Da banca em Paris para o Chiado, trouxe em 2002, no desafio de uma reforma activa, as relações de amizade e de confiança, o gosto e o conhecimento. Coleccionador e amigo de artistas, continuou a sê-lo como galerista, ao mesmo tempo discreto e de referência. Era também o comissário seguro das suas exposições, feitas de visitas aos ateliers, relações pessoais, desafios, cumplicidades. E catálogos completos que prefaciava.
Apostou nos trabalhos sobre papel,
designação mais alargada que desenho, em que incluiu a atenção aos estudos de arquitectura, distinguindo-se desde logo a galeria por começar (e prosseguir) com um seguro acervo próprio, de que de início fizeram parte modernos internacionais - e ainda apresentou Derain em 2015. No espaço do mercado de arte a galeria veio impor um território que era então menos prezado, por ignorância do meio e gosto de ostentação. Mais acessível que a pintura, muitas vezes de formato intimista, privado, o culto do papel também alargava o leque dos curiosos e interessados, sendo estes coleccionadores ou amadores. Tratou-se sempre de actuar no mercado da arte, enquanto mercado, e de assim o dignificar, sem o confundir com os circuitos institucionais promíscuos que o perturbam e degradam.
O nome próprio (João Esteves de Oliveira e a sigla JEO) assegurava critério e, para os frequentadores da Rua Ivens, garantia qualidade, valor, segurança. Quero lembrar aqui a antiga Loja do Desenho, que actuou nos anos 80/90 como pioneira exemplar. Mas ao encerrar agora, para a segunda reforma do João, outra vez no papel de coleccionador e amigo de artistas, a sua galeria cumpriu um longo destino com segurança e com êxito, e deixa um grande lugar vago.
2019, publicado na separata do livro da sua colecção: "Moderno e Contemporâneo, a Coleção de João Esteves de Oliveira".
Comments