Maria da Graça Carmona e Costa (1933-2024)
Quando abriu a Giefarte, vinda da Quadrum da Dulce D’Agro, modesta aprendiz, apostou em pôr um anúncio em roda-pé no Cartaz do Expresso, e eu procurava colocá-lo nas páginas do roteiro crítico de exposições (podiam ser várias páginas nos anos 80/90). Disse-me mais tarde que era um sacrifício financeiro difícil mas que compensou, até pelos contactos internacionais que recebia. O marido coleccionava cerâmica oriental e outras coisas antigas (é um excelente acervo na Fundação), eram ambições diferentes, ele grande proprietário e ela decidida a ter voz e meios próprios.
Na Giefarte queria apoiar artistas jovens e mais velhos q não vendiam. A sede da Fundação teve em anos recentes uma programação condicionada por colaboradores em que confiava, com exposições de artistas com maiores ou menores méritos e cumplicidades dispensáveis que deixava seguir e a envolveram (refiro-me ao Manuel Costa Cabral, repetido comissário). Ficam muitos grandes livros em armazém: lembro-me que não pude recusar um enorme livro sobre uma casa temporária da Lourdes Castro na Madeira, que ficou muitos meses no chão do carro e acabei por conseguir destinar. Os mecenas são muitas vezes assim, com amores sinceros e rodas de cortesãos. Mas impressionava vê-la nas inaugurações (ia a muitas e eu não) já muito debilitada mas resistindo à idade, sempre com uma generosa simpatia. Era uma dedicada sobrevivente, e insistia sempre que falávamos q eu devia continuar a escrever. Parecia sincera mas eu estava noutra e não entrava na roda que a envolveu - nunca fui nem fui convidado para os almoços e jantares semanais em hotéis que a faziam (e que apreciava) pagar, e de que só há pouco soube..
Não sei se chegou a ser informada que eu tinha proposto uma exp que me parecia fazer falta: seria uma antologia de desenho do Júlio Pomar, que nunca se fez e teria de ocupar a Fundação CeC e o Atelier-Museu (continua por fazer). Cercavam-na. Também impressiona, e tudo está ligado, a fragilidade do mercado de arte nacional, vítima de acasos estimáveis, redes perversas e aventuras inconsequentes que desabam sem remédio. A descredibilização do circuito é evidente. Fica em aberto o destino da colecção, mais irregular do que podia acreditar, agora em exposição no MAAT e na sua Fundação, e outras iniciativas chegarão ao fim com a estimável Maria da Graça. 23.01.24
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Inscrevi-me num recente jantar de homenagem ou aniversário (os 90 anos?), foi confirmado, depois houve alguma alteração de local ou data e não me avisaram. Fiquei de fora com explicações improváveis da simpática Dinorah. Não gostei. Admirava a senhora e tinha obrigação e vontade de lá estar. Não me quiseram lá, parece. Fica dito.
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