E se tentássemos perceber (ou discutir primeiro) para que servem tantas galerias municipais, que constituem uma originalidade portuguesa e lisboeta?
As galerias municipais servem para concorrer com as galerias privadas e associativas; favorecem umas delas expondo os seus artistas e ignoram outras, têm sido uma extensão de galerias privilegiadas; viciam o pobre sistema da arte que temos.
A gestão tendenciosa e promíscua que o João Mourão levou a cabo (dirigindo ele a sua própria galeria Kunsthalle Lissabon e comissariando exposições em espaços privados) não exigiria uma reflexão sobre um passado recente vulnerável aos jogos de grupo e à corrupção, e sobre qual o futuro que importa construir?
E se a CML (EGEAC?) prestasse apoio às estruturas existentes (do Museu Vieira da Silva à Carpe Diem e outras estruturas associativas, passando pelo Arquivo Fotográfico e demais museus e estruturas camarárias débeis, em vez de se dedicar à gestão da arte numa escala provinciana e comunitarista?
Fazer sair o João Mourão, que se expôs despudoradamente e que me fartei de atacar, é só um 1º passo.
(Para a Sara A. Matos, que polidamente devo felicitar pela ascensão na burocracia camarária, pode ser uma problemática acumulação de responsabilidades e trabalhos. Esta é uma opinião pessoal, claro)
Há tempos tinha interrompido o curso de uma sessão pública para ler parcialmente e entregar ao Presidente da CML e à Vereadora da Cultura um documento crítico em que o "caso Galerias do João Mourão" era o 1º ponto. (LINK a colocar)
26/10/2016
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Voltando ao tema das Galerias CML/EGEAC, agora ainda mais actual, temos aqui uma actualizada e insólita lista (não digam listagem, por favor) de "espaços", que vale a pena pôr à discussão
PONTO 1. Cito: "em Novembro de 2002, a Câmara Municipal de Lisboa criou a entidade plural das 'Galerias Municipais' com a missão de gerir os espaços expositivos da CML providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos." Já havia galerias, como a do Pal. Galveias, agora bem atribuída à Biblioteca central, mas juntaram-se numa mesma direcção.
"... providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos": por que raio a providência mediadora se dirige SÓ à arte contemporânea? Os "diversos públicos" (são extratos diferentes para receberem a mediação da arte contemporânea segundo os diferentes níveis do "meio da arte"?) não precisam de mediações dedicadas à arte antiga, moderna e popular, entre outras, as aplicadas, as amadoras, as tecnológicas, o design e a arquitectura, a BD e a novela gráfica (a Bedeteca já teve actividade...), etc? Contando que expor fotografia cabe ao Arquivo Municipal (foi um recuo institucional grave, como foi a destituição da Hemeroteca, que não era vistosa para festivais e turistas, e vendera a casa ao Lopes da Misericórdia). HÁ POR AÍ UMA BARRIGADA DE ARTE CONTEMPORÂNEA que nada justifica: é, de facto, aquela que tem uma retaguarda de iniciativa empresarial e associativa mais forte. Mas pior que a barrigada é a BRIGADA DA ARTE CONTEMPORÂNEA que se tem servido das "mediações".
PONTO 2. O que é o Africa.Cont, incluído entre as Galerias Municipais, não sendo uma galeria? Nos últimos anos era só uma sinecura do prof. José António Fernandes Dias, depois de ter sido um delírio caro da dupla Sócrates-Costa. As Tercenas do Marquês ficaram na mesma, e ainda bem: eram impróprias para lá meter uma programação "terceiro-mundista" em estilo pós-colonial chique.
PONTO 3. O que justificou a invasão do Palácio Pombal pelo galerista João Mourão, se aí estava sediado o Carpe Diem, com um protocolo em vigor? Não bastavam tantos outros espaços já disponíveis e em geral sub-utilizados?
PONTO 4. Se o Pavilhão Preto foi entregue ao Museu da Cidade, que tem outras galerias e núcleos dispersos pela cidade, por ex. um Torreão da Pr. do Comércio, não deve o Pavilhão Branco ser-lhe tb confiado? O investimento no Museu da Cidade, com os seus vários focos e edifícios, não seria a prioridade mais justa?
PONTO 5. O apoio directo e indirecto à rede de galerias comerciais e às associações, em especial as que ocupam espaços camarários e às que actuam para outros públicos, jovens e interculturais, não deve ser uma prioridade da CML/EGEAC em vez de lhes fazer guerra e concorrência - favorecendo umas galerias e ignorando ou prejudicando outras? Prioritário seria, aliás, o apoio e a colaboração com as entidades associativas e interculturais em vez de se lhes substituir (LEM e Casa do Mundo...), e em vez de substituir as linhas de actividade continuada pelas dinâmicas festivaleiras que tudo absorvem e uniformizam. Essas galerias comerciais, que têm a sua associação corporativa, não discutem estes temas? Não falam? Só estendem a mão?
PONTO 6. Em vez de se dispersar por galerias próprias, a CML/EGEAC não deveria fazer aquisições de obras de arte, alargando o seu museu ou museus - comprando para formar colecções e não para "ajudar"? Sei que comprou na última feira, mas terá sido para a apoiar?
PONTO 7. Existindo um departamento Galerias Municipais na Empresa Pública EGEAC não será preciso distinguir bem o que é uma direcção de serviço do que é um programador, o qual, aliás, em geral se perfila como um comissário, programando a seu gosto, no quadro de uma carreira de galerista-e/ou-comissário-e/ou-crítico-ou-e/artista, com as suas cumplicidades geracionais, estéticas e galerísticas próprias e o seu distanciamento do que deve ser serviço público (estou a pensar num Calhau, num David Santos, num Wandschneider, etc)? E separando também o que é programar do que é comissariar. Em princípio um director de departamento não programa, dirige, e um programador não comissaria. O João Mourão tinha chegado à desvergonha total de ainda dirigir a sua própria galeria (galeria mesmo, mesmo que não vendesse às claras).
PONTO 8. E mais galerias e exposições existem pela cidade na Casa da América Latina e na UCCLA (agora com uma grande sede comum), nos Paços do Concelho, em Bibliotecas e também em espaços de freguesias. É muito? Não, é pouco, porque é tudo rasteiro. Não vemos por cá o que vemos nos programas de outras capitais. #cmlcultural
http://www.egeac.pt/equipamento/galerias-municipais/
EGEAC:
À semelhança do que acontece noutras cidades, em Novembro de 2002, a Câmara Municipal de Lisboa criou a entidade plural das “Galerias Municipais” com a missão de gerir os espaços expositivos da CML providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos. Em Janeiro de 2015 estes espaços expositivos transitaram para a gestão da EGEAC, permitindo uma maior agilidade de programação e dinamização de modelos de gestão, financiamento e relacionamento com o público.
As Galerias Municipais pretendem ser locais que respondem com flexibilidade à mudança social e política, perseguindo uma programação participada, com uma base discursiva inerente e com abertura ao meio (local, nacional e internacional). Pretende-se criar espaços activos: parte centro comunitário, parte laboratório e parte academia, enquanto organização progressiva e de crítica, acessível.
As galerias consistem nos seguintes espaços: Pavilhão Branco, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Galeria da Boavista, Galeria Quadrum, Galeria da Avenida da Índia e Palácio Pombal. (...)
Pavilhão Branco
Situado no Campo Grande, o Pavilhão Branco tem vindo a desempenhar um papel central na estratégia municipal de arte contemporânea, representando uma mais-valia na diversificação da sua oferta. As caraterísticas arquitetónicas do espaço convidam à realização de exposições com cariz “site-specific”: acolhendo habitualmente quatro mostras por ano, proporciona tempos de montagem e de exposição mais longos, de forma a que alguns dos projetos mais emblemáticos sejam definidos em função – e façam sentido sobretudo – neste pavilhão. A sua linha programática tem apostado consistentemente na presença de artistas em “meio de carreira”, isto é, com um percurso já assinalável, que encontram aqui um local de dimensão que lhes permite apresentar um novo projeto com assinalável alcance.
Galeria Quadrum
Laboratório da arte experimental portuguesa nas décadas de 1970 e 1980, a Galeria Quadrum nasceu de um sonho da artista e colecionadora Dulce D’Agro. Projetada pelo arquiteto Fernando Peres e instalada no palácio dos Coruchéus, teve um caráter pioneiro, revelando nomes fundamentais da arte portuguesa, e depressa revelou uma vocação de polo cultural da cidade. Mantendo viva esta tradição da sua génese, quer continuar a ser um espaço de apresentação de jovens artistas, onde se construam projetos continuados de serviço educativo envolvendo a comunidade local. (...)
Galeria Boavista
Aberta em 2009, a Galeria da Rua da Boavista revelou desde a primeira hora uma vocação abrangente e multifacetada nos seus vários andares: a programação tem vindo a ser partilhada com agentes culturais vários – de associações a festivais, que aqui desenvolvem exposições, performances, concertos ou outras atividades. Assim sendo, vai afirmando a sua marca na cidade enquanto espaço de discussão, apresentação de disciplinas distintas e de informalidade vincada. Estão previstas obras no espaço, após as quais se deverão apresentar aqui os resultados de um “open call” para jovens curadores, a quem serão dadas oportunidades de trabalhar num contexto institucional.
Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Esta galeria tem a particularidade de se situar numa parte do complexo da Cordoaria Nacional, monumento nacional de 1779, com uma extensão de quase 400 metros que permitia acolher a extensão das cordas produzidas para barcos. O edifício continua sob gestão da Marinha Portuguesa, com quem a CML assinou um acordo para utilização do Torreão Nascente, com fim à realização de exposições. Sendo um espaço monumental, organizam-se aqui retrospetivas de artistas portugueses como foi o caso de José Pedro Croft, mas há também lugar para parcerias internacionais e nacionais com exposições de grande público, como por exemplo a Genésis de Sebastião Salgado (na imagem). No intervalo entre estes dois modelos são organizadas exposições coletivas, de coleções ou de propostas curatoriais ou artísticas, de grande envergadura.
Galeria Avenida da Índia
O antigo atelier do escultor Lagoa Henriques foi recuperado pela EGEAC em 2015 com a finalidade de se tornar num novo espaço expositivo da cidade: a Galeria Avenida da Índia. Foi inaugurada em Outubro de 2015 com a iniciativa “Retornar” (na foto), que assinalou os 40 anos da ponte-aérea de 1975. Com ela, iniciou-se também o papel de diálogo e questionamento da herança e memória colonial que se pretende desenvolver na linha programática deste local. A sua programação pretende cruzar artistas de várias geografias com trabalho nesta temática, recorrendo a abordagens diversas e disciplinas como a antropologia ou a história .
Palácio Pombal
Situado na rua de O Século, com cerca de 1560m2 e 1000m2 de jardim, o Palácio Pombal é um edifício seiscentista mandado construir por Sebastião de Carvalho e Melo, avô de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. O edifício atual é propriedade municipal desde 1968 e é gerido pela EGEAC desde 1997. Em 2009 foi realizada uma parceria com a associação cultural Carpe Diem, que tinha então à frente o curador Paulo Reis, para a dinamização do espaço. Para reforçar a actividade e garantir uma maior utilização do Palácio com vista à sua manutenção, em Janeiro de 2016 uma parte do Palácio voltou a ter programação da EGEAC ao serviço de iniciativas e parcerias desenvolvidas pelas Galerias Municipais e o Teatro Municipal Maria Matos e outros agentes culturais. Cruzando artes visuais e performativas, pretende-se desenvolver um programa formativo transversal potenciando assim o papel do Palácio na cidade.
Africa.cont
A partir de 1 de Julho de 2016, o Africa.Cont integra a linha programática autónoma das Galerias Municipais, visando a sua interligação com os equipamentos das Galerias Municipais e a partir destas fazer os cruzamentos necessários com os restantes equipamentos EGEAC, numa tentativa de afirmação e desenvolvimento dos objectivos de missão deste projeto: pôr o foco em exposições, conferências, ciclos de cinema, livros e música do continente e das diásporas africanas; a abreviatura “cont” aplica-se não só ao continente que inspirou o projeto mas também ao “contemporâneo” enquanto tempo de produção artística.