-Rendeiro, the foundation was endowed with around twenty-five million dollars in order to create, as he put it, “one of the most important collections begun this century.” Leading Portuguese curators Alexandre Melo and Pedro Lapa, along with curator Manuel E. González, formerly head of the JPMorgan Chase Art Collection in New York, have spent the last two years combing fairs and biennials, bringing together a substantial body of work that was unveiled Sunday to five hundred invited guests. As suggested by the exhibition title, “Open House,” there were numerous acquisitions to review—“perhaps too many,” as Melo later confessed—since the show’s organizing principle seemed to be “here’s what we bought.”
# 2
"Gostaríamos de fazer uma referência especial ao lançamento e apre-
sentação pública da Ellipse Foundation — no Museu Rainha Sofia
(Madrid), na Galeria Mário Sequeira (Braga), na Fundação Vieira da Silva/
Arpad Szenes (Lisboa) e no Museu de Serralves (Porto) — que recebeu
o melhor acolhimento por parte de entidades oficiais, galerias de arte
e particulares, fazendo prever o maior sucesso no seu objectivo: cons-
tituir uma das mais importantes colecções internacionais de arte con-
temporânea."
Diário da República, 2.ª série — N.º 213 — 6 de Novembro de 2006 (Parte Especial)
# 3
"o banqueiro João Rendeiro constituiu duas amplas colecções,
a Colecção do Banco Privado e a Ellipse Foundation. A Colecção do Banco Privado Português, orientada por Vicente Todolí, João Fernandes e Alexandre Melo, manteve-se em depósito no Museu de Serralves até ter sido vendida
e a Fundação Ellipse,
criada em 2004, atingiu níveis de excelência internacional e ímpares no nosso contexto
graças ao comissariado de Manuel Gonzalez, Pedro Lapa e Alexandre Melo. Contudo, o
seu futuro continua, infelizmente, a afigurar-nos hoje uma incógnita dada a gestão ruinosa
conduzida pelo próprio coleccionador "
Sofia Nunes: "Time is on my side
- Breve mapeamento dos últimos dez anos das artes visuais em Portugal", p. 64
in Letras Com Vida – Literatura, Cultura e Arte.
N.º2, 2.º semestre, 2010. Preço: 18,75€.
Revista do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
direcção Miguel Real e Béata Cieszynska
# 4
Público:
(Cristina Ferreira, "Rendeiro tem novo inquérito judicial devido à venda de quadros ao BPP" , 18/10/2013
Com 600 accionistas e cerca de três mil clientes, o BPP funcionou desde a constituição, em 1996, até entrar em colapso, em Dezembro de 2008, como gestor de fortunas. Erros de gestão, incumprimento das regras do BdP e da CMVM, e actos, alegadamente, ilícitos ditaram a falência em 2010.
No núcleo central de accionistas de referência do BPP, para além do próprio Rendeiro (com 12%), constavam, entre outros, nomes como os de Francisco Balsemão (Impresa), que presidia ao Conselho Consultivo, de Nuno Vasconcelos (Ongoing), de Diogo Vaz Guedes, de Stefano Saviotti ou de Joaquim Coimbra (também accionista da SLN/BPN). Nos órgãos sociais tinham assento, por exemplo, o actual ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, o advogado José Miguel Júdice (que presidia à Assembleia Geral), António Pinto Barbosa (presidente do Conselho Fiscal), João de Deus Pinheiro, António Nogueira Leite, Álvaro Barreto ou João Cravinho.
# 5
Portugal's contemporary art scene is flourishing with the help of private patronage, as Samson Spanier discovered when he visited the new Ellipse Foundation.
1 Nov. 2006, Apollo Magazine: AQUI
"Ellipse was created and funded by Joao Oliveira-Rendeiro, the head of Banco Privado Portugues (the country's largest private bank), a collector of contemporary art since the 1980s and a patron of several Portuguese museums. The foundation, which opened last month, is the most conspicuous part of a new, privately-funded contemporary art scene in Lisbon (for others, see below) that complement the National Museum of Contemporary Art. Joao Pedro Vale, a Portuguese artist who is represented in the collection by Can I Wash You?, a sculpture made of soap, explains the key importance of private funding: 'Ellipse can do what it wants. The curators buy art only because they like it, so it has an individual's view.'
