copio notas q fui publicando no Facebook:
Sobre esta não-exposição panfletaria que perverte a história da colonização - a exploração (descoberta), a investigaçao (científica), a ocupação territorial, a idealização dos novos Brasis pelos republicanos, os velhos colonos e a maçonaria (Kuribeka em Angola), as aspirações democráticas e as respostas ao centralismo, o anticolonialismo português (temas ausentes sob a cegueira ideológica de alguns personagens incrustados na Academia e nos partidos) - deve ler-se a crítica do antropólogo José Teixeira na sua pág do Facebook.
O assunto tem de discutir-se até à “desconstruçao” desta manobra indigentemente ideológica, sob a qual tem pairado um silêncio timorato - ou cúmplice.
É uma iniciativa institucional a pretexto dos 50 anos de Abril, é uma exposição de uma entidade pública contrária ao entendimento oficial das relações ultramarinas, é um atropelo político insidioso que não deve ser tolerado. (23-11)
É a pior exp do ano (ou da década), uma lamentável operação de desinformação e propaganda woke / “decolonial” (o racismo invertido) e uma indigente concepção de exposição e montagem. Um estendal de lençóis não é uma exp. A prof Isabel Castro Henriques é uma respeitável senhora mas isto não se faz. É um mt infeliz fim de carreira. O catálogo - nos textos que li e na paginação - é também uma desgraça. Isto não deve (não pode) ficar visitável até meados de 2025. (22-11)
Saíu-nos uma exposição do Bloco, facciosa, manipulada (a falta do republicanismo colonial é miserável como deturpação), com a montagem dominada por textos traindo a memória do Museu .
Não percebo como algumas pessoas sérias aceitam ter o nome na ficha técnica. O suposto "anti-racismo sistémico" é desastroso tratando-se de história e de política (como se a história e as actualidades das independências de Angola, Guiné, Moçambique não atingisse depois os heróis da guerra anti-colonial).
Uma exposição não é um labirinto de lençóis. O melhor: pinturas do sãotomense Pascoal Viana de Sousa Almeida Viegas Lopes Vilhete ("Canarim") 1894-197? : "a arte de um curioso artista Nativo da Província Portuguesa. S.Tomé".
E a habitual Mónica de Miranda, Porto 1976, dita afrodescentente, que representa Portugal na Bienal de Veneza de 2024 (e está tb no Padrão dos Descobrimentos, está sempre em todas): são fotografias sem interesse e duas maquetes foleiras...
Há catálogo, 344 páginas e 40 €.
Mas se os textos do Diogo Ramada Curto e da Joana Pereira Leite / João Pina Cabral são tão insuficientes ou preguiçosos, como serão os outros? O primeiro, em "Do mito do Luso-tropicalismo ao mito da Lusofonia", alinha com a vulgata pós-colonial sustentado no oposicionismo datado de Alfredo Margarido, este mais empenhado na "denúncia" do que na compreensão das realidades sociais e culturais (esperava mais do DRC). O segundo sobre a oposição ao regime em Moçambique fica-se pela rama, falando de repressão sobre a Frelimo e da intervenção de advogados democratas. Lembram aquilo a que assistiram, sem falar, por exemplo, de D. Sebastião Soares de Resende, bispo da Beira, e de Sarmento Rodrigues, governador e ex-ministro afastado de LM por Salazar..
Recordo a propósito uma recente exposição exemplar no Museu do Quai Branly, "L'Afrique des Routes. Histoire de la circulation des hommes, des richesses et des idées à travers le continent african". 2017. Teve colaboração qualificada de investigadores portugueses.
Não esperava que o DIOGO RAMADA CURTO alinhasse com o primarismo, o obscurantismo e a deturpação da história (quando não é ignorância) que impera na exposição do MNE, a pretexto de Desconstruir e Descolonizar....
