Quando abriu a Giefarte, vinda da Quadrum da Dulce D’Agro, modesta aprendiz, apostou em pôr um anúncio em roda-pé no Cartaz do Expresso, e eu procurava colocá-lo nas páginas do roteiro crítico de exposições (podiam ser várias páginas nos anos 80/90). Disse-me mais tarde que era um sacrifício financeiro difícil mas que compensou, até pelos contactos internacionais que recebia. O marido coleccionava cerâmica oriental e outras coisas antigas (é um excelente acervo na Fundação ), eram ambições diferentes, ele grande proprietário e ela decidida a ter voz e recursos próprios. Na Giefarte das últimas décadas queria apoiar artistas jovens e mais velhos q não vendiam.
A sede da Fundação teve em anos recentes uma programação condicionada por colaboradores em que confiava, com exposições de artistas com maiores ou menores méritos e cumplicidades dispensáveis, que deixava seguir e a envolveram. Ficam muitos grandes livros em armazém: lembro-me que não pude recusar um enorme volume sobre uma casa temporária da Lourdes Castro na Madeira, que ficou muitos meses no chão do carro e acabei por conseguir destinar. Os mecenas são por vezes assim, talvez ingénuos, com amores sinceros e rodas de cortesãos. Mas impressionava vê-la nas inaugurações (ia a muitas e eu não) já muito debilitada mas resistindo à idade. Era uma dedicada sobrevivente, e insistia sempre q eu devia continuar (ou voltar) a escrever - eu ia respondendo que escrevia no Facebook e no blog, só às vezes, de zangas e entusiasmos. Parecia sincera mas eu estava noutra e não entrava na roda que a envolveu - nunca fui nem fui convidado para os almoços e jantares semanais em hotéis que a faziam pagar, e de que só há pouco soube.. Num último grande jantar de homenagem e aniversário não me confirmaram a inscrição com explicações esfarrapadas. Não sei se chegou a ser informada que eu tinha proposto uma exp que me parecia fazer falta. Cercavam-na.
Também impressiona, e tudo está ligado, a fragilidade do mercado de arte nacional, vítima de acasos estimáveis, redes perversas e aventuras inconsequentes que desabam sem remédio. A descridibilizacao do circuito é cada vez mais evidente. Fica em aberto o destino da colecção, mais irregular do que podia acreditar, agora em exposição no MAAT e na sua Fundação Carmona, e outras iniciativas chegarão ao fim com a estimável Maria da Graça. Lançara o BAC, que a CML apoia, para guardar memórias de artistas.
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