O mercado da fotografia africana, sombras e luzes
tradução (e tradução anotada, a seguir)
a partir de http://www.loeildelaphotographie.com/fr/2014/11/07/.../ l-insense-place-a-l-afrique
de
Ombres et Lumières, le marché de la photographie africaine
texto de Camille Moulonguet, em L' INSENSÉ Africa
Depois do Paris Photo ter proposto África como tema privilegiado, em 2011, e de surgir em Londres, em 2013, uma feira internacional integralmente consagrada à criação contemporânea africana, qual é realmente o lugar da fotografia africana no mercado de arte? O estado da questão em 2014 (Nota: o ponto de vista é muito parisiense e muito explicitamente dependente da lógica do mercado de arte - só existe quem está no mercado)
O aparecimento da fotografia em África seguiu de perto a invenção do medium, mas a sua entrada no mercado de arte data somente dos anos 1990. A maneira como «surgiu» Saydou Keïta é emblemática da curta história do mercado da fotografia africana. Estamos em 1991 em Nova Iorque. André Magnin e Jean Pigozzi visitam a exposição «African Explores: 20th Century African Art» organizada por Susan Vogel no New Museum of Contemporary Art. Encontram fotografias a preto e branco, retratos, em cujas legendas se escreve: «Anónimo. Mali». André Magnin parte a seguir para Bamako, com uma pasta de fotocópias. Levam-no a um primeiro fotógrafo que o conduz a outro fotógrafo: o primeiro é Malick Sibidé e o segundo, Seydou Keïta. Foi assim que estes fotógrafos, que trabalhavam até aí como artesãos, com a sua clientela, entraram num outro mercado, o mercado de arte. E durante anos são estes retratistas (Seydou Keïta, Ojeikere) ou fotógrafos documentais (Jean Depara, Malick Sidibé) que monopolizam o mercado. Em números, a coisa traduz-se assim: em 1990, uma foto de Keïta valia o equivalente a 50 cêntimos de euro, em 1992 vale 150 euros e hoje uma prova assinada de Keïta vale entre 5 000 e 15 000 euros.
Nesses anos, os actores deste mercado contam-se pelos dedos de uma mão e os fotógrafos africanos estavam muito dependentes dessas pontes fabulosas cuja omnipotência não é propícia a um mercado aberto. De 1989 a 2009, André Magnin desempenha um papel capital neste minúsculo mercado, já que estava a formar a colecção de Jean Pigozzi, que lhe pedira, depois de ter visto a exposição «Magiciens de Terre» em Beaubourg em 1989: «Faça-me uma colecção única no mundo». Vinte anos mais tarde a colecção Pigozzi conta com mais de 10 000 obras. Paralelamente, a Revue Noire fazia um trabalho magistral de publicação e revelava 3 500 artistas, 600 dos quais fotógrafos, desde o início dos anos 1990.
Dois anos depois da descoberta de Seydou Keïta, o fotógrafo francês Bernard Descamps desembarca no estúdio de Samuel Fosso em Bangui, na República Centroafricana. À época tinha 31 anos e terminava as suas chapas, à tarde, com auto-retratos encenados. Hoje as fotografias de Samuel Fosso integram as colecções da Tate Modern em Londres, do Centro Georges-Pompidou e do Museu do Quai Branly em Paris. A sua série "African Spirits", que presta homenagem às grandes figuras panafricanistas e da luta pelos direitos cívicos nos Estadfos Unidos não se vende por menos de 100 000 euros. O género do retrato marca a fotografia africana e assegura-lhe os seus primeiros grandes sucessos internacionais. São histórias que dizem muito sobre um mercado compartimentado e com mais-valias fabulosas.
A criação da Bienal de Dakar - Dak’Art - em 1989 e, mais tarde, em 1994, a dos Encontros (Rencontres) de Bamako marcam os inícios de um mercado que se caracteriza globalmente por ser uma vasta terra virgem. Estando massivamente à sombra do mercado de arte, a fotografia africana não é representada na sua diversidade. A exposição de 1998 «L’Afrique par elle-même», associada ao seu catálogo «Anthologie de la photographie africaine», montada pela Revue Noire e com um périplo mundial que começou na Maison Européenne de la Photographie (MEP) em Paris acentua o processo de reconhecimento internacional de uma fotografia africana plural (1 - Uma versão adaptada chegou em 2006 ao Porto, Centro Português de Fotografia: ver "Voz própria"). Os anos 2000 são marcados pela ambiciosa e itinerante exposição «Africa Remix» do Centro Pompidou de Paris.