Vejam-se três passagens do seu artigo, rápido e leviano, com erros óbvios:
1. ”Só a partir da década de 1920, surgiu o luso-tropicalismo mas as propostas freyrianas só encontraram eco em Portugal, depois da Segunda Guerra. <no seu livro de 2022 abaixo referido DRC diz o contrario> Margarido considerou que o atraso na recepção da obra de Freyre se deveu, sobretudo, ao facto de não existirem em Portugal condições para entender a linguagem das ciências sociais ou da sociologia. De qualquer modo, as ideias de Freyre foram usadas de modo truncado, tendo em vista a sua instrumentalização na consciência e na prática coloniais portuguesas. (na argumentação de Margarido, etc" pág. 260).
2.
“Por exemplo, o sonho salazarista de que Portugal não era um país pequeno exprime um "delírio nacionalista" e imperial, bem representado em mapas destinados à propaganda <da iniciativa do colonialista Henrique Galvão, depois perigoso oposicionista>. Após 1974-1975, o mesmo sonho imperial - que já fora reformado para se afirmar o carácter excepcional do "mundo português", deixando cair as noções de império e colónias - acabou por ser transferido para o domínio da língua e da cultura. Uma operação que permitiu continuar a afirmar a grandeza" de Portugal, esquecendo a cultura dos outros.” p 262
3.
"Em estreita ligação com a influência da sociologia de Florestan Fernandes, o que continua a estar em causa debaixo das ideias de lusofonia não são meros <meros!> projectos culturais ou linguísticos, evocados em discursatas diplomáticas de circunstância ou comemorações; o que está verdadeiramente em causa são interesses e políticas económicas determinados por fluxos migratórios e pelo mercado laboral. Pois é nestes últimos que será possível encontrar o nexo dos movimentos de abertura e de contracção de angariação de mão-de-obra, tanto os que se prolongam no tempo como os sazonais. Só através da compreensão de tais movimentos (e das políticas que lhes correspondem) se poderá fugir aos riscos de abordagens que tendem a concentrar-se em meras <meras!> políticas culturais e da língua, que são quase sempre áulicas, circunstanciais e comemorativas. Que a cultura em tempos pós-coloniais e as políticas etc..." p. 263/4
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Como se sabe a formulação do luso-tropicalismo surge só nos anos 50, embora esteja de certo modo já subjacente à teoria de G Freyre desde “Casa Grande & Sanzala”, de 1933, que escreveu em Portugal durante a ditadura de Getúlio Vargas. O livro teve eco por cá junto dos sectores democratas do colonialismo progressista, tal como aconteceu depois com "O mundo que o português criou" (1940), o qual "foi mal recebido pelo campo político em Portugal, onde reinavam as concepções racistas" (Laurindo Mekie Pereira, ver comentário).
António Sergio escreveu o prefácio da edição brasileira, que foi incluido na ed. portuguesa de Livros do Brasil (anos 40 e anos 70, 2ª ed.). <A BN não tem essa primeira ed. brasileira mas posso vender o meu exemplar...> Na Fund. Mário Soares existe uma versão fotocopiada do prefácio vinda do arquivo Mário Pinto de Andrade. Está acessível.
Lembremos também, sem alargar a pesquisa, que não me compete fazer, os artigos da Seara Nova de Maria Archer (foi-lhe dedicado um colóquio em 2022: https://www.publico.pt/.../homenagear-escritora-maria...
A revista «O problema colonial», Seara Nova (n.º especial), n.º 68/69, 9 de janeiror 1926 , é anterior. http://ric.slhi.pt/Seara_Nova/numeros/?id=num_0000000670
Na capa da ed. especial Seara Nova: "O Infante D. Henrique iniciador de descobrimento científico do planeta e da obra de colonização europeia”
DRC interessa-se em especial pelo percurso de José Osório de Oliveira, intelectual do regime que então se relacionava com G.F. e mais tarde veio a tomar a defesa da Diamang contra ele...
A cumplicidade de G Freyre com o regime afirma-se em 1952-53 graças a um convite de Sarmento Rodrigues <ministro do Ultramar e responsável por reformas da administração colonial, foi governador de Moçambique de 1961 a 64 e mandado regresso por Salazar - era um liberal do regime > para percorrer as colónias, mas é preciso relevar a crítica pesada que Freyre faz ao domínio da Diamang como a excepção no campo das relações com os negros, o que motiva em resposta um maior investimento da empresa do comandante Ernesto Vilhena <ministro das Colónias e dos Negócios Estrangeiros da República, deposto pela junta de Sidónio Pais, fundador da Diamang em 1917 e presidente até 1966, maçom e grande coleccionador de arte, abertamente racista, impulsionou o Museu do Dundo> nas publicações e iniciativas culturais. E GF distancia-se do regime quando começam as guerras de libertação.
