1993
Imagens para os anos 90 (dd Serralves): INAUG. 6 dez. - nota 18 dez.
Egon Schiele, 100 aguarelas col. Sabarrsky: INAUG. 15 dez.
EGON SCHIELE
“Schiele, o maldito”
24 dez. 93 - p. 13
Cem aguarelas trazem-nos um artista maldito que foi uma das máximas expressões do modernismo vienense. A apresentação da obra de um clássico do século XX é um acontecimento de excepção, com que a Culturgest alcança o primeiro plano entre as instituições culturais e esconjura uma aparente condenação portuguesa à exterioridade das grandes circulações internacionais.
Schiele, hoje, é ainda o escândalo de uma sensualidade ao mesmo tempo dramática e provocante, cruamente inscrita em corpos atormentados pela violência do sexo e da morte. A memória das condenações do seu tempo não é, neste caso, uma informação anedótica, mas sim um convite a aprofundar o contacto com uma obra que continua a ser polémica: deverá notar-se que esta própria antologia apresentada por Serge Sabarsky, itinerante desde 1990 e feita de peças de colecções particulares americanas, não é inteiramente exemplar da manifesta obscenidade de tantos dos seus mais notávels desentos. O comissário e historiador é antes um paladino da “normalidade» de Schiele, como se pode ler no texto do catálogo, onde se esforça por distanciar a temática» daquilo a que chama “o talento» e «a forma de desenhar”: desse modo, a selecção e o comentário são ainda processos de repressão que dão sequência ao conhecido episódio da prisão de Schiele, em 1912, acusado de corrupção de menores e depois condenado por pornografia.
Se Klint perturbou antes a sociedade vienerse foi porque a sua obra vinha afirmar a relatividade da razão perante os paladinos da ciência e do progresso, em pleno recinto universitário. Schiele, contemporâneo de Freud, vai mais longe quando deixa o reino utópico do erotismo natural e estetizado do seu mestre para fazer do corpo nu um lugar de fascínio e uma ferida aberta, abismo de exasperação e angústia, onde mesmo a plenitude física pode ser já sinal de solidão e de morte. Os corpos amputados, as figuras descamadas, as peles doentias, as mãos angulosas, são aqui um exercício de desfiguração que é revelação de um misterioso e incontornável mal. (Até 13 Fev.)
01 ago 93 ?
100 aguarelas de colecções particulares americanas, numa exp. que é uma raríssima oportunidade de contacto directo, em Portugal, com um artista maior do século XX. A revalorização recente do modernismo vienense, com características muito diversas dos messianismos vanguardistas que lhe foram contemporâneos, teve um papel essencial na revisão das concepções lineares sobre o «progresso» da arte que foram durante muito tempo predominantes. De facto, Schiele não é um expressionista identificável com os alemães de «Die Brucke» ou «Der Blaue Reiter», nem é a atracção pelo primitivismo que marca o seu trabalho obsessivo sobre a figura. Nos seus desenhos, onde os corpos são tantas vezes desarticulados e amputados, angulosos e descarnados, inscritos em poses encenadas nas duas dimensões do suporte sem qualquer notação de enquadramento espacial, exprime-se um mal-estar e uma provocação adolescente que é uma das mais extremas experiências do erotismo não «voyeurista», revelador da proximidade entre a sexualidade e a morte, como ao mesmo tempo demonstrava Freud. A prática realista de Schiele é um radical exercício sobre um tema maior da arte, o corpo, próprio e alheio, servido por um excepcional virtuosismo oficinal.
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IMAGENS PARA OS ANOS 90
Serralves - ver caixa de 08-07-93 E 28-08-93 nota
Sob um título que pretende ter eficácia jornalística, reúnem-se duas estratégias expositivas que ficam por compatibilizar. Numa delas agregam-se, de modo confuso, algumas mais ou menos novas presenças fortes com outras obras que são sinais de percursos que têm sido objecto de menos atenção mediática ou tido mais lenta afirmação; na segunda apresentam-se artistas recentemente vistos na Galeria Quadrum, com sentido de grupo mas variada eficácia. No catálogo, entretanto, propõem-se confrontos simplistas entre os «anos 80» e os «anos 90», e Fernando Pernes comete uma leviandade crítica notória ao caracterizar a década anterior pela «valoração da eficácia mercantil, da espectacularidade formal e da consequente conotação da operatividade profissional à efemeridade da moda» — são fantasmas que deveriam ter ficado arrumados na prateleira dos «anos 60». João Paulo Feliciano, Daniel Blaufuks, Sebastião Resende, Miguel Ângelo Rocha, Joana Rosa, Pedro Sousa Vieira, Fernando Brito, Paulo Mendes, João Tabarra e Miguel Palma destacam-se por motivos vários desta colectiva que se verá mais tarde em Chaves e em Lisboa, na nova sede da CGD.
IMAGENS PARA OS ANOS 90
Sede da CGD/Culturgest - 18 dez.
Na apresentação lisboeta desta colectiva de Serralves, comissariada por Fernando Pernes, perderam-se as obras de Miguel Angelo Rocha e Miguel Palma, por razões de espaço no primeiro caso e por desentendimento entre o artista e a instituição, no segundo; entretanto, Catarina Baleiras reforçou a sua presença com uma peça não vista no Porto. Estão ainda presentes Sebastião Resende, Pedro Sousa Vieira, Joana Rosa, Fernando José Pereira, Pedro Andrade, André Gomes, Manuel Valente Alves, André Magalhães, Baltazar Torres, Nuno Santiago, Luís Palma, Daniel Blaufuks, António Olaio, Fernando Brito, João Louro, Carlos Vidal, João Tabarra, João Paulo Feliciano, Paulo Mendes e Rui Serra.
Quanto à presente mostra, em primeiro lugar, é preciso salientar as deficiências do átrio inclinado da CGD como local de exposição. Em segundo lugar, é de notar que o desequilíbrio das condições de visibilidade existente no Porto em benefício de um subgrupo organizado de artistas e em desfavor dos restantes (o que conduziu, aliás, ao abandono da exposição por alguns outros convidados) evoluiu agora para uma equitativa repartição das (más) condições de espaço. Reforça-se, assim, uma impressão de pluralidade de atitudes e direcções individuais, que, de modo algum, sinaliza uma ruptura significativa entre as décadas de 80 e 90, tanto mais que não se podem entender os anos 80 como uma conjuntura única e coerente.
Ao reunir jovens e menos jovens artistas, com ritmos de aparecimento público e de afirmação criativa muito diferenciados, esta exp. não define uma nova situação colectiva (que actualmente não existe em termos unívocos), não propõe a revelação de novos autores (e, por exemplo, sacrificara a aparição de Pedro Andrade), nem permite a sistematização das eventuais problemáticas emergentes (até pela ausência de alguns outros grupos mais ou menos informais que se podem identificar em torno da Monumental II, Ar.Co e gal. Alda Cortez).
Todos os equívocos desta pacífica colectiva nasceram, em primeiro lugar, da atrás referida desigualdade de condições de exposição e, principalmente, do teor polémico dos textos de F. Pernes e A. Cerveira Pinto incluídos no catálogo. Por outro lado, é curioso observar o nervosismo que acompanha agora qualquer iniciativa institucional: o que mais importa não é a recepção crítica e de mercado, mas sim a entrada nos lugares do poder. (Até 30 Jan.)
93
CGD/Culturgest , “Cultura sociedade anónima” / “Entrar nos circuitos” / Eficácia empresarial, ent. C/ Rui Vilar - 23 jun 93 / abre a 10 out.
09 Outubro (abertura), exp. Magnum 50 Anos, «Janela aberta» - 23 e 30 out Magnum
16 out Colecção CGD, Arte Moderna em Portugal: "Contemporâneos” 16 out + 6 e 13 nov
24 Dez. “Schiele, o maldito”, p. 13
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25 jan – «A Máscara, a Mulher e a Morte: Resistências Poéticas» (arte belga) "Visões / ficções"
28 ? —Júlio Pomar, «Paraísos e Outras Histórias» (Lx 94)
95 / «O capital cultural» (Modigliani/Encontros Africanos, CGD Culturgest) 7 jan 95
21 jan Encontros + 11 fev as 2 e 25 fev
«O que é Ist?» (Augusto Alves da Silva)* (data?) Maio Jun.?
Augusto Alves da Silva, CGD, Culturgest 20 mai 3 jun REVISTA
«Lacunas, eixos e ruturas», Colecção CGD, Culturgest 1 abr 95
José Aurélio, Culturgest 18 mar
Arte Moderna 2, Culturgest 25 Mar 29 Abr. 20 mai 20 jum
Marta Wengorovius, Culturgest 8 jul
Escultura Ibérica, Culturgest 17 jul
Robert Mangold, Culturgest 23 e 30 set
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