Instalações, decorações, cenários efémeros existiram desde sempre, desde as cavernas?, eram encomendas oficiais e tinham papel importante na carreira dos artistas, que aliás, do Império e Idade Média ao fim do Antigo Regime, pelo menos, trabalhavam para viver nos palácios reais e conventos. Raramente ficaram vestígios ou registos excepto nos casos das decorações de interiores e fachadas.
A produção institucional do presente reeditou essas práticas de fazer e desfazer; os museus estão saturados de obras compradas e doadas (incluindo as imprestáveis, à espera q s degradem). Em vez de compras (há sempre excepções...) os artistas tentam viver de “residências” e de fee’s e do q poupam no custo dos cenários - e têm 1ªs e 2as profissões, que lhe podem dar para produzir e promover as suas obras.
Agora há textos de parede que falam em nome do artista e dizem o que eles queriam "reflectir" e o que deviamos ver se as produções ilustrassem os objectivos dos artistas (ou dos comissários). Textos que explicam e adjectivam, elogiam e se substituem às talvez obras desamparadas. Exposições de textos, de intenções, de comissários.
Agora há estendais de pinturas, uma praga, que querem dar a volta a (e manter) interditos, que mostram e escondem, que se fazem para ver de longe, de passagem, e se repetem. Há bonecada a querer ser engraçada, adereços a ocupar cenários e temas políticos a puxar ao sério.
Não vem daqui mal ao mundo: as galerias corporativas (de empresa), municipais e outras anunciam programas e prémios, enchem espaços e tentam atrair visitantes (turistas e famílias de passeantes ao fim‑de‑semana). Tratam dos seus interesses (Publicitários e mecenáticos e especulativo-mundanos) e os artistas servem-nos, e agora oferecem a boa consciência das obras políticas e de género e tribais - e assim ganham o seu (alguns).
O melhor não está por aqui, nos prémios com shortlist e mostras comissariadas por agentes também em trânsito, também efémeros. A questão é essa: onde ver as obras próprias, pessoais, sérias talvez ... O principal é a produção de obras destinadas ao mercado (coleccionista nas suas várias dimensões, e não só o mercado dos nossos muito medianos super-ricos, que compram jovem e barato, ou estrangeiros na moda) e é este mercado q deve viabilizar a sua actividade. Ainda não se resolveu outra forma de alimentar os artistas (eu sei q quase todos têm outras profissões principais, e q a arte é um hobby, são de facto amadores e artistas de domingo) - torná-los funcionários públicos soviéticos não deu bom resultado.
O fee, o faz e desfaz exigido pelos critérios de comissários e instituições, o cenário de ocasião (o estendal de pintura), são caminhos em q poucos sobrevivem - como sempre aconteceu com os menos bons.
Há que ir vê-los nas galerias, quando as tem, já que o 'nosso' sistema destruiu as colectivas ou tornou-as feiras, sujeitas ao ritmo sazonal do desgaste rápido.
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