Em 2007, Malick Sibidé recebe um Leão de Ouro na Bienal de Veneza. O mercado da fotografia internacional já passara a contar com a fotografia africana, cujo futuro assenta então na sua abertura e na sua diversificação. O apogeu deste período corresponde já à respectiva ultrapassagem, simbolizada pelo primeiro pavilhão africano na Bienal de Veneza, em 2007, sob a direcção de Simon Njami (2: foi o "CHECK LIST LUANDA POP", pavilhão atribuído por concurso à Fundação Sindika Dokolo e galeria Soso de Luanda). A fotografia africana, que continuava a ser um objecto construído do exterior controlado por galeristas e comissários ocidentais, entra lentamente numa nova fase ao mesmo tempo de abertura e de recuperação pelos Africanos.
Para além dos cinco nomes que giram em círculo na boca dos galeristas e dos coleccionadores, os fotógrafos africanos estão pouco representados no mercado. Por isso chegou o momento de reflectir a fertilidade de um continente, o que a presidente da Fundação Zinsou, do Benim, Marie-Cécile Zinsou, resume perfeitamente em algumas palavras: « Em África, é por toda a parte, todo o tempo» (« En Afrique, c’est partout, tout le temps. »). Novos actores contribuem para abrir este mercado, atribuindo aos fotógrafos africanos um lugar crescente. Para o reconhecimento da criação contemporânea africana em sentido amplo, cabe ao comissário nigeriano Okwui Enwezor um papel importante desde 2002, por ocasião da Documenta 11 de Kassel na Alemanha ou mais recentemente com a Trienal de Arte Contemporânea que teve lugar no Palácio de Tokyo em 2012 e de que assegurou a direcção geral (3. Okwui Enwezor organizara no Museu Guggenheim de Nova Iorque, em 1996, dois anos antes da exp. da Revue Noire, o primeiro grande panorama da fotografia africana: IN/SIGHT AFRICAN PHOTOGRAPHERS, 1940 to the Present - aí aparece Ricardo Rangel com a série da Rua Araújo.)
1. Sartorial Anarchy #8, 2013, Pigment on satin paper, 122.2x101.9cm, Ed. of 3, 3AP, courtesy Galerie Leila Heller, New-York © Iké Ude / 2. "Ashleigh McLean, Série There’s a Place in Hell for me and my friends", 2011, archival pigment ink on warmtone, courtesy Galerie Stevenson, Le Cap et GalerieYossi Milo, NewYork © Pieter Hugo / 3. 99 Series, Series of seven photographs, 2013, 89x 89cm © Aïda Muluneh / 4. Autoportrait, Série «African Spirits», 2008, courtesy Galerie Jean-Marc Patras, Paris © Samuel Fosso
Os artistas africanos começam a ser reconhecidos como actores de parte inteira da criação contemporânea mundial. Para lá do interesse internacional crescente pela criação contemporeânea africana, a África toma consciência da riqueza da sua criatividade. Emblemático deste deslocamento do mercado é Sindika Dokolo, congolês nascido em 1972, que cria a sua colecção em 2004 (4. Banqueiro casado com Isabel dos Santos, ligado à Trienal de Luanda desde antes de 2006, via Fernando Alvim: ver Trienal). Hoje, ela conta com mais de 500 peças de 140 artistas provenientes de 28 países africanos. Um ano mais tarde, em 2005, a criação da Fundação Zinsou no Benim - ver Zinsou - e a constituição de uma colecção composta por 300 a 400 obras (de que 30 a 40 por cento são fotografias) prolonga essa tendência nascente. Tudo se passa como se o crescimento da cotação dos artistas será tanto mais acelerado quanto a sua aparição é tardia (recente) no mercado, que se caracteriza por uma expansão rápida e curvas excepcionalmente ascendentes.
