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Tags: António Quadros Eduardo Luiz
E se tentássemos perceber (ou discutir primeiro) para que servem tantas galerias municipais, que constituem uma originalidade portuguesa e lisboeta?
As galerias municipais servem para concorrer com as galerias privadas e associativas; favorecem umas delas expondo os seus artistas e ignoram outras, têm sido uma extensão de galerias privilegiadas; viciam o pobre sistema da arte que temos.
A gestão tendenciosa e promíscua que o João Mourão levou a cabo (dirigindo ele a sua própria galeria Kunsthalle Lissabon e comissariando exposições em espaços privados) não exigiria uma reflexão sobre um passado recente vulnerável aos jogos de grupo e à corrupção, e sobre qual o futuro que importa construir?
E se a CML (EGEAC?) prestasse apoio às estruturas existentes (do Museu Vieira da Silva à Carpe Diem e outras estruturas associativas, passando pelo Arquivo Fotográfico e demais museus e estruturas camarárias débeis, em vez de se dedicar à gestão da arte numa escala provinciana e comunitarista?
Fazer sair o João Mourão, que se expôs despudoradamente e que me fartei de atacar, é só um 1º passo.
(Para a Sara A. Matos, que polidamente devo felicitar pela ascensão na burocracia camarária, pode ser uma problemática acumulação de responsabilidades e trabalhos. Esta é uma opinião pessoal, claro)
Há tempos tinha interrompido o curso de uma sessão pública para ler parcialmente e entregar ao Presidente da CML e à Vereadora da Cultura um documento crítico em que o "caso Galerias do João Mourão" era o 1º ponto. (LINK a colocar)
26/10/2016
2
Voltando ao tema das Galerias CML/EGEAC, agora ainda mais actual, temos aqui uma actualizada e insólita lista (não digam listagem, por favor) de "espaços", que vale a pena pôr à discussão
PONTO 1. Cito: "em Novembro de 2002, a Câmara Municipal de Lisboa criou a entidade plural das 'Galerias Municipais' com a missão de gerir os espaços expositivos da CML providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos." Já havia galerias, como a do Pal. Galveias, agora bem atribuída à Biblioteca central, mas juntaram-se numa mesma direcção.
"... providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos": por que raio a providência mediadora se dirige SÓ à arte contemporânea? Os "diversos públicos" (são extratos diferentes para receberem a mediação da arte contemporânea segundo os diferentes níveis do "meio da arte"?) não precisam de mediações dedicadas à arte antiga, moderna e popular, entre outras, as aplicadas, as amadoras, as tecnológicas, o design e a arquitectura, a BD e a novela gráfica (a Bedeteca já teve actividade...), etc? Contando que expor fotografia cabe ao Arquivo Municipal (foi um recuo institucional grave, como foi a destituição da Hemeroteca, que não era vistosa para festivais e turistas, e vendera a casa ao Lopes da Misericórdia). HÁ POR AÍ UMA BARRIGADA DE ARTE CONTEMPORÂNEA que nada justifica: é, de facto, aquela que tem uma retaguarda de iniciativa empresarial e associativa mais forte. Mas pior que a barrigada é a BRIGADA DA ARTE CONTEMPORÂNEA que se tem servido das "mediações".
PONTO 2. O que é o Africa.Cont, incluído entre as Galerias Municipais, não sendo uma galeria? Nos últimos anos era só uma sinecura do prof. José António Fernandes Dias, depois de ter sido um delírio caro da dupla Sócrates-Costa. As Tercenas do Marquês ficaram na mesma, e ainda bem: eram impróprias para lá meter uma programação "terceiro-mundista" em estilo pós-colonial chique.
PONTO 3. O que justificou a invasão do Palácio Pombal pelo galerista João Mourão, se aí estava sediado o Carpe Diem, com um protocolo em vigor? Não bastavam tantos outros espaços já disponíveis e em geral sub-utilizados?
PONTO 4. Se o Pavilhão Preto foi entregue ao Museu da Cidade, que tem outras galerias e núcleos dispersos pela cidade, por ex. um Torreão da Pr. do Comércio, não deve o Pavilhão Branco ser-lhe tb confiado? O investimento no Museu da Cidade, com os seus vários focos e edifícios, não seria a prioridade mais justa?
