Posted at 00:02 in 2023, Adelino Lyon de Castro, Maria Lamas | Permalink | Comments (0)
A morte por doença de Adelino Lyon de Castro logo no verão de 1953 (nascera em 1910) é seguramente uma das razões efectivas do que pode considerar-se o esquecimento deste fotógrafo. As razões políticas serão também significativas, e adiante se referem. Outra razão determinante tem a ver com o facto de ser recente (a partir dos inícios dos anos 80) a alargada atenção à fotografia e a construção mais ou menos rigorosa da sua memória histórica, como algo de exterior aos seus diversos círculos fechados de interessados ou praticantes (fotojornalistas e outros profissionais; amadores e demais salonistas; artistas plásticos que usam a fotografia).
De facto, A.L.C continuou a ser invisível até 2008/09 (*) e foi ignorado na história de António Sena (ed. 1998), tal como sucedeu com Maria Lamas e AS MULHERES DO MEU PAÍS, certamente porque as suas obras - e outras mais - contrariavam a tese que aí se quis apresentar sobre os anos 1946-59: a chamada "revolta silenciosa da intimidade", assente em parte na promoção de várias obras deixadas inéditas e em parte na apreciação distorcida e anacrónica das obras que na época se divulgaram. Refiro-me neste segundo ponto à ocultação da ligação de Fernando Lemos ao movimento da Fotografia Subjectiva de Otto Steinert, para além da muito tardia informação surrealista, e ao desvalorização conceptual da ligação de Victor Palla e Costa Martins (LISBOA, 'Cidade Triste e Alegre', 1958) a uma ambição de realismo humanista e documental bem como ao efeito "Family of Man" (MoMA, 1955 e seguintes)
O esquecimento de A.L.C. prende-se com uma situação portuguesa mais ampla de incompreensão da fotografia de intenção social (concerned photography ou social documentary photography) enquanto arte - enquanto arte maior ou menor (ou mesmo arte aplicada) numa época em que as várias técnicas ou disciplinas muito se valorizavam (como a gravura, a cerâmica, a tapeçaria, etc), e em especial enquanto objecto de exposição, o que é o mesmo - por parte dos artistas neo-realistas seus contemporâneos, o que, aliás, não tem nada de original. O contrário é que seria excepcional, porque só pelos finais dos anos 70 e inícios dos 80 essa produção fotográfica - destinada em princípio à publicação em livro ou na imprensa - dá entrada nas galerias ao lado da "arte fotográfica" ou "fotografia artística", ou "fotografia criativa" como também se dizia. Essa entrada parece fazer-se primeiro como recuperação histórica, como valorização de clássicos e alargamento da oferta mercantil e coleccionista; depois, num segundo passo, sob a forma de uma produção de raíz ou matriz documental que já tem como destino a parede da galeria e não (apenas) a revista e o livro - o regresso dos grandes formatos facilitou o interesse pelo "quadro fotográfico" e várias formas de neo-picturialismo não declarado.
Adelino expôs imagens do povo e do trabalho popular, fotografias "humanistas", com um sentido de denúncia e de elegia, próximas da arte e do cinema neo-realista, na 5ª Exp. Geral de Artes Plásticas, em 1950, com Keil do Amaral e certamente por iniciativa ou cumplicidade deste, mas os teóricos do neo-realismo (no caso, Júlio Pomar e Mário Dionísio) não as viram ou não valorizaram - não as referem nos seus textos sobre a 5ª EGAP. A fotografia social é então entendida apenas como um auxiliar do artista (da observação e da memória), para além do seu eventual valor informativo e testemunhal. Ao rejeitar o naturalismo, a cópia ou imitação da natureza, a favor dos estilos modernos que cultivam a "deformação" (a estilização), os neo-realistas rejeitam ou ignoram o realismo da fotografia directa no campo das artes plásticas (mas ela pode ser reconhecida, por outros, no espaço da "arte fotográfica", no espaço do Salão).
As razões politicas terão desempenhado também um papel nesse esquecimento, mas um papel relativo, que se terá jogado menos quanto à projecção póstuma do que na ausência de diálogo e ao silenciamento no início dos anos 50. Adelino L.C. foi co-fundador das Publicações Europa-América, com o seu irmão Francisco, no início do pós-guerra, e foi depois o editor da "Ler, Jornal de Letras, Arte e Ciências", mensário assegurado pela Europa-América em 1952-53. Esta publicação foi forçada ao encerramento pelo governo em 1953, um mês depois da morte do editor (último nº, 19, em Outubro), por não ter sido aceite a respectiva substituição, MAS esteve antes no centro de uma grave crise interna aos meios culturais da Oposição. A "Ler" foi duramente combatida pelo PCP por ser redactorialmente orientada por Fernando Piteira Santos, expulso em 1950 e então acusado com Mário Soares de pro-americanismo e de alinhamento com a Jugoslávia de Tito. Os militantes comunistas foram intimados a cessar a colaboração no jornal, que chegou a ser denunciado como "orgão do SNI", num contexto de manifesto sectarismo ideológico com continuidade na chamada "polémica interna do neo-realismo", vivida em torno da "Vértice". O episódio é desenvolvido por Pacheco Pereira no 3º vol. da biografia de Álvaro Cunhal, ed Temas e Debates, Lisboa, 2005, em capítulos que se chamam “A purga dos intelectuais” e “O jornal Ler, ‘orgão do SNI’”. O PCP viria a corrigir o "desvio de esquerda", mas o fotógrafo teria de esperar seis décadas para ser homenageado no Museu do Neo-Realismo...
Paradoxalmente, Adelino Lyon de Castro foi o primeiro fotógrafo dos anos 40/50 a ter a sua obra reunida em livro, O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, álbum fotográfico editado em 1980, com uma nota introdutória (..."um poeta das imagens") do acima referido Fernando Piteira Santos, que era então professor universitário de história contemporânea e director-adjunto do "Diário de Lisboa", sem particular cultura fotográfica ou artística (a antiga cumplicidade política e pessoal tinha-se também associado o gosto comum pelo desporto e pelo campismo). A edição quis ser uma homenagem póstuma do fotógrafo, mas foi também uma edição comemorativa dos 35 anos da criação das Publicações Europa-América - e certamente por isso o livro terá sido mais destinado a ofertas do que à distribuição comercial normal. Desconheço qualquer recensão ou crítica do volume, que nunca encontrei referido na literatura fotográfica do tempo (A. Sena inclui-o num índice de fotógrafos mas não o comenta). Mais estranhamente, esse livro não consta da bibliografia citada no catálogo que acompanha agora a exposição do Museu do Chiado em Vila Franca de Xira (..."o fardo das imagens", 2011). Julgo que a edição nunca esgotou e, hoje ainda, parece que continua disponível no site da Wook por 15,90 € (e tb nos da Fnac e do editor...).
Depois de o ter depreciado por muito tempo (pelo carácter "salonista" das imagens e por o julgar deficientemente impresso - dois erros!), passei a considerar o álbum - e o seu prefácio - a mais acertada apresentação da obra de Lyon de Castro, em 70 fotografias que são certamente reproduzidas sempre a partir de provas de época, com respeito pelos seus variados formatos.
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(*) Emília Tavares, "Fotografia e neo-realismo em Portugal", in Batalha pelo Conteúdo..., Museu do Neo-Realismo, 2007(pp. 263-273). (Um ensaio pioneiro sobre a presença da fotografia nas Exposições Gerais de Artes Plásticas).
Alexandre Pomar, "O neo-realismo na fotografia portuguesa, 1945 – 1963", in INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autrónoma de Lisboa, 2010. (Pp. 423-442). O Colóquio teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008. Painel 4 - Do Realismo ao Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa). Ver tb em http://independent.academia.edu . E outros textos sobre adelino-lyon-de-castro, e temas próximos, desde 16 Maio 2008.
Emília Tavares, BATALHA DE SOMBRAS - COLECÇÃO DE FOTOGRAFIA PORTUGUESA DOS ANOS 50 DO MUSEU DO CHIADO, Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira, 2009 (A primeira leitura de conjunto deste período, através do acervo de provas de época e de autor reunidas pelo Museu)
Emília Tavares, Adelino Lyon de Castro, O Fardo das Imagens (1945-1953), Museu do Chiado, 2011.
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Regresse-se então aos fardos, escolhidos para título da exposição do Museu do Chiado e objecto de uma interpretação que é por um lado anacrónica e por outro desajustada face ao que podemos julgar ser a posição ético-política e estética do autor em causa, e, para além dele, as posições ideológicas do neo-realismo ou humanismo da época.
Maria Lamas, AS MULHERES DO MEU PAÍS, pág. 372 (Capítulo "A Operária"). Legenda: "Jovens trabalhadoras das minas de S. Pedro da Cova. As raparigas começam a trabalhar ali aos 14 anos. Fazem a remoção, ou seja o transporte do carvão ou da pedra, à cabeça, em gigos, como se vê na fotografia. (...) Muito cedo aprendem a encarar directamente a vida"
Referi que há apenas dois "fardos" (nota 7) entre as 70 provas de época reunidas na antologia editada em 1980, O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, que até prova em contrário deve ser considerada rigorosamente representativa do trabalho e dos ideais estéticos de Adelino Lyon de Castro, incluindo o que mostrou em vida e o que deixou inédito. Acrescente-se que há mais quatro "fardos" entre as 10 imagens reproduzidas em AS MULHERES DO MEU PAÍS, de Maria Lamas, editado em 1948-50 - em vida do fotógrafo, portanto. (É curioso observar a proximidade entre os dois títulos: a ideia de uma escolha intencional e pessoal daquilo que se quer ver e que é uma relação particular com o mundo e com o país, antes de se integrar numa dinâmica colectiva - dimensão pessoal que não inclui a ideia do documentário subjectivo, que só surgirá mais tarde - na fotografia com Robert Frank e William Klein.)
"Descarga de areia, nos cais de Lisboa" (p. 392) e "A carregadora do cais" (393), "Ensaboadeira de Coimbra" (410), e "Descarga de molhos de mato, num cais do Mondego, em Coimbra" (420) - os títulos são apenas o início das longas legendas informativas e comentadas da autoria de Maria Lamas - são imagens documentais sobre o trabalho feminino. Folheando o livro, constata-se, porém, que o transporte à cabeça de cargas mais ou menos pesadas é uma constante nas ilustrações fotográficas, e não uma particularidade estilística de Lyon de Castro ou uma específica metáfora pessoal sobre o mundo e a vida. É esse em inúmeros casos a função - menos qualificada - atribuída às mulheres, nas minas, na descarga de barcos, no trabalho em geral; por outro lado, e em absoluto, o transporte mecanizado é, nos anos 40/50, muito mais raro e localizado do que no presente, e esse facto não pode esquecer-se para avaliar o universo social que se explora.
Entretanto, o que Emília Tavares vê nas "figuras humanas carregando fardos" é "a mitologia do Atlas, aquele que carrega o mundo sobre as suas costas", presente como uma "referência intrínseca ao espírito do trabalho fotográfico de Lyon de Castro"; por outro lado, interpreta "o esforço como acto disforme", que marcaria rostos e corpos não só com o peso do trabalho como com "uma condição social de exclusão" - associando embora, de um modo pouco claro, "as imagens de superação desse mesmo esforço" a uma "estética do equilíbrio" que lhes poderia "dar forma e esperança". Mais adiante identifica na obra de A.L.C. "a imagem do trabalhador enquanto reflexo duma tristeza existencial, enquanto marca dum estigma de exclusão mais vasto que o social e o económico" (sublinhados meus).