Neste contexto, os antigos actores continuam presentes mas mudam de estatuto, como André Magnin que de comprador para a colecção Pigozzi passou a galerista em 2009, e também, um ano mais tarde, da editora Revue Noire que se tornou uma galeria sob o nome Maison Revue Noire. Jean Loup Pivin, um dos três fundadores da Revue, explica o seu projecto: «O continente africano não pode resumir-se a menos de dez nomes e duas tendências ‘exóticas’. O nosso trabalho é continuar a promover a diversidade da fotografia africana na sua invenção e também com o nosso fundo constituído por vários milhares de imagens de várias centenas de fotógrafos que representam todo o espectro qualitativo dos fotógrafos africanos, de modo a que um dia lhes seja reservado um lugar maior no mercado.» Se as grandes capitais europeias continuam a ser placas giratórias importantes para esse mercado, já não são lugares de passagem obrigatórios. Os fotógrafos africanos vão directamente a Nova Iorque, Dubai ou Doha.
Desde há dois anos, o mercado da criação contemporânea africana vive um período de efervescência, uma bolha de que a fotografia não está, obviamente, excluída. André Magnin, que encontrámos precisamente no seu regresso de Paris-Photo Los Angeles, está tranquilo; vendeu todas as suas fotografias de Omar Victor Diop, o que não aconteceu à maior parte dos galeristas, para os quais esta feira representa mais despesas que benefícios. « Nestes dois últimos anos tudo vai muito depressa e aparecem excelentes artistas apoiados por galerias muito profissionais» - observa. (5. A galerie Magnin-A tem apresentado Mauro Pinto e Filipe Branquinho.) Os actores deste mercado têm a sensação de assistir a um boom. Imane Farès partilha esse entusiasmo: «Penso que este interesse pela arte africana vai ainda crescer, está em plena expansão.» Sammy Baloji, que ela representa desde o ano passado, faz parte das «success stories» deste mercado. Foi, nomeadamente, um dos finalistas do célebre Prémio Pictet em 2013.
Este dinamismo é confirmado pelo êxito da feira 1:54 (1 continente, 54 países) de Londres. A primeira edição teve lugar em 2013. A galerista da Costa do Marfim Cécile Fakhoury vendeu todo o seu stand. O fotógrafo François-Xavier Gbré, que ela representa, foi comprado pela Tate Modern. Para Paul Hewitt, director estratégico dos novos mercados na Christie’s, «o facto de a 1:54, primeira feira internacional consagrada à arte africana, ter lugar em Londres durante a Frieze envia uma mensagem clara: a arte africana é hoje um mercado de crescimento rápido.»
No entanto, esta tendência só terá continuidade se for sustentada por uma rede de coleccionadores, museus e galeristas africanos. «É um mercado que suscita o interesse dos investidores», sublinha Cécile Fakhoury. Trata-se para ela de desenvolver um mercado interior e criar dinâmicas entre os países. «A maior parte das pessoas a quem vendi obras nunca tinham comprado arte. Andam pelos 30 anos e têm uma curiosidade enorme por este domínio». A bipolaridade francófona e anglófona atenua-se para enriqueccer um tecido de trocas e de interesses comuns.
A África do Sul está à parte, o seu mercado é estruturado e organizado desde há várias décadas com grandes galerias, grandes colecções e grandes museus. De modo geral, o desenvolvimento do mercado da África anglófona é muito similar ao que acabamos de descrever, nomeadamente a Nigéria, que é ao mesmo tempo o país mais povoado de África e a primeira potência económica africana, ultrapassando desde este ano a África do Sul.
É na Nigéria que o Lagos Photo Festival criado em 2010 estabelece condições de trocas sem precedentes entre países africanos à volta dos seus fotógrafos. Está a tornar-se o ponto de encontro incontornável para a fotografia africana. Marie-Cécile Zinsou visita-o todos os anos. «É tudo o que os Rencontres de Bamako não são. É toda a dinâmica do continente na sua relação com o resto do mundo», diz com entusiasmo. O mercado africaniza-se rapidamente e constrói assim as bases de um crescimento estável.