PONTO 5. O apoio directo e indirecto à rede de galerias comerciais e às associações, em especial as que ocupam espaços camarários e às que actuam para outros públicos, jovens e interculturais, não deve ser uma prioridade da CML/EGEAC em vez de lhes fazer guerra e concorrência - favorecendo umas galerias e ignorando ou prejudicando outras? Prioritário seria, aliás, o apoio e a colaboração com as entidades associativas e interculturais em vez de se lhes substituir (LEM e Casa do Mundo...), e em vez de substituir as linhas de actividade continuada pelas dinâmicas festivaleiras que tudo absorvem e uniformizam. Essas galerias comerciais, que têm a sua associação corporativa, não discutem estes temas? Não falam? Só estendem a mão?
PONTO 6. Em vez de se dispersar por galerias próprias, a CML/EGEAC não deveria fazer aquisições de obras de arte, alargando o seu museu ou museus - comprando para formar colecções e não para "ajudar"? Sei que comprou na última feira, mas terá sido para a apoiar?
PONTO 7. Existindo um departamento Galerias Municipais na Empresa Pública EGEAC não será preciso distinguir bem o que é uma direcção de serviço do que é um programador, o qual, aliás, em geral se perfila como um comissário, programando a seu gosto, no quadro de uma carreira de galerista-e/ou-comissário-e/ou-crítico-ou-e/artista, com as suas cumplicidades geracionais, estéticas e galerísticas próprias e o seu distanciamento do que deve ser serviço público (estou a pensar num Calhau, num David Santos, num Wandschneider, etc)? E separando também o que é programar do que é comissariar. Em princípio um director de departamento não programa, dirige, e um programador não comissaria. O João Mourão tinha chegado à desvergonha total de ainda dirigir a sua própria galeria (galeria mesmo, mesmo que não vendesse às claras).
PONTO 8. E mais galerias e exposições existem pela cidade na Casa da América Latina e na UCCLA (agora com uma grande sede comum), nos Paços do Concelho, em Bibliotecas e também em espaços de freguesias. É muito? Não, é pouco, porque é tudo rasteiro. Não vemos por cá o que vemos nos programas de outras capitais. #cmlcultural
http://www.egeac.pt/equipamento/galerias-municipais/
EGEAC:
À semelhança do que acontece noutras cidades, em Novembro de 2002, a Câmara Municipal de Lisboa criou a entidade plural das “Galerias Municipais” com a missão de gerir os espaços expositivos da CML providenciando a mediação da arte contemporânea para diversos públicos. Em Janeiro de 2015 estes espaços expositivos transitaram para a gestão da EGEAC, permitindo uma maior agilidade de programação e dinamização de modelos de gestão, financiamento e relacionamento com o público.
As Galerias Municipais pretendem ser locais que respondem com flexibilidade à mudança social e política, perseguindo uma programação participada, com uma base discursiva inerente e com abertura ao meio (local, nacional e internacional). Pretende-se criar espaços activos: parte centro comunitário, parte laboratório e parte academia, enquanto organização progressiva e de crítica, acessível.
As galerias consistem nos seguintes espaços: Pavilhão Branco, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Galeria da Boavista, Galeria Quadrum, Galeria da Avenida da Índia e Palácio Pombal. (...)
Situado no Campo Grande, o Pavilhão Branco tem vindo a desempenhar um papel central na estratégia municipal de arte contemporânea, representando uma mais-valia na diversificação da sua oferta. As caraterísticas arquitetónicas do espaço convidam à realização de exposições com cariz “site-specific”: acolhendo habitualmente quatro mostras por ano, proporciona tempos de montagem e de exposição mais longos, de forma a que alguns dos projetos mais emblemáticos sejam definidos em função – e façam sentido sobretudo – neste pavilhão. A sua linha programática tem apostado consistentemente na presença de artistas em “meio de carreira”, isto é, com um percurso já assinalável, que encontram aqui um local de dimensão que lhes permite apresentar um novo projeto com assinalável alcance.
