Há um tsunami que varre o norte a que a crítica (se existe) não tem dado a necessária ou merecida atenção. Um artista que está em todo o lado como artista ele mesmo e como comissário em nome próprio ou alheio e como director da Bienal dita internacional de Gaia, na Quinta da Fiação de Lever. Nunca uma onda artística foi tão avassaladora e nunca museus e outros lugares se renderam unanimemente ao génio, à iniciativa e à voragem de um só personagem. Quem ainda não conhece
Agostinho Santos*, que se multiplica em obras, exposições, catálogos, lugares e eventos, propondo a sua obra e os seus próximos e dirigindo a sua Bienal, ele, ex-jornalista, artista doutorado ou doutorando? e activista, desdobrando-se em compromissos locais, cumplicidades políticas e um descaramento sem mancha? Retiram-se as fotos da sua página e encontramos o Poliagostinho (assim já lhe chamaram) em funções.
Vale um estudo. É certamente injusto pôr em cheque um homem de causas (próprias), artista amador e pretenso outsider, por inabilidade, evidente videirinho, que invoca relações literárias e explora ignorâncias, quando tantos outros sem qualidades cabem no mainstream institucional e se escapam entre curadorias autorizadas, entre Serralves e Veneza.
Este universo das exposições imprevistas e dos públicos locais, que se mostram nas inaugurações, é o mesmo que se descobre, por exemplo, com surpresa repetida na escultura pública a bater no fundo, em monumentos, rotundas, homenagens, por toda a parte. O nível zero, o equívoco dito cultural, a escapar a todas as validações críticas. Mas é também o mesmo de tantas exposições em lugares de prestígio, ou assim considerados, que directores desconhecidos (de que alguém soprou a recomendação) apresentam em Serralves, na Gulbenkian, na Culturgest, etc, em casos injustificados mas de conveniência. São dois pratos de uma mesma balança, e eles equivalem-se. Degradados os critérios de representação e validação, o espaço é cada vez mais dos Agostinhos deste mundo, deste mundo ou meio da arte desacreditado.
Copio anúncio de eventos, lançamentos e edições muito recentes: Catálogo da minha Exposição 'O Planeta nem sequer é de alguns!' Com curadoria de Agostinho Santos, na Casa Branca de Gramido. CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO “AO CONTRÁRIO DO INFERNO”, DE AGOSTINHO SANTOS | CASA DA CULTURA DE PAREDES; EXPOSIÇÃO “SOMOS AGORA QUASE VERDADE – A PENSAR EM AGUSTINA BESSA-LUÍS E MANUEL ANTÓNIO PINA”, DE AGOSTINHO SANTOS | BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PAREDES.
Outras exposições do mesmo irrequieto personagem incontinente multiplicam-se agora dos Clérigos no Porto ("Purga" "apresenta-nos a dicotomia céu/inferno onde as figuras dividem-se em dois planos: o terreno e o divino, mas num olhar mais atento percebemos que há um terceiro, o sobrenatural, e que é este triângulo que nos inquieta, nos faz questionar e refletir sobre a vulnerabilidade humana", informação da Igreja) ao Museu de Amarante ("a viver uma nova fase artístitica, mais abstrata e menos figurativa, o jornalista, pintor e curador vai apresentar trabalhos de pintura e desenho “visualmente disruptivos”, informa a autarquia"), do Mercado de Paços de Ferreira à Casa das Mudas na Madeira, tudo ao mesmo tempo, com ou sem a invasão "curatorial" de um acólito literário que dá pelo nome de Valter Hugo Mãe; com ou sem o efeito coligação PS (Agostinho)-PC por via da Ilda Figueiredo, continuada vereadora.
Não vale tapar os olhos, o meio da arte está em convulsão. Ele é só uma consequência.
* "É doutorando do Curso de Arte Contemporánea do Colégio das Artes / Universidade de Coimbra, membro colaborador do grupo de investigação "Práxis e Poiesis: da prática à teoria artística", do ID+Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura da Universidade de Aveiro.
Realizou mais de 100 exposições individuais e participou em mais de 500 mostras colectivas, no pais e no estrangeiro. Autor da Vaca Pessoana, seleccionada para a Cow Parade, Lisboa (2008), cartaz do 2° Congresso Feminista, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2008), Troféu S. João da Madeira/Capital da Ilustração (2010), Troféu da 1° e 3° dia, Bienal de Arte Gaia e Troféu jornal "Gaia Semanário” (2016, 2017 e 2018).
Foi jornalista do Jornal de Notícias - 1991-2014 e de 1985 a 1991 foi jornalista de O Primeiro de Janeiro." - recorte de imprensa.
Acrescentei uma referência política no final da nota, a qual explica muita circulação local, muito patrocínio, muita desfaçatez: com ou sem o efeito coligação PS (Agostinho)-PC por via da Ilda Figueiredo, continuada vereadora. E faltou associar o fenómeno A.S. à empresa Jet/Zet Galeria, onde se juntam estes terrenos e algumas diferentes incursões. O Norte a dar cartas. https://www.facebook.com/photo/?fbid=576659787822114&set=a.463300695824691
"Há por aí muitas bienais, Cerveira, Gaia, Espinho e por aí abaixo, certamente também por aí dentro. Escreve-se um pouco e mal sobre as instituições e 3 ou 4 galerias de Lisboa, que cumprem o papel de ligar as instituições ao grande mercado (?) que resta. Mas há mais mundo (mais país), mais artistas, mais implantação local, mais públicos, mais circulação, até mesmo internacional, também de proximidade. Há obras melhores e piores, obras esforçadas, complacentes e académicas ou originais, obras de usar e deitar fora ou de amealhar. O MC cumpre uma política de emprego e assistência (subsídios e colecções), de oferta de lazeres e de obras públicas (centros de arte e de burocracia), mas a realidade escapa-se-lhe." Escrito no FB em 25 abril 2021.
[Ele há cada um! Uma ofensiva em todas as direcções, um tsunami. O vale tudo é uma marca da arte contemporânea. (Sempre existiu o vale tudo, mas havia academias, Mecenas cultos, crítica e museus. Agora é um caldo em q tudo se despeja e aí fica, sem escolha.)
Estamos num ponto de viragem, com lados e lugares positivos.] a 12-04
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