Citar Hannah Arendt a este respeito, para entender o trabalho e a divisão social, é procurar orientações ideológicas adversas às de Lyon de Castro, favorecendo-se explicitamente a ideia conservadora de uma "condição circular" "ligada aos ciclos recorrentes da natureza e ao círculo prescrito pelo processo biológico do organismo vivo", e por aí se chega a dizer que "a condição dos trabalhadores está entre o épico e o abominável", e se fala de um "estado de pobreza que se torna abjecta porque 'coloca os homens sob o absoluto ditado dos seus corpos, isto é sob o absoluto ditado da necessidade' (Arendt)"
Julgo que a insistência na "figura dos excluídos" e no conceito de exclusão (que E.T. associa às fotografias Ex-Homens e Sem Destino, onde comparecem vagabundos ou homens sem trabalho, e não homeless) antecipa classificações muito posteriores, e através dela quer-se ver "mais do que uma condição social", "um estado existencial, sem esperança ou resolução". Tal como nas imagens do trabalho e dos trabalhadores que carregam fardos se pretende ver "uma condição humana, mais do que uma condição política". Lyon de Castro não era stalinista nem realista socialista (e antes de 1953 o realismo socialista não se confundia com o neo-realismo nacional), mas o seu horizonte ideológico seria em geral o do humanismo e do voluntarismo progressista que imperam no II pós-guerra. As "filosofias" são outras.
Maria Lamas, AS MULHERES DO MEU PAÍS, pág. 144 ("A Camponesa - No Douro Litoral)
As legendas de Maria Lamas para as fotografias de trabalhadoras carregando fardos fornecem pistas muito mais directas e sólidas. Vejam-se suas próprias fotografias, antes de passar às de Lyon de Castro - certamente influenciadas pelas de Maria Lamas e pelo seu projecto editorial, menos "salonistas" do que as enviadas aos concursos:
in AS MULHERES DO MEU PAÍS (Cap. A Operária), pp 392 e e 393
in AS MULHERES DO MEU PAÍS (Cap. A Operária), pp 410 e e 420
Não há dúvida, o trabalho do povo, rural ou operário, é duro (e "algumas mulheres do povo continuam a ser animais de carga"). A mecanização não chegara ainda em grande escala, e o trabalho era portanto braçal ou de transporte à cabeça (o fardo), pode ser épico, é fotogénico, mas não é ou não se mostra "abominável"; o esforço não é "acto disforme", a pobreza não "se torna abjecta", a imagem não reflecte nenhuma "tristeza existencial", não há resignação. Há resistência física, vigor, pode ser "uma visão de beleza - aquela beleza que exprime luta pela vida, num ritmo enérgico, sem artifícios nem disfarces", e que, com "um grande sentido de justiça" é "capaz da mais firme solidariedade e compreensão, perante as desditas que humanamente a confrangem" (legenda pág. 393). Também não é certo que as fotografias denunciem "as condições extremas", ou questionem "o limiar da dignidade humana sob a adversidade" (apresentação, pág. 5). O voluntarismo progressista não passa pelo gosto dos extremos, tempera-os.
O documento é aqui por vezes denúncia mas persegue sempre a "visão de beleza", procurando Lyon de Castro, como escreve Manuel Ruas em 1956, "que a luz dos olhos faça a luz do espírito", "que as suas obras transmitissem a Vida, a Vida do Homem: o seu trabalho, as suas angústias, as suas esperanças" ("In memoriam" no Boletim do Foto Club 6 x 6, nº 3).
Diz-se no site do Museu: "O fotógrafo legou-nos um extraordinário e inesperado diário visual do labor, da pobreza e da exclusão enquanto estados de degradação social, e do papel que a fotografia pode ter enquanto meio de denúncia e ensinamento sobre a realidade." O labor (trabalho), a pobreza e a exclusão (?) não são estados de degradação social - serão estados de opressão, de exploração económico-social; com eles, ou seja pelo trabalho e pela convicção de que a condição operária será a chave da emancipação social, é de transformação e progresso social que se fala - e são as regras do salonismo fotográfico, complacente com uma estetização miserabilista e naturalista do povo, que se procuram transformar com outro ideário político (a aproximação de José Neves a Maria Lamas, Alves Redol e Piteira Santos no livro Comunismo e Nacionalismo em Portugal, 2008, abre outras pistas de leitura, que não passam por Hannah Arendt...). É essa conjunção entre salonismo (o meio e os códigos da "fotografia de arte") e neo-realismo que é importante em Lyon de Castro. Não se dirá que o legado é extraordinário, mas é excepcional e muito significativo: a morte precoce do fotógrafo, o desentendimento cultural da fotografia e, em especial, o conflito duríssimo que atravessava o campo dos intelectuais e artistas progressistas no início dos anos 50, vítima do que era então o sectarismo do PCP, deram-lhe uma invisibilidade de que só recentemente começou a sair.
Exposição no Museu do Chiado até domingo, dia 19 : http://www.museudochiado-ipmuseus.pt/pt/node/971.
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"Esforço", 1952
Fotografia de Adelino Lyon de Castro que obteve o 1º Prémio no Salão de Arte Fotográfica Panorama. Reproduzida em "Panorama - Revista portuguesa de Arte e Turismo", II Série, nº 4, 1952; ed. Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo; director Luís Ribeiro Soares. Extra-texto (não paginado).
A mesma foto (impressão de época) aparece no catálogo "O Fardo das Imagens", 2011, com o título Ala-Arriba, que estará certamente indicado no verso, e com a data 1950 (nº 22, pág. 44). É uma prova e um título certamente usados para outro Salão - e nomeada com pouco rigor, já que "Ala Arriba" é uma expressão da Póvoa do Varzim (cf o filme homónimo de Leitão de Barros, de 1942) e o barco é da Caparica. Mais 3/4 fotos "inéditas" da mesma série publicam-se no mesmo catálogo: nºs 23-26. Na ed. de 1980 (foto 37) surge ainda uma outra imagem idêntica à prova de época em questão, mas tirada de outro ponto de vista, e essa é designada também como Esforço.
O Salão era subordinado ao tema "O Mar" e as fotografias representavam, segundo o DP, "gente do mar, barcos navegando ou varados na areia. figuras de pescadores na dura faina, velhos "lobos do mar", efeitos de luz no mar alto, a calma e as tempestades, nuvens negras no horizonte, redes, peixes, rochas e praias, tudo, enfim, que..."
Abriu a 23 de Janeiro o I Salão de arte Fotográfica "Panorama", conforme a notícia do Diário Popular do mesmo dia, pág. 6. Aí se anunciava a próxima reunião do júri para atribuir prémios pecuniários, mas essa informação não terá sido publicada até 2 de Fev., quando já outra exposição abria. A.L.C. expunha também, conforme o catálogo do Museu do Chiado, Recolhendo as redes (será Colhendo as redes, ed. 1980,foto 39?, ou Recolha de redes, foto 38?), Fé (ed. 1980, foto 8), Estoril e Paz. Foi publicado um catálogo do Salão (a consultar).
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A lista "Exposições seleccionadas (1946-1954)" incluída no catálogo do Museu do Chiado (pág. 85) é uma pista para um inventário ainda incompleto: o terreno é pouco frequentado, a bibliografia escassa, as bibliotecas não têm todos os catálogos do tempo [há boas novidades quanto a bibliotecas...]. Mas ao enumerar as fotografias apresentadas nos primeiros Salões, incorre-se num lapso que é frequente - Adelino Lyon de Castro concorria em seu nome e com nomes de empréstimo, prática muito habitual desde o séc. XIX que permitia apresentar a concurso um maior número de provas e, por hipótese, diversificar as experiências ou estilos fotográficos através de diferentes nomes. O caso de Carlos Relvas será o mais famoso neste género de situações.
O salão da Sociedade Nacional de Belas Artes, no catálogo do 9º Salão Internacional de Arte Fotográfica, 1946
Os Salões anuais são o lugar e a condição de visibilidade dos fotógrafos amadores e pautam a respectiva actividade criativa, uma vez que os materiais são caros, as individuais são raríssimas e não existe um mercado para as provas fotográficas. Associam-se, na mesma condição de amadores, alguns poucos profissionais, por exemplo Artur Pastor, retratistas como Silva Nogueira, e técnicos de fotografia, acompanhados nos concursos por uma participação internacional muito vasta, proporcionada pelos envios colectivos das associações (um incessante movimento de trocas que a II Guerra não interrompera). As mesmas imagens de cada fotógrafo, com os mesmos títulos ou com novos títulos, circulam de Salão em Salão, do concurso principal do Grémio Português de Fotografia para os certames locais, associativos (o Ateneu Comercial de Lisboa, a Voz do Operário, por exemplo, nos inícios dos anos 50) e internacionais, acrescentando-se as vinhetas comprovativas no respectivo verso.
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Para conhecer a obra de Adelino Lyon de Castro o essencial é ainda o recurso ao livro antológico que lhe foi dedicado em 1980, "O Mundo da Minha Objectiva", que na exposição do Museu do Chiado se pode encontrar apresentado numa das vitrinas, mas fechado (e tem uma capa não ilustrada). Ainda se encontra à venda (ou encontrava até há dias), por exemplo na Wook... Inclui um prefácio de Fernando Piteira Santos que continua a ser de leitura necessária, muito significativa a diversos títulos. (Convém conhecer o lugar de Piteira Santos e do boletim e depois mensário "Ler" - 1948-49 e 1952-53 - na história do PCP para se ir iluminando parte deste caso: Foi Membro do Comité Central do PCP entre 1941 e 1950, ano em que foi expulso a pretexto de uma falsa acusação de delação. ( 1918-1992)
"Observadores", ed. 1980 (foto 34). "Os paquetes que entram de manhã na barra / Trazem aos meus olhos consigo / O mistério alegre e triste de quem chega e parte." Álvaro de Campos (legenda escolhida por Fernando Piteira Santos). Os barcos são um dos interesses mais constantes de ALC, mas esta imagem do porto de Lisboa será uma excepção na sua obra, mesmo que seja também um estudo de sombras; abaixo temos a regra salonista com o estudo de reflexos e com o pescador ou marinheiro solitário
Conhecer agora o que foi ou não foi a recepção crítica do álbum de 1980 seria também oportuno. Já referi em nota anterior (4) como esse livro póstumo, em que se reuniram o que julgo serem as provas de época que ALC deixou (incluindo fotografias expostas e reproduzidas em vida, mas em especial inéditos), foi silenciado na história oficial da fotografia portuguesa (António Sena, 1998). Interessava-me também saber como o livro foi recebido e entendido em 1980, quando foi publicado pelo seu irmão Francisco Lyon de Castro (ver abaixo) e pela editora que ambos fundaram, para, como se diz numa nota de abertura do Editor, comemorar os 35 anos de existência das Publicações Europa-América e prestar uma homenagem póstuma à memória do fotógrafo. O catálogo do Museu do Chiado não fornece quanto a isso qualquer pista (existirá um dossier de imprensa nos serviços da editora?). Entretanto, sou levado a pensar que a distribuição terá sido à epoca confidencial, até por se tratar de uma publicação comemorativa e de homenagem pessoal.