Laboratório da arte experimental portuguesa nas décadas de 1970 e 1980, a Galeria Quadrum nasceu de um sonho da artista e colecionadora Dulce D’Agro. Projetada pelo arquiteto Fernando Peres e instalada no palácio dos Coruchéus, teve um caráter pioneiro, revelando nomes fundamentais da arte portuguesa, e depressa revelou uma vocação de polo cultural da cidade. Mantendo viva esta tradição da sua génese, quer continuar a ser um espaço de apresentação de jovens artistas, onde se construam projetos continuados de serviço educativo envolvendo a comunidade local. (...)
Aberta em 2009, a Galeria da Rua da Boavista revelou desde a primeira hora uma vocação abrangente e multifacetada nos seus vários andares: a programação tem vindo a ser partilhada com agentes culturais vários – de associações a festivais, que aqui desenvolvem exposições, performances, concertos ou outras atividades. Assim sendo, vai afirmando a sua marca na cidade enquanto espaço de discussão, apresentação de disciplinas distintas e de informalidade vincada. Estão previstas obras no espaço, após as quais se deverão apresentar aqui os resultados de um “open call” para jovens curadores, a quem serão dadas oportunidades de trabalhar num contexto institucional.
Esta galeria tem a particularidade de se situar numa parte do complexo da Cordoaria Nacional, monumento nacional de 1779, com uma extensão de quase 400 metros que permitia acolher a extensão das cordas produzidas para barcos. O edifício continua sob gestão da Marinha Portuguesa, com quem a CML assinou um acordo para utilização do Torreão Nascente, com fim à realização de exposições. Sendo um espaço monumental, organizam-se aqui retrospetivas de artistas portugueses como foi o caso de José Pedro Croft, mas há também lugar para parcerias internacionais e nacionais com exposições de grande público, como por exemplo a Genésis de Sebastião Salgado (na imagem). No intervalo entre estes dois modelos são organizadas exposições coletivas, de coleções ou de propostas curatoriais ou artísticas, de grande envergadura.
Situado na rua de O Século, com cerca de 1560m2 e 1000m2 de jardim, o Palácio Pombal é um edifício seiscentista mandado construir por Sebastião de Carvalho e Melo, avô de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. O edifício atual é propriedade municipal desde 1968 e é gerido pela EGEAC desde 1997. Em 2009 foi realizada uma parceria com a associação cultural Carpe Diem, que tinha então à frente o curador Paulo Reis, para a dinamização do espaço. Para reforçar a actividade e garantir uma maior utilização do Palácio com vista à sua manutenção, em Janeiro de 2016 uma parte do Palácio voltou a ter programação da EGEAC ao serviço de iniciativas e parcerias desenvolvidas pelas Galerias Municipais e o Teatro Municipal Maria Matos e outros agentes culturais. Cruzando artes visuais e performativas, pretende-se desenvolver um programa formativo transversal potenciando assim o papel do Palácio na cidade.
A partir de 1 de Julho de 2016, o Africa.Cont integra a linha programática autónoma das Galerias Municipais, visando a sua interligação com os equipamentos das Galerias Municipais e a partir destas fazer os cruzamentos necessários com os restantes equipamentos EGEAC, numa tentativa de afirmação e desenvolvimento dos objectivos de missão deste projeto: pôr o foco em exposições, conferências, ciclos de cinema, livros e música do continente e das diásporas africanas; a abreviatura “cont” aplica-se não só ao continente que inspirou o projeto mas também ao “contemporâneo” enquanto tempo de produção artística.
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«LISBOA COMO FUTURO - CULTURA» - 19 Março 2016
Uma contribuição (texto parcialmente lido no início da sessão - interrompendo a ordem estabelecida no programa da sessão organizada na futura Biblioteca de Marvila pela Dinamia, centro/empresa do ISCTE - e entregue ao presidente da CML e à vereadora da Cultura)
"A formatação dos painéis e dos seus temas e o longo formulário proposto para abordagem de cada uma das secções (Criar, Distribuir, Lembrar, Conhecer, Participar, Planear, Representar) não servem a anunciada intenção de reflectir e questionar as práticas culturais camarárias. Antes de arrumar os participantes em núcleos compartimentados e de temática fechada - anunciando-se como «Sessões de debate - workshop», entaladas entre dois discursos oficiais, de abertura e encerramento - seria seguramente oportuno auscultar, sumariar e enfrentar, a montante, questões gerais de orientação política e análises sectoriais livremente formuladas. Em vez dos guiões pré-definidos e das abstracções de uma categorização talvez académica valerá a pena olhar para o terreno e apreciar o que existe e o que se faz.