Nesta mesma linha, o empresário marroquino Alami Lazraq está a criar em Marrakexe um museu dedicado à arte contemporânea marroquina e africana com uma superfície de 6 000 m2, cuja inauguração está prevista para 2016. A sua colecção conta já com 500 obras. A este respeito, Touria El Glaoui, directora fundadora do 1:54, o Salão africano de arte contemporânea, afirma: «O facto de um museu inteiramente dedicado à fotografia e às artes visuais surgir em Marrakexe é significativo da evolução do interesse por estas práticas, e parece-me primordial que artistas fotógrafos como Yto Barrada ou Hicham Benohoud, que atingiram uma importante visibilidade à escala internacional, apoiem a sua criação.»
No desenvolvimento deste mercado em África, um dado muito importante tem de ser levado em conta, o da conservação das fotos. O calor e a humidade alteram terrivelmente as provas. Na Fundação Zinsou, os orçamentos de conservação impedem a compra de outras obras fotográficas. «Estamos a interrogar-nos sobre se a colecção não será repatriada para França», explica a sua presidente. Para contornar o problema é preciso ser inventivo e, para a sua última exposição de Malick Sibidé, fez imprimir as fotos a tinta sobre tela. Parece que o efeito é muito interessante para o preto e branco e que a conservação é melhor. A ver a longo termo.
No que é agora um vasto mercado, quais são os fotógrafos mais prometedores? Proponho-vos que os descubram
OS FOTÓGRAFOSS : LEONCE RAPHAEL AGBODJELOU, AKINTUNDE AKINLEYE, LEILA ALAOUI, MALALA ANDRIALAVI- DRAZANA, KADER ATTIA, SAMMY BALOJI, KOTO BOLOFO, NABIL BOUTROS, FILIPE BRANQUINHO (Maputo), MOHAMED CAMARA, SEYDOU CAMARA, KUDZANAI CHIURAI, FATOUMATA DIABATE, OMAR VICTOR DIOP, CALVIN DONDO, LALLA ESSAYDI, HASSAN ET HUSAIN ESSOP, SAMUEL FOSSO, WASSIM GHOSLANI, HASSAN HAJJAJ, NERMINE HAMMAM, PIETER HUGO, EURIDICE KALA, KILUANJI KIA HENDA (Luanda, Lisboa), GERMAIN KIEMTORE, MAMADOU KONATE, T-J LETSA, NAMSA LEUBA, DILLON MARSH, FATIMA MAZMOUZ, FABRICE MONTEIRO, BAUDOUIN MOUANDA, ZWELETHU MTHETHWA, ZANELE MUHOLI, AIDA MULUNEH, YOUSSEF NABIL, DANIEL NAUDE, MATAR NDOUR, MAME-DIARRA NIANG, ABRAHAM OGHOBASE ONORIODE, LAKIN OGUNBANWO, ALAIN POLO, NYANI QUARMYNE, ZINEB SEDIRA, GEORGES SENGA, MARY SIBANDE, MALICK SIDIBE, PAUL SIKA, MIKHAEL SUBOTZKY, GUY TILLIM, IKE UDE, NONTSIKELELO VELEKO, GRAEME WILLIAMS, RALPH ZIMAN.
