Angola apresentou-se no Porto por iniciativa de Sindika Dokolo (o marido da princesa). Moçambique representa-se por via diplomática na SNBA, por ocasião dos 40 anos da independência (as duas fotos são retiradas da página do fb de António Fernandes, amigo de Sérgio Santimano - ambos representados num pequeno espaço dedicado - consentido? - à fotografia).
São duas mostras - ambas oriundas das áreas do poder, a segunda oficial - que ilustram a diversos níveis a situação actual dos dois países, manifestamente oposta. No segundo caso seria difícil fazer pior enquanto exposição, mas também fazer melhor como demonstração dos impasses que o país conhece e não só na área da cultura. A subterrânea vitalidade do panorama artístico de Moçambique - pontual e esporádica, condicionada e (temida) ignorada pelas entidades públicas -, que tem sido possível, por vezes, conhecer também em Lisboa, está ausente. A aliança entre rotinas menores ou mesmo medíocres e o discurso da burocracia partidária mostra um país capturado. Dependente quando celebra a independência.
"1975-2015. Retrospectiva 40 Anos da Independência de Moçambique. Artistas Moçambicanos em Portugal"
... Moçambique esteve muito acima de Angola no campo da criação artística (incluindo a fotografia nas suas várias dimensões). Teve Malangatana, que foi um dos primeiros e maiores pintores modernos africanos (e de mais longa carreira), e tem outros pintores e escultores relevantes. Teve Ricardo Rangel, também uma figura ímpar, e tem outros fotógrafos de primeiro plano em África, alguns sem condições de visibilidade e sem poderem continuar as suas carreiras (por falta de mercado interno, privado e institucional), com uma recente geração que está a entrar na circulação internacional (e aguarda-se que aí se consiga manter, como condição de sobrevivência). O panorama angolano é muito inferior. Ter ganho o prémio para o melhor pavilhão na Bienal de Veneza em 2013 (com Edson Chagas) foi um acidente, ou melhor, um sinal da voracidade dos mercados - e note-se que a representação angolana não foi organizada pelo Sindika Dokolo, que é hoje um grande patrono internacional na área da arte contemporânea africana.
Presenças e ausências são aleatórias, ao sabor de acessos a colecções privadas e à disponibilidade dos artistas envolvidos. Dois quadros de Bertina Lopes, de 1958 e 60, representam o melhor tempo da sua carreira. Lívio de Morais tem uma presença manifestamente excessiva, repetitiva. O escultor Ntaluma de etnia maconde é referido como curador.
Duas máscaras mapico expostas na parede do Salão são uma presença insólita, numa exposição em que comparecem as derivações da produção maconde e a linha Chissano (ausente) - Naftal Langa. A da direita parece representar um soldado português.
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