O decano dos fotornalistas, Eduardo Gageiro, numa aproximação ao seu acervo, com alguma intervenção de um olhar exterior (Sérgio B. Gomes) : durante décadas as abordagens ao seu trabalho foram prejudicadas pelo próprio em exposições e edições dependentes das suas escolhas, e onde as recomendações (apresentações e prefácios) de escritores, em livros quase anuais, serviam só outras atenções/intenções e o mercado.
Depois do gosto concursista veio uma ingénua incapacidade de escolha, que ainda permanece. Há o talento de um fotojornalista dedicado e militante, atento, e há aqui também documentos históricos, encontros casuais ou procurados, perseguidos, e fotos que nada acrescentam. Os retratos, encenados uns e ocasionais outros, formam uma galeria representativa do fotógrafo, da sua / nossa sociedade, da sua capacidade de se fazer acreditar, e do gosto ou personalidade dos retratados, mas não são uma escola (escolha) de retrato, mesmo que assentes na dedicação e na simpatia. Faltará uma edição crítica, tal como se faz com obras literárias e musicais, mesmo que a aparente ausência de provas de época e press prints (mas há fotos impressas em orgãos de CS e livros) complique a tarefa. Reimprimir e ampliar é só uma via de aproximação, não a mais necessária.
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Sei das dificuldade de contacto / de trabalho com o G, mas a minha opinião radical é q não se devem fazer exp assim. É uma exp de posters. Uma homenagem datada. Sei q não há provas de época ou estão mt estragadas (mas mostrem-se algumas), mas haverá press prints e recortes de imprensa, páginas de livros, documentos. Reimprimir em digital e em grande é uma comodidade, mas é para usar e esquecer.
A fotografia pode ser "reciclada" em livro em exposição ou em projecção (há artistas ditos plásticos a viver disso), ela amplia-se à maneira conforme o espaço, sem se tratar de produzir novas provas de autor (como faz o JMR que produz novas provas de época e autor indisciplinadas, e não cuida do mercado e do nº de exemplares; já o Lemos prestou-se às reimpressões discutíveis, aos inéditos dispensáveis). Mas interessava ver/saber o que foi enviado a concursos, onde e como (Barreiro desde os anos 50, etc), o que saiu na CS, em capas de revistas, livros e discos - e como saiu, o que foi exposto ao longo do tempo... O que foi sendo reproduzido e reenquadrado. Uma fotografia é o tempo gravado, e tem de ser também o seu tempo. Ou é um registo, na melhor das hipóteses, ou uma reedição sem maneiras.
G tem uma relação naif (ingénua) com a fotografia, talentosa e esforçada, militou na imprensa, procurou apoios políticos e literários (os escritores pelam-ser por prefácios em álbuns, aí ganham o seu, fazem cumplicidadese alargam a roda mundana - todos serviram o G ou ele serviu-se de todos, e prova-se que a fotografia é por cá um terreno de ignorâncias e facilidades), mas era preciso esquadrinhar tudo isso. É difícil a fotografia ganhar posição e solidez em Portugal se vale tudo: a "história" canónica (?), a única, foi sectária, e o interesse recente é trapalhão. Mas sei que o G gosta assim e o Sergio B. Gomes não poderia fazer de outro modo, muito pacientemente, ou não fazia.
Na Cordoaria, produção EGEAC, Galerias Municipais.
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