Desagrada-me profundamente essa linguagem típica de empresas de selecção e gestão de pessoal sob capa universitária. Perguntam "Existirá uma “cena” de Lisboa (um hype associado a certa produção cultural da cidade)?« (sic). Pensar a cidade e a sua cultura, parece-me ser do âmbito da política e não do marketing.
Enumero alguns tópicos que me interessaria propor à discussão:
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Começo pelo sector das galerias de arte, agora gerido pela EGEAC, e por apontar quer o número desmesurado desses espaços quer a situação incompreensível e inaceitável de o sector ser chefiado por alguém que dirige a sua própria galeria, o João Mourão (Kunsthalle Lissabon).
Não se encontra uma tal oferta de galerias, parte delas a ocupar vastos espaços - e espaços difíceis e impróprios, como a Cordoaria e a Av. da Índia -, em qualquer capital próxima (e de mais activa vida cultural). Não há em Lisboa um só centro de actividade marcante e de referência como são em Madrid o Espaço Conde Duque e o Centro Cultural de la Villa, o Centro Galileo e o Matadero, todos eles complexos pluridisciplinares integrantes da área municipal de Cultura, Ócio e Desportos (o que é uma justa associação). Ou como, em Paris, o Bal, o Centquatre, a Maison Européenne de la Photographie, o Betonsalon, o FRAC Ile-de-France. Ou como são na periferia a Casa da Cerca de Almada e o Centro Cultural de Cascais ou em Vila Franca de Xira o Museu do Neo-Realismo e a Fábrica das Palavras.
Aponto a programação irregular, casuística e por vezes quase confidencial de parte relevante dessas galerias, que não têm perfis próprios, não são lugar de acolhimento de propostas/candidaturas alheias, nem se inserem nas suas áreas populacionais, tendo períodos de inactividade que inviabilizam qualquer formação de públicos (a Quadrum e a Boavista serão os casos mais insólitos, mas os Pavilhões Branco e Preto deveriam certamente ser orientadas pelo Museu da Cidade, agora Museu de Lisboa).
Aponto a colagem notória das respectivas programações ao pequeno «meio da arte» nacional, ou a um pequeno círculo de cumplicidades, repetindo os mesmos nomes que circulam por galerias, museus, fundações e instituições idênticas, sem haver prospecção de valores menos mediatizados, nem abertura à diferença. Nada as distingue enquanto galerias municipais, e não têm vocações reconhecidas.
A isto se associa a opção pela promoção sistemática de jovens artistas (ou licenciados em arte, sazonalmente descartáveis) numa lógica que é ou assistencialista ou visa só a conquista e gestão de clientelas, o que se prolonga agora na viragem do sector institucional em geral para a política das «residências» de artistas e de «curadores». É toda uma prática de concorrência desleal com as galerias comerciais e com as possíveis iniciativas autogeridas por artistas, o que agrava um contexto em que parece não haver espaço senão para a iniciativa institucional ou para a dependência de apoios públicos.
Aponto a ausência de uma programação internacional de referência através de co-produções, parcerias ou acolhimento de iniciativas, em que Lisboa se afirme como parceiro de itinerâncias. Como excepção, lembro só Sebastião Salgado na Cordoaria, em colaboração com a Terra Esplêndida.
Acresce ao número de galerias geridas directamente pela CML/EGEAC (5 agora, segundo o seu site) um número extenso e indeterminado de espaços para exposições temporárias de museus municipais e muitas outras entidades da galáxia (ou polvo) CML, como a sede do Município, as galerias do Arquivo Fotográfico, e de bibliotecas, o Torreão Poente do Terreiro do Paço (Museu de Lisboa), a Casa da América Latina, agora a chamada Casa dos Mundos, etc, etc.
Deve ter-se em atenção nesta área das exposições e das artes plásticas o decréscimo sistemático de públicos, que em geral agora se desloca apenas a espaços associados a jardins e outros espaços de lazer. Há razões profundas para o desinteresse dos públicos, que têm a ver com um divórcio crescente e justificável entre uma cultura fechada sobre e para os seus agentes (sustentada pela crença na autonomia dos criadores) e, do outro lado, um lado cada vez mais distanciado, os consumidores de cultura-entretenimento, televisiva ou não, e em geral os frequentadores da área dos lazeres. Os públicos mobilizados pelas inaugurações (as corporações artísticas, os parentes e amigos) e as visitas escolares fornecem os números necessários para as estatísticas.