Certo é que não encontro, até agora, qualquer referência publicada em 1980-1981. Nada no "Foto Jornal", mensário que se editou de Maio de 1978 a Maio de 1980 (nº 24 - já por ocasião dos 1ºs Encontros de Coimbra), nem na revista "Nova Imagem" que o continuou a partir de Julho desse ano, sempre com direcção de Pedro Foyos. Nada também num importante artigo de António Sena no "Jornal de Letras", nº 3, de 31 de Março de 1981 (pag. 30), intitulado "Ver para não crer", onde, precisamente, se propõe uma revisão das realizações fotográficas do ano de 1980 - ano em começa a afirmar-se um novo contexto da criação e da recepção fotográficas. Nada ainda noutras consultas não regulares. O enigma persiste.
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Por outro lado, é necessário contrariar as afirmações de Emília Tavares no texto "Imagens latentes" incluido no catálogo, segundo a qual ALC era um fotógrafo "praticamente desconhecido" e "cuja divulgação em vida foi muito reduzida" (pág 9 do cat.). Poderia dizer-se esquecido, ocultado, silenciado, mas o segundo juízo é errado.
"Reflexos", ed. 1980 (foto 9). "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / mas nele é que espelhou o céu." F. Pessoa
No tempo muito breve da sua apresentação pública como fotógrafo, de 1946 a 1953, ano da morte, a divulgação da sua obra foi muito intensa nos Salões e contou aí com presenças especialmente significativas - esse era o circuito normal de divulgação da fotografia de ambição artística, e o caso contemporâneo de Fernando Lemos, que já era antes conhecido como artista plástico, é uma excepção isolada e fugaz ( Galeria de Março, 1962). Só um pouco mais tarde Eduardo Harrington Sena publicaria no "Jornal do Barreiro" os seus quadros sobre a actividade dos amadores nacionais, mas Lyon de Castro tem em vida o que se poderia chamar um percurso fulgurante - claro que sem as condições de mediatização actuais: o anacronismo é aqui o maior risco interpretativo (além do desconhecimento efectivo das fontes directas).
Lyon de Castro tem também presença, mesmo que discreta, no que é a mais importante publicação fotográfica do imediato pós-guerra, o livro de Maria Lamas "As Mulheres do Meu País", editado em fascículos entre 1948 e 50. O livro - reeditado em facsimili em 2002, com melhor qualidade editorial graças a José António Flores, à editorial Caminho e ao uso de provas de época no caso das fotos da autora e de alguns outros, nomeadamente de Lyon de Castro (pelo que se pode depreender, três dos dez originais - contactos? - devem encontrar-se no espólio fotográfico de Maria Lamas e dois outros faziam parte do espólio que se conservou nas P.E.-A.) - não foi incluído na actual mostra do Museu do Chiado, e é uma omissão grave, mesmo que agora se quisesse apenas apresentar o espólio doado.
Também já fora escamoteado na citada história da fotografia portuguesa (é improvável que não fosse conhecido pelo respectivo autor). Mas a colaboração de Adelino com Maria Lamas foi antes objecto de atenção na exp. de 2009, Batalha de Sombras, também de Emília Tavares. E, aliás, já tinha sido no boletim "Ler - Informação Bibliográfica" (Publicações Europa-América, Maio-Junho 1948) que Maria Lamas anunciara a sua extraordinária aventura fotografica, iniciada aos 54-55 anos: "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa" ( ver aqui, em 2009 ) .
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Francisco Lyon de Castro (1): ver Biografia, Fundação Mário Soares (8Junho2011). Extracto onde se fala de Adelino:
FRANCISCO LYON DE CASTRO (1914 — 2004)
Francisco Lyon de Castro nasceu em Lisboa a 24 de Outubro de 1914, " ali para os lados da Estrela". Benjamim de uma família de 10 irmãos, é filho de um comerciante e pequeno industrial de madeiras de Óbidos, Adelino, e de uma dona de casa, Rosalina, e neto de avô escocês Edward Lyon, de descendência da mais distinta nobreza britânica e que viveu em Óbidos e participou na administração da construção da linha dos caminhos de Ferro do Oeste. Fez-se nas andanças da rua onde também jogava à bola com "a malta do bairro", próximo ao Cemitério dos Prazeres, mas sempre debaixo do rigor da educação materna. Aos 13 anos, fundou uma organização de solidariedade no bairro onde vivia com os pais, em Campo de Ourique, destinada a apoiar crianças pobres e promover acções culturais com os seus companheiros de bairro. Aos 14 anos, entrou para a Imprensa Nacional como aprendiz de Artes Gráficas. Aí conviveu com operários anarquistas, sindicalistas e comunistas.
Em 1932, funda o jornal Mocidade Livre, que constituía uma frente democrática de jovens operários e estudantes. O Mocidade Livre dá origem à criação da União Cultural Mocidade Livre, que realiza na Universidade Popular Portuguesa um ciclo de conferências, de que a primeira é a de Bento de Jesus Caraça («A Cultura Integral do Indivíduo — Problema Central do Nosso Tempo») e a que se seguiriam outras: de Hugo Baptista Ribeiro, de António Sequeira Zilhão e de Francisco Lyon de Castro. A conferência de B. J. C. foi publicada em brochura, impressa na gráfica da Seara Nova por solidariedade de Câmara Reis. Esta brochura era a primeira de uma série designada por «Cadernos de Vanguarda». As conferências que se seguiriam foram proibidas pela PVDE — polícia política do regime.
Em 1933, F. L. C. adere ao Partido Comunista Português, toma contacto com alguns dos seus militantes, entre eles Gabriel Pedro e Francisco Miguel, e funda uma célula para a qual alicia, entre outros amigos, Júlio de Melo Fogaça, que mais tarde veio a ser membro do Comité Central do PCP. Ainda em fins de 1933, F. L. C. participa na preparação do movimento contra a criação dos Sindicatos Nacionais (corporativos). Aquele movimento foi desencadeado em 18 de Janeiro de 1934, provocou muitas prisões, algumas em áreas da linha de Sintra, onde F. L. C. desenvolvera acções preparatórias do movimento com vista a barrar o trânsito dos comboios por altura do Cacém.
A repressão que se seguiu justificou a fuga de F. L. C para Espanha. Depois de passar clandestinamente a fronteira espanhola, instala-se em Madrid, onde estabelece contactos com organismos democráticos portugueses de emigrados e com o Partido Comunista Espanhol, onde passou a militar. Em fins de 1934 há um movimento insurreccional nas Astúrias, com repercussões em muitos pontos da Espanha, inclusive Madrid. No movimento das Astúrias há uma larga participação de mineiros, muitos dos quais se refugiam em Madrid. F. L. C. trabalha então com organizações comunistas para apoio aos mineiros. A uma delas preside Dolores Ibarruri, a Passionária com quem colaborou. Procuram instalar os mineiros que se refugiaram em Madrid e organizam a sua passagem clandestina para França.
É em Madrid que F. L. C. conhece pessoalmente Francisco Paula de Oliveira (Pavel), então um dos dirigentes das organizações comunistas portuguesas. Toma também contacto com outros opositores ao regime português, incluindo entre eles o chamado grupo Budas, e alicia Joaquim Pires Jorge para a célula que já havia constituído. É neste período que F. L. C. frequenta com assiduidade o famoso Ateneo de Madrid, onde conhece, e ouve em conferências, muitos intelectuais e políticos republicanos e socialistas. António Machado, Lorca, Rafael Alberti, Manuel Azaña, foi gente com quem privou. Sobrevivia precariamente graças ao apoio que alguns camaradas da Imprensa Nacional lhe faziam chegar e da venda ambulante.
Em 1935, durante o Congresso da Juventude Comunista Espanhola, F. L. C. organiza com um grupo de refugiados políticos portugueses uma exposição com material de propaganda das organizações comunistas portuguesas, do Socorro Vermelho Internacional e de jornais de prisão, que mais tarde, em Paris, cede ao jornal Monde, dirigido por Henri Barbusse, a quem faz a entrega pessoal dos jornais de prisão para se divulgar a luta em Portugal contra o regime de Salazar.
Passa clandestinamente para França, a pé, pela montanha, durante 80 km, em pleno Inverno, em condições muito difíceis. Esta «aventura» bem como outras partes da vida de F.L.C. veio a ser romanceada por Fernando Namora em "Os Clandestinos". Ainda em 1935, em Paris, desenvolve actividade em organismos democráticos e de solidariedade, particularmente entre operários portugueses residentes nos arredores de Paris, organizando sessões de esclarecimento com vistas à preparação política e sindical dos trabalhadores portugueses. Estudou Trotsky mas afirmava que aquele não o tinha influenciado. Em 1935, recebe de Francisco Paula de Oliveira, então em Moscovo, uma carta a considerar que F. L. C., em vez de ir para Moscovo, deve regressar a Portugal, onde há a luta.
F. L. C. responde ao seu jeito característico que a luta também não é em Moscovo mas obedece
e regressa a Portugal. Pouco depois, foi preso. Esteve vários meses incomunicável em esquadras da PSP e depois no Aljube, Peniche e Caxias. Apanhou "grandes tareias", como ele dizia, sofreu a tortura do sono. F. L. C. foi julgado no Tribunal Militar Especial e condenado a quatro anos de desterro. É deportado para os Açores e cumpre a pena na Fortaleza de S. João Baptista em Angra do Heroísmo.
Em 1939, estando ainda preso em Angra do Heroísmo, toma conhecimento do Pacto Germano-Soviético e revoltado com a ligação da URSS a Hitler, decide abandonar o PCP. Nessa altura decidiu também, nunca mais se submeter a estruturas partidárias.
Casa, entretanto, por procuração, com a namorada, Eunice, filha de um pastor protestante e maçon. Eunice, catrapiscara-a anos antes nas suas idas a uma Igreja Protestante, a Igreja de Jesus então existente na rua 4 de Infantaria em Campo de Ourique. Era aí que ele levava jovens amigos e conhecidos porque o Pastor apoiava acções culturais e sociais junto de crianças e jovens mais desfavorecidos.
Foi posto em liberdade em 1940, depois de ter estado preso durante cerca de cinco anos e durante um deles de castigo nas "portas falsas" e na terrível poterna do forte de Angra. Aí arranjou uma doença renal de que nunca recuperou totalmente.
Quando regressou quis voltar ao seu trabalho na Imprensa Nacional mas isso foi-lhe recusado. Pediu auxilio ao Pai e durante cinco anos com ele trabalhou na pequena empresa familiar de negócios de madeiras. Nunca se esqueceu do apoio que então lhe deu um Administrador dos Caminhos de Ferro, um tal Leite Pinto que, embora sabendo do seu percurso político, acreditou mais na sua capacidade de trabalho, de organização e na promessa de cumprimento de prazos. A Europa estava em guerra e Portugal para ter os comboios a circular dependia dramaticamente da lenha que fosse possível arranjar. F.L.C. percorreu todo o país, organizou equipas de madeireiros, inventou transportes, improvisou pontes e caminhos e como ele costumava dizer, "entregou a carta a Garcia". O tal Leite Pinto mais tarde, nos anos 50, veio a ser o Ministro de Educação Leite Pinto.
No final da II Grande Guerra, logo em Maio de 1945, F. L. C. considera que é chegado o momento de explorar acções legais, apesar de o regime de Salazar se manter. Com o pouco dinheiro que tinha organiza com seu irmão, Adelino Lyon de Castro, a Editora Publicações Europa-América, que se propõe, além da actividade editorial, realizar a importação de livros e publicações periódicas estrangeiras. As importações fazem-se sobretudo de França, mas a maior parte delas é apreendida nos serviços dos Correios, que colaboram com a PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) e com os Serviços da Censura. Como a importação estava a levá-lo à ruína começa a editar. Um dos primeiros livros que publica é "A Centelha da Vida"de Erich Maria Remarque. O seu tradutor é um jovem, de nome José Saramago.
