Continuando a reflectir sobre as declarações de Cristina Guerra, membro destacado do comité organizador da feira Arco-Lisboa (ver notas anteriores), a respeito da inexistência de museus que dêem a conhecer a arte portuguesa do século XX, nomeadamente aos visitantes estrangeiros ("Nós não temos um museu de arte contemporânea a funcionar como deve ser – a arte contemporânea que se faz hoje cá está confinada às galerias" - Jornal Público, Cristina Guerra/ArcoLisboa), parece-me que é da máxima oportunidade e urgência que os responsáveis pela área (desde o novo ministro da Cultura, Luis Castro Mendes , ao sub-director geral do Património Cultural, David Santos, por sinal ex-director do Museu do Chiado), tomem imediatas medidas no sentido de dar satisfação a uma queixa legítima e bem fundamentada, com efeito fácil no único museu nacional que deles directamente depende, o Museu do Chiado.
Uma decisão imediata é tanto mais acertada quanto a exposição que ocupa o espaço disponível do mesmo museu, na imponente Sala dos Fornos e na escadaria de acesso, é uma mostra individual de um artista representado pela Galeria Cristina Guerra (e também pela Galeria Pedro Oliveira no Porto), a qual contou, aliás, com a sua colaboração directa. Está assim obviamente assegurada a concordância com essa medida e com a respectiva fundamentação, graças à autoridade profissional que se reconhece a Cristina Guerra.
Com efeito, é inadmissível que, por causa dos trabalhos actualmente em curso no Museu, toda a sua colecção histórica (séc. XIX e XX, até aos anos 60) esteja actualmente invisível - até Outubro, segundo o calendário divulgado. Em vez de Columbanos, Malhoas e Almadas, os visitantes têm ao seu dispor Cepedas ( http://www.museuartecontemporanea.pt/pt/programacao/1784 ), o que é manifestamente menos satisfatório.
A feira abre no dia 26, na Cordoaria Nacional, e há assim tempo bastante para resolver a absurda situação denunciada, mediante a escolha de umas duas dezenas de obras que se considerem mais representativas da colecção histórica e da arte portuguesa. Note-se que a actual directora, Aida Rechena, entrou em funções há muito pouco tempo e ainda não teve oportunidade de assumir uma programação própria. A actividade regular do Museu do Chiado tem sido sacrificado à apresentação de exposições individuais de jovens artistas que teriam o seu lugar natural nas galerias comerciais de arte contemporânea (e que provêm do restrito círculo das “galerias líder”), pelo que a situação criticada por Cristina Guerra deve viabilizar uma nova orientação mais consensual, assente na presença da colecção histórica e em mostras temporárias complementares.
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