2
Em geral, no domínio das galerias e das salas de espectáculo, é manifesta uma posição de concorrência obviamente desigual - e desleal - com as iniciativas de outras entidades, privadas ou associativas e cooperativas (estas em decréscimo nítido, esmagadas pelas dependências burocráticas e centralizadoras, em especial no acesso a financiamentos públicos e comunitários).
Parece estar ausente qualquer reflexão actualizada sobre o sentido da acção cultural da CML, para além de se acrescentarem mais programas, mais festivais, mais eventos aos que são habitualmente promovidos por outras instituições públicas, fundações e centros culturais próximos (Almada, Cascais e Algés, Vila Franca de Xira - zonas limítrofes e carenciadas onde se justificam programações locais de divulgação, e que são em geral mais livres de estreitas dependências «curatoriais» e institucionais).
Existem marcas claras de centralismo e dirigismo (e também de elitismo) na política cultural oficial, sendo em geral as programações asseguradas por curadores e directores-programadores que cumprem em especial as suas ambições próprias. (A lógica do curador-artista e do programador-artista, que tem vindo a ser aceite, subverteu o exercício de lugares que começam por ter responsabilidades cívicas).
É evidente a opção nos espaços públicos pela ideia de programar (o que significa promover uma cultura oficial da cidade, ou antes de programadores oficializados, funcionários camarários ou não), em vez de patrocinar e acolher, apoiando as iniciativas cívicas, cidadãs, independentes e locais, mediante candidaturas e num diálogo regular e aberto que responda a interesses e projectos plurais e à acção de agentes descentralizados. A prática democrática de programação está praticamente ausente nos equipamentos camarários, cujo perfil de actuação se supõe diferente do de fundações privadas e equipamentos públicos de iniciativa e tutela do estado central.
Se o São Jorge acolhe programas de cinema, mantendo uma dinâmica pluralista, o S. Luis e em especial o Maria Matos programam e produzem (ou co-produzem) através dos seus directores programadores. O que os distingue das salas da Culturgest, Gulbenkian e CCB?
3
Num campo que deveria ser uma das vocações principais de uma cidade aberta e plural como Lisboa, a interacção com as comunidades de origem migrante e o diálogo intercultural, a estabelecer também com os seus países de origem (mais ou menos remota), observou-se ao longo de toda uma década uma orientação destituída da capacidade - ou antes, da vontade - de comunicação com as diferentes culturas e com os agentes que com elas directamente actuam, bem como de resposta às necessidades sentidas localmente em Lisboa e nas imediações. Pelo contrário, impôs-se a opção por meras acções pontuais, de animação do centro da cidade, com possível aparato festivo mas sem continuidade nem relevância local (programa Todos e Lisboa Encruzilhada de Mundos). E, com maior gravidade, a opção por um projecto megalómano de ostentação cultural (o Africa.Cont), de mera representação mundana pretensamente cosmopolita, subordinado a um programa de reabilitação patrimonial urbanística (as Tercenas do Marquês e a sua área, das Janelas Verdes à 24 de Julho - plano certamente necessário mas a desenvolver noutras condições), com o qual se consumiram verbas, se paralizaram políticas de cooperação e se perdeu credibilidade internacional, após a cimeira Africa-Europa de 2007 e a patética apresentação do projecto utópico sob a pala do Pavilhão de Portugal, um ano depois. A auto-crítica ficou por fazer.
Sacrificaram-se assim anos de possível diálogo e acção intercultural a gestos auto-centrados e de ambígua promoção de alguns nichos culturais, em condições em que a incapacidade de díálogo se somou à absorção em proveito próprio dos recursos comunitários disponíveis. Agora abre mais um espaço de exposições confidenciais, a Casa dos Mundos, enquanto se ignoram ou marginalizam as acções e associações que existem neste terreno. Este é mais um campo em que a CML vem fazendo concorrência a si própria através de diferentes departamentos, e concorrência aos agentes independentes.
