I
Está em causa a defesa e ilustração do não-salazarismo monopolista. Anti-todos excepto o aparelho próprio (e mesmo assim com as excepções convenientes): a defesa de uma versão da história que teve um pólo em Moscovo e outro no Avante. (9 Julho) #polemicadoAljube
II
A nomeação de Rita Rato como directora do Museu do Aljube, depois de um concurso claramente viciado, é mesmo uma questão fracturante e há que ir ao âmago da questão. Tratou-se de uma escolha política, por parte da actual CML de obediência PS, cujos meandros não foram ainda esclarecidos.
É mesmo por ser do PC e ter sido deputada desse partido durante 10 anos, até 2019, sem ter saído por dissidência, que a Rita Rato não tem idoneidade para dirigir o Museu do Aljube. Nem credibilidade, perfil, curriculum, como quiserem.
Não se trata de exigir credenciais académicas ou museológicas, conforme algumas críticas de eficácia lateral, mais ou menos hipócritas, mas por fundamentação política.
Quem conhece a história da oposição ao Estado Novo e ao salazarismo (e a memória vai-se esbatendo para as gerações mais recentes que a não viveram), sabe que o PC foi vítima e algoz, censurado e censor, perseguido e perseguidor, tanto face a outras tendências e movimentos oposicionistas (anarquistas, trotskistas, sociais-democratas, marxistas-leninistas-maoistas, autogestionários, liberais, etc) como face a muitos dos seus próprios dirigentes e militantes (desviantes, fraccionistas, dissidentes, críticos, e ex-militantes em geral).
O PC propõe, pratica e defende uma versão partidária da história, a sua e a do país, que tanto inclui a sua dependência perante a União Soviética e a sua repressão política, interna e externa, perante as suas organizaçoes internacionais (Komintern, 1919-1943, e Kominform, 1947-1956) e os seus estados satélites, como a ocultação e manipulação da sua história própria, bem como dos seus arquivos e documentos. O PC impõe a sua história oficial, com uma prática militante e sectária continuada através das décadas, das mudanças do mundo e das suas sucessivas derrotas. Uma história que exclui, em especial, o reconhecimento da Oposição anti-comunista, que foi tendo dificilmente direito de existência.
Tudo isto desqualifica a sra para dirigir um museu dedicado à resistência anti-fascista, que deve ilustrar a sua diversidade e as suas tensões e contradições internas, a história controversa das Oposições, que serviu ela mesma a longevidade do regime, combatendo-o e combatendo-se.
Poderia ser vereadora se existisse um pacto político PS-PC publicamente validado em eleições, poderia dirigir uma galeria ou um parque da CML, uma cantina para sem abrigo. por exemplo. Mas não pode dirigir o Museu da Resistência. (9 de Julho)
II
(resposta revista a um diligente opositor) Não se trata de uma "tese" e não está no meu horizonte meter-me em maiores pesquisas. Trata-se de uma experiência de vida, de informações e conhecimentos recolhidos ao longo dos anos, acumulando relatos, factos, leituras, testemunhos.
Lembram-se da proibição dos comunistas escreverem no jornal Ler, da Europa-América (os Lyon de Castro eram perigosos titistas), denunciado pelo PC e estrangulado pela censura, numa insondável aliança (início dos anos 50)? Lembram-se do uso discricionário ou telecomendado acusando fulano de ter "traído" na cadeia, mesmo se esse fulano não tinha sido preso? Lembram-se das denúncias veiculadas no Avante sobre activistas dissidentes? Dos saneamentos nos cine-clubes e teatros porque um tal defendia o Hitchcock e outro não alinhava com as escolhas do partido? Ou as ocultações da história oficial, o Pavel, o Fogaça, muitos outros. Os exemplos fariam uma história oculta da oposição que os historiadores oficiais nunca quiseram fazer (costumo recordar o silêncio dos historiadores de credenciais anti-fascistas sobre uma entidade que se chamou Sociedade Propaganda de Portugal através da qual parte representativa das elites nacionais asseguraram a sua pacífica transição da monarquia ao Estado Novo, passando pela República, a igreja e a maçonaria). Não vou repetir o que escrevi acima nem comparar as doses de repressão do regime e do PC, não se trata disso, mas apenas de reconhecer que os inimigos a abater não eram só os do regime, desde os velhos anarco-sindicalistas. Para o PC há uma história oficial e autorizada, e essa cartilha é que importa, é a que se trata de estabelecer no Museu do Aljube - por vezes houve uns dirigentes cordatos e hábeis a quem foi possível dialogar, estabelecer cumplicidades e abrir pistas de contactos (estou-me a lembrar do meu amigo Ruben), mas essas foram acima de tudo formas de assegurar continuidades e criar compromissos quando se impunha romper e divergir. Lembro-me bem da recusa de incluir a memória dos episódios negros nas comemorações de Outubro. (11 Julho)
III
Contra a unicidade antifascista não houve Alamedas. Hipótese de trabalho: o marcelismo, a Sedes, o Gabinete da Área de Sines, a LUAR e o MFA fizeram o caminho até ao 25 de Abril, e o Rumo à Vitória (o livro, não a militância PC) é só um mono académico. A questão do Aljube é essa, para abreviar. (12 Julho)
IV
E ninguém liga à explicação credível da presidente da EGEAc (que não devia fazer parte do júri com o director de pessoal)? “a candidata seleccionada defendeu uma visão integrada para o museu, incluindo uma proposta de programação relacionada com temáticas de liberdades contemporâneas, como as questões de género ou a inclusão social”, destacando-se nessa abordagem na segunda ronda de entrevistas." JGC, Público 8 de Julho.
Mais o ar do tempo que a história. Digo eu. Liberdades contemporâneas , questões de género e inclusão, foram acrescentadas à última hora a gosto da presidente. O compromisso partidário tem razões outras.(13-14 Julho)
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