A arte não acabou, mesmo. Depois de ouvir Yves Michaud voltei à ZDB para voltar a ver, mais demoradamente, a vídeo-instalação ( a atmosfera “gasosa”…) de Ellie Ga. Excelente produção expositiva da ZBD que ontem se encerrou (16 set - 27 Nov), sem a resposta crítica que merecia (a crítica acabou mesmo?).
O uso dos ecrãs múltiplos. A construção do discurso visual a que se assiste em directo graças à troca manual constante e pausada das imagens transparentes (projecção de ozalides sobre caixas de luz). O texto narrativo dito numa toada branca mas emotiva, uma voz bem moldada, e ao lado bem traduzido em legendas. A densidade-qualidade literária que ora é (aparentemente) documental ora intimista sem que se estabilize uma qualquer chave de leitura, tão "desesteticizado" o texto como as imagens (banais, despretenciosas). A reiteração das imagens e das palavras em diferentes momentos, desrealizando qualquer interpretação fixa. Tudo marca uma qualidade criativa que é densa e discreta, imediatamente cativante, flúida, original nos processos e na dimensão ficcional.
“Gyres” ou ‘giros em português são correntes marítimas gigantes que transportam todo o tipo de objectos através dos oceanos’. Do Pacífico norte americano ao Mediterrâneo e Lesbos, fala-se de respigadores da praia, das suas lojas e museus de objectos encontrados, e de garrafas com mensagens à deriva, também de Bruce Chatwin e de Yannis Ritsos. Fala-se de objectos levados por correntes, de possíveis trânsitos marítimos de povos históricos, de Fukushima, de memórias auto-referenciais - tudo se enreda num discurso aberto.
Não é cinema nem pintura digital, a projecção sonora é outra coisa.
E faltará dizer que Ellie Ga e este trabalho (Gyres 1 -3, estreado na bienal de Whitney 2019) têm uma boa carreira. https://elliega.info/Gyres