a propósito do livro Memórias do FP Balsemão: Foi óptimo sair do Expresso em 2007. E Se houvesse algum decoro o Henrique Monteiro não devia ter assegurado na revista a promoção do livro.
ponto prévio 1: As memórias do Expresso interessam-me por razões pessoais (1982-2007) e não só. Devo dizer primeiro que fiquei muito agradecido pelo Henrique Monteiro me propor a rescisão do contrato: as condições legais que existiam à data era muito, mesmo muito, favoráveis e desapareceram pouco tempo depois. Além disso havia mais para fazer por conta própria. Foi a altura certa, também porque o espaço de manobra e intervenção iam estreitando a olhos vistos (espaço de escrita, oportunidade de destaques e de projectos, etc), conseguindo o HM aquilo que o arquitecto JAS nunca tinha alcançado, entre a banalização da cultura e a continuidade de algumas redes (dentro e fora do jornal). Mas sempre nos demos muito bem, conversávamos e apoiei muitas das suas políticas, sem haver cumplicidades maçónicas.
2: não me parece nada bem que o Henrique tenha preenchido 4 páginas de encómios em forma de resumo quando se lê depois que o mesmo Henrique é a pessoa mais elogiada no livro. Outros desaparecem, outros são desconsiderados e vítimas (tantas vezes justas) de referências demolidoras e/ou despeitadas, mas o que sobra quanto ao Expresso é "a era Monteiro", p. 675 - desdobrada por muitas páginas. Por uma razão de decoro, para lá da isenção jornalística conveniente, o Henrique não devia ter escrito - devia ter passado a bola a alguém que viesse dizer que o FPB escreveu as Memórias tarde demais e com uma prosa em geral burocrática (administrativa, vá lá), fazendo de copydesk da informação que lhe proporcionaram. Pode ser que os capítulos políticos sejam mais animados.
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Ainda não li nem tenho <já tenho> o livro do Balsemão mas espanta-me que no seu resumo na última edição o Henrique Monteiro não refira nunca entre os nomes do Expresso a Helena Vaz da Silva, que dirigiu, pelo menos em 1975, um 2o caderno que antecipou em muito a Revista, com uma dinâmica frente cultural. Já nas evocações recentes acerca do Vicente Jorge Silva, essa prioridade foi esquecida - mas de facto ainda guardo vários cadernos memoráveis, como os do caso Gulbenkian. O Tio Balsemão tb se esqueceu? Espero pelo índice. Aliás, tb o Vicente só aparece numa referência à criação do Público, o que é mais estranho dado o rol de nomes citados, e eu tb fui. Mas é certo que o HM chegou depois da saída do Vicente… Igualmente me espanta que o Henrique em 4 páginas não aponte um lapso, uma falha, um erro nas mil páginas. O patrão é infalível? Como será contada a guerra interna que levou ao afastamento do director que de Maputo era porta voz de Samora, ou a greve que levou o Vicente à subdirecção com o eterno arquitecto? Balsemão defendia sempre e até ao limite o director em funções. (1)
Perguntava abaixo pelo recheio da autobiografia (Memórias)* do Balsemão, e em especial pela gritante ausência de Helena Vaz da Silva no registo feito pelo Henrique Monteiro, tendo ela dirigido, pelo menos em 1975, um 2o caderno que antecipou em muito a Revista. (Já nas evocações recentes acerca do Vicente Jorge Silva, essa prioridade foi esquecida .)
O Tio Balsemão tb se esqueceu? Não: ele vem revelar aos vindouros que ainda enquanto Helena Gentil foi sua namorada nos anos 50 e "nos anos 70 viria a trabalhar no Expresso", isto numa nota da pág. 153 - numa nota, registe-se.
Mais adiante (p.255) arrola-a num grupo de "pessoas como Vicente..., Helena... Maria João Avillez ou A Mega Ferreira, "todos com a deriva esquerdista própria da época e sobretudo com grande ambições pessoais - e para isso o Expresso era, como sempre foi, um bom trampolim." etc. É quase tudo muito pouco (e só pela rama) e não lhe fica bem. Se fosse maldoso, e não sou, sempre simpatizei e colaborei sem ter queixas do patrão, diria que os outros tinham grandes ambições e ele tinha grandes heranças.
* também já disse ao abrir o livro: para já parece mais registo (facultado por colaboradores) do que autobiografia. Os rancores e as amabilidades diminuem mt a coisa. (Consultar antes de comprar) (2)
As memórias do Expresso interessam-me por razões pessoais (1982-2007) e não só. Devo dizer primeiro que fiquei muito agradecido pelo Henrique Monteiro me propor a rescisão do contrato: as condições legais que existiam à data era muito, mesmo muito, favoráveis e desapareceram pouco tempo depois. Além disso havia mais para fazer por conta própria. Foi a altura certa, também porque o espaço de manobra e intervenção iam estreitando a olhos vistos (espaço de escrita, oportunidade de destaques e de projectos, etc), conseguindo o HM aquilo que o arquitecto JAS nunca tinha alcançado, entre a banalização da cultura e a continuidade de algumas redes (dentro e fora do jornal). Mas sempre nos demos muito bem, conversávamos e apoiei muitas das suas políticas, sem haver cumplicidades maçónicas.
