Uma entrevista com um ministro não é uma discussão de café. Ao jornalista que fala da fome dos artistas não passa pela cabeça referir a fome de muitos outros trabalhadores e desempregados, e usa a cultura, a fome, o drink como ruído. Trata-se de tentar abocanhar - a Graça atirou-lhes um osso (o drink) e os jornalistas com o osso nos dentes dispensam-se de fazer o seu trabalho. A sra foi muito paciente.
https://expresso.pt/cultura/2020-07-31-Nenhum-jornalista-me-incomoda-a-entrevista-a-ministra-da-Cultura-na-integra?fbclid=IwAR02tlPb8UroxrZopD3ogDpsPRWDIchm9hx-KKFlwOvUxX79XJ1ZbtNU6D0
Um jornalista que faz o trabalho de casa não abocanha assim:
Questão 1: a coleccao do estado apareceu agora explicada como apoio aos artistas? (É um erro da ministra, que só vem dar razão a quem critica desde o início, desde sempre a ideia de "Colecção de Estado").
Questão 2: o trabalho intermitente dos artistas do espectáculo e o trabalho independente dos artistas em geral (mais curadores, críticos, autores, etc) como pode ser reconhecido e protegido, sem confundir-se com emprego / contrato regular e permanente, que não é?
Questão 3: ser artista ou apresentar-se como tal ou contar com um titulo de Dr Artista assegura o direito à subvenção permanente que se substitui às condições de mercado (ao reconhecimento, ao êxito, à venda de obras e espectáculos)? O anunciado estatuto do artista é um controle corporativo das actividades artísticas livres e uma funcionarização das artes?
Questão 4: o artista é alguém “fora do mercado” e privilegiado enquanto tal? Um produtor independente em auto-gestão assistida? Questão 5: escolher ser artista é escolher o risco de ser reconhecido como tal, ou não, e de viver como artista, à margem da produção oficinal ou industrial, dos serviços e da distribuição comercial, ou é o acesso a uma certificação que dá direito à subvenção? - e os pequenos artistas, os que falham, os amadores, os artistas de domingo e TODOS OS OUTROS?
(31 de Julho) versão revista
O jornalismo desonesto e oportunista: cobrir a notícia sobre a União Audiovisual com a frase solta do drink e a foto agressiva.
Um título inacreditável que se desqualifica a si mesmo e ao jornal onde se publica (o Expresso):
“Enquanto [a ministra] bebe drinks e fala de arte contemporânea, a União dá ajuda espontânea”: as rimas de quem ajuda quem passa fome "
https://expresso.pt/coronavirus/2020-07-29-Enquanto-a-ministra-bebe-drinks-e-fala-de-arte-contemporanea-a-Uniao-daajuda-espontanea-as-rimas-de-quem-ajuda-quem-passa-fome?fbclid=IwAR3T6-o_hFCE1I9KRN-96hQoAYEc7p6jbBW8U9JiNpI0JAmXEJhjyM6wV7M
Até apetece defender a Graça (depois das vezes em que critiquei as suas acções e omissões). Tem mais graça ser do contra.
(30 de Julho)
A Graça tem muito jeito para se pôr a jeito, de facto, o que até tem 'graça'. Está mal assessorada e ouve pouco as pessoas que consulta, pelo que me dizem. É obstinada, o que é um defeito e uma qualidade. É um ministério de lobies e de castas, de corporações e egos; um ministério sem memória própria, onde o trabalho de casa se faz pelo google ou não se faz. O Costa não se interessa e gosta de intrigas, divide para reinar. Artes e culturas são áreas problemáticas que servem para a ostentação nos casos de sucesso e o resto é conversa, ou um poço sem fundo de competição e desentendimentos. ( 1 Agosto)