Entretanto em Junho de 1945, nasce o filho Tito.
Em 1952, F. L. C. funda o jornal "Ler", para o qual chama a colaborar Fernando Piteira Santos. Apesar de ter a colaboração de um vasto leque de intelectuais de todas as tendências, foi objecto da intervenção permanente da Censura, que, em 1953, o proibiu, sob o pretexto de que Adelino Lyon de Castro, editor do Ler, havia falecido. Também o PCP combateu o jornal porque tal como ao Regime não lhe agradava a sua independência. Nomes como João José Cochofel, Cardoso Pires, Maria Lamas, Mário Dionísio, Nuno Teotónio Pereira, António Quadros (filho de António Ferro), Delfim Santos, José Régio, Orlando Ribeiro, Tomás Ribas. É pouco depois do falecimento de Adelino Lyon de Castro que a esposa de F. L. C, Eunice, entra para sócia da Europa-América."
(É uma versão soft do conflito SNI-Ler-PCP, de que se falará depois.)
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No total das 70 imagens publicadas em "O Mundo da Minha Objectiva", de Adelino Lyon de Castro, ed. 1980 (póstuma), existem só duas fotos que podem associar-se com exactidão ao tema Fardo (uma delas tem mesmo este título), mas igualmente ao tema Força, que está muito mais presente:
1
"Mulher sem Nome" (ed. 1980, foto 43) - carregar na imagem para ampliar (ver notas)
2
"O Fardo" (ed. 1980, foto 58) - No cat. de 2011 ver o Nº 14, pág. 34-35 (Sem título [Descarregador], versão A (prova actual um pouco reenquadrada e com pouco contraste do preto e branco) e versão B (reprodução cortada em altura de um contacto com marcas de enquadramento pelo autor); ver também a imagem do site, conforme o negativo 6 x 6 - abaixo)
#
A foto 1 pode ser vista em ligação com a foto 3
"Almoço na areia" (ed. 1980, foto 42) (Nota 3)
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Como as palavras podem não ser um fardo, transcrevem-se os poemas que Fernando Piteira Santos, prefaciador da ed. 1980, camarada político dos anos 40/50 e colaborador do jornal "Ler" (1948,1953), um intérprete privilegiado, escolheu para acompanhar as imagens:
Por ordem de publicação em 1980:
Foto 3: "O meu sabor é diferente. / Provo-me e saibo-me a sal. / Não se nasce impunemente / Nas praias de Portugal." António Gedeão
Foto 1: "Quando te sentires perdida, / fecha os olhos e sorri. Não tenhas medo da vida, / Que a vida vive por si." António Gedeão
Foto 2: "Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas! / Que vida tão custosa! Que diabo!" Cesário Verde
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Nota 1: Agradece-se a identificação da praia, que será fácil graças à construção sobre as rochas. É no Norte, arredores do Porto. Nota 2: como sugere o poema, o rosto da mulher exibe o esforço e um sorriso. Nota 3: Não está presente na exposição e no catálogo do Museu do Chiado
imagem visível no site do Museu , conforme o negativo 6 x 6 ("Adelino Lyon de Castro, Sem Título, 1945-1953 / Prova fotográfica actual Piezoelectric em papel Fine Art Epson, a partir de negativo original 6x6 cm, em gelatina sal de prata / MNAC-Museu do Chiado, inv. 3147, Doação Tito Lyon de Castro em 2009")
A propósito: ALC usa raramente o formato quadrado nas suas provas; o negativo 6 x 6 é quase sempre objecto de reenquadramentos. São escassos os "fardos" e os quadrados
(Ver Índice Adelino Lyon de Castro, desde 2008)
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Infelizmente, está (quase) tudo errado na exposição e no catálogo do Museu do Chiado. Vejam-se alguns exemplos, começando pelo mais importante, as imagens mostradas.
Três exemplos, logo das primeiras fotografias expostas e páginas publicadas, confrontando o que se apresenta agora como sendo de Adelino Lyon de Castro, mas não é, com as provas publicadas em 1980 em "O Mundo da Minha Objectiva", que, pelo que julgo, deveremos considerar como provas de autor e de época.
Primeiro o "fake" (falso) inventado agora, depois a fotografia de Adelino Lyon de Castro:
1
nº 6, sem título, pág. 27 B (2011)
não numerado - f. 57 - numeração minha)
O negativo usado nos dois casos não é o mesmo, mas foi o 2º o que ALC escolheu. O negativo integral não importa senão como prova de trabalho para o autor-artista tomar decisões quanto à impressão que lhe interessa. Etc.
2
nº 5, sem título, pág. 27 A (2011)
O negativo será aqui o mesmo, mas só a 2ª prova é de ALC. Ele é um fotógrafo que toma decisões no momento (1) da tomada de vistas (mais de que um momento é uma situação, com diversos e variados disparos), (2) na selecção dos negativos e (3) quanto às maneiras de imprimir (reenquadrar e trabalhar os contrastes de luz) - em alguns casos subsistem diferentes impressões dos mesmos negativos. Não podem ser retiradas ao autor as fase 2 e 3 das suas fotografias, realizadas no laboratório, e atribuir-lhe como fotografias suas as que não escolheu e imprimiu.
3
nº 5, sem título, pág. 28 (2011)
Nos degraus da escola (ed. 1980 - foto 2)
Também neste caso, como é óbvio, não se trata do mesmo negativo (aqui rectangular). O lugar é o mesmo, e a hora do dia será quase a mesma, os modelos são outros. Só a imagem de baixo é uma fotografia de Adelino Lyon de Castro e é, por sinal, bem representativa de muitos dos seus interesses: a leitura, a escola, as crianças, os grupos - e, como diria o crítico, o interesse por explorar os ambientes lumínicos e salientar a composição.
Exposição e catálogo mostram outra versão próxima que só servirá para entender o modo de trabalho de ALC: emprego de modelos, pose, procura das melhores realizações de um conceito prévio.
nº 1, sem título, pág. 26 A (2011)
Questão: porque se exibem más fotografias que não são da autoria de Adelino Lyon de Castro? Questão 2: se não se tem acesso às provas de autor, porque não se reimprimem a partir dos negativos que subsistem provas modernas fieis às impressões de época (acedendo às provas positivas originais de "O Mundo da Minha Objectiva", de 1980, ou, se tal não é possível, usando-as como referência - considerando eu, até prova em contrário, que aí foram usadas provas de época).
#
Nota pessoal: em 2009 elogiei quanto pude uma anterior exposição do Museu do Chiado (apresentada no Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira) comissariada também por Emília Tavares ("Batalha de sombras"). Agora não é possível.
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Depois de visto o catálogo da exp. do Museu do Chiado, e revistas as notas anteriores (e alinhadas de 1 a 4...), mais se confirma a ideia de que a obra de Adelino Lyon de Castro, o seu esquecimento e a revalorização/reconsideração recente (desde 2008/2009), e em geral a sua fortuna crítica ou falta dela, poderiam tomar-se como um caso de estudo.
É curioso que se diga que "a sua actividade como fotógrafo era (em 2009) praticamente desconhecida", pág. 9, e logo adiante, pág. 15, se precise que "embora as referências não sejam abundantes, as que existem evidenciam um fotógrafo amador com actividade regular nos principais salões fotográficos da época e com reconhecimento firmado, entre os seus pares, da sua actividade e do seu trabalho". O desconhecimento é geral sobre a fotografia e a sua história, feita por amadores ou por profissionais, com excepções isoladas que decorrem das pontuais operações de reavaliação ou revelação de obras ocultas. Em geral, e desde os anos 1930, não se conhece uma história, descobrem-se casos (sempre desconhecidos). Tudo continua a passar-se entre "pares" tendencialmente estanques (os vários meios da fotografia, os meios da arte, os críticos, etc). Entre reconhecimentos pelos pares e ignorância dos públicos.
Sem destino (O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, 1980 - foto 25)
Colocando em confronto as duas publicações póstumas dedicadas à obra de Lyon de Castro, em 1980 (O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA) e em 2011 (O FARDO DAS IMAGENS), é a mais antiga que me parece representar melhor a sua obra de fotógrafo. O que me autoriza a prever que o desconhecimento que a seu respeito reinava em 2009 se vai re-instalar rapidamente ou, melhor, mantem-se de facto por inteiro, apesar de agora se somar ao livro uma exposição de museu, mas onde aquilo para que se olha não pode ver-se.
Por um lado, é certo que o livro de 1980 (um livro de homenagem que terá tido uma difusão talvez confidencial) reproduz provas impressas pelo fotógrafo ou sob a sua direcção, a partir da decisão tomada pelo próprio sobre quais os seus negativos e contactos dignos de impressão ampliada, sendo as 70 imagens reproduzidas no livro (conformes com os formatos decididos pelo autor) escolhidas por pessoas que lhe foram próximas e conheceram o seu itinerário e os seus interesses e gostos. Sem sabermos o que a escolha final deixou de parte (por falta de sobras significativas no espólio), é provável que se tratasse de uma selecção próxima de uma auto-antologia - ainda que no início dos anos 50 fosse improvável um projecto de edição de um álbum próprio. E mesmo que o fotógrafo fosse também editor. Há por aí enigmas que talvez fiquem para sempre por esclarecer, devido à morte por doença em 1953, certamente uma doença fatal de rápida evolução.
A exposição-edição de 2011 resulta de um exercício de impressão de inéditos ("integra cerca de 70 fotografias inéditas", apresentação, pág. 5), substituindo-se ao autor-fotógrafo o comissário-intérprete, o qual se considera legitimado por improváveis argumentos. É certamente absurdo, desde logo, que face a um autor vítima do desconhecimento actual se opte por apresentar inéditos não escolhidos pelo próprio em vez de dar a conhecer as fotografias que escolheu, imprimiu, expôs e publicou em vida. A confusão entre uma fotografia (impressa ou reproduzida) e um negativo (que pode ser escolhido e impresso em diferentes formatos e com diferentes opções de luz e contraste, como uma partitura a interpretar - ou que pode ser rejeitado pelo autor) é péssimo vício e uma prática comum.
Edílio (O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, 1980 - foto 23)
"O que se desvenda num espólio, cuja maior parte permaneceu não divulgada pelo próprio fotógrafo, insere-se sempre numa lógica de interpretação (...)", pág. 9-10 [em fotografia, os negativos não impressos são sempre em número muitíssimamente superior aos escolhidos, por exemplo por se repetirem os disparos de diferentes pontos de vista; o uso dessa lógica de interpretação é em muitos casos inviabilizado pelos fotógrafos que destroem os restos não escolhidos ou pelos que deixam proibidos tais usos - noutros casos, a produção de inéditos póstumos tem dado origem a polémicas sérias e também a perigosos oportunismos.] Adiante: "O que permaneceu apenas como negativo constitui matéria tão (ou mais) importante como a que foi impressa e divulgada, e a história dessas escolhas ou ausência delas é frequentemente a história de aspectos mais abrangentes e definidores duma época e não apenas dum autor." (pág. 10) A frase está correcta se o sujeito que escolhe ou não imprimir e divulgar é o respectivo autor dos negativos; a substituição por um intérprete auto-nomeado do que devia ser oconhecimento do que um autor escolheu imprimir e divulgar pela revelação do que aquele considera que o autor devia ter escolhido é um exercício de recriação interpretativa e autoral que exige a comparação com a produção original e com outras diferentes recriações para que se avalie a sua justeza ou arbitrariedade. A lógica da interpretação não pode substituir-se à "lógica" da apresentação e do conhecimento da matéria original, que é aqui a prova de época.