Posto isto, também acho muito simpático que o Balsemão venha lamentar que eu saísse do júri do Prémio Pessoa logo que saí do Expresso ("quis sair,... e faz falta") - p. 667. Estava lá em trabalho, mesmo que se comesse bem em Seteais e as duas noites de conversa de bar fossem proveitosas. É pena que o patrão não aproveite a passagem pelo Prémio para contar algum episódio marcante, além de falar das dificuldades em localizar certos premiados e do conhecido caso de Herberto Helder, que recusou. Noutra situação já achei oportuno contar por que José M. Rodrigues partilhou o prémio com Manuel Alegre (caso único), perante a fúria incontida e as ameaças graves de Mário Soares - na votação final que os ia desempatar (era obviamente favorável ao fotógrafo) sugeri ao FPB que não se contassem os votos e assim se fez: não sei se me devo arrepender, mas a casa vinha abaixo... O compromisso de não se revelarem os bastidores do Prémio foi sempre cumprido, mas esta era a altura para revelações.
Entretanto, não me parece nada bem que o Henrique tivesse preenchido 4 páginas de encómios em forma de resumo quando se lê depois que o mesmo Henrique é a pessoa mais elogiada no livro. Outros desaparecem, outros são desconsiderados e vítimas (tantas vezes justas) de referências demolidoras e/ou despeitadas, mas o que sobra quanto ao Expresso é "a era Monteiro", p. 675 - desdobrada por muitas páginas. Por uma razão de decoro, para lá da isenção jornalística conveniente, o Henrique não devia ter escrito - devia ter passado a bola a alguém que viesse dizer que o FPB escreveu as Memórias tarde demais e com uma prosa em geral burocrática (administrativa, vá lá), fazendo de copydesk da informação que lhe proporcionaram. Pode ser que os capítulos políticos sejam mais animados.(3)
As memórias do Expresso são tão débeis no livro que não apetece propor muitas achegas ao texto. Falei da Helena Vaz da Silva, que teve importância nos anos iniciais com o seu Caderno 2 (era este o nome?) a preceder a Revista em 1975, e apetece-me lembrar o João Carreira Bom (que escorregou um dia numa "Gente" de gosto duvidoso) e a Maria José Mauperrin. E há que dizer que a infinita permanência de 21 anos do arquitecto Saraiva (chama-lhe a "Saraivada", em várias fases, p.649), que B lamenta agora, fica por entender, para além do que era indecisão e acomodamento do patrão; ou que a zanga com o Vicente o impede de dar a importância devida à sua presença à frente da Revista e à bicefalia em que o Expresso viveu muitos anos.
A desconfiança de B face aos "puristas da cultura" (p.646) tem pelo menos dois afloramentos pouco felizes. Mas lembro com estima o interesse que tinha por acompanhar as maquetas dos novos cadernos, como o "Cartaz" de pequeno formato que fui com o "mestre" (o também eterno ou interno Luís Ribeiro) ver imprimir em Madrid.
Já agora a passagem pela recomposição da Redacção quando da criação do Público, 1990, deveria ser mais exacta. O arq. não acertava uma, incapaz de reter, de tentar convencer, alguém que hesitasse entre as duas ofertas, pelo contrário (no mínimo, "não esteve particularmente visível na "guerra" do Público, FPB p. 655). A situação , que esteve à beira de impedir a saída da Revista, pelo menos, foi enfrentada por uma equipa de 3 (o B esqueceu, entre a amiga Clara e o ódio ao JV) que negociou salários altos em casa do patrão, que recrutou jornalistas e pegou o jornal pelos cornos. A Clara e eu passámos a editores - já era de facto, da cultura - (apareceu o Gabinete Editorial da Revista - era aliás uma direcção algo colegial que reforçava o JV, até à saída inábil deste) e defendemos a passagem do Joaquim Vieira à direcção ("embora este primasse pelo silêncio", FPB p. 655).
Não quis passar para o Público, quando o Vicente me convidou depois do arranque frustrado do seu jornal ("no Expresso nunca serás ninguém", berrava ele ao telefone): à sua volta havia uma pequena corte de admiradores subservientes, e ele por sua vez temia o Seabra - não era um ambiente aprazível. Felizmente os fundadores-conspiradores não me convidaram de início, mas de certeza não aceitaria, não fazia parte amável do subgrupo...
Por outro lado, foram muito difíceis (tensas, distantes) as relações com o Saraiva, mas ele teve sempre uma evidente tolerância perante os meus desafios, mesmo quando reclamei a sua saída numa assembleia (resolvera deixar o 1º caderno ao Vicente e recuar para a Revista, alegando cansaço). Julgo que valorizava muito o facto dos nossos pais terem sido amigos ao tempo do neo-realismo e depois em Paris. Enfiado no seu buraco-gabinete, sem contactos políticos, bisonho, era um improvável director (e não chegou a ter o Nobel). (4)
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