É um equívoco político grave considerar o módulo 3 do CCB como um museu de arte contemporânea e nomeá-lo como tal, perdendo até a referência anterior à arte moderna. Sabe-se como por toda a parte os museus de arte contemporânea, ou assim chamados -- associados geralmente a um entendimento sectário da actualidade, à noção de um género ou estilo específicos (na linha conceptual-minimalista que parecia inovadora no final do anos 60 e depois passou a ser uma tradição académica oficializada e vinculada ao mercado museológico-especulativo, entre governos e "super-coleccionadores", servida por críticos e curadores vendidos) --, fechados esses museus à pluralidade dos caminhos da arte actual, existem ou sobrevivem com grandes dificuldades de atracção de públicos, e justamente.
Esse já foi no CCB (nos anos 2004-06 de Delfim Sardo, depois da aventurosa gestão inicial de José Monterroso Teixeira e antes de instalado o Museu Berardo sob a direcção abrangente de Jean-François Chougnet; lembremos por exemplo a grande exposição dedicada a Amália), um programa obviamente desajustado dos custos de funcionamento, do lugar, da natureza da arquitectura e respectiva carga simbólica, da sua inserção nas redes de equipamentos culturais e da oferta turística. Um programa que foi breve mas que ia desertificando o CCB, que além de ser um vasto complexo cultural é um espaço urbano, um pólo da cidade redesenhada no final do séc. XX.
Em parte alguma, um edifício com a escala monumental do CCB pode ter essa condição: ser um “MAC”. Os grandes espaços comparáveis dispõem de acervos da modernidade clássica que percorrem todo o século XX e que por isso mobilizam permanentes fluxos de visitantes. É em especial o caso do Centro Pompidou em Paris ou do MoMA em Nova Iorque, que recusaram até agora dividir as suas imensas colecções e separar moderno e contemporâneo; seria catastrófico fazê-lo porque o chamado contemporâneo é em geral votado ao abandono, para além de pequenos círculos profissionais e respectivos colegas e parentes. E é também evidente que os museus se impõem mais fortemente com nomes de lugares (Centro Beaubourg, Quai Branly, Chiado) ou com nomes tradicionais ou pessoais (Gulbenkian, Reina Sofia, Tate, Berardo, Serralves, Pompidou, etc) do que com nomes "tipo MAC" (lembre-se a recente e efémera fusão do Museu Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna, que deveria contrariar a falta de público no segundo, mas a FG tem estado desorientada, faz e desfaz sem sentido).
Há luxos elitistas portugueses que são muito provincianos. E se os tribunais ainda não decidiram o futuro da colecção Berardo, como se sabe, porquê a pressa de mudar o que estava bem? (Juntando certamente a administração dos vários blocos, o que de certeza traria economias de escala, até porque o Módulo 1 já pagava o Módulo 3 das exposições...)
nota 1) Triste design: Confirma-se o que eu dizia antes, logo em 2006: "...Refiro-me à acção de Delfim Sardo em defesa de um minimalismo exaurido e árido, quase restrito a obras a preto e branco, política que desertificou o CCB no seu tempo de director do Módulo de Exposições."
"Interrogado sobre se o cargo de direcção será agora assumido por Delfim Sardo, Pedro Adão e Silva também negou esse cenário, que parecia provável devido a seu currículo como curador. Delfim Sardo, que dirigiu o Centro de Exposições entre 2003 e 2006, foi nomeado administrador do CCB com o pelouro da programação em Janeiro de 2020, seis meses depois de os tribunais terem decretado o arresto da colecção. “Delfim Sardo é, como sabem, membro do conselho de administração do CCB, alguém que tem um currículo e um perfil que permite assumir essas responsabilidades enquanto membro do conselho de administração do CCB.” (Público, Isabel Salema)
https://www.publico.pt/2023/01/02/culturaipsilon/noticia/mac-ccb-chama-novo-museu-coleccao-berardo-2033441 Nota 2) Museu Adão e Silva (ou Museu António Costa? MAS ou MAC?), a inaugurar durante o ano de 2023.
"Estamos numa nova fase, num novo capítulo do CCB. Vamos, durante o ano de 2023, inaugurar aqui um novo museu — MAC-CCB", disse, à porta do CCB, Pedro Adão e Silva"
"Futuro Museu de Arte Contemporânea MAC/CCB, um chão comum", diz o novo telão que substituiu a preto e branco o anterior e vibrante telão vermelho. (Luto, ou ainda não? E quem vai ao chão...? - chão comum? vala comum? Não foram felizes com a agência de pub e design)
Vem aí + 1 providência cautelar? (adivinho)
"Os "b" de Berardo, como o néon luminoso no pátio central do centro cultural que anunciava o agora ex-MCB, ainda não tinham sido substituídos pela nova sinalética a indicar MAC-CCB. O nome do novo museu tem apenas referência à arte contemporânea e não inclui o período moderno da Colecção Berardo." (Público, Isabel Salema)
A articulação funcional dos 3 módulos é decerto uma boa coisa (já pagavam a luz, a segurança, etc): foi um dos erros do contrato inicial, assinado de cruz à ordem de Sócrates, sendo chefe de Gabinete e seu agente o Luís Patrão.
Depois do Museu dos Coches de Sócrates & Pinho, sempre ele, estes gajos continuam a fazer grandes asneiras. Caras.
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