No Centro InterculturaCidade, Travessa do Convento de Jesus, 16 A. Dias úteis 14-20h. Ao sábado horário variável
A exposição reúne trabalhos de quatro fotógrafos moçambicanos e organiza-se tematicamente com imagens das duas capitais, Muipiti/Ilha de Moçambique e Maputo.
A Ilha de Moçambique ocupou um lugar marcante no mapa das rotas do Oceano Índico, em especial no comércio português com a Índia e no tráfico de escravos, que foi o mais importante "negócio" da cidade insular. Fortaleza e entreposto, foi a primeira capital de Moçambique, substituída em 1898 por Lourenço Marques, hoje Maputo. Tem sido um ponto de atracção para os fotógrafos de Moçambique, e não só, em especial depois do livro do poeta Rui Knopfl, "A Ilha de Próspero", de 1972.
Moira Forjaz, nascida no Zimbabwe em 1942, é autora do livro "Muipiti, Ilha de Moçambique", com textos de Amélia Muge, publicado em 1983 pela Imprensa Nacional de Lisboa, quando a Fundação Gulbenkian desenvolveu um programa para a salvaguarda da arquitectura monumental da Ilha. A Unesco inscreveu-a na lista do Património Mundial em 1991.
Fotógrafa e cineasta instalada em Maputo em 1975-87, formada com grandes nomes da fotografia da África do Sul, como Jurgen Schadaberg, David Goldblatt e Sam Haskins, é particularmente atenta nestas suas imagens ao cruzamento de referências culturais, étnicas e arquitectónicas de que a Ilha dá um testemunho evocativo de grande beleza. Expõem-se as próprias provas de autor (vintages) de cerca de 1980, provas de uma exposição em Roma e reproduzidas no livro citado, entretanto restauradas.
José Cabral é outro grande fotógrafo de Moçambique (n. 1952) , activo desde a independência, com um trabalho documental e poético de grande importância, nomeadamente para as gerações que se seguem à escola de fotojornalismo impulsionada por Ricardo Rangel e Kok Nam. Homenageado na edição do Photofesta de Maputo em 2006 e várias vezes exposto em Lisboa, Cabral é um artista fotógrafo de grande cultura visual e literária, que viajou pela América e Europa, e que defendeu através da independência da respectiva obra e das várias exposições pessoais (As Linhas da minha mão, Anjos Urbanos, Espelhos Quebrados) a liberdade estética e o intimismo autoral, num país sem mercado para a fotografia independente.
Segue-se Luís Basto (n. 1969), outro autor com projecção internacional (incluído em "Snap Judgements", ICP, Nova Iorque, 2006, por Orkui Enwezor), é um fotógrafo de Maputo e do difícil quotidiano da cidade, mas também um grande paisagista. Com ele a mostra faz a passagem à cor, numa série de imagens de grande coerência conceptual a que chamou "Espaços iluminados". Por fim, Filipe Branquinho (1977), um dos elementos de uma nova geração - em que se destacam também Mauro Pinto e Mário Macilau -, que já pode aceder ao circuito das galerias e das feiras internacionais, e que têm sido vista nas edições do BES Photo de 2013. Os retratos de grande formato, que situam os modelos nos seus lugares de trabalho ou de residência, são uma marca forte da sua obra.
Sem esgotar um panorama dos grandes fotógrafos do país (falta citar pelo menos a obra de Sérgio Santimano), trata-se de uma selecção que representa a afirmação da fotografia em Moçambique para além da "tradição moçambicana de fotografia", ou seja, do grande colectivo que Rangel impulsionou ou formou.
Viva alexandre.
Gostei muito do artigo! Parabéns. Continua!
Posted by: Paulo | 08/02/2015 at 15:55
Salve. Alexandre, boa noite. Tomei a liberdade de republicar este seu artigo em nosso blog. Leia a introdução e saberá o motivo.
http://tamboresfalantes.blogspot.com.br/2016/05/quatro-fotografos-de-mocambique.html
Posted by: Oubí Inaê Kibuko | 05/20/2016 at 01:03