Ao contrário do que sugere o Jorge Silva no seu livro-catálogo sobre Tom / Thomaz de Mello isto não é neo-realismo, e se é preciso classificar estilos (em geral não é) convém ter cuidado com as atribuições e com os ismos. Folclorismo, populismo, miserabilismo, por exemplo. Neo-realismo foi outra coisa, e não é viável aplicar tal etiqueta a um fiel operacional do SPN-SNI, mesmo que o pós-guerra e a esperada vulnerabilidade do regime tenham favorecido maior atenção ao povo. Também o Almada actualizou pela mesma época o gosto déco na Gare da Rocha Conde Óbidos, atento à actualidade (e a Picasso, no seu caso).
Diz Jorge Silva: Pág. 122-125 - "O crescente neorrealismo de Tom cristaliza no seu aclamado álbum "Por terras de Portugal", 1948. "O realismo cru,... afasta Tom do decorativismo e da infantilização do "Bom Gosto" de António Ferro e confere-lhe uma aproximação ao universo literário do movimento neorrealista, que tinha, já em 1948, uma gramática visual definida por Manuel Ribeiro de Pavia". (Foto 1) É muito particular o regionalismo estilizado, o alentejanismo de Pavia, e extensa a ilustração e capas de escritores neo-realistas (com uma curiosa e original deriva africanista), mas a sua "gramática visual" não define os neo-realismos, passa a acompanhá-los, evoluindo desde as páginas do "Panorama". Aliás, chamarem a Tom "pintor da miséria" afasta-o do neo-realismo, que apesar de independente do canon idanovista era um realismo social e socialista. Não é a miséria que marca as figuras do povo neo-realista, mas a dignidade e a força.
pág 142-145 (fotos 2,3 e 4): o "tardio neorrealismo pictórico das gorduchas varinas de 1963", "Portugal Loves You", SNI. (e será certo falar de turismo de massas nessa data e atribuir a Tom "infalíveis recursos gáficos"?
pág. 170-173 (fotos 5 e 6): "em Nazaré, ...1958, continua a crueza do album anterior,... ambos tributários da estética neorrealista. O humanismo sofrido de Nazaré..." estaria então longe de "um irresponsável modernismo" dos anos 30. (Infantilizado e irresponsável também são apreciações extemporâneas)
Aproximação a, relação tributária, não significa um "crescente neo-realismo", mesmo quando se reconheça a sensibilidade a uma diferente consciência social e um novo contexto artístico, pós-1945, que veio a ditar a derrota e queda de Ferro. Tom 3: 23 Jan.
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