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Destaco ainda um campo em que a acção da CML teve em tempos manifesto êxito e atingiu um claro reconhecimento: a fotografia. Assistiu-se desde 2006 (depois da organização dos programas desmesurados e confusos do LisboaPhoto de 2003 e 2005, tal como sucedera mas com mais qualidade no Mês da Fotografia de 1993, ao tempo de Jorge Sampaio) à notória menorização daquilo que foi a acção qualificada do Arquivo Fotográfico, o qual foi submetido ao âmbito e às limitações operacionais e orçamentais da área de Arquivos.
O que foi um dos trunfos da política cultural lisboeta passou a ter uma existência cinzenta e de alcance doméstico. Mas a fotografia, nas suas diversas vertentes, é por toda a parte um dos eixos mais dinâmicos das manifestações culturais, mais mobilizadores de públicos e mais intervenientes em muito diversas direcções, técnicas, artísticas e políticas. No pouco que subsiste, o fechamento estético é manifesto (mas ressalvo a próxima exposição da Galeria Av. da Índia, vinda de Maputo).
Também o destino da Hemeroteca, destituída da sua antiga sede e deslocalizado para um espaço menor e obviamente insuficiente, ilustra a prioridade conferida às opções que têm mais a ver com as festividades efémeras e a visibilidade superficial do que com a atenção às instituições de referência em que a CML tinha e devia continuar a ter um papel destacado e insubstituível. Os equipamentos estruturantes têm sido sacrificados à política de eventos, com as possíveis excepções da renovação do Museu da Cidade e das Bibliotecas Municipais.
Uma última palavra, por agora, pode ser dirigida à informação veiculada na Agenda Cultural que certamente ganharia em concentrar-se nas iniciativas da CML e ao mais importante a acontecer nas freguesias em vez de as dissolver ou apagar num massificado cartaz de eventos indiferenciados (alargado a alguns artigos ocasionais e desgarrados), numa concorrência ineficaz com uma publicação como a Time Out e aos vários roteiros digitais existentes. O tempo de um cartaz generalista já passou, e a Agenda deveria agora divulgar e desenvolver de forma atenta as programações próprias da CML e aquelas que esta patrocina ou a que se associa.
Em todos os ítens teferidos colocam-se questões de reorientação de meios financeiros, a par da revisão das opções programáticas."
(a rever)
Posted at 13:54 in CML, Lisboa, politica cultural | Permalink | Comments (0)
Índice de um caso obscuro, o África.Cont, que nunca quis acreditar que viesse à luz do dia. Julgo que em mais de 25 anos de atenção a, ou intervenção em políticas culturais nunca vi uma história mais errada de todos os pontos de vistas:
- a segregação dos artistas africanos, das diásporas e das imigrações num elegante ghetto lisboeta;
- a substituição de uma agência capaz de actuar no terreno (em Bamako, Dakar, Luanda, Maputo, etc, numa dinâmica de intermediação e de trocas) por uma obra patrimonial de fachada, absorvendo e concentrando num espaço único a disponibilidade e os meios de múltiplos agentes públicos e privados descentralizados;
- a imediata dependência de intervenções urgentes e de resposta a necessidades locais, em África e nos bairros portugueses, em relação a um projecto de uma estrutura oficializada e central, cara e pesada;
- a inadequação do local apontado, de adaptação improvável (e caríssima) à instalação de um qualquer espaço público com ambições de dinamismo cultural;
- um provável entendimento restritivo da arte africana contemporânea a partir de uma lógica de cooptação pelos mercados dos países dominantes, ou de "um stablishment artístico etiquetado como poscolonial, composto por funcionários étnicos ou multiculturais" (como diz Jean-Loup Amselle em "L'Occident Décroché, Enquête sur les postcolonialismes", Stock, 2008;
- a sobreposição deste novo projecto faraónico - que excede tudo o que sonhou ser o voluntarismo carrilhista - a uma rede de museus muitíssimo carenciada, a outros organismos com interesses de programação na área da arte africana contemporânea e também ao Instituto Camões, que foi conseguindo, com poucos meios, estruturar políticas de trocas culturais.
(À hora do jantar oficial de lançamento da coisa, aonde não quis ir)
Posted at 19:27 in 2008, Africa, africa.cont, cidade, CML, Lisboa, lusofonia, Polemica, politica cultural | Permalink | Comments (3)