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Antes de pôr em confronto os materiais de 1980 e os de 2011, a interpretação de 2011 e os originais de 1980 (possíveis ou relativos originais, não acompanhados pelo autor), as interpretações alheias de "inéditos póstumos" de 2011 e os "originais póstumos" de 1980, vale a pena rever a interpretação que está presente na ainda única e cada vez mais inverosímil história da fotografia portuguesa, a de António Sena (Porto Editora, 1998).
Na pág. 261, duas fotografias de Lyon de Castro (que não é identificado), Ex-Homens e Sem Destino, apontam-se como títulos enfáticos ou redundantes, entre outros, que se aliam a dois estereótipos de imagens com curso predominante nas associações fotográficas: as que salientavam os ambientes lumínicos e as que salientavam a composição - estes dependentes do "culto da Rollei" (referência ao Foto-clube 6 x 6). Nada a contestar, Adelino Lyon de Castro cumpria as regras correntes da prática salonista, mas substituia o seu formalismo "estéril" por uma "visão humana", pela vontade de uma intervenção "humanista". E fazia-o com um êxito e um reconhecimento raro - daí a sua importância. A rejeição de ALC, não identificado, é aqui caricatural e feita com má fé.
Nas pág. 271, ignora-se a presença de Lyon de Castro na V Exposição Geral de Artes Plásticas (1950) ao lado de Francisco Keil do Amaral, que é por si mesma um acontecimento de grande significado, mesmo sem consequências explícitas. Aí, ALC volta a expor Ex-Homens, o mesmo título enfático agora testado noutro contexto cultural e político. Mas AS confunde-se e inventa a presença de Keil do Amaral e Vitor Palla na VIII EGAP, 1954, que não incluiu sector de fotografia. Por outro lado, ignora por completo a publicação de As Mulheres do meu País de Maria Lamas em 1948-50, uma obra que por si só desautorisaria o título do capítulo VII, "A revolta silenciosa da intimidade". Nada disto é ocasional - aqui pratica-se a omissão, a ocultação (daí o lapso, a troca das EGAP).
A seguir, na pág 272, Adelino é citado de forma intencionalmente ambígua. "No universo restrito dos Concursos e Salões, os equívocos sucediam-se, apesar da qualidade - quase sempre miserabilista - de alguns trabalhos isolados de Fernando Vicente, Tavares da Fonseca, Adelino Lyon de Castro (?-1953) e, sobretudo, Augusto Cabrita (...)" Qualidade equívoca e miserabilista... seria caso para explorar tão raras excepções à mediocridade ambiente. Mas AS ignora até as datas relativas à vida de Adelino, embora na bibliografia geral refira o livro de 1980 (e só o faça aí, pág. 408), onde elas se indicam logo após a página do título. Novo lapso. Entretanto, deve saber-se que Concursos e Salões eram os lugares habituais e quase únicos da exposição da fotografia, e também das outras artes, não podendo ser desvalorizados pos si mesmo, até que a fotografia de exposição se estabeleça muito lentamente noutros circuitos de visibilidade.
Não é de desconhecimento que se trata, é de silenciamento interpretativo. ALC fica mais dez anos por descobrir, de 1998 até 2008.
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Para além do que se mostra no Museu do Chiado, há várias coisas que se podem ou devem conhecer sobre a produção fotográfica de Adelino Lyon de Castro:
1 - A lista de títulos de fotografias apresentadas em Salões que vão de 1946 a 1952/aliás, até 1954* (de facto, segundo refere Emília Tavares no catálogo do Chiado, ALC esteve representado no Salão do Grémio em 1953 e tb em 1954 a título póstumo*).
Conhecemos pelos catálogos dos Salões vários títulos que podemos associar a provas referenciadas noutros lugares, mas para muitos outros não dispomos de ilustrações associadas. Com a excepção provável de uma só fotografia - Barros e sombras - publicada em 1949 no catálogo do 11º Salão Internacional de Arte Fotográfica, organizado pelo Grémio Português de Fotografia - Secção da Sociedade Propaganda de Portugal (Touring Club) - que se apresentou na Sociedade Nacional de Belas Artes e no Clube dos Fenianos Portuenses. Incluo entre os Salões, a V Exposição Geral de Artes Plásticas (também na SNBA), que no ano de 1950 contou com uma secção de Fotografia - Francisco Keil do Amaral foi o outro ilustre participante, mas comparecem também Manuel Peres e Rodrigo de Vilhena.
Barros e sombras (rep. catálogo do 9º Salão do GPF, 1949)
Um número reduzido de fotografias mostradas em Salões pode ser identificada associando-se o título indicado a uma reprodução posterior, nomeadamente no livro monográfico de 1980 O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA. É o caso da foto intitulada Ex-Homens, que acompanhou um artigo "In memorian" publicado em 1956 no Boletim do Foto Clube 6x6 e que é a sua imagem mais exposta e mais emblemática.
Deve notar-se, porém, que as mesmas fotografias foram por vezes expostas sob diferentes títulos em diferentes salões, e que, noutros casos, fotos de Adelino Lyon de Castro foram atribuídas a diferentes autores: ao irmão Francisco, que não seria praticante, e ao sobrinho Tito, à data uma criança pequena. Eram práticas então correntes aos salonistas. Surgem também provas impressas em diferentes formatos, quadrado ou rectangular, a partir do mesmo negativo.
2 - Além da imagem publicada no catálogo do 11º Salão, as outras fotografias que conheço como publicadas em vida do autor são 10 ilustrações do livro de Maria Lamas, AS MULHERES DO MEU PAÍS, 1948-1950 (edição em fascículos sob a chancela Actualis; reed. Caminho 2002), o qual constitui um grande acontecimento editorial e fotográfico insuficientemente divulgado. Aparecem atribuidas na 1ª edição a A. Lyon de Castro e depois, em 2002, a Alberto Lyon de Castro (!), sendo acompanhados por legendas descritivas da autoria de Maria Lamas.
Três delas vieram a ser publicadas na referida monografia de 1980, duas com títulos diferentes que se indicam a seguir, e essas mesmas duas (uma delas é uma variante...) estão agora expostas no Museu do Chiado em diferentes provas. São todas elas publicadas nos fascículos finais, portanto em 1949 e 1950, e não parecem corresponder a fotografias apresentadas em Salões (a confirmar).
pág 353, Mulheres de Buarcos
pág. 358 - Os barcos partem para a pesca do bacalhau... (formato quadrado) / 1980: Hora da partida (rectângulo ao alto, pormenor) / 2011, Museu do Chiado nº 42, exposta outra versão próxima, negativo integral
360 - A vida das mulheres dos pescadores da Costa da Caparica...
392 - Descarga de areia nos cais de Lisboa...
393 - A carregadora do cais... (Lisboa)
395 - Habitação improvisada num velho barco do Cais do Sodré...
410 - "Ensaboadeira" de Coimbra, na volta do rio , depois de um dia de trabalho...
412 - Vendedeiras de peixe, no Porto / 1980: Peixeiras
414 - Lavadeiras do Mondego /1980: idem / Exposta no Chiado, nº 30, idem, vintage, cortada no cat.
420 - Descarga de molhos de mato, num cais do Mondego, em Coimbra...
Outras fotografias, relativas aos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsínquia, a que assistiu como foto-reporter, terão sido publicadas à epoca em jornais desportivos.
Vendedeiras de peixe, no Porto (rep. As Mulheres do Meu País, negativo integral) / rep. em 1980 como Peixeiras em formato rectangular, com o corte das figuras e sombras em cima (foto 36 da ed. 1980)
Nem os catálogos dos Salões (em especial o de 1949) nem o livro de Maria Lamas se mostram na exposição do Chiado, apesar de que tal apresentação facultaria uma contextualização significativa do autor na sua época. O livro de 1980, ed. Publicações Europa-América, encontra-se numa vitrine, vendo-se apenas a capa não ilustrada.
3 - Um terceiro conjunto de fotografias - 70 no total - foi publicado em 1980 em O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, seguramente a partir de provas de época (ver NOTA 1), com títulos atribuídos pelo autor, mas sem datas (e sem numeração das páginas ou das fotos). O volume não inclui qualquer informação sobre as exposições em que o autor participou, agrupamentos fotográficos, prémios, etc - apenas as datas de vida e morte, 1910-1953. Entre as 8 (ou 9?) provas de época que são expostas no Museu do Chiado (e apenas 7 são reproduzidas no catálogo*), encontram-se só quatro que correspondem a fotografias editadas naquele volume, embora a partir de diferentes provas:
Ex-Homens, 1946 (exposta pela 1ª vez em 1946, no 9º Salão do Grémio; exposta em 1950 na V EGAP e certamente no 1º Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro, 1950, sob o título Vagabundos, a que foi atribuído o Grande Prémio), rep. em 1956 no Boletim 6x6, rep. em 1980 - foto 56. Nº 52 do cat. do Chiado*
Sem destino (1950-53, MChiado, MC - nº 54 do cat., dat. 1953*), rep. 1980 - foto 25
Lavadeiras do Mondego (1948, MC - nº 30 do cat., versão rectangular*), rep. As Mulheres... 1949/50 , rep. 1980 - foto 6
Os Meninos e as redes (1951, MC, não emoldurada em vitrina - nº 63 do cat.*), exposta no 14º Salão do GPF em 1951, rep. 1980 - foto 20
entre outras provas de autor também expostas:
Ala-Arriba (1950-53 - nº 22 do cat., dat. 1950*), foto da mesma série (e outro ângulo) da que se intitula Esforço no livro de 1980 . foto 37
Foto intitulada Esforço no livro de 1980 (foto 37) - uma outra prova de grande formato (páginas iniciais vista com retrato de Francisco Lyon de Castro) reduz substancialmente a área do céu com núvens. O que na exp. do Chiado se mostra como Ala-arriba corresponde a um outro ponto de vista da mesma cena, revelando que não se trata de instantâneos mas de poses
Esforço (1946, MC - nº 21 do cat.* - o mesmo título atribuído a outra imagem)
Contra~luz (1950-53, MC - nº 43 do cat. dat. 1945-53* - não identificada no livro de 1980)
Sem título (corpo de atleta contra-luz), não emoldurada.
4 - A pesquisa da fortuna crítica do autor, ou do silêncio que o envolveu, é outra abordagem necessária.
* e em itál.: Adendas em 4 Junho 2011
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A exposição do Museu do Chiado e o livro editado em 1980 sobre a obra fotográfica de Adelino Lyon de Castro (O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, um livro póstumo). A questão das provas de autor e das impressões modernas. Os inéditos póstumos.
A relação entre as provas de época ou de autor e as impressões modernas inclina-se esmagadoramente para as segundas na exposição apresentada pelo Museu do Chiado: é uma exposição maioritariamente constituída por inéditos póstumos.
O acervo da obra de Adelino Lyon de Castro cedido ao Museu não inclui, pelo que se depreende, o conjunto das provas positivas de época publicadas em 1980 no volume O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, que constitui certamente a base para uma mais fiável aproximação ao universo criativo do autor. Essa colecção de provas originais não se encontrava na mala de cabedal que continha o seu espólio fotográfico quando o pude consultar em Julho de 2008 nas instalações das Publicações Europa-América. Elas existem mas certamente não foram (ainda) doadas ou não foram cedidas ao Museu (terão sido solicitadas?).