That is also Oliveira-Rendeiro's vision, and he contrasts Ellipse's remit of cutting-edge art with the national museums: 'There were no collections that centred on the most recent production.' There is no provincial bias: only nine of the 130 artists represented here are Portuguese. 'Portuguese artists in the collection are there because they deserve to be.'
As a result, they hold their own among their foreign peers. Juan Onofre's Pas d'Action is a one-take, 10-minute video in which 20 people stand on pointe like ballet dancers for as long as they can. The aim is to see how someone giving up affects the others. There are also videos by the prominent Portuguese artist Vasco Araujo as well as foreigners such as Douglas Gordon. Pedro Lapa, one of the curators, says he wants to 'break the frontier between Portugal and the rest of the contemporary art world'.
The cleverly designed interior is by architect Pedro Gadanho. White-cube spaces contrast with the orange and grey used for steps and corridors. Most striking is a white room with a ceiling that resembles the top of a light box. Inside, one feels in a dimensionless white void, which enhances the works displayed here, such as images cut into puzzle pieces by Felix Gonzalez-Torres."
# 6
Os papéis de coleccionador e homem de negócios são de uma compatibilidade testada pela história (os Medici, Gulbenkian, os Rockfeller, Jorge de Brito, ou Manuel Vinhas, Augusto Abreu e outros - Berardo é só mais recente.
Mas a acumulação de cargos como funcionário público (director de um museu nacional, no caso de Pedro Lapa, o Museu do Chiado) ou conselheiro cultural (do primeiro ministro, no caso de Alexandre Melo) e como curador de colecções privadas (no caso dos dois, a Ellipse Foundation/Fundação Elipse de João Rendeiro, Banco Privado) levantam pesadas dúvidas quanto à promiscuidade dos interesses e à honorabilidade dos interessados - e do Estado
A falta de credibilidade da área cultural e em particular das artes plásticas tem muito a ver com tais práticas - noutras áreas a relação entre bilheteira e orçamentos de produção impõe algum rigor quantitativo, aqui tudo pode ser arte e tudo se compra e vende a qualquer preço confidencial. É necessário regular também este mercado, demasiado pouco transparente e pouco fiscalizado em que circulam agora valores avultados. Comece-se por cima.
Mas a questão vem de longe, por exemplo de 2003.
"Incompatibilidades"
Expresso / Cartaz de 22 – 11 - 2003
(Coluna de opinião, «Extracatálogo»)
«Como distinguir a exposição de um artista no museu e a intenção de promover investimentos nas suas obras?»
Têm tido bastante projecção as questões relativas à incompatibilidade da acumulação de certas actividades profissionais, políticas e empresariais. Deputados e outros detentores de cargos políticos, advogados, médicos e jornalistas são sujeitos a regimes legalmente definidos ou ditados pelas respectivas associações. Outros casos são objecto de polémica, como a acumulação de lugares partidários com o papel de comentador político, uma aberração do nosso panorama mediático que falseia o jogo democrático.
As notícias da criação de dois fundos de investimentos em arte, sob a forma de fundação ou não, com ou sem intuitos mecenáticos, vieram pôr em foco a acumulação de outras funções que à partida se julgariam inconciliáveis.
Num desses fundos (a Ellipse Foundation do Banco Privado e de João Rendeiro) surge como «curador» - um dos responsáveis directo pelas aquisições - o director do Museu do Chiado (Pedro Lapa); no outro, integram o respectivo conselho consultivo os directores do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém e do Serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian (Delfim Sardo e Manuel Costa Cabral - este 2º fundo não terá chegado a actuar).
Estes últimos - o CCB e o Serviço de Belas Artes - não fazem aquisições para colecções próprias e no segundo caso não se trata de uma entidade estatal, embora o lugar que a FG ocupa entre as instituições públicas a distinga de um mero agente privado. Participa também no mesmo conselho o director do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva (arq. Sommer Ribeiro), instituição com escassa intervenção para além da que é dedicada à obra dos dois artistas.