A sua obra e o seu pensamento são por cá mal conhecidos e o nome é usado como um espantalho na vulgata póscolonial.
A ligeireza de Diogo RC é tanto mais estranha quanto ele percorre a bibliografia da época e sobre a época no capítulo “Um álbum fotográfico da diamang” no seu livro O colonialismo português África de livingston a Luandino, ed. 70, 2022.
Uma das manobras da exposição é a omissão do colonialismo republicano e seareiro, atribuindo ao Estado Novo todos os vícios das relações com África e os africanos.
A Seara Nova , número especial dirigido por Jaime Cortesão.
Convém conhecer também o Prefácio de António Sérgio à edição brasileira de "O Mundo que o português criou", datado de Janeiro de 1940 (a Fundação Mário Soares possui o texto em fotocópias vindas do Arquivo Mário Pinto de Andrade (e eu tenho essa histórica edição, q por cá é raríssima).
O Diogo Ramada Curto está mal informado quando escreve que "as propostas freyrianas só encontraram eco em Portugal depois da 2ª Guerra" e cita Alfredo Margarido sobre o suposto atraso na recepção da obra de Freyre, quando desde "Casa Grande & Sanzala", de 1933, ele tinha sido bem recebido por sectores republicanos democratas e recusado pelos conservadores do regime... 11-11
PARA UMA ANTI-EXPOSIÇÃO
Alguns exemplos de desafios, atitudes, intervenções e lutas que testemunham oposições ao regime e ao colonialismo (incluindo as manifestações contra o centralismo de Lisboa por parte dos colonos de Angola e da maçonaria local, a Kuribeka, crescentemente autonomistas), que estão ausentes da exposição por não servirem o gosto pela vitimização e também por preguiça e ignorância.
Da Exposição-Feira de Angola 1938 e do desconhecido e polémico Plano de Fomento que Carmona promulgou antes de chegar a Luanda até ao livro de Fanon editado em 1972, e que eu traduzi. 12-11
O que não se mostra no Museu Nacional de Etnologia (2)
Fotos da Exposição-Feira Angola 1939, Luanda, com um pavilhão pioneiro dedicado ao artesanato local. Ao chegar de viagem a Angola, quando temia reacções hostis dos velhos colonos, Carmona promulgou o 1º Plano de Fomento, cuja existência é habitualmente ignorada a favor do Plano de 1951.
Maria Archer sobre Gilberto Freyre na Seara Nova.
Recomendo o comentário muito crítico do antropólogo José Teixeira, que tem larga experiência africana.
https://estan.blogs.sapo.pt/desconstruir-o-colonialismo-797626
E também os comentário extensos que incluiu na sua crítica no Facebook: https://www.facebook.com/alterjpt
Espero q outros especialistas e visitantes levantem a voz, e q se discuta este escândalo, mesmo na AR e sem deixar a iniciativa ao demagogo Ventura.
A exposição (se se trata de uma exposição, pq é de facto só uma manifestação de pós-colonialismo indigente, “decolonial”, woke e colado ao lado mais primário do Bloco) deve ser objecto de escrutínio tendo em conta q está num espaço público e não político, supõem-se. Justificada pelas celebrações do 25 de Abril, é um momento que envergonha e que ilude ou confunde à maneira do mais preconceituoso entendimento da história de África, de Portugal e do colonialismo.
O Museu Nacional de Etnologia criado por Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira entrou em coma há muitos anos, sob a vigência de alguém que se julgou seu proprietário, afastou colaboradores científicos e deixou a casa em paralisia (o antigo director Joaquim Pais de Brito fez o deserto à sua volta). Esperava-se uma regeneração e agora o museu afunda-se ainda mais. (22-11)
Museu Nacional de Etnologia #MNEdesconstruir
#desconstruirdescolonizar #descontruirocolonialismo
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