Os nomes no índice divulgado no site:
- L-R. AGBODJELOU
- Akintunde AKINLEYE
- Leila ALAOUI
- M. ANDRIALAVIDRAZANA
- Kader ATTIA
- Sammy BALOJI
- Koto Bolofo
- Nabil Boutros
- Mohamed Camara
- Seydou Camara
- Kudzanai CHIURAI
- Fatoumata DIABATE
- Omar Victor Diop
- Calvin Dondo
- Lalla ESSAYDI
- Hassan & Husain ESSOP
- Samuel Fosso
- Wassim GHOZLANI
- David Goldblatt
- Hassan Hajjaj
- Nermine Hammam
- Pieter Hugo
- Euridice Kala
- Seydou Keita
- Kiluanji KIA HENDA
- Germain KIEMTORE
- Mamadou Konate
- T-J. LETSA
- Namsa Leuba
- Dillon Marsh
- Fatima Mazmouz
- Nandipha MNTAMBO
- Fabrice Monteiro
- Baudoin Mouanda
- Zwelethu MTHETHWA
- Zanele Muholi
- Aida MULUNEH
- Youssef Nabil
- Daniel Naude
- Matar Ndour
- Mame-Diarra NIANG
- A. OGHOBASE Onoriode
- Lakin OGUNBANWO
- Alain Polo
- Nyani QUARMYNE
- Zineb SEDIRA
- Georges SENGA
- Mary SIBANDE
- Malik SIDIBE
- Paul SIKA
- Youssouf SOGODOGO
- M. & P. SUBOTZKY & WATERHOUSE
- Guy TILLIM
- Siaka Soppo TRAORE
- Ike UDE
- Nontsikelelo VELEKO
- Graeme WILLIAMS
- Ralph ZIMAN
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versão anotada (in progress)
O aparecimento da fotografia em África seguiu de perto a invenção do medium, mas a sua entrada no mercado de arte* data já dos anos 1990. A maneira como «surgiu» Saydou Keïta é emblemática da curta história do mercado da fotografia africana. Estamos em 1991 em Nova Iorque. André Magnin e Jean Pigozzi visitam a exposição «African Explores: 20th Century African Art» organizada por Susan Vogel no New Museum of Contemporary Art. Encontram fotografias a preto e branco, retratos, em cujas legendas se lê: «Anónimo. Mali». André Magnin parte logo a seguir para Bamako, com uma pasta de fotocópias. Levam-no a um primeiro fotógrafo que o conduz a outro fotógrafo: o primeiro é Malick Sibidé e o segundo, Seydou Keïta. Foi assim que estes fotógrafos, que trabalhavam até aí como artesãos, com a sua clientela, entraram num outro mercado, o mercado de arte. E durante anos são estes retratistas (Seydou Keïta, Ojeikere) ou fotógrafos documentais (Jean Depara, Malick Sidibé) que vão monopolizar o mercado. Em números, a coisa exprime-se assim: em 1990, uma foto de Keïta valia o equivalente a 50 cêntimos de euro, em 1992 vale 150 euros e hoje uma prova assinada de Keïta vale entre 5 000 e 15 000 euros.
* <Trata-se (outra vez) da "descoberta" da África pelo Ocidente e no Ocidente, segundo as suas regras de interesse e de visibilidade: é uma história dos descobrimentos, não uma história de África. É o conhecimento, a aprovação, a apropriação exterior que constitui o objecto de estudo, no caso a fotografia. O ponto de vista é em absoluto eurocêntrico (e em especial parisiense) e neste caso a fotografia que importa é aquela que entra no mercado ocidental - e este é já o mercado de arte, ou um mercado da fotografia associado ao mercado de arte. (Existem também o mercado fotográfico da fotografia, o pequeno mercado dos coleccionadores de fotografia, e dois mercados institucionais da fotografia, o da divulgação da fotografia e o outro, museológico e empresarial (corporate) mais ou menos identificado com o mercado de arte.) "African Explores" é de 1991, já depois de "Magiciens de la Terre", de 1989, de que se fala adiante, e onde não há ainda fotógrafos africanos. É óbvio que ao longo dos anos 80, e mesmo antes, se produz e expõe fotografia africana, mas ela não constitui um pólo de atenção enquanto fotografia de ambição ou qualidade artística e não tem ainda o seu mercado. (O mercado da fotografia foi surgindo lentamente nos anos 70, a crítica da fotografia nos anos 80.)>
Nesses anos, os actores deste mercado contam-se pelos dedos de uma mão e os fotógrafos africanos estavam muito dependentes dessas pontes fabulosas cuja omnipotência não é propícia a um mercado aberto. De 1989 a 2009, André Magnin desempenha um papel capital neste minúsculo mercado, já que estava a formar a colecção de Jean Pigozzi, que lhe dissera, depois de ter visto a exposição «Magiciens de Terre» em Beaubourg [e La Vilette] em 1989 [dirigida por Jean-Hubert Martin]: «Você vai-me fazer uma colecção única no mundo». (Magiciens de la Terre: www.centrepompidou.fr ) Vinte anos mais tarde a colecção Pigozzi conta com mais de 10 000 obras. Paralelamente, a Revue Noir fazia um trabalho de publicação magistral e revelava 3 500 artistas, 600 dos quais fotógrafos, desde o início dos anos 1990.