Poderia julgar-se que se trata apenas da disponibilização de um saber adquirido em favor da dinamização do panorama artístico, que passa, necessariamente, pela comercialização das obras. Está em causa, porém, com graus diferentes de eficácia, uma intervenção decisora com consequências tanto na construção da notoriedade dos artistas como no destino mercantil das suas produções.
Não são separáveis as opções (estéticas?, mercantis?) que levarão o director de um museu a programar a exposição de um determinado artista ou integrá-lo na respectiva colecção e, por outro lado, a patrocinar investimentos nas suas obras. Para cumprir bem a sua dúplice função, ele deverá expor no museu os artistas cujas obras recomenda ao fundo de investimentos, para lhes conferir legitimidade institucional e as promover pela inclusão no espaço museológico. E deverá também expor e adquirir obras de artistas cuja produção seja objecto de opções significativas de investimento, antes de estas terem consequências na respectiva valorização, servindo-se da informação privilegiada a que tem acesso enquanto «agente duplo».
Noutras áreas de investimento financeiro, esse acesso privilegiado («inside trading») é fiscalizado e punido, mas o alibi da cultura recobre alguns mercados de uma aparência de pura virtude. O que daqui resulta quanto à orientação da criação artística e à relação com o público, cada vez mais indiferente ou desconfiado, são outras questões não menos relevantes."
# 7
"Fundação Elipse abre em Alcoitão"
João Rendeiro instala colecção de arte contemporânea
EXPRESSO/Actual de 27-05-2006
(Fotos: Interior do Centro de Arte da Fundação Elipse, vendo-se a galeria principal, à dir., e as escadas de acesso ao piso superior; no total, são 1600 metros quadrados de área expositiva)
A Fundação Elipse vai apresentar uma primeira selecção de obras de arte da sua colecção a partir de 23 de Junho, e fará a 15 de Outubro uma segunda montagem de «high-lights», acompanhada por uma festa de inauguração para convidados internacionais. As instalações do seu centro de exposições (o «Art Centre»), situado em Alcoitão, concelho de Cascais - na Rua das Fisgas, Pedra Furada -, foram informalmente inauguradas na segunda feira por João Rendeiro, no dia do seu aniversário. Antes, decorreram em Madrid e Nova Iorque «cocktails» de apresentação do projecto, seguindo-se outra sessão em Basileia. João Rendeiro é o presidente do Banco Privado Português (BPP) e também da Ellipse Foundation, que está sediada em Amesterdão.
A colecção reúne obras de autores com notoriedade nos meios da arte contemporânea internacional, representando o «mainstream» da circulação institucional, com alguns artistas mais velhos activos desde os anos 70 e também numerosos criadores muito jovens. Ignasi Aballí, Franz Ackermann, Jack Pierson, Rosângela Rennó, Anri Sala, Raymond Pettibon, John Baldessari, Olafur Eliason, Ilia Kabakov, Fischli & Weiss, Mike Kelley, William Kentridge, Cristina Iglesias, Lawrence Weiner ou Robert Wilson são alguns dos nomes representados, a par dos nacionais João Onofre, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, João Pedro Vale e Julião Sarmento. Numerosas obras podem já ser vistas no «site» www.ellipsefoundation.com.
O acervo, de cerca de 300 obras, foi reunido em dois anos e meio, com um fundo de dez milhões de euros. Está prevista uma verba igual para prosseguir as compras nos próximos dois anos. A escolha das peças é decidida por um trio de comissários formado por Pedro Lapa (director do Museu do Chiado), Alexandre Melo (assessor do primeiro-ministro para a Cultura) e o norte-americano Manuel E. González, antes ligado à colecção do banco JP Morgan Chase. Os critérios da colecção são avaliados por um conselho consultivo alargado, de que fazem parte Bartolomeu Mari (Barcelona), James Lingwood e Andrew Renton (Londres), Lars Grambye (Malmoe, Suécia), Adriano Pedrosa (São Paulo), etc.
A acumulação de funções por parte dos dois responsáveis portugueses foi entretanto objecto de várias interrogações de ordem deontológica na imprensa, tendo o Instituto Português de Museus, no caso de Pedro Lapa, procedido ao estudo do respectivo enquadramento jurídico. Um editorial intitulado «Elíticamente tuyo» do número de Maio da revista espanhola «Exit Express» volta, aliás, a fazer referência ao tema.
