Sobre o artigo de José Luis Porfírio na revista do Expresso de 12 de Abril “O tempo no Salão da SNBA”
“O Salão também foi um intencional contraponto ao comércio de arte nos tempos da explosão marcelista das galerias comerciais, apoiando a vontade de independência dos artistas que não entravam no circuito galerístico. Esse apoio foi bem definido por Rui Mário Gonçalves já no fim da ditadura na “Exposição 73”, na SNBA, ainda com júri, e no Salão de março de 1974, sem júri,
claramente apresentado como uma alternativa possível à exposição comercial ambas antecedendo (prevendo?) a crise que se desencadeou depois do 25 de Abril.”

Notas soltas:
Antes e depois de Abril: contra o mercado / sem mercado. Quem entrava (conseguia entrar) no mercado galererístico / quem não conseguia ou não queria
É a evocação-defesa de uma tempo de muito amadorismo dos artistas: a arte como hobby de artistas de domingo, pouco profissionalizados, pouco profissionais como artistas e pagos por outras profissões, professores, arquitectos, engenheiros, publicitários, um militar, etc). De regionalismo das galerias: vender em Portugal a clientes certos, trazer para Portugal os artistas da "diáspora" europeia; masa sim, a Dulce D’Agro tentava sair com a Quadrum. Da tutela de uma crítica controleira que exigia e geria dependências, em defesa dos estilos colectivos importados, apontando os sucessivos “pioneiros” de cada suposta invenção...Tudo factores que abafaram o terreiro "vanguardístico" até aos anos 80.
A crítica dos anos 70 contra o comércio de arte, contra o ”circuito galerístico” (lembrar o ataque à Galeria Interior de Conceição Silva). Queriam-se artistas amadores e subordinados, pobrezinhos mas honrados (o salazarismo tinha faces inesperadas: também... anticapitalistas)
O tardo-salonismo modernista não deveria ter sobrevivido tanto tempo (e houve salões relevantes... até quando?). Morreu de inacção corporativa, abandonado pelos artistas e desvalorizado pelo sector dito “de ponta”, para dar lugar às feiras de galerias: o mesmo de outro modo, mais controlado pior júris auto-nomeados e mais mercantil.
DESTAQUE 1: ”...mostras que tentaram alternativas possíveis à “iniciativa privada” que as galerias representavam...”, JLP - de facto a crítica dos anos 70 atacava "a independência dos artistas" e perseguia as "carreiras" - os anos 80 vieram corrigir esta forma de esquerdismo crítico que entendia a produção cultural como margens exteriores ao sistema, ou ao regime.
DESTAQUE 2: ”o mimetismo na pintura acabava ali; estávamos num espaço mental para lá da pintura...” JLP - a figura ou figuração acabava ali para a crítica dos anos 70, a pintura acabava também, trocada por ‘espaço mental’, devia ser “conceptual” . Depois os discípulos do Ernesto de Sousa (a Alternativa Zero foi uma exposição institucional, feita a partir da SEC, a tradução regional e ingénua do 1º Szeemann das “atitudes” de Kassel, por via Wostell, que tinha casa perto e mulheres espanhola, em Cáceres, e não do Beuys, que não ligou - tudo provinciano), mas os discípulos deram-lhe a volta, acertando o passo oportunista com o pós-moderno, sempre com a urgência de importar “estilos” quando o mercado se recompunha. Os “pioneiros” substituíam-se aceleradamente.
Lembra DA: …se vendes é porque és mau…!!!
... Mau porque fazes para vender (e vender é pecado)
Fazer para vender não é mal, desde q seja sério e bem feito - é parecido com o antigo regime da encomenda com programas definidos, que foi a razão da continuidade possível das artes, com patronos, mecenas, profissionais e compradores.
O actual regime da residência e do encargo curatorial vem tentar sustentar o PRECARIADO artístico (não proletariado), perverte a produção que deveria enfrentar o mercado e cria vícios e carreiras abortadas - é um sistema de encomenda sem programa e sem destino para as obras, que se querem efémeras, porque conservar é caro e deixa de ter sentido patrimonial.
Visitei o Salão (obrigado Jaime Silva), mas era uma pálida sombra. Certamente por isso o JLP não fala do presente.
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