< André Magnin fora comissário adjunto dos "Magiciens"; foi o comissário/director da colecção Pigozzi de 1989 até 2009 e possui desde então a sua galeria, Magnin-A - www.magnin-a.com - que apresenta artistas que vivem e trabalham na "África Negra", e não os das diásporas ocidentais (expõe Mauro Pinto e Filipe Branquinho). Essa opção pelos artistas do interior do continente, muitos deles autodidactas e intérpretes de tradiçõs locais, vernaculares ou ± eruditas, divide a informação e o mercado da arte africana - continua a ser uma marca da colecção Piggozi.
A Revue Noire - www.revuenoire.com - apresenta logo em 1991 (nº 3, Dezembro) um panorama da fotografia africana dividida entre a produção documental e a direcção arte, num número que põe na capa Rotimi Fani-Kayodé (Ife, NIgeria 1955 - London 1989). O nº 15, Dezembro 1994, é dedicado a Moçambique e também aos 1ºs Encontros de Bamako. A revista, luxuosa e de grande formato, muito apoiada pela cooperação francesa, é criada por Jean-Loup Pivin e Pascal Martin Saint Léon, arquitectos que trabalharam de 1979 a 1985 em Bamako, para a concepção e realização do Museu Nacional de Mali e outros projectos. Desenvolvem depois trabalhos para África e fundam a revista, editora e empresa produtora de exposições em 1991 com Simon Njami e Bruno Tilliette. Ver AP: 2008/cronologia.html>
Dois anos depois da descoberta de Seydou Keïta, o fotógrafo francês Bernard Descamps desembarca no estúdio de Samuel Fosso em Bangui, na República Centroafricana. À época tinha 31 anos e terminava as suas películas, à tarde, com auto-retratos encenados. Hoje as fotografias de Samuel Fosso integram as colecções da Tate Modern em Londres, do Centro Georges-Pompidou e do Museu do Quai Branly em Paris. A sua série "African Spirits", que presta homenagem às grandes figuras panafricanistas e da luta pelos direitos cívicos nos Estadfos Unidos não se vende por menos de 100 000 euros. O género do retrato marca a fotografia africana e assegura-lhe os seus primeiros grandes sucessos internacionais. São factos que dizem muito sobre um mercado espartilhado e com mais-valias fabulosas.
A criação da Bienal de Dakar Dak’Art em 1989 e, mais tarde, em 1994, a dos Encontros de Bamako marcam os inícios de um mercado que se caracteriza globalmente por explorar uma vasta terra virgem (une vaste friche). Estando massivamente à sombra do mercado de arte, a fotografia africana não é representada na sua diversidade. A exposição de 1998** «L’Afrique par elle-même» associada ao seu catálogo «Anthologie de la photographie africaine», montada pela Revue Noire e com um périplo que começou na Maison Européenne de la Photographie (MEP) em Paris marca um movimento de reconhecimento internacional de uma fotografia africana plural. Os anos 2000 são marcados pela ambiciosa e itinerante exposição «Africa Remix» do Centro Pompidou de Paris.
** < De facto, a exposição de Orkui Enwezor no Guggenheim de NY - IN/SIGHT AFRICAN PHOTOGRAPHERS, 1940 to the Present - é anterior à exp. da Revue Noire - aí aparede Ricardo Rangel com a série da Rua Araújo.>
Em 2007, Malick Sibidé recebe um Leão de Ouro na Bienal de Veneza. O mercado da fotografia internacional já passara a contar com a fotografia africana, cujo futuro assenta então na sua abertura e na sua diversificação. O apogeu deste período corresponde já à respectriva ultrapassagem, simbolizada pelo primeiro pavilhão africano na Bienal de Veneza, em 2007, sob a direcção de Simon Njami. A fotografia africana, que continuava a ser um objecto construído do exterior controlado por galeristas e comissários ocidentais, entra lentamente numa nova fase ao mesmo tempo de abertura e de recuperação pelos Africanos.