Lançado em 2004 pelo Banco Privado como um fundo internacional de investimentos em arte, com dez por cento do capital assegurado pelo próprio banco, o projecto visava de início constituir uma colecção que poderia vir a ser vendida em bloco, ao fim de dez anos. Apesar de a Fundação contar com a participação de vários investidores, portugueses, espanhóis e brasileiros, João Rendeiro assumiu depois uma posição largamente maioritária e o projecto evoluiu no sentido de assegurar a permanência da colecção e a sua disponibilização ao público interessado.
O BPP mantém, entretanto, uma outra colecção, situada em depósito na Fundação de Serralves, esta orientada por Alexandre Melo (e antes também por Vicente Todolí), em colaboração com João Fernandes. Esse acervo foi no ano 2000 apresentado numa exposição do museu do Porto. Posteriormente, certas obras foram destinadas à Fundação Elipse, e Serralves encontra-se a negociar a compra de algumas outras que tinham sido adquiridas aos artistas em condições de preço especialmente favoráveis.
As instalações agora apresentadas situam-se num grande armazém adaptado às novas funções pelo arquitecto Pedro Gadanho e contam com oito salas de exposição de diversas dimensões, com 1.600 metros quadrados de área expositiva, mais dois espaços de reservas, um deles para fotografia, num total de 3.500 m2. O investimento na sede (aquisição e obras) eleva-se a quatro milhões de euros.
Cada montagem da colecção, num ritmo de três por ano, apresentará 10 a 15 por cento do total das peças até agora reunidas, prevendo-se igualmente um programa de residências para artistas e a realização de conferências. A integração numa rede internacional de fundações com colecções de arte e a apresentação do acervo no estrangeiro (provavelmente na Whitechapell de Londres, no Palácio Grassi de Veneza, etc) estão também em preparação.
# 8
Expresso/Actual de 21-10-2006 , Alexandre Pomar: EXPRESSO
(Sobre: Charles Saatchi, o «supercoleccionador» inglês, e Nicholas Serota, director-geral da Tate
François Pinault, com a Christie’s e o Palazzo Grassi, em Veneza, e Bernard Arnault, grupo Louis Vuiton e Dior
José Berardo, Museu de Arte Moderna e Contemporânea, e João Rendeiro, Ellipse Foundation)
(...)
" João Rendeiro partilha a propriedade artística com o Banco Privado Português e a Ellipse Foundation (em inglês, com sede em Amesterdão, onde é mais favorável o direito das fundações). A dita Ellipse começou por ser anunciada como um fundo de investimentos em arte, com rentabilização a sete, oito anos. Já em andamento, mudou de estratégia, afastou o horizonte da alienação (por sinal, as compras são feitas num período de grande inflação do mercado) e decidiu abrir um «art centre» para ir mostrando o acervo - são duas condições que a favorecem como cliente, tal como a associação ao Museu do Chiado por via do curador-director Pedro Lapa. As obras de Sharon Lockart que lá se expõem <à época> pertencem à Ellipse, o que tem vantagens desiguais para as duas partes.
Outro comprador é Alexandre Melo, que acumula com o posto de conselheiro cultural do primeiro-ministro e com o papel de comissário de exposições oficiais («Portugal Novo», no Brasil e em Luanda - nem todos os artistas são apostas da Ellipse) e particulares (agora na Galeria Presença, Porto, com três artistas elípticos estrangeiros). Os conflitos de interesses são gritantes nos dois casos, mas já se sabe que a arte é um mercado muito pouco regulado e que a imprensa cultural é a mais complacente de todas.
Visitado o «show-room» da Rua das Fisgas, e a extensão de Cascais, os investimentos não entusiasmam, apesar da euforia do mercado: Richard Prince e Cindy Sherman podem ter sido caros, Baldessari e Jeff Wall pode ser que ainda se valorizem. Gastaram-se 14 dos 20 milhões de euros do «plafond» previsto. Não se sabe ao certo se vai surgir uma nova «tranche» para continuar ou se o acervo reunido em quatro anos vai congelar num museu sem visitantes. Mesmo se muito ligado a franjas mundanas de Nova Iorque, um programa de compras não é uma colecção nem uma exposição bem sucedida. É uma lista de nomes, uma carteira de títulos. O papel higiénico que roda nas ventoinhas de Gabriel Orozco será uma paródia deste universo artístico? Que dizem os cronistas sociais e os analistas financeiros?"
