Se se propõe e espera a vinda dos emigrantes no verão há que assegurar a viabilidade das romarias e dos seus espectáculos populares. Quim barreiros é cultura, sem dúvida, e o Peq Saul (ainda existe?) também é cultura. As feiras medievais são cultura e dão trabalho a muita gente do espectáculo. (Já agora, o Rodrigues dos Santos - e os seus redactores amestrados - é literatura.)
A promessa de 30 milhões para as autarquias fornecerem cultura é um gesto que tem a ver com o turismo interno, com as férias dos emigrantes, e em geral com as economias locais da cultura e os seus agentes. Com a cultura popular e com as relações de poder e de economia que se jogam no país e no terreno.
As reacções elitistas que pretendem condicionar apoios de emergência à qualidade cultural (com ou sem aspas) não têm sentido. O “pessoal” está a deixar-se isolar com protestos deslocados e reivindicações erradas.
Os apoios humanitários que são necessários face à crise actual dos recursos não são - não podem ser - geridos pelos critérios selectivos dos concursos.
O pimba, o kitsch, o popular, o amador, o tradicional e o novo, o erudito, com ou sem aspas, o vanguardista são um continuum no universo (universo?, um mundinho, o sector) da cultura, e as pessoas circulam ( precisam de circular livremente) entre as várias prateleiras conceptuais; a ideia de barreiras é um preconceito elitista e um impasse social. Mas “os culturais” (desde os Estados Gerais de 1995, com o Nery e os agentes do Carrilho) fizeram tudo para destruir os sectores amador e associativo - espero ter ainda as páginas do Programa que foi preciso arrancar.
O ataque aos municípios é outro equívoco a favor do centralismo e da dependência das instâncias autoritárias (júris e concursos negociados a partir do topo, controlados pelos mesmos - fiz uma vez essa experiência). Há melhores e piores câmaras, presidentes e vereadores, mas o jogo é esse. Eleitoral, democrático (partidário ou não), livre.
Se a ministra não se vê, se o Costa se marimba para o autoconsagrado sector cultural, e quer povo e votos, sempre tacticista (o Costa é Homeostetico desde o liceu e tinha o P. Portugal como assessor a reinar), as movimentações que têm voz no Público (um jornal de militantes desencontrados ou “interseccionais”, sem direção) e no FB com vigílias pífias e abaixo-assinados variegados, têm errado os alvos e desbaratado espaço social.
Donde vieram os 30M ? De onde estavam disponíveis, certamente, pq desbloquear verbas não é fácil. Depois se verá, agora importa a urgência. #covidcultural
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