Hoje, revendo à distância as duas exposições, penso que "PARIS NOIR", a mostra actual no Centro Pompidou, foi concebida em oposição a "WHEN WE SEE US", de Koyo Kouoh, que é de 2022 na Cidade do Cabo - depois levada a Basileia e Bruxelas, a seguir irá a Estocolmo, até 2026 -, subordinando as dinâmicas pan-africanas, autóctones, espontâneas e locais, também crescentemente cosmopolitas e atlânticas, mas sempre observadas a partir de África, à dependência dos centros do Norte e em especial de Paris. A morte de Koyo Kouoh, nas vésperas de dirigir a Bienal de Veneza, torna mais premente essa análise, de que não encontro qualquer precedente.
A de Paris é uma exp. franco-africana sempre interessada em propor como decisivas as referências à "formação artística clássica" e aos "mestres modernos", aos trânsitos por Paris, escolares e políticos. associando "circulações artísticas e lutas anti-coloniais 1950-2000", conforme o subtítulo.
Significativamente, a Cronologia começa pelo G.I.Bill, de 1944, a lei que permitiu aos soldados norte-americanos (os brancos, como Kitaj, judeu, e os "de cor") ficar a estudar na Europa.
O programa de "Paris Noir" segue o calendário que vai da revista 'Presence Africaine' de Alioune Diop em 1947 até à 'Revue Noir' de 1991-2000, a luxuosa publicação da associação Afrique en Créations sustentada pela Cooperação francesa. ("En janvier 1990, le ministère français de la Coopération organise une rencontre entre trois cents créateurs africains et français à Paris afin de mener une réflexion autour de deux thèmes majeurs : le rôle des artistes et des intellectuels dans l’évolution des pays africains et l’importance de la dimension culturelle dans le développement économique et social du continent africain" - Cronologia; em 2000 fundiu-se com a Association Française d'Action Artistique - AFAA).
A "Revue Noire" nasceu na sequência dos "Magiciens de la Terre" de 1989 (Jean-Hubert Martin), em paralelo com a Collection Pigozzi dirigida por André Magnin, desde o mesmo ano (Caacart.com) e associada aos Rencontres de Bamako, a partir de 1994.
A linha "Magiciens...", "Revue Noire" e Pigozzi/Magnin privilegiou, até agora, a divulgação de artistas africanos residentes em África, implantados nas sociedades e nos mercados locais, em geral sem formação académica dita modernista, numa linha que vem da acção de Ulli Beier na Nigéria (o Mbari Club) e da revista "Black Orpheus": é ou era a afirmação da possibilidade de uma arte contemporânea africana para a qual a modernidade, depois da produção tradicional em extinção, depois das independências, não implicava a dependência da tradição vanguardista e escolar europeia, com a sua sucessão de estilos colectivos. Entretanto o grande mercado também passou a percorrer África e as diásporas (emigrações, exílios e formações escolares) abriram novas circulações artísticas: a arte pan-africana ou Black tornou-se um grande nicho especializado do mercado global e um tópico obrigatório das grandes instituições.
A presença da "Revue Noire" no Pompidou é convenientemente discreta, para não sublinhar o seu protagonismo oficial no curso final do período documentado - aliás, o mercado francês perdeu depressa esse protagonismo: uma escultura / espeto que perfura as suas edições, a capa do 1º número dedicado ao senegalês Ousmane Sow (presente no final com uma obra comemorativa de 1989) e uma ampliação da foto emblemática da série Les Fous d'Abidjan de Dorris Haron Kasco, livro de 1994.
Entretanto, é muito notória a ausência de obras da Colecção Pigozzi e da Galeria André Magnin, que estão presentes em Bruxelas, indicando em Paris a divergência (ou conflito) de orientações.

Pascale Marthine Tayou - 1966, Cameroun, vit et travaille à Gand (Belgique) et Yaoundé (Cameroun).
"Fétiche Pascale", 2011
(numéros de Revue noire) Collection Revue noire - JLP - PMSL
"Fétiche Pascale fait partie d'une série de sculptures totémiques constituées d'un empilement de numéros du magazine Revue Noire, revue internationale d'art contemporain présentant les œuvres d'artistes, musiciens ou créateurs de mode africains ou caribéens, lancée en mai 1991 à Paris par Jean-Loup Pivin, Simon Njami, Pascal Martin Saint Leon et Bruno Tilliette. Pascale Marthine Tayou... témoigne ainsi de sa proximité avec l'équipe de rédaction, tout en louant leur contribution majeure à l'histoire de l'art contemporain africain, à travers des publications et des expositions pionnières à Paris comme « Ethnicolor» (1987) ou « Suites Africaines » (1997)."