Na actual mostra (que é seguramente a sua primeira exposição individual ou monográfica) optou-se por expor um grande número de impressões realizadas para esta oportunidade, distinguindo-as das provas de época pela cor das molduras e dos passepartouts (pretos os das provas recentes) - não se indica se as provas actuais foram realizadas a partir de negativos que já tivessem sido previamente impressos pelo autor (fotografias expostas e/ou reproduzidas) ou que se encontrassem escolhidos/assinalados (aprovados) por ele. Tratar-se-á em geral de "inéditos" - o que coloca sempre a questão de se saber se são inéditos escolhidos e desejados pelo autor, ou "inéditos" involuntários e mesmo indesejados. Certamente a respectiva escolha é da autora da exposição, Emília Tavares.
Aquele livro, publicado 27 anos depois da morte do autor, 1953, não inclui a indicação de um responsável editorial, nem esclarece quais os critérios utilizados, incluindo apenas, além de uma sumária nota biográfica, um prefácio de Fernando Piteira Santos - "Adelino Lyon de Castro - um poeta das imagens" -, o qual constitui uma apresentação e um ensaio de reflexão sobre a sua obra, assinado por um contemporâneo, cúmplice cultural e político, de quem não conheço outras abordagens à fotografia. As 70 reproduções de página inteira são acompanhadas por excertos de poemas ou breves textos alusivos.**
Pode depreender-se que nesse livro 1 - se reproduziram apenas provas positivas deixadas pelo autor; 2 - os formatos quadrados e rectangulares são os das provas impressas originais ( obtidas a partir de negativos quadrados 6 x 6 e rectangulares); 3 - os títulos atribuídos são (sempre?) da autoria de Adelino L.C.. Não há qualquer razão para supor que o livro (escolha das fotos, ordenação e associação a poemas - essa colagem literária foi pedida pelo editor a Fernando Piteira Santos - ver prefácio de Tito L.C. ao cat. de 2011**) corresponda a um projecto iniciado ou previsto pelo fotógrafo, que este tivesse deixado preparado ou delineado, quando morreu com 43 anos. As fotos nunca são datadas nem são acompanhadas por qualquer referência informativa (publicações, concursos, etc).
"O regresso da escola" (ed. 1980 - foto 15 - com a frase "Na sacola, os livros, no peito, os sonhos - / tão grandes como o vasto mundo a conquistar.", não atribuída: F.P.S. ?)
As crianças, a ida para a escola ou o regresso, as crianças a ler, a brincar ou a pescar (juntando o tema das crianças e o da beira mar ou rio, os dois mais numerosos), e ainda os casais "românticos" , têm uma larga presença no livro.
** No catálogo, um breve prefácio de Tito Lyon de Castro, sobrinho do fotógrafo, refere a propósito do livro de 1980 que a Fernando Piteira Santos "foi pedida uma frase que sublinhasse cada imagem e uma nota introdutória". Essas frases são em geral extractos de poemas. Esclarecem-se assim parte das responsabilidades editoriais, e os títulos serão os atribuídos pelo fotógrafo.
"Francisco Lyon de Castro reuniu num livro uma colecção de fotografias do Tio Adelino" tem um sentido menos preciso. Reuniu uma colecção não significa fazer uma escolha - se não for localizado nas PE-A outro conjunto de fotografias que se possam entender como provas deixadas de lado, como uma segunda escolha, o livro reuniu praticamente todas as provas positivas deixadas por Adelino Lyon de Castro. Na mala de cabedal existiam apenas algumas variantes das fotografias reproduzidas, por vezes em provas de exposição com referências aos salões onde estiveram - além dos negativos e das provas de contacto. 4Jun.
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"Adelino Lyon de Castro, O fotógrafo cúmplice", por Lucinda Canelas, no Público de hoje (11 de Abril), é uma aproximação à exposição de um fotógrafo quase sempre ocultado, esquecido, mas não ignorado, agora exposto no Museu do Chiado. Atenção: ainda está à venda (na Wook, por exemplo) o livro que o homenageou e antologiou em 1980, com prefácio de Fernando Piteira Santos: O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA. Não é referido no artigo, o que é um exemplo de desinformação. É pena, porque é um artigo esforçado e bem escrito. (ver extractos abaixo)
Já agora, a primeira frase é um erro: "Adelino Lyon de Castro não é um fotógrafo neo-realista." Nenhum fotógrafo se reconheceu ou foi reconhecido no seu tempo como neo-realista, pelo que sei. A "central" neo-realista (?), se existisse, não tinha secção de fotografia, mas isso não é hoje o que mais importa. Além de que valorizar o "humanismo", o "interesse humano", a "visão humana", como então se dizia, era o mesmo que falar em neo-realismo. O seu "In memoriam" escrito por Manuel Ruas no Boletim do Foto Club 6x6, em 1956, é muitíssimo claro.
Fica então aqui o artigo do neo-realista Manuel Ruas (um homem do cinema) sobre o neo-realista Adelino Lyon de Castro, publicado (três anos depois da sua morte) no Boletim do Foto Clube 6 x 6, nº 3, de Nov.-Dez. de 1956. (O Foto Clube era salonista..., formalista, se se quiser, e não neo-realista, mas Manuel Ruas era à data o seu editor.)
ou, com a ilustração, "Ex-Homens", a mais exposta, mais emblemática, mais reproduzida foto de A.L.C., desde 1946.
Para a justificação de entender A.L.C. como neo-realista pode ler-se em especial:
http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2011/03/cuf.html
também em: http://www.scribd.com/doc/51430537/O-neo-realismo-na-fotografia-portuguesa-1945-%E2%80%93-1963
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"Adelino Lyon de Castro O fotógrafo cúmplice" (EXTRACTOS)
Por Lucinda Canelas, Público, 11 Abril 2011
Adelino Lyon de Castro não é um fotógrafo neo-realista. Mas quem, olhando para as suas imagens, se lembra de escritores como Alves Redol ou Carlos de Oliveira e não é um especialista na fotografia portuguesa dos anos de 1940 e 1950 pode facilmente deixar-se enganar. "A componente realista está lá, mas a sua abordagem é sobretudo humanista porque ele faz uma fotografia muito próxima das pessoas", diz Emília Tavares, comissária d"O Fardo das Imagens (1945-1943), a nova exposição do Museu do Chiado, em Lisboa.
(...) Mergulhar neste espólio que está aberto a investigadores e críticos, sublinha a comissária e conservadora do Museu do Chiado, permitiu identificar os temas dominantes da sua fotografia e perceber até que ponto ela pode ser vista como uma forma de resistência ao Estado Novo.
"O elemento diferenciador da fotografia de Adelino Lyon de Castro é a atenção e o cuidado que ele dedica ao tema do trabalho. Outros fotógrafos seus contemporâneos tratam dele, mas de forma mais esporádica, menos latente", explica Emília Tavares. "E esse tratamento mais intenso é um reflexo ideológico. Ele mostra o que a fotografia do regime procura esconder." Estão lá as crianças descalças e os trabalhadores "à jorna" que, apesar de tudo, insistem em ler, aparentemente para defender que a educação e a cultura eram um desejo do povo e podiam estar ao seu alcance e não apenas das elites. Estão lá os estivadores no porto ou os homens do campo, fisicamente deformados pelo peso das sacas que carregam aos ombros. Estão lá os pedintes e outros excluídos que Salazar se esforçava por confinar aos asilos do Estado ou das misericórdias, dizendo que a mendicidade não passava de um vício.
O título da exposição - O Fardo das Imagens - não decorre apenas da profusão de exemplares de homens e mulheres carregando cestos, tabuleiros e outros pesos que a comissária encontrou no conjunto que Tito Lyon de Castro doou ao museu. É sobretudo o resultado da leitura que deles é feita por Emília Tavares: "Estes corpos vergados pelo trabalho não ficam apenas disformes pelo esforço. É também a sua condição social de exclusão que os marca, que os transforma. Mas estas imagens, algumas delas quase épicas, são, ao mesmo tempo, de uma imensa dignidade, como se Adelino Lyon de Castro quisesse com elas mostrar que transportar um fardo aos ombros era uma forma de combater essa exclusão, uma maneira de resistir. (...)
Humanismo do pós-guerra
(...) "Nos seus excluídos há um grande abandono, um imenso desalento, uma angústia existencial... São fotografias com uma grande carga emocional, mas muito ricas do ponto de vista formal e ideológico", diz Tavares. "Têm tudo a ver com o grande movimento humanista da fotografia do pós-guerra.
(...) A comissária, que chegou a pensar chamar à exposição Imagens para uma Romântica Revolução, não deixa de sublinhar "a realidade poetizada" de fotografias como Lavadeiras do Mondego ou Ex-Homens, explicando que havia por parte destes fotógrafos que se opunham ao regime um desejo de aproximação ao povo que acaba por se cumprir sobretudo num sentido: "A fotografia sempre foi de difícil assimilação e marginal. Mário Dionísio escrevia já sobre a possibilidade do olhar do fotógrafo alterar a própria realidade, mas isso era difícil de explicar à população em geral, que não sabia ler. Na utilização da fotografia como veículo de propaganda ideológica, o Estado Novo foi muitíssimo mais eficaz do que os seus opositores." (...)
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É com muita curiosidade que aguardo a exposição dedicada pelo Museu do Chiado e por Emília Tavares a um fotógrafo esquecido, cuja obra abre pistas para muitas questões relativas aos anos 40/50 e às revisões históricas que antes se fizeram ou não.
1 - Em Julho de 2008 tive a sorte de poder abrir e explorar (demasiado rapidamente) uma mala de cabedal onde se conservava o seu espólio na sede das Publicações Europa-América, que tinha fundado com o seu irmão Francisco Lyon de Castro, em 1945. Conhecia há muito tempo o livro O MUNDO DA MINHA OBJECTIVA, editado em 1980, a que não se (?) atribuira importância à epoca, e também uma grande ampliação da fotografia "Esforço" (rep. em O Mundo...: um barco na praia transportado por pescadores) que ocupava lugar destacado no escritório do editor.
A obra de Adelino Lyon de Castro (1910-1953) abria portas para revisitar o salonismo das décadas de 40/50 e interrogar a existência do que se poderia chamar a fotografia neo-realista portuguesa, que tem na sua obra e em AS MULHERES DO MEU PAÍS de Maria Lamas, em que colaborou, os exemplos principais. A pesquisa orientou-se para a comunicação num congresso no Barreiro depois publicada no livro INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autrónoma de Lisboa, 2010 (o colóquio teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008, e a intervenção constou do Painel 4 - Do Realismo ao Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa: ver aqui "O neo-realismo na fotografia portuguesa"). As primeiras impressões e alguns documentos sobre ALC foram sendo publicadas antes, desde 20 Julho 2008, em Adelino Lyon de Castro I-III, etc
2 - A exposição "BATALHA DE SOMBRAS" - COLECÇÃO DE FOTOGRAFIA PORTUGUESA DOS ANOS 50 DO MUSEU DO CHIADO mostrada no MUSEU DO NEO-REALISMO - VILA FRANCA DE XIRA, de 7 de Março a 14 de Junho de 2009, constituiu a primeira leitura de conjunto desse período, também apresentada por Emília Tavares. (Ver Os novos anos 50 ) .