O acervo, de cerca de 300 obras, foi reunido em dois anos e meio, com um fundo de dez milhões de euros. Está prevista uma verba igual para prosseguir as compras nos próximos dois anos. A escolha das peças é decidida por um trio de comissários formado por Pedro Lapa (director do Museu do Chiado), Alexandre Melo (assessor do primeiro-ministro para a Cultura) e o norte-americano Manuel E. González, antes ligado à colecção do banco JP Morgan Chase. Os critérios da colecção são avaliados por um conselho consultivo alargado, de que fazem parte Bartolomeu Mari (Barcelona), James Lingwood e Andrew Renton (Londres), Lars Grambye (Malmoe, Suécia), Adriano Pedrosa (São Paulo), etc.
A acumulação de funções por parte dos dois responsáveis portugueses foi entretanto objecto de várias interrogações de ordem deontológica na imprensa, tendo o Instituto Português de Museus, no caso de Pedro Lapa, procedido ao estudo do respectivo enquadramento jurídico. Um editorial intitulado «Elíticamente tuyo» do número de Maio da revista espanhola «Exit Express» volta, aliás, a fazer referência ao tema.
"Lançado em 2004 pelo Banco Privado como um fundo internacional de investimentos em arte, com dez por cento do capital assegurado pelo próprio banco, o projecto visava de início constituir uma colecção que poderia vir a ser vendida em bloco, ao fim de dez anos. Apesar de a Fundação contar com a participação de vários investidores, portugueses, espanhóis e brasileiros, João Rendeiro assumiu depois uma posição largamente maioritária e o projecto evoluiu no sentido de assegurar a permanência da colecção e a sua disponibilização ao público interessado.
O BPP mantém, entretanto, uma outra colecção, situada em depósito na Fundação de Serralves, esta orientada por Alexandre Melo (e antes também por Vicente Todolí), em colaboração com João Fernandes. Esse acervo foi no ano 2000 apresentado numa exposição do museu do Porto. Posteriormente, certas obras foram destinadas à Fundação Elipse, e Serralves encontra-se a negociar a compra de algumas outras que tinham sido adquiridas aos artistas em condições de preço especialmente favoráveis.
As instalações agora apresentadas situam-se num grande armazém adaptado às novas funções pelo arquitecto Pedro Gadanho e contam com oito salas de exposição de diversas dimensões, com 1.600 metros quadrados de área expositiva, mais dois espaços de reservas, um deles para fotografia, num total de 3.500 m2. O investimento na sede (aquisição e obras) eleva-se a quatro milhões de euros."
#
ver de Augusto M. Seabra
http://letradeforma.blogs.sapo.pt/tag/alexandre+melo
Junho 14, 2006
João Rendeiro: fundo de investimento ou colecção?
Olaf Breuning. Lady G. 2002.
C-Print on aluminium, laminated; 122 x 155 cm. Ed. 5 Pedro Lapa, por acaso, já era director do Museu do Chiado, quando a iniciativa de João Rendeiro teve lugar (em 2002), tendo ao mesmo tempo seleccionado para ambos os teatros de operações — o Museu do Chiado e o então fundo de investimento do Banco Privado (agora rebaptizado Fundação Ellipse, com sede em Amesterdão) — os seguintes artistas: Gillian Wearing, James Coleman, Jimmie Durham, João Onofre, Rosângela Rennó, William Kentridge. Donde que a sua tentativa de desvalorizar um óbvio caso de conflito de interesses e de abuso dos mecanismos de legitimação inerentes à actividade museológica desinteressada do Estado, não colhe. Quando falo desta situação a amigos estrangeiros olham-me com grande incredulidade como se estivesse a falar de um caso na Nigéria, no Chade ou na República Centro Africana.
(...) Afinal de que trata a sua colecção?
De um fundo de investimento privado com garantias dadas pelo seu banco, cujo fim último é especular com a compra e venda de obras de arte?