<Foi o Padiglione/Pavilhão Africano chamado . Os artistas expostos foram (a negro os 6 angolanos): Ghada Amer, Oladélé Bamgboyé, Miquel Barcelò, Jean Michel Basquiat, Mario Benjamin, Bili Bidjocka, Zoulikha Bouabdellah, Loulou Cherinet, Marlène Dumas, Mounir Fatmi, Kendell Geers, Ihosvanny, Alfredo Jaar, Paulo Kapela, Amal Kenawy, Kiluanji Kia Henda, Paul D. Miller aka DJ Spooky, Santu Mofokeng, Nástio Mosquito, Ndilo Mutima, Ingrid Mwangi, Chris Ofili, Olu Oguibe, Tracey Rose, Ruth Sacks, Yinka Shonibare, Minette Vari, Viteix, Andy Warhol, Yonamine. Curatori: Fernando Alvim e Simon Njami. ( Check List ) >
Para além dos cinco nomes que giram em círculo na boca dos galeristas e dos coleccionadores, os fotógrafos africanos estão pouco representados no mercado. Por isso chegou o momento de reflectir a fertilidade de um continente, o que a presidente da Fundação Zinsou, do Benim, Marie-Cécile Zinsou, resume perfeitamente em algumas palavras: « Em África, é por toda a parte, todo o tempo» (« En Afrique, c’est partout, tout le temps. »). Novos actores contribuem para abrir este mercado, atribuindo aos fotógrafos africanos um lugar crescente. Para o reconhecimento da criação contemporânea africana em sentido amplo, cabe ao comissário nigeriano Okwui Enwezor um papel importante desde 2002, por ocasião da Documenta 11 de Kassel na Alemanha ou mais recentemente com a Trienal de Arte Contemporânea que teve lugar no Palácio de Tokyo em 2012 e de que assegurou a direcção geral. ( la triennale, 2012, Palais de Tokyo , louvre )
< A "origem" dos Encontos de Bamako reside no projecto fotográfico de Françoise Huguier de seguir os passos de Michel Leirism publicado em "Sur les traces de l'Afrique fantôme", éditions Maeght 1990 ("De mars 1931 à février 1933, Michel Leiris traverse l’Afrique d’Ouest en Est. Il est secrétaire archiviste d’une mission ethnographique dirigée par Marcel Griaule, et, à ce titre, en tient le journal de bord. Publié pour la première fois chez Gallimard en 1934, son carnet de route est devenu un grand livre, L’Afrique fantôme.) De mai 1988 à janvier 1990, une photographe, Françoise Huguier, et un écrivain reporter, Michel Cressole, ont repris l’itinéraire de la mission Dajar-Djibouti.") A estadia no Mali dá origem a um projecto de trabalho com os fotógrafos locais que é proposto à cooperação francesa.
En 1991, deux photographes, Bernard Descamps et Françoise Huguier se voient regulierement dans leur agence : l’Agence Vu. Lors d’une discussion, ils prennent conscience qu’au cours de leurs voyages en Afrique ils ont rencontré de nombreux photographes africains. Ils décident alors de mettre en œuvre un projet commun en Afrique. En premier lieu, Françoise Huguier et Bernard Descamps lancent leur projet avec des photographes maliens (Alioune Ba et Django Cissé). Chaque français travaille en binome avec un photographe local. Cette aventure n’ayant pas réellement abouti, les deux français prennent l’initiative d’organiser un festival pour faire connaître la photographie africaine. "Les 1ères Rencontres: une initiative française pour promouvoir une photographie méconnue.
Pour trouver des financements, Françoise Huguier prend contact avec Roger Aubry, qui dirige alors l’association «Atout Centre». Ce dernier sollicite l’association «Afrique en Créations» (cette association était née en 1990 avec une mission fondatrice, celle de favoriser la présence de la création africaine contemporaine sur les marchés culturels français et européene), qui promeut la création africaine pour trouver des financements. Afrique en Créations absorbera par la suite l’association de Roger Aubry. - in Jeanne MERCIER Juin 2006 , Les Rencontres Africaines de la Photographie, Bamako 2005. Sous la direction d’André Gunthert Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS)
continua
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