3 - Com as fotografias de Adelino Lyon de Castro há pistas para explorar os salões do Grémio Português de Fotografia (desde 1946), as Exposições Gerais de Artes Plásticas (1950), o Foto Clube 6 x 6, o caso do I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro (1950) e os salões posteriores da CUF, etc. Também, por esse caminho, para rever as simplificações abusivas que se repetem a propósito do "salonismo"...
E entre as muitas memórias que esta obra ignorada levanta encontra-se o caso do "desvio de direita" protagonizado por Piteira Santos e Mário Soares, que teve um dos seus episódios mais graves em torno dos irmãos Lyon de Castro e do jornal cultural "Ler", encerrado logo após a morte de Adelino em 1953. "Publicação forçada ao encerramento em 1953, esteve no centro de uma das crises internas da Oposição, sabotada pelo PCP por ser orientada por Fernando Piteira Santos, excluído em 1950 e então acusado com Mário Soares de pro-americanismo. Ver “A purga dos intelectuais” e em especial “O jornal Ler, “orgão do SNI”", em Álvaro Cunhal 3, de Pacheco Pereira Julgo que a memória do neo-realismo fotográfico (para além dele não ter sido defendido, entendido ou reconhecido no seu tempo próprio) terá sido também inviabilizada por razões políticas de sentido oposto. Adelino Lyon de Castro enquanto “inimigo” do PCP; Maria Lamas por se ter tornado uma bandeira da propaganda do PCP." ver O neo-realismo esquecido ou silenciado .
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Tags: Adelino Lyon de Castro, Emília Tavares, Maria Lamas, Museu do Chiado
publicado em INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autrónoma de Lisboa, 2010. Pp. 423-442.
(* colóquio que teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008. Painel 4 - Do Realismo ao Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa)
tb disponível em Scribd
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(...) os resultados de alguma pesquisa tornaram possível abordar um período pouco conhecido da fotografia portuguesa, por forma a isolar um conjunto de imagens e de autores que podem justificar, como sucede em Espanha e em Itália, o uso do termo neo-realismo. O texto é um momento de uma investigação em curso, ainda necessariamente fragmentária.
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Apesar da natureza culturalmente retrógrada do regime de Salazar, ele acompanhou os outros países autoritários dos anos 30 numa relação moderna com a fotografia, usando-a com grande eficácia enquanto instrumento de representação e propaganda. Apropriou-se de linguagens vanguardistas em publicações de paginação arrojada (o álbum Portugal 1934, por exemplo - edição do Secretariado da Propaganda Nacional, SPN) e adoptou orientações de uma modernidade formal mais sóbria ou clássica por ocasião das comemorações de 1940. Atraiu para a sua órbita ou dependência os melhores profissionais, que não podiam encontrar um real mercado de trabalho fora dos círculos do poder ou da imprensa, e também os amadores de Arte Fotográfica, por muito tempo associados da antiga Sociedade de Propaganda de Portugal (1), onde as elites se encontravam sem atritos visíveis com a estratégia do SPN, antecessor do Secretariado Nacional de Informação, SNI.
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Tags: Lyon de Castro, Maria Lamas, Neo-realismo, Victor Palla
"BATALHA DE SOMBRAS - COLECÇÃO DE FOTOGRAFIA PORTUGUESA DOS ANOS 50 DO MUSEU DO CHIADO", no MUSEU DO NEO-REALISMO - VILA FRANCA DE XIRA, até 14 de Junho de 2009
http://www2.cm-vfxira.pt/
Com o acesso aos espólios de alguns dos principais fotógrafos activos nos anos 50 e com o abandono dos preconceitos ideológicos e estéticos que, antes do conhecimento directo da respectiva produção, enquadravam a abordagem histórica dessa década, a exposição de Emília Tavares e do Museu do Chiado levada ao Museu do Neo-Realismo vem mudar uma página.
Varela Pécurto, 1951, impressão de época, 40x30 cm. Título da época: Belezas da noite. Col. Museu do Chiado
Não se descobrem mais génios ignorados da fotografia portuguesa.
Não se desalojam Fernando Lemos e Victor Palla/Costa Martins (este último ausente da colecção) dos seus lugares pioneiros e cimeiros na produção dos anos 50 - mas importará registar a propósito que o respectivo entendimento tem podido ser revisto nos últimos tempos, com (1) a associação do primeiro ao "fotoformalismo" divulgado pelas iniciativas de Otto Steinert e as suas exposições da <Subjektive Fotografie> (Fotografia Subjectiva), para além do que era a apropriação da herança surrealista, e com (2) o conhecimento da produção e das pesquisas formais do segundo, anteriores (e também posteriores) à "street photography" e ao realismo poético, ao neo-realismo, de Lisboa, Cidade Triste e Alegre (veja-se a exposição actualmente patente na P4 Photography, contributo indispensável para apreender a obra de Palla).
Com esta exposição descobrem-se mais imagens e mais autores que permitem conhecer o quadro contextual da produção fotográfica dos anos 50 antes divulgada. E para além de serem o seu necessário "pano de fundo", estes autores têm uma obra e uma intervenção associativa no seu tempo a que é essencial reconhecer qualidades próprias.
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Posted at 14:29 in 2009, Adelino Lyon de Castro, Chiado, Exposições 2009, história da fotografia, Lemos, Neo-realismo, Victor Palla & Martins | Permalink | Comments (2) | TrackBack (0)
Tags: Adelino Lyon de Castro, Batalha de sombras, Eduardo Harrington Sena, Emília Tavares, Fernando Lemos, Varela Pécurto, Victor Palla
Os espólios fotográficos de Adelino Lyon de Castro e de Eduardo Harrington Sena, dois autores de primeiro plano da fotografia portuguesa dos anos 40 e 50, foram oferecidos ao Museu do Chiado, e algumas das provas de época e documentos que integram são apresentadas na exposição que é hoje inaugurada no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira. Outras provas dos anos 50 de António Paixão, Fernando Taborda e Franklim Figueiredo foram igualmente doadas ao Museu pelos seus herdeiros, e no caso de Varela Pécurto pelo próprio autor, mostrando-se pela primeira vez desde a sua apresentação nos salões de arte fotográfica daquela década. Também se expõem duas fotografias de Frederico Pinheiro Chagas expostas em 1955 na 9ª Exposição Geral de Artes Plásticas, pertencentes ao Museu do Neo-Realismo.
O acesso a um conjunto muito significativo de provas de época e, em especial, a apresentação de autores em geral esquecidos e que eram habitualmente (e apressadamente) classificados como "salonistas" tornam a exposição comissariada por Emília Tavares um acontecimento de grande importância, que vem dar novas perspectivas ao conhecimento histórico dos anos 50.
Adelino Lyon de Castro, Lavadeiras do Mondego, 1948 (fotografia publicada em As Mulheres do meu País de Maria Lamas, 1948-1950). Prova de época, 30 x 40 cm. Col. Museu do Chiado (doação)
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Tags: Adelino Lyon de Castro, Eduardo Harrington Sena, Emília Tavares, Museu do Chiado, Museu do Neo-realismo
Na exposição que o Museu do Chiado leva a Vila Franca de Xira e ao Museu do Neo-Realismo, "Batalha de Sombras", as fotografias dos anos 50 aí presentes representam os autores que vêm sendo incluídos na sua colecção, em anos muito recentes (desde 1999). Apenas esses, sem se anunciar um panorama da década. Enquanto revisão histórica, é ainda um começo, uma abordagem exploratória, depois de outras antologias parciais, com limites cronológicos mais alargados e diferentes selecções de autores: a exposição e o livro Em Foco, Fotógrafos Portugueses do Pós-guerra. Obras da Colecção da Fundação PLMJ, de 2005, e, então em estreia, parte da representação levada à Europália'91 (Charleroi e Antuérpia, mas não vista em Portugal), já na sequência de diversas mostras e retrospectivas individuais.
Para além das oscilações que sempre se verificam nas listas de autores representados, a actual exposição tem uma configuração inédita: o seu anúncio é nitidamente marcado pela reunião de nomes que se incluem em diferentes e até opostas tradições fotográficas, pondo à prova (ou ultrapassando, o que só depois se verá) as fronteiras que se estabeleceram entre diferentes circuitos de visibilidade e reconhecimento: o meio depreciativamente designado como salonista e aqueles que o rejeitavam. Os nomes conhecidos daqueles a quem se atribuem as rupturas modernas surgem agora alinhados alfabeticamente com os nomes esquecidos que circularam nos salões e aí foram premiados. É a primeira vez que tal reunião acontece.
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Tags: Neo-Realismo
II
O N-R esquecido ou silenciado: Adelino Lyon de Castro
Adelino Lyon de Castro (1910-1953)
ALC foi co-fundador das Publicações Europa-América, amador fotográfico com larga participação nos salões do seu tempo, expositor na V Exposição Geral de Artes Plásticas em 1950, membro do Foto-Clube 6 x 6 (fundado em 1950 – pertenceu ao seu Conselho Artístico). Foi também repórter desportivo, tendo acompanhado os Jogos Olímpicos na Finlândia para duas publicações. Está presente com dez fotografias no livro de Maria Lamas As Mulheres do meu País de que se falará adiante.
5 – Ex-Homens. É a fotografia mais exposta e publicada de ALC.
Em 1946 foi exibida no 9º Salão de Arte Fotográfica do Grémio Português de Fotografia, secção da Sociedade de Propaganda de Portugal, na SNBA, Lisboa, e no Clube Fenianos, Porto.
1950 (Maio) - 5ª Exposição Geral de Artes Plásticas, SNBA.
1950 (Nov.) - I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro: foi distinguida com o Grande Prémio, sob o título “Vagabundos” (Aí expõe também “Rua em festa”, o 1º Prémio de Instantâneo. Nesse mesmo Salão apareceu Augusto Cabrita)
1956 - publicada no Boletim do Foto Clube 6 x 6, nº 3, de que era director Eduardo Harrington Sena, animador da secção fotográfica do Grupo Desportivo da CUF, responsável entre 1954 e 57 pela página “Fotografia” do Jornal do Barreiro. No artigo “In Memoriam”, de Manuel Ruas, editor do Boletim (homem do cinema, viria a fazer a montagem de Belarmino de Fernando Lopes), aponta ALC como um "exemplo de humanismo" e acrescenta:
“Procurou sempre que as suas obras transmitissem Vida, a Vida do Homem: o seu trabalho, as suas angústias, as suas esperanças”.
1980 – publicada no álbum monográfico O Mundo da Minha Objectiva, P. E-A. Um livro que não foi visto no seu tempo, os anos 80, que conheceram uma revisão profunda da cultura e da circulação fotográficas.
(Existe de Ex-Homens uma outra prova rectangular no espólio de ALC)
6 - “Rua em festa”, ou “Festa” (atribuição)
1950 (Maio) - 5ª Exposição Geral de Artes Plásticas, SNBA.
1950 (Nov.) - I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro: 1º Prémio da categoria Instantâneo
1980 - O Mundo da Minha Objectiva (“Festa”)
Fundou as Publicações Europa-América com Francisco Lyon de Castro, foi editor de "Ler, Jornal de Letras, Arte e Ciências", lançado pela mesma editora, de 1952-53. Publicação forçada ao encerramento em 1953, esteve no centro de uma das crises internas da Oposição, sabotada pelo PCP por ser orientada por Fernando Piteira Santos, excluído em 1950 e então acusado com Mário Soares de pro-americanismo. Ver “A purga dos intelectuais” e em especial “O jornal Ler, “orgão do SNI”", Pacheco Pereira, Álvaro Cunhal 3.