— a de uma notícia do sítio brasileiro
ISTO É DINHEIRO, de 17/03/2004 sobre as intenções do Presidente do Banco Privado Português numa sua visita a São Paulo, de que cito esta passagem esclarecedora:
“O produto financeiro anunciado é semelhante a um fundo de investimento internacional. Os investidores serão cotistas da empresa Elipse Foundation. A entidade ficará responsável pela organização e promoção da nova coleção. A aplicação mínima é de US$ 300 mil. Será preciso ainda esquecer do dinheiro durante um período que pode variar entre sete e nove anos. ‘No longo prazo, os ganhos são atraentes’, diz Rendeiro. Entre 1986 e 2002, o Contemporary Art, índice do mercado internacional de arte contemporânea, rendeu, em média, 12,4% ao ano.
A Elipse Foundation terá um patrimônio total de US$ 25 milhões para garimpar obras com potencial de valorização pelo mundo afora. A meta posterior é vender a coleção para um museu. Não se assuste com o fantasma da falta de clientes que ronda esse mercado — o Banco Privado Português garante a compra das peças. Mas não assegura, contudo, o preço. Como em qualquer aplicação financeira, portanto, existe risco. O investimento tem o aval do próprio banqueiro, um bem-sucedido colecionador de arte. Para atrair a confiança dos clientes, Rendeiro promete: aplicará US$ 2,5 milhões do próprio bolso.”
— e a de uma outra notícia publicada pelo
Portal da Bolsa de 26/03/2004:
“João Rendeiro revelou ainda que a Ellipse Foundation, uma fundação criada pelo BPP para investir em arte, já terminou a sua colocação de capital, junto de 40 investidores portugueses, espanhóis e brasileiros. O investimento total de 20 milhões de euros irá ser colocado ao longo de 4 anos.”
Sabemos agora que ‘
a lógica inicial está ultrapassada’. E que ‘
A fundação não reuniu, como se propôs, 40 investidores portugueses, espanhóis e brasileiros. Nem exige já a participação mínima de 250 mil euros’, como se pode ler na notícia dada pelo
Diário de Notícias online de 22/05/2006.
O banqueiro queixa-se de que ninguém viu o sítio onde publicita a novel colecção, e que os jornalistas se perdem em assuntos de menor importância. Pois fique o banqueiro sabendo que me dei ao trabalho de visitar o dito sítio. Não me admira, depois de passar os olhos pelas aquisições, que os investidores não tenham chegado aos quarenta ambicionados, e que boa parte dos que entraram tenham entretanto saído. A colecção é, de facto, irrelevante e desactualizada, não obedecendo a nenhuma estratégia inteligente, nem no plano financeiro, nem no plano da avaliação crítica. Tratando-se de uma aposta na chamada ‘arte contemporânea’, i.e. num período pretérito e bem delimitado da arte do século 20, denota óbvia falta de recursos para se abalançar em objectivo tão ambicioso. Será que ninguém explicou ao banqueiro quanto custam hoje obras significativas de autores vivos como Gehrard Richter, Cy Twombly, Andrew Wieth, Charles Ray, Brice Marden, Jeff Koons, Sigmar Polke, Elsworth Kelly, Robert Rauschenberg, Damien Hirst, Jasper Johns, David Hockney, Agnes Martin, Bruce Nauman, Robert Ryman, Georg Baselitz, Frank Stella, Andreas Gursky, Jannis Kounellis, Julian Schnabel, Christopher Wool, Nan Goldin, David Salle, Mathew Barney, Thomas Ruff, Ross Bleckner, Vanessa Beecroft, Malcom Morley, Sol LeWitt ou Mariko Mori? Estou apenas a citar alguns dos 200 autores ‘contemporâneos’ com maiores volumes de negócios e com os quais, por sinal, se poderia de facto fazer um excelente investimento em ‘arte contemporânea’...
Se, ao invés, a intenção fora a de investir em futuros, i.e. se a estratégia adquirida pelo banqueiro pretendia antecipar os novos valores da arte do século 21, então o erro foi ainda mais desastroso. Não há na lista de autores/obras disponíveis no sítio da Ellipse Foundation, um único autor representativo da centena e meia de artistas
pós-contemporâneos que agora mesmo poderia ditar para este postal electrónico. "