RETRATO DE CAMPONÊS (ÉVORA), Óleo sobre cartão colado sobre tela, 42x34 cm.
É um dos três quadros sobreviventes que resultaram da participação de Júlio Pomar na 9ª Missão Estética de Férias, em Évora, no verão de 1945, sendo o “Gadanheiro” (Museu do Chiado/MNAC) o mais conhecido. Foram expostos em Évora e na SNBA, com as obras dos outros participantes, e justificaram um primeiro artigo crítico de Mário Dionísio, “O princípio de um grande pintor?” publicado na revista Seara Nova, o qual assegurou uma imediata e muito precoce notoriedade do jovem artista.
Então intitulado apenas “Retrato” é uma obra singular num tempo de rápidas mutações estilísticas do pintor, embora desde cedo, desde 1943, tenha retratado alguns colegas da Escola em Lisboa e Porto e também se tenha auto-retratado, em geral em exercícios planificados muito gráficos. Se o “Gadanheiro” é uma alegoria de forte sentido ideológico, oriundo da observação e do apoio fotográfico, o “Retrato de Camponês“ é aparentemente o retrato de uma pessoa concreta talvez iniciado diante do modelo, com uma verdade expressiva a que os lábios grossos e os olhos que se desviam do pintor asseguram a intensidade realista, numa pose afirmativa, como imagem de um homem do povo consciente da sua força social.
Júlio Pomar estava então no segundo ano do curso de pintura da Escola de Belas Artes do Porto (19443-46) e não frequentara (como não frequentou depois) nenhuma aula de pintura - a Missão Estética, organizada anualmente pela Academia Nacional de Belas-Artes, destinava-se a finalistas, e na ocasião terá ocupado um lugar deixado vago pelo seu amigo Fernando Lanhas (outros participantes foram Júlio Resende, Nadir Afonso, Arlindo Rocha, Amândio Silva e Francisco Castro Rodrigues, sob a orientação de Dordio Gomes). Na mesma época dirigia a página “Arte” do vespertino portuense “A Tarde”, entre Junho e Outubro, onde se defendeu o neo-realismo.
CATÁLOGO RAISONNÉ vol. I nº 27.
O quadro veio a pertencer a Jorge de Brito, sem se conhecer o proprietário original, certamente um colega e /ou amigo do Porto, passou em leilão em 2002, foi adquirido pelo coleccionador José Lourenço Soares, que o cedeu ao artista. Voltou assim à posse do pintor, que o doou à Fundação com o seu nome, na 1ª Doação que realizou em 2004. Faz hoje parte do acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar.
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