Julgo que a memória do neo-realismo fotográfico (para além dele não ter sido defendido, entendido ou reconhecido no seu tempo próprio) terá sido também inviabilizada por razões políticas de sentido oposto. Adelino Lyon de Castro enquanto “inimigo” do PCP; Maria Lamas por se ter tornado uma bandeira da propaganda do PCP.
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Estas fotografias chegaram às Exposições Gerais em 1950, o que por si só não as torna N-R (foi a primeira e única vez em que ALC esteve presente – morreu em 1953).
Nesse ano expôs também Francisco Keil do Amaral, animador das Gerais e do Inquérito à Arquitectura Popular iniciado em 1955 (outro monumento fotográfico…). Arquitecto e fotógrafo (amador), voltou a expor na IX EGAP. A sua obra fotográfica (exposta sem catálogo em 1999, no Museu da Cidade, Lisboa - então erradamente apresentada como um "passatempo") tem de ser objecto de atenção específica – no volume Em Foco. Fotógrafos Portugueses do Pós-guerra. Obras da Colecção PLMJ, ed. Assírio & Alvim 2005, publicam-se dez fotografias com datas atribuídas de 1956-58, e em parte seguramente anteriores.
E expuseram igualmente Manuel Peres (3 retratos, desconhecidos) e Rodrigo de Vilhena (referido por Emília Tavares no seu importante ensaio “Fotografia e neo-realismo em Portugal”, in Batalha pelo Conteúdo..., Museu do Neo-Realismo, V. F. Xira, 2007, como próximo dos artistas modernistas, interessado pela temática dos comboios e a exploração formal da velocidade – mas os títulos das obras que expôs em 50 são acentuadamente “salonistas”: Equinócio, Espectativa, Nuvens, etc).
As seis fotografias de ALC e as oito de Keil (estas sem títulos no catálogo) não terão despertado a atenção da crítica, nem terão sido associadas ao neo-realismo…
A fotografia (como secção própria – para lá da que se expôs nas áreas de Arquitectura e, às vezes, Publicidade) aparecera apenas na 1ª edição, de 1946, através de Mário Novais – mas tratar-se-ía então de afirmar a grande unidade ou abertura política, com a participação de figuras muito presentes em iniciativas do regime (como Carlos Botelho e Bernardo Marques), e de recuperar a memória e os artistas da Exposição Independente de 1930.
ALC expôs ainda nos salões do Foto Clube 6 x 6, em muitos salões internacionais (Barcelona, Madrid, Rio de Janeiro, Niteroi, Salta?, na Argentina - graças às “remessas colectivas” dessa agremiação) e também em muitos outros em Portugal:
Exposições Fotográficas de Campismo no Ateneo Comercial de Lisboa (1947?-1952)
3º Salão de Arte Fotográfica para Amadores, do Ateneu Artístico Vilafranqunse, 1952
Salões de Arte Fotográfica da Voz do Operário (1950-1953)
Salão de Arte Fotográfica de Santo Tirso, 1952 e outros
A propósito, note-se que é no seio das agremiações amadoras, beneficiando das suas condições logísticas e criticando ao mesmo tempo o gosto estético do “salonismo”, que se vai renovar a partir de 1955-56 a fotografia em Espanha. Graças a uma repressão muito mais dura no pós-guerra, não existe então um equivalente do N-R. nas artes plásticas e a intervenção artística de cunho político de esquerda acontece - após a não figuração e o informalismo oficializados pelo regime - com o movimento Estampa Popular, a partir de 1959, até 1976.
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O mais antigo texto sobre Adelino Lyon de Castro que conheço é precisamente a notícia da sua morte aos 43 anos:
publicado no jornal Ler, Jornal de letras, artes e ciências, nº 18, Setembro de 1953, pág. 1.
ALC era o editor e Francisco Lyon de Castro o editor; propriedade de Publicações Europa-América (o último nº seria o 19, porque não foi aceite pelo governo a substituição do editor).
Não conheço o seu trabalho de foto-repórter desportivo (onde?)
(Entretanto, seria o cinema o velho sonho prestes a concretizar-se?)
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Adelino Lyon de Castro (que no livro de Maria Lamas, 1950, foi identificado apenas como A. Lyon de Castro, e vem referido na ficha ténica da reedição de 2002 como Alberto...), pode ser localizado em pelo menos 6 Salões Internacionais de Arte Fotográfica organizados pelo Grémio Português de Fotografia, apresentados na SNBA e levados ao Porto e ao Clube Fenianos Portuenses, além de ter participado na V EGAP, de 1950. Ver: http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2008/05/a-fotografia-na.html
Trata-se dos salões de 1946, 47, 48, 49, 50 e 1951, sabendo-se que morreu prematuramente no verão de 1953. Parte relevante da sua obra fotográfica (com reenquadramentos discutíveis e impressão irregular - ???? hoje diria o contrário... 5Jun2011) foi recolhida no volume O Mundo da Minha Objectiva, editado em 1980 por Publicações Europa-América, e por Francisco Lyon de Castro, seu irmão, com um prefácio de Fernando Piteira Santos (prolongando-se assim solidariedades pessoais e políticas titistas, na sequência das rupturas comunistas que vinham do final dos anos 30 que se fortalecera com a Jugoslávia do II pós-guerra*). Piteira Santos colaborara já na revista "Ler, Jornal de Letras, Arte e Ciências", lançado por P. E.-A. de que Adelino Lyon de Castro era o editor, em 1952-53, e que "as autoridades" então encerraram não aceitando a substituição do seu nome.
A "Ler" noticia a morte de Adelino no seu nº 18, de Setembro de 1953 (e sai apenas mais o nº 19 em Out.)
Expõem nesse ano Adelino e Tito (?) Lyon de Castro. Francisco Lyon de Castro aparecera com o seu nome em 1946 e 47
Adelino Lyon de Castro atravessa assim, pelo menos, três lugares significativos da fotografia dos finais da década de 40 e princípios dos 50 (as Gerais, os Salões do Grémio e o livro de Maria Lamas - quatro lugares com o Foto Clube 6 x 6, criado em 1950), além de ser o único (?) autor antologiado em livro próprio, já muito tardiamente. A história de A. Sena não refere esse livro (mas regista-o num dos seus complexos índices) e faz apenas uma fugaz referência ao seu nome.
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Maria Lamas e Adelino Lyon de Castro são dois nomes que importa registar numa história da fotografia menos parcial ou parcelar.
A primeira foi fotógrafa por necessidade e por breve tempo - 1948-50 - durante a preparação do seu livro "As Mulheres do meu País", que é também uma vasta recolha da fotografia de levantamento documental ou de tema social feita por fotógrafos da 1ª metade do século. Os seus retratos individuais e de grupo devem ser lembrados como uma grande aventura fotográfica.
O segundo (1910-1953), co-fundador das Publicações Europa-América, foi um amador com larga participação nos salões do tempo, expositor na V Exposição Geral de Artes Plásticas em 1950, membro e animador do Foto-Clube 6 x 6 (fundado em 1950) e também repórter desportivo, tendo acompanhado os jogos olímpicos na Finlândia para duas publicações.
No nº 3 do Boletim do Foto-Clube 6 x 6, que foi dirigido por Harrington Sena e teve Manuel Ruas por editor, ter-se-á publicado o texto mais significativo sobre o seu trabalho:
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Tinha-me convencido de que a fotografia tinha aparecido como tal por quatro vezes na Exposições Gerais de Artes Plásticas, entre 1946 e 56. Dizia António Sena, pág. 271, que Keil do Amaral e V. Palla "mostram fotografias" na VIII EGAP, em 1954, e a coisa foi sendo repetida sem confirmação. Mas não, o catálogo não tem essa secção que aparecera em 1946 (Mário Novais) e em 1950 (4 autores e 13 nºs de cat., com o destaque necessário para o arq. Keil e o editor Adelino Lyon de Castro).
Parecia haver com essa selecta representação dos dois em 54 um mais claro sentido modernizador, um esforço de reorientação, e afinal, tratar-se-á, até prova em contrário (presenças extra-catálogo?), de um lapso.
Terá de pensar-se por que foi tão escassa a presença da fotografia nas Gerais - já não haverá testemunhas que o esclareçam. Para além do caso solitário e fulgurante, ou fugaz, de Fernando Lemos (1949-52), aparecem agora no leilão da P4 fotografias experimentais de Victor Palla datadas de cerca de 1952 (já lá iremos), e, para além dos nomes conhecidos e esquecidos dos salões (os "salonistas" não são todos iguais, nem todos nulos...) outros artistas fotografavam com regularidade e outras fotografias anónimas subsistem. A presença larga da arquitectura (representada por desenhos e fotografias), das artes decorativas, publicidade e artes gráficas torna mais insólita essa ausência da fotografia nas EGAP.
Posted at 21:41 in Adelino Lyon de Castro, história da fotografia, Neo-realismo, Victor Palla & Martins | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
Não conheço nada (*) de esclarecedor sobre a fotografia nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, que vão de 1946 até 56, em dez edições que se interromperam por um ano em 1952.
(* Só depois de escrever isto é que descobri ou reencontrei a colaboração de Emília Tavares no volume Batalha pelo Conteúdo... editado pelo Museu do Neo-Realismo em 2007 - "Fotografia e neo-realismo em Portugal" , pp. 263-273. Vou ter de confrontar algumas das informações. 18/05)
Na primeira EGAP, no particular clima festivo ou aguerrido de 1946 (terminara a Guerra e esperava-se dos Aliados algum empurrão ao regime), participou Mário Novais (1899-1967) com seis fotografias - o grande fotógrafo da Exposição do Mundo Português de 1940 para o SPN de António Ferro e de muitas outras iniciativas do regime. Foi nesse ano de 1946 o único integrante da secção de Fotografia e não voltará a estar presente em nenhuma outra EGAP, nem, por isso mesmo, das duas únicas outras edições em que se abriu uma tal secção - se outras razões não existissem, a colaboração com a informação do regime, o SNI, impedia-lhe a presença, como a Carlos Botelho (só presente em 46, tb) e a Bernardo Marques. O catálogo da 1ª EGAP - onde existiu igualmente uma secção de Publicidade, com cartazes - não refere títulos para essas fotografias e não sei de informações sobre elas. (*E.T. cita o 1º de Janeiro de 7 Julho 46, que aponta para fotografias de arquitectura, ou de edifícios.)
O que é curioso é que Mário Novais participara em 1930 no I Salão dos Independentes, tb na SNBA - presente na secção de Artes Decorativas (sublnha-se o nome) com 15 trabalhos: seis retratos (três de artistas expositores, 5 interiores de espaços industriais e 4 estudos - sem aspas - a fonte desta informação é o catálogo da exp. de 1998 sobre Mário Novais e a exp. de Belém, pág. 25). Note-se que entre essa mostra de 1930 e a de 1946 procuraram os organizadores definir traços fundadores comuns.
Mas tb é de notar que J.A.F. não cita Mário Novais como expositor na sua história do séc. XX, e apenas refere a presença anónima de dois fotógrafos entre os Independentes de 1930. Estaria ele a referir-se a Novais e a uma dupla de autores, ou apenas a Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca, fotógrafos-escritores da Presença - ver o nº 24, Janeiro 1930, pág 7 - "Fotografias de composições vivas" por Bettencourt e Branquinho? (cf. António Sena, pág 238)
Para além de se revelar o desprezo pela ou a ignorância sobre a fotografia, torna-se notório um insuficiente entendimento do que era o moderno e do modernismo.
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