Pedro Adão e silva, entrevista (1).
"em 2023 teremos recursos como nunca existiram"
"A dotação da Colecção de Arte Contemporânea do Estado (CACE) passa a um milhão. E a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea [recentemente criada] vai ter dois milhões de euros."
"Os museus e os monumentos nacionais são mesmo uma prioridade desta legislatura. São eles que formam a nossa identidade colectiva, que preservam a memória do que somos. É preciso corrigir o retrocesso que houve e ao mesmo
tempo ter ambição renovada."
"O ministro da Cultura tem de estar desperto para o que se passa no Teatro Nacional de São Carlos ou num teatro municipal no interior, mas também para o hip-hop em crioulo que é utilizado como língua-franca em Lisboa." "quase todas as associações de base comunitária têm um estúdio de música. E não vejo isto como exótico, bem pelo contrário; muita da criatividade, da inovação, da ruptura, da transgressão vem destes espaços. O hip-hop é certamente o género musical com mais contribuições para a inovação na música hoje, não é uma coisa exótica que existe à margem."
"O que não é bom é começar a falar em devoluções sem saber quais são as proveniências. Tem de haver uma reflexão estruturada no contexto da administração pública, assente no bom-senso e sem uma lógica polarizada, porque isso não resolve nenhum problema."
"Uma coisa é certa: a 1 de Janeiro, o Museu Colecção Berardo, com esta denominação, desaparece e a gestão do módulo 3 passa para o Centro Cultural de Belém (CCB)."
"Eu tenho um cepticismo estrutural, e portanto alguma dificuldade em dizer que alguma coisa vai ser resolvida."
"Nós temos dois grandes obstáculos no acesso à cultura, um obstáculo social e um outro territorial, que se sobrepõem muitas vezes mas existem também de forma autónoma. As redes são uma forma de contrariar esses dois obstáculos e também de mobilizar recursos do Estado, da administração local e dos privados."
<temos outros obstáculos: o persistente controle da oferta cultural por núcleos de poder auto-nomeados e 'elitistas' tendencialmente dominados por redes de dependências e cumplicidades; o centralismo e dirigismo de instâncias culturais protegidas pelo estado e principais autarquias, que lhes permite desvalorizar o acesso aos públicos e as receitas próprias; a fragilidade e o descrédito da crítica e da investigação, da divulgação e circulação da informação. O modelo actual das Redes (haverá outro?) pode agravar os obstáculos enunciados, impondo centralismos autoritários, facilitando interferências e dependências. "O crescimento da comunidade artística tem sido exponencial..." (Público), com a transferência das profissões produtivas para os serviços e as "áreas da criação", verifica-se que a chamada comunidade artística (artistas e candidatos a artistas, estudantes de artes, e as respectivas famílias) tende a tornar-se, ou já é, o principal destinatário da produção das artes, numa modalidade de auto-consumo que em grande parte significa a desqualificação da oferta e perda de públicos alargados.
A pequena dimensão e a pobreza do país tem impedido a concorrência entre diferentes núcleos de poder e orientações, estreitando a oferta dos agentes e por consequência os públicos>
Pedro Adão e Silva, entrevista (2): "... construir um novo museu de arte moderna e contemporânea em Belém com um perfil internacional e de incorporação de colecções. Passaremos a ter o Museu do Chiado, com um perfil eminentemente português, do século XIX até aos anos 1960, e o museu em Belém, com uma dimensão mais internacional, num diálogo com as colecções portuguesas de arte moderna e contemporânea – estou a pensar na do Chiado mas também na CACE" <a colecção do estado,
para os leigos>
Quando surge Serralves é esse o modelo apontado para o Chiado, até aos anos 60 - chamava-se então MUSEU DO CHIADO, abandonando a antiga designação MNAC. A falta de um museu contemporâneo em Lisboa alargou o horizonte cronológico, através de várias vicissitudes (em especial, o desinteresse pela apresentação da colecção e o uso do espaço como galeria de exposições, que destruiu a ideia de museu e serviu os gostos e idiossincrasias do Pedro Lapa. Recorde-se, aliás, que José-Augusto França defendeu um museu mais dedicado ao romantismo, o Chiado oitocentista...
Mas há que recordar também as intenções ou planos anunciados de recuperar todo o Convento de São Francisco, alargando o Museu do Chiado/MNAC em parceria com a Faculdade de Belas Artes e a Academia de Belas Artes - realizados parcialmente, alargando espaços sem requalificação do edifício. As polícias, com a sua ameaçadora cantina, e o Governo Civil sairam, mas tudo parece indeciso e até aparecem anúncios de um museu da polícia incrustado no Convento.
Pedro Adão e Silva, entrevista (3) "Nós temos dois grandes obstáculos no acesso à cultura, um obstáculo social e um outro territorial, que se sobrepõem muitas vezes mas existem também de forma autónoma. As redes são uma forma de contrariar esses dois obstáculos e também de mobilizar recursos do Estado, da administração local e dos privados."
Temos outros obstáculos: o persistente controle da oferta cultural por núcleos de poder auto-nomeados e 'elitistas', instalados nas instituições e tendencialmente dominados por redes de dependências e cumplicidades <1>; o centralismo e dirigismo de instâncias culturais protegidas pelo estado e principais autarquias, que lhes permite desvalorizar o acesso aos públicos e as receitas próprias; a fragilidade e o descrédito da crítica e da investigação, da divulgação e circulação da informação.
O modelo actual das Redes (haverá outro?) pode agravar os obstáculos enunciados, impondo centralismos autoritários, facilitando interferências e dependências.
"O crescimento da comunidade artística tem sido exponencial..." (Público): com a transferência das profissões produtivas para os serviços e as "áreas da criação", ± vagas e protegidas, verifica-se que a chamada comunidade artística (artistas e candidatos a artistas, estudantes de artes, e as respectivas famílias, comissários, promotores, técnicos e afins) tende a tornar-se, ou já é, o principal destinatário da produção das artes, numa modalidade de auto-consumo que em grande parte significa a desqualificação da oferta e a perda de públicos alargados.
A pequena dimensão e a pobreza do país tem impedido a concorrência entre diferentes núcleos de poder e orientações, estreitando a oferta por parte dos agentes e por consequência os públicos.
Mas há muita coisa a acontecer fora da caixa por todo o país.
<1> As redes de poder instaladas vêm em geral desde o início da década de 80, ou do fim da de 70, a partir da afirmação de artistas-funcionários na antiga SEC, Direcção Geral da Acção Cultural; a partir daí (Eduardo Prado Coelho e Alternativa Zero) se fez a expo Depois do modernismo, 1983 (tb lá estive...), de que saiu a galeria Cómicos (luis Serpa, Calhau, Sarmento, Molder) com extensão ao teatro (Ricardo Pais), ao Forum Dança de Catarina Vaz Pinto. MMCarrilho assentou essas linhas, num grande processo de centralização autoritária, e as dependências foram passando de mão em mão.
Na entrevista não se pergunta pelos orçamentos destinados a aquisições pelos museus, em especial para o Chiado MNAC (a Colecção do estado à margem dos museus, contra eles e as suas direcções, nem pela requalificação do Convento, que é um lugar central no Chiado, pobre e cada vez mais rodeado por Hotéis de luxo. <a class="asset-img-link"