Casamento, 1961
técnica mista, prova não numerada e não assinada, provável prova de ensaio de obra não editada (exemplar único? - um original sem múltiplos)
Outro "Casamento", 1961
xilogravura a duas cores, 25,7 x 35,7 cm (papel 42x52,5 cm). Atelier Gravura, ed. do Autor (tiragem de 30 ex.). Na foto, uma prova de ensaio.
Obra exposta no IV Salão de Arte Moderna, SNBA, 1961 (cat. nº 82).
Neste caso, a gravura é contemporânea de uma pintura com o mesmo título:
Casamento, 1961
óleo sobre tela, 65x100 cm, col. part.
Exp.: 1962, Gal. Diário de Notícias, Lisboa (bibliog.: Cat. Rais. I, nº 214)
Estampa/ gravura: original e múltiplo
(Começo de tentativa pessoal de resposta (ou comentário) às perguntas propostas a respeito da exposição do Atelier-Museu Júlio Pomar “Edição e Utopia - Obra gráfica de Júlio Pomar”, que abriu ao público no dia 24 de Outubro. Contribuições para que se volte a saber o que é uma gravura original, ou um original gravado, uma estampa, um original múltiplo)
Uma gravura e uma fotografia, impressas a partir de uma matriz ou de um negativo ou ficheiro digital, são originais (e podem ter/ser ou não múltiplos): a gravura/estampa no caso da edição limitada, numerada e assinada pelo autor, que acompanhou a tiragem ou aprovou uma impressão certa a multiplicar (o "bom à tirer"); a fotografia no caso das provas vintage e de trabalho, e das provas de autor cuja impressão autorizou e assinou (ou não).
Com a gravura e a fotografia não há - ou há pouco - lugar para o fetichismo do exemplar único, e o número de provas é uma convenção que importa apenas ao mercado (e ao coleccionador) - para além da eventual questão do desgaste material da matriz no caso da gravura).
A pintura e o desenho multiplicavam-se (e multiplicam-se) através da cópia manual - que foi durante muito tempo socialmente aceite pelos coleccionadores, pelas cortes e academias, e pode ser ainda hoje uma forma de aprendizagem (o falso é outra coisa, uma variedade não autorizada da cópia).
A gravura de reprodução foi depois a grande fórmula de circulação de informação visual sobre as obras de arte (pintura, desenhos e gravuras) antes da invenção da reprodução fotográfica, a preto e branco, depois a cores; a gravura de autor é outra coisa e tem a sua história própria - aliás, as suas histórias próprias para cada uma das grandes espécies de gravação (em pedra litográfica, madeira e metal) e de impressão-tiragem (em geral em papel).
A gravura e a fotografia são processos de criação em que a possibilidade de multiplicar faz parte da sua especificidade material e processual e da sua originalidade, da sua condição ou natureza, se se quiser. A gravura e a fotografia são formas de criação de imagens originais, antes de serem formas de multiplicação ou reprodução de imagens. Esta exposição pode ser uma oportunidade para enfrentar algumas questões.
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Nota 1 - 22 Out.
Comentário: "Havia a ilusão nos anos 60, quando se começa a multiplicar, de que haveria uma democratização da arte, o que não é verdade" (citação, DN).
Vamos lá ver: democratização da arte havia mesmo (questão de multiplicação de originais - mas neste caso cada múltiplo é um original: "milagre" da gravura e da fotografia; e/ou questão de distribuição e acessibilidade, isto é, de preço).
A ILUSÃO - que se perdeu logo na década de 50, ainda antes da criação da Cooperativa Gravura, em 1956 -, ilusão neo-realista militante, era contar com que a democratização da arte fosse um caminho para democratizar o país; contar com que a arte para o povo fosse politicamente eficaz, num processo directo de causa a efeito.
Mas multiplicar (produzindo estampas e fotografias, tal como editando livros, discos e cópias de filmes - e são multiplicações de diferente natureza: consulte-se o Gérard Genette, sobre os regimes de imanência e de transcendência da obra de arte: o regime autográfico e o regime alográfico, a partir de Nelson Goodman - ver L'OEUVRE DE L'ART, Seuil, 1994 1997, 2 vol.) é de facto um acto de democratização.
Bota 2 - 23 Out.
Uma pergunta: quando e como os artistas (alguns artistas) deixam de reconhecer a vontade de democratização da arte e se vão dedicando, ao longo do séc. XX, a coisas noutra direcção: à perseguição da ideia de vanguarda (a busca da novidade, o ir cada vez mais longe, fazer o que nunca foi feito), vanguarda essa que passa da margem para o centro do espaço e do mercado institucional; à especulação sobre as ideias de morte da arte e de autonomia da arte - ideias só em parte contraditórias ou divergentes; e, o que é o mesmo por vários caminhos, à produção de arte sobre arte (Greenberg), à busca da de-definição da arte (Harold Rosenberg) ou à prática da anti-arte (Thomas McEvilley, 2007, The Triumph of Anti-Art).
Outra pergunta: além da importância que tem para os próprios artistas (e/ou professores, mediadores vários, comerciantes de arte, etc), como se pensa hoje a necessidade social da arte?
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