"Se são assim tão parte de nós, porque não nos ensinam a consumir imagens, a descodificar os seus contextos de produção, os seus usos, a forma como se transformam e metamorfoseiam?" escreve o Sérgio Gomes, Público, 16 Fev. ( "Aprender a ver imagens")
Já não se trata de 'consumir imagens', o que supõe uma distância (uma diferença) entre um público consumidor e as instâncias de produção (profissionais, artistas, órgãos de informação ou comunicação...). Seria ainda, e foi antes, uma diferença essencializada e hierarquizada entre produtores e consumidores de imagens. Precisar-se-ia de uma espécie de Deco para ensinar a consumir e regular a produção.
Mas, no termo de uma evolução que desde sempre democratizou e generalizou a fotografia, sempre mais, todos comunicamos por imagens (comunicar e consumir são coisas diferentes), tal como comunicamos por palavras - palavras ditas e escritas. Um mesmo dispositivo, o telemóvel com câmara, assegura a produção e a comunicação instantânea de palavras (ditas e escritas) e de imagens - é decididamente algo de novo, levando a um extremo a produção digital, que alguns quiseram deixar de considerar fotografia (por ex. André Rouillé)
Dizer e mostrar, ler e ver, chegaram a uma paralela condição de existência, de acesso, de circulação e de uso. Todos comunicamos por palavras e fotografias. É um novo estádio comunicacional.
Todos fazemos fotografias, todos somos fotógrafos como todos somos falantes e todos escrevemos*. A aprendizagem dos códigos da linguagem - da fala e da escrita - é a alfabetização. Mas a fotografia (e a comunicação visual) é livre de regras e códigos, não se "alfabetiza" nem codifica ou "descodifica", tem outros meios mais informais e mais sensoriais de aprendizagem. A fotografia (tal como a imagem desenhada ou pintada) não é uma linguagem e não se "lê" - nem se consome (como a palavra e a escrita não se consomem): no termo da sua evolução para uma total democratização da fotografia, ela é um equivalente* da linguagem (mas continuamos a dizer por comodidade e falta de termos certos, linguagem da pintura, linguagem da fotografia).
Com ela, imagem fotográfica, se produz e faz circular comunicação. Ela é já comunicação. Comunicamos agora - todos - também por imagens. Se o desenho e a pintura requerem uma habilidade, um talento , uma aprendizagem, para serem eficazes enquanto comunicação e arte, a fotografia requer um dispositivo mecânico.
(Não é o pincel que faz o pintor, nem o "dispositivo" que faz o fotógrafo. - L.P.).
(Na verdade, por detrás desta e de outras incompreensões está essa abissal diferença de conceitos do que é Arte, necessariamente incompatíveis <...> A arte é algo que foge completamente a esses conceitos de mercado, percurso, cotação, escolas, tendências, valor, exposição etc. que norteiam a apreciação de um técnico